Wednesday, October 22, 2008

Nem todo Mercadão é em Madureira

Sábado foi dia de conhecer o Mercado Municipal de São Paulo, um passeio que eu queria fazer há muito tempo mas estava sempre com preguiça. É que tudo em SP demanda tempo e paciência, porque ao colocarmos o nariz pra fora de casa já sabemos que vamos gastar dinheiro, pegar trânsito, ter que procurar uma vaga e encarar uma chuvinha, daquele tipo que nunca cai de verdade mesmo, mas é suficiente pra deixar alguns fios incovinientemente arrepiados. Mas o jeito é abrir o peito e encarar a fera, porque depois de domada, São Paulo é diversão total.

Quem visita o Mercado Municipal pela primeira vez tem obrigação de comer um pastel ou um sanduíche de mortadela. Você tem que escolher entre um e outro, porque encarar as das opções no mesmo dia é uma tarefa heróica. O sanduba de mortadela chega a ser pornográfico de tão grande, e eu desafio aquele que conseguir comer um inteiro, sem dividir com ninguém. Vários paulistas da Mooca (maneira de dizer, porque eu não conheço ninguém da Mooca) me confidenciaram que nunca encararam o pão com mortadela sozinhos. Vai ver é por isso que aquele Mercadão é tão lotado no fim de semana: você tem que ir em dupla pra dar conta da comidaria.

Mas a verdade é que eu nem cheguei na parte da mortadela. Parei nos pastéis de camarão e tomate seco. Eu pedi dois. Foi um  grande erro, porque o segundo pastel desceu com dificuldade, e depois disso eu fiquei bem umas oito horas sem comer mais nada.
Se quer encarar o pastel ao invés do sanduíche de mortadela, escolha o de bacalhau, que é o mais tradicional do mercadão. E esteja preparado pra enfrentar uma fila longa e uma disputa acirrada por um lugar ao balcão. Mas se você é turista, com certeza vai achar tudo peculiar e bem paulistano - portanto, vai se divertir.

Acabado o evento do pastel, que tomou quase a metade do nosso dia, eu e Japanimation fomos passear pelo resto da feira. Resistimos bravamente à tentação de comprar temperos cheirosos que jamais iríamos usar, uma vez que nenhum dos dois é um grande ás da cozinha. Mesmo assim, me rendi a uma massa caseira de spagetti que cozinhei no dia seguinte e que me lembrou muito o macarrão da Geralda, cozinheira da minha avó. Gostinho de infância.

Como o dia estava popularesco demais e eu sou, assumidamente, besta, terminamos a tarde de sábado bebendo vinho no café da Pinacoteca - um dos meus lugares favoritos em Sampa. Depois um bêbado desenhou uma caricatura absolutamente nada a ver com o Japanimation, e ele foi presenteado com mais 5 reais só pra gastar numa branquinha, sorrindo meio de satisfação e meio de bebice.
Fazer alegria de bêbado também é fazer o bem pra humanidade.

Tuesday, October 14, 2008

Eu estou boiando no Neuromancer

Neuromancer faz 25 anos em 2008. Um romance que criou um novo estilo de ficção científica, que influenciou Blade Runner e Matrix e que foi amplamente copiado e chupado por gente menos criativa que Willian Gibson, o autor. Nos meus tradicionais passeios a livrarias, em que, invariavelmente, nunca saio de mãos abanando, acabei me rendendo à curiosidade de ler Neuromancer. Meus amigos nerds gritaram uhu, e eu entrei, definitivamente, para aquele grupo de pessoas muito informadas sobre Heroes, Lost, o Video Games Live e outras atividades de gente que usa óculos. 

O que eu não contava é que eu não ia entender nada. Nadinha. E que, o pouco que consigo acompanhar da história é graças aos filmes que assisti, e que me dão uma boa noção daquela ambientação.

No começo eu me senti muito burra, mas aí um dia encontrei uma amiga no ônibus, e comentei que estava lendo Neuromancer, quando ela mandou na lata que não tinha entendido nada também. Além de ser absurdamente confuso, o livro tem um vocabulário todo próprio, que só quem se formou em Ciências da Computação deve entender.

O pior é que a edição brasileira traz um glossário na parte final do livro que não serve pra absolutamente nada. Quer dizer, descobri o que era ICE pelo glossário, mas por que eles explicaram ali o que era Ganja? Quer dizer, todo mundo sabe o que é Ganja, não sabe? E é muito frustrante procurar palavras absurdas da história no glossário do final e descobrir que não existe uma explicação, e que a gente mesmo tem que ir sacando por aproximação o que o autor quis dizer. É meio como ler um livro em uma língua que você não domina muito bem.

Bom, vá lá, to insistindo. Que pra mim, desistir de um livro no meio é tipo a pior das tragédias. Eu abandono salas de cinema sem o menor pudor, mas parar de ler um romance sem chegar ao final é algo que não sei fazer. Então vai rolando assim, entendendo aqui e sem sacar nada ali, até que um dia a onda acaba. 
O duro é aguentar o Mario Vargas Llosa novinho me olhando em cima da mesa. Tentador.

Perdas e ganhos

Tenho tido vontade de fumar. Depois de pensar sobre isso, descobri que a saudade da nicotina está diretamente ligada ao aumento considerável de chopes consumidos durante a semana, companhias de seriedade duvidosa e ausência de visitas à academia. Parece que tudo o que eu conquistei nos últimos meses está se perdendo - menos os meus quilos, é claro. Esses eu só continuo ganhando.



Wednesday, October 08, 2008

SkolBeats aos 31

Sem sombra de dúvida, o SKolBeats é um evento adolescente: suas tendas espalhadas não me deixam mentir, porque só um jovem pra agüentar andar de um lado pro outro, das 18h às 8h do dia seguinte.
Também podemos considerar o SkolBeats um mega show bem paulistão, meu - tanto que, ao invés de summer hits (o que seria de se esperar de um evento desse tipo se ele tivesse sido locado no Rio), o que se ouvia era música eletrônica sob um frio de uns 13 graus.
Dito isso, o que estaria fazendo por lá uma carioca de 31 anos, que resolve conhecer o festival de música eletrônica já na fase balzaquiana?
Pesquisando comportamentos urbamos, é claro.

Pra começo de conversa, a diversidade de público é, no mínimo, curiosa. Os cybermanos teens e seus cabelos espetados vibravam ao drum n bass do Marky, enquanto que as meninas de psyboots pra fora da calça (aquelas botas com plataformas que todas as ouvintes de trance resolveram descobrir ao mesmo tempo) preferiam encarar enormes filas pro banheiro feminino quando bem ao lado cabines limpinhas e cheirosinhas e cheias de papel higiênico (luxo total!) estavam às moscas.
Mas não pra carioca balzaquiana aqui, que nunca mais pegou fila no Sambódramo depois que descobriu a malandragem do banheiro oculto.

Aliás, mais bizarro que carnaval de paulista é sambódramo de paulista: uma imitação da Apoteose, só que sem o arco final, parecendo que o Niemayer estava sem saco e plagiou ele mesmo ao projetar aquela avenida de samba. Aquilo ali tem clima de pseudo, de segundo lugar do carnaval brasileiro - e olha que eu nem gosto de carnaval, apesar de ser bairrista como quase todo carioca.
Convenhamos: sambódromo em São Paulo é bom pra fazer festa de música eletrônica.

Entre uma observação e outra da fauna urbana, consegui ver os shows do Justice e do Digitalism, que foram bem divertidos e valeram meu ingresso.
Fiquei com a impressão cruel de que cheguei à festa certa dez anos depois, mas realmente a sensação não foi suficiente pra acabar com a minha diversão. E até quando o Japanimation e eu quase fomos parados numa blitz - o que seria trágico, diga-se - eu estava totalmente satisfeita por ter, finalmente, participado do evento que povoou o meu sonho clubber no início da década.
Antes tarde do que nunca!

Tuesday, September 30, 2008

One of the guys

Tenho as unhas descascando porque considero uma espécie de tortura chinesa fazer os pés na pedicure. E não é que outro dia descobri que está na moda usar as unhas descascando, e que estrelas louquinhas e bebinhas de Hollywood pagam dinheiro para ficarem com as unhas exatamente na mesma situação que as minhas, mesmo que as minhas tenham sido apenas descaso e as delas tenham sido milimetricamente descascadas? Primeiro pensei: que moda ridícula, mas depois pensei: ótimo, estou na moda, e por último pensei: que se foda, semana que vem não vai ser mais moda mesmo, então é melhor marcar logo a sessão de tortura.

Devido à minha assumida preguiça de fazer as unhas e cuidar dos cabelos e frequentar saloes de beleza, de vez em quando penso que queria ser homem. É um desejo antigo, remonta da época dos twenty something e nada tem a ver com sexualidade, mas sim com a admiração pela facilidade com que os participantes do gênero masculino levam a vida. Eu bem que queria acordar, olhar pra uma mega bunda e ficar, instantaneamente, de bom humor. Mas não, eu tinha que nascer mulher, e precisar de uma bela bunda masculina pra olhar de manhã, e mais umas roupas novas, uns quilos a menos, um cabelo menos ressecado e um salário melhor. Ah, sim, e precisaria também, além da bunda e de tudo mais, de um bom livro e um bom filme e alguma promessa de satisfação da alma para que o meu dia comece bem e, com isso, eu fique de bom humor.

Se bem que, de vez em quando, me entrego aos simples prazeres da vida masculina quando sento em uma mesa de bar e ouço os comentários e desfilos piadas de quinta série, mas que naquele momento fazem sucesso e, quando percebo, eu praticamente tenho um saco. Mas é tudo mentira, é claro: eu continuo sendo menina, mas imagino que tenho um saco e rio de piadas de salão com uma satisfação sincera.

Fiz balé na infância, gostava da Cinderela e queria casar na igreja, de véu e grinalda e vestido de bolo. De algum jeito, não sei bem como, tudo isso desapareceu e deu lugar às olheiras e ao dente escuro e às unhas descascadas segurando um copo, ou gesticulando e derrubando a tulipa, ou sentando em cima do calcanhar para ouvir histórias alheias.
É libertador ter me livrado da torre do castelo, mas não conta pra ninguém que eu ainda gosto de usar luvas até o cotovelo, e aproveito as festas à fantasia pra vestir a minha roupa de Breakfast at Tiffany's.

Wednesday, September 24, 2008

Lista de fim de ano

Uma das coisas que mais tem me animado ultimamente é o planejamento da minha viagem de reveillon. Vou passar o año nuevo em Buenos Aires, pela primeira vez pisando em terras portenhas, armada de uma lista de lugares pra conhecer e gente pra procurar e restaurantes e bares e boates. E Montevidéu. Porque quem foi a Buenos Aires e não pegou o barquinho para o Uruguai, deu mole.

É claro que o Japa já conhece a Argentina - foi no friozinho, bebeu vinhos e comeu alfajor, dançou tango e tudo mais. Mas agora ele resolveu me acompanhar em outro tipo de viagem a BsAs: o do calor do verão sulamericano, com direito a idas a shows de rock de bandas locais desconhecidas, jantares em restaurante mega caros de Puerto Madero, ouvindo Kevin Johansen e gastando tudo nas outlets da Puma e da Nike.

O foda é que a viagem a Buenos Aires é um dos tópicos que consegui riscar das coisas a realizar em 2008. É uma mania minha fazer listas com dez ítens de planos para o ano novo. Eu escrevo, e deixo a lista guardadinha, e de vez em quando dou uma olhada pra ver a quantas andam as minhas realizações.

Qual não foi a minha surpresa ao consultar a lista de descobrir que a viagem a BsAs seria o sétimo tópico realizado de 2008 ("conhecer uma cidade da América do Sul"). Mais que isso: com a ida a Montevidéu, vou conhecer duas cidades com uma cajadada só. E isso dá um orgulhinho, uma pequena satisfação - ainda mais pra mim, que tenho a péssima mania de não valorizar minhas conquistas.
Sou dependente das listinhas oficiais de ano novo pra lembrar que eu queria muito alguma coisa que consegui.

Wednesday, September 10, 2008

Coletivos

Andar de ônibus na zona sul do Rio - desde que fora do horário de rush - é como assistir televisão ao vivo, na sua janela: mãe passeando com carrinhos de bebê, cachorros com vestidinhos de inverno e suas donas solteironas, aqui e ali algum conhecido dos tempos de faculdade, gente mal vestida, gente bem vestida, gente bonita, gente feia, gente pobre e gente rica. Um montão de gente.

É por isso que há uma semana eu resolvi deixar o carro na garagem. Vou pro ponto de ônibus, pago a passagem, entro e leio meu livrinho de bolso. De vez em quando canso e olho pela janela pra ver a televisão ao vivo, e depois me entedio de novo e volto pro livro. Caminho do ponto de ônibus até a minha casa, prestando atenção aos prédios art decó da zona sul do Rio, esticando a vista pra ver a decoração de certos apartamentos e descobrindo lojinhas que estão ali há anos, e que eu nunca tinha visto.

É bom passear pelo meu bairro.

Tuesday, August 05, 2008

De volta à 1998

Pra que tudo isso? Por que as raízes brancas no alto da cabeça? Pra que a dor de estômago e o livro que há duas semanas parou na mesma página? E os discos que eu baixei, pra que baixei, se só ouço no pequeno espaço de tempo reservado para meus MP3, quando saio do banho e escolho a roupa e tento, de alguma maneira, arrumar o quarto? E por que os convites recusados, e a minha avó que já tem mais de 90 anos e pra quem eu não dou um telefonema sequer, e pra que a minha afilhada que eu só vejo de seis em seis meses, quando muito, e que nem me chama de 'dinda'? E pra que o diploma e a faculdade, e todos os anos de mensalidades, pra que servem agora?

Ainda espero o furo inacreditável da minha carreira de jornalista.
O meu livro a ser laçado.
O documentário.

Eu não consigo nem mais escrever no blog. E pra quê?

Não estou mais rica.
Não descobri a cura da AIDS.
Não adotei uma criança pobre.
Não fiz bem pra ninguém, a não ser a um minúsculo número de socialmente relativos.

Se eu pudesse recomeçar, faria tudo diferente. Ou ficava podre de rica, ou pobre e satisfeita.
Nunca esse meio termo escroto a que todo o rebanho se acostumou.

Saturday, July 26, 2008

Catarina, The Cat

Agora tenho uma gata no meu apartamento: Catarina, the cat. No primeiro dia, tentei me aproximar e ela se arrepiou de desconfiança. No segundo dia, se escondeu embaixo da cama da sua dona, de vez em quando procurando de onde vinha a voz estranha que conversava perto dela. No terceiro dia, ficou na porta do meu quarto até ganhar coragem e entrar. Quando entrou, cheirou meus vestidos e minhas bolsas, cheirou minha cama, meus sapatos, meus livros, cheirou minha pilha de papéis inúteis, minha sacola de fotografias erradas dos anos 90, cheirou o Massashi que estava deitado, cheirou o cesto de roupa sujas e mais um monte de livros sujos, e quando se cansou de cheirar tudo, Catarina se enroscou perto de mim e se deitou, ocupando o espaço perto do meu travesseiro.
Foi paixão imediata.

Monday, July 14, 2008

Nascimentos

Mãos e orelhas de bebês me fazem querer parir. Talvez porque as mãos sejam pequenas e busquem qualquer coisa que consigam segurar com aquelas minúsiculas palmas. Ou porque as orelhas sejam cópias exatas das orelhas dos adultos, só que na versão mini: mini-orelhinhas, mini-dedinhos, mini-unhinhas, e uma vontade mega de colocar aquele ser no meu colo e protegê-lo de todos os bichos papões. Nem todas as mulheres nasceram par ser mãe. Eu nasci.

Também nasci pra ter um marido, e para vasculhar a Tok Stok pensando na decoração da sala. Nasci pra jogar pro alto, mesmo morrendo de medo, meu apartamento mobiliado com móveis de segunda mão para comprar tudo novo em um outro na Avenida Paulista. E também pra achar semelhança entre os pais naqueles bebês que ainda têm cara de joelho, porque nem bem chegaram ao mundo, e nem bem abriram os olhos, e já estou eu procurando e encontrando uma sombra do pai, da mãe e etc.

Definitivamente, eu nasci pra fazer uma puta festa de casamento - mas não nasci pra padre nem igreja, nem véu e grinalda.
Nasci pra fazer lista de presentes em lojas caras, acreditando que meus amigos vão se juntar em uma vaquinha e me darão um sofá. Mas deixando opções mais acessíveis para aqueles que estão na segunda faculdade.

Não sabia, até ontem, mas agora descobri: nasci pra adotar uma criança, de preferência aquela que ninguém quer porque é negra, mas que tem a orelhinha e a mãozinha que tanto me encantam em bebês.
Nasci pra fazer planos de viagens para as quais não tenho dinheiro. E para tentar aprender novas línguas, mantendo a pronúncia horrorosa do meu espanhol iniciante.

Nasci pra ser boa de garfo e ruim de panela.
Pra ser preguiçosa, mas vencer a preguiça de arrumar a casa.
Pra ter eternamente 5 quilos a mais do que gostaria.
Pra ser egoísta e ciumenta e cegamente legal, como um cachorro - com amigos ou namorado.

Friday, July 11, 2008

Sobre Calcinhas Novas

Outro dia comprei calcinhas novas. Não daquelas confortáveis, que se vende nas Lojas Americanas. Mas aquelas do tipo que se paga uma grana por elas, e que incomodam, mas são incrivelmente lindas. E percebi que a calcinha resume a essência de ser mulher: a gente prefere se sentir ligeiramente desconfortável, porém linda, do que se sentir gorda ou mal vestida em calças aconchegantes. Nem que seja apenas em público.

E hoje, coloquei as calcinhas novas e abri um vinho. Assim, com as calcinhas e com a taça na mão, e o meu dente quebrado metade falso que cisma em ficar meio preto toda vez que bebo vinho. Acaba com qualquer glamour. E só porque bebi três taças e estou sozinha em casa numa sexta-feira, o que seria inadmissível há seis meses, ouvindo o shuffle do iTunes e selecionando qual música merece 3 ou 4 estrelinhas, e raramente colocando as cinco máximas estrelas, e ouvindo Nina Simone na semi-escuridão, esperando que a maçaneta gire e pela porta entre o meu namorado, para quem eu comprei calcinhas novas e bebi três taças de vinho.

Eu sou uma observadora do comportamento humano da zona sul carioca, e por isso digo com toda certeza que calcinhas lindas e desconfortáveis e extremamente overpriced servem para entreter namorados; e que roupas de grife servem para valorizar curvas não esqueléticas e deixar com certa inveja inimigas escrotas, e que tudo isso se faz sorrindo e fingindo que foi por acaso. Mulheres são gênios do mal quando não estão apaixonadas. Quando estão apaixonadas, a menos que sejam a Nina Simone, elas ficam idiotas e viram pequenos fantoches, da mesma maneira que os homens ficam quando estão apaixonados (com a vantagem de que eles não têm que comprar novas e caras e desconfortáveis calcinhas para impressionar seus pares).

Monday, July 07, 2008

Viajar é preciso 2

Aqui vai uma lista dos lugares por onde passei nos últimos 3 anos:

1 - Canoa Quebrada, CE
Fiz uma matéria com uma escola de circo que se inspirava no Cirque de Soleil. Era uma ONG chamada Canoa Criança. Eu já gtinha estado em Canoa Quebrada, mas isso não diminuiu a vontade de passar pelo menos uma noite lá. Só que não deu, fazer o que. Ainda não fotografei a Lua e a Estrela que são símbolos da cidade, encrustradas nas falésias. Fica para minha terceira ida a Canoa, se um dia ela rolar.

2 - Genipabu, RN
Gravei com os dromedários do Dromedunas, uma empresa que faz passeios nas corcovas dos bichinhos. É claro que eu também dei meu passeio, devidamente fotografado. Mas antes de chegar nos dromedários, consegui fazer uma viagem com bugres no estilo "com emoção" pelas dunas. Dá um medinho, mas é bem legal.

3 - Cabedelo, PB
Uma das surpresas que tive na vida foi a Paraíba. Que lugar lindo! E olha que antes de conhecer eu nunca iria considerar a minha primeira opção de viagem. Gravei com a ONG Tartarugas Urbanas, peguei uma tartaruguinha na mão, fiquei vendo aqueles bichinhos correndo pro mar. Faltou conhecer o pôr-do-sol do Jacaré, e tantas outras milhões de praias.

4 - Itamaracá, PE
É um paraíso, e eu só passei por lá. Não fui no forte, nao mergulhei no mar. Estava um calor sinistro, e a gente tinha acabado de gravar com o Projeto Peixe-boi. Tínhamos que voltar pra Recife pra pegar um vôo em dierção à proxima cidade. Um dia.

5 - Praia do Francês, Maceió, AL
Fui duas vezes. A primeira foi em dia de semana, numa brechinha que tivemos entre uma matéria e outra. Foi maravilhoso: não tinha quase ninguém na praia, era tudo só pra gente. O Francês é uma praia fechada por um coral. As ondas quebram no coral e formam uma piscininha entre o coral e a areia.
Na segunda vez fui em um domingo. Péssima experiência, programa tipo Posto 9 de Ipanema ao meio dia, no carnaval. Tudo lotado, sem lugar pra sentar, gente por todos os lados.

Já me deu vontade de viajar de novo, só de lembrar desses lugares. E tem muita história pra contar ainda... Outro dia eu continuo. É que só de pensar em todos os lugares que ainda terei que lsitar, fico com uma preguiça. E ando muito preguiçosa para textos ultimamente.
Outro dia falo de outros lugares. Por hoje é só p-p-p-pessoal.

Viajar é preciso

Fazem uns cinco meses que não viajo. Não conto as minhas idas a Sampa, cidade que já virou segunda casa, e onde muitas vezes nem saio do apartamento (nem do quarto) do Japanimation, enfurnada vendo séries e filmes downloadiados no estilo pirateiro de ser. Quando reclamo (reclamo?) que não viajo há cinco meses, me refiro àqueles retiros de fim de semana quebrando a rotina, em pontos em que o celular não pega, conhecendo gente e lugares novos. Adoro pisar em terras nunca antes pisadas (por mim).

Essa noite sonhei que ia para a Polônia a trabalho. Não sei por quê o país do sonho foi a Polônia: não tenho nenhuma vontade de conhecer esse lugar - por enquanto - e não há a menor possibilidade de eu viajar para o exterior a trabalho. Quer dizer, isso eu já não digo com tanta certeza, porque uma das características da minha profissão é justamente a imprevisibilidade de compromissos, o que tanto pode significar o cancelamento da minha festa de aniversário quanto uma viagem pra Nova York com tudo pago pela empresa. Essa última opção nunca rolou, mas quem sabe um dia?

A verdade é que conheci quase o Brasil inteiro por causa do meu trabalho. E conheci de uma maneira interessante, proque não foi através da visão do turista, mas sim através do povo que mora no lugar. Agora, tinha vezes que eu ficava com água na boca de visitar melhor a cidade que estava no momento. Porque, ao contrário do que alguns pensam, viajar a trabalho não significa fazer turismo de graça. Se trabalha muito mais do que em casa e, se dá tempo de passear um pouquinho, é só um pouquinho mesmo. Na Chapada Diamantina, eu ficava doída de tanta vontade de fazer aquelas trilhas. Em Itamaracá, eu não dei um mergulho naquele mar maravilhoso. Em Ouro Preto, nem rolou de beber uma cachaça mineira. Fiquei só na vontade, em todos esses lugares - apesar de tantos convites dos nativos para me juntar a alguma farra. Pena que não deu...

Quando eu viajava a trabalho, gostava de sentar no banco da frente do carro que nos buscava no aeroporto, para poder ver as ruas e as placas melhor. Pra mim, essa sensação de olhar pela primeira vez um lugar é incomparável. Até o cheiro é diferente. As pessoas na rua, a arquitetura, os sotaques. Eu gosto de reparar em tudo nesse primeiro momento em que, felizmente, sou uma etsrangeira. Porque depois esse momento vai embora e nós, também felzimente, passamos a fazer parte daquela nova paisagem, mesmo que por apenas alguns dias.

Friday, July 04, 2008

A segunda metade do ano

Não sei explicar exatamente por que isso ocorre, mas quando chega julho parece que finalmente as coisas começam a acontecer no mundo. E quando passamos a marca dos seis meses, o ano sai correndo que nem um maluco em direção ao reveillón. Isso me faz lembrar o quanto eu estou parecida com o meu pai e com todas as pessoas adultas que conheço, porque são essas pessoas que costumavam falar "nossa, como o tempo passa rápido!" Quando eu era criança, achava muito estranho que falassem que o tempo estava correndo, porque pra mim o tempo passava igual em qualquer dia e em qualquer mês.

O negócio é que as festas mais legais e os melhores shows e o meu aniversário, todos ficam para a segunda metade do ano. No final de agosto faço 31 (31!!!), e já penso em festas alucinadas, amigos DJs, lista de convidados e roupas novas. Por mais que eu faça 31, a minha comemoração de aniversário continua basicamente a mesma desde os 20.

Além disso, há o fato dos milhares de shows que povoarão o Brasil na segunda metade de 2008: estou esperando Radiohead, Nine Inch Nails, o tradicional Tim Festival e tantas outras bandas que eu ainda não conheço mas que na véspera do show vou baixar e cismar de assistir à apresentação. É assim que se faz.

O problema é que, atualmente, shows são meu maior custo-benefício no quesito lazer. Outro dia mesmo fui ver The Go! Team no Ibirapuera (tudo bem que esse foi de graça, mas vamos lá) e foi tãão bom, e eu saí com a alma tãão lavada que me fez pensar sobre ganhar e gastar dinheiro com coisas que valem a pena.

Shows valem a pena. Aniversários valem a pena. Roupas novas para festas de 31 anos também valem a pena.
É tudo uma questão de critério.

Thursday, July 03, 2008

Eu coração isso

Descobrir coisas legais na internet é um hobby que tem ganhado proporções. Por isso não largo o Twitter nem um dia na vida: quando descubro um site legal, corro pra passar o endereço adiante, e adoro quando alguém me passa um site, e por aí vai. E foi nessas idas e vindas de informação cyber que eu descobri o We Heart It, o site de um designer brasileiro chamado Fabio Giolito, que tem uns 20 e poucos e já inventou uma coisa muito legal.

Funciona assim: você faz um cadasttro no site e cria uma conta, e chama os seus amigos pra fazerem o mesmo, e aí você tem a sua pequena comunidade We Heart It (é isso aó, internet sem rede social não é internet, não é mesmo?) Aí você baixa pro seu computador (o termo correto não é baixar, é mais instalar, mas também não é isso, exatamente) a ferramenta que permita que você ame imagens muito legais que encontrar por aí.

Você pode amar qualquer tipo de imagem que, sem nenhuma explicação, você goste. E todas as imagens que você amou vão para o site, e outras pessoas podem amá-las também. Quando nos damos conta, estamos cercados de imagens legais, que dariam ótimas camisetas. E que não servem mais pra nada, a não ser para serem amadas. E não tem nada melhor que amar uma imagem.
E quando você percebe, adquiriu, através das imagens que você ama, uma descrição engraçada e inesperada de si mesmo.
Eu sou assim.

Feliz Aniversário (Para o Japanimation)

Acordei bem cedo pra estudar espanhol e lá estava você ao meu lado: os olhos fechados que pareciam sorrir, a barba eternamente por fazer, um nariz aquilino e um pouco torto, os cabelos de sempre e o cheiro de sempre. Me enrosquei no braço que estava solto e você semi-acordou. Me puxou pra mais perto, me deu um beijo e eu te disse "parabéns". De novo você me pediu em casamento e de novo eu disse que sim; de novo eu falei que quero ter uma filha e de novo você disse que também quer. De novo a gente fez as contas e chegou à conclusão de que só daqui a cinco anos. De novo falamos sobre ir ao Japão. De novo imaginamos como vai ser quando morarmos na mesma cidade. De novo beijamos e nos enroscamos e de novo eu reclamei de ter que acordar cedo.
A vida tem sido uma reprise deliciosa.

Tuesday, June 17, 2008

A Flor da Inglaterra

Finalmente terminei de ler "A Flor da Inglaterra", o livro mais fraquinho do George Orwell que eu já li. Tudo bem que eu não sou expert em nenhum autor, mas até que já me rendi a vários dos títulos de Sir Orwell: o óbvio "A Revolta dos bichos", o clássico "1984", o autobiográfico "Na pior em Paris e Londres"... Aliás, "A Flor da Inglaterra" parece muito este último, com a diferença de que o "Na pior..." fala da época em que George Orwell ainda se chamava Eric Arthur Blair, e tentava ganhar a vida como escritor, enquanto que "A Flor" é total e absoluta ficção.

Bom, mas vamos aos fatos. "A Flor da Inglaterra" tem um personagem principal chatíssimo. Acho que, na verdade, eu gostei do livro; não gostei é do protagonista! Gordon Comstock é um cara que declara guerra ao dinheiro, mas vive tão obcecado pela falta do vil metal que acaba se tornando seu escravo. Ele repudia com todas as forças a burguesia inglesa (a burguesia fede... a burguesia vai ficar rica... sou só eu ou todo mundo que fala - ou escreve - a palavra 'burguesia' começa a cantar a música do Cazuza?), representada no livro pela aspidistra, uma planta que figura na sala de estar de toda a classe média da Inglaterra.

Pra piorar a chatice do Comstock, ele ainda é poeta, e mal sucedido (é claro). Então a amargura dele é financeira e profissional, porque a poesia dele é ignorada pelos literatos. O livro tem como pano de fundo pensões sem o mínimo conforto, plebe que lê livros de mistério, ricos que são socialistas e slogans publicitários lamentáveis. Pois é, Orwell sacou muito antes de todo mundo (o romance é de 1936) a grande porcaria que é a publicidade. Sorte dele não ter que aturar o meio da propaganda em plenos anos 00, com essa lista de prêmios, e de conceitos de que "publicidade é arte" que se vê por aí (e que só os publicitários acreditam, é claro).

Mas não foi horrível ler a "Flor da Inglaterra". Na verdade, todas as minhas reclamações a Gordon Comstock são, na verdade, elogios ao autor. Só quem é um gênio da literatura consegue fazer viver um ser que instiga tanta antipatia. Gordom é o verdadeiro anti-herói, o cara que você quer ver quebrar a cara, de tão tacanho que ele é. E o livro tem aquela escrita característica do nosso G.O., que faz as páginas serem viradas com facilidade, escorrendo palavras adentro.

Vale a pena, desde que você já tenha lido "A Revolução dos Bichos", "1984" e "Na pior em Paris e Londres".

A louca vida uma produtora de reportagem

Tanta loucura rolando que não consigo mais atualizar o blog. Tenho mil idéias para posts que se perdem por aí, ou então que viram micro ensaios no Twitter. Mas a verdade é que nem do Twitter tenho participado muito, me contentando em seguir uns amigos aqui e ali.

O meu trabalho às vezes parece uma gincana. E mesmo assim, eu gosto. É uma espécie de masoquismo, mas eu adoro essa loucura de achar gente completamente diferente do habitual para participar de uma matéria na TV. Porque a televisão é um plus! Fazer matéria para a TV nem de longe significa fazer matéria pra jornal, em que o repórter conversa por telefone e acaba "preservando" muito mais o entrevistado. Televisão não tem dessa: quem aceita dar a entrevista tem que colocar a cara ali na telinha pra gente do Brasil inteiro assistir; tem que falar bem e ter todos os dentes (isso mesmo, entrevistado desdentado, só se for em matéria denúncia); tem que ser bem resolvido com as questões mais cabeludas (porque, obviamente, o repórter vai querer saber sobre os detalhes sórdidos). Enfim, tem que preencher um milhão de pré-requisitos e, ainda por cima, tem que ter a ver com a matéria.

De vez em quando mando uns emails para todos os meus amigos (mesmo os que nem são tão amigos assim, incluindo aí ex-namorados, ex-ficantes, ex-colegas de ex-trabalhos, etc) com pedidos insanos, do tipo: quem aí ainda tem gás natural em casa? Geralmente, já começo esses emails me desculpando. E o pior é que é sempre através dos emails que eu consigo chegar ao perfil que procuro.

Minha última tarefa foi achar um casal que seja casado e more em casas separadas. Estou procurando, ainda, com algumas possibilidades de sucesso. Já achei gente que não queria falar, já achei gente que queria falar mas que não agradou à alta cúpula da reportagem. Uma busca que deve agradar a gregos e troianos.

Bom, vou aproveitar pra buscar aqui também (se é que todo mundo que lê isso aqui já não está ciente) alguns dos personagens que procuro.

- Um casal que seja casado, tenha filhos e more em casas separadas.
- Uma mulher em torno de 65, 70 anos, que tenha se divorciado e só então começado uma carreira.
- Um casal homossexual que esteja buscando a dupla paternidade/ maternidade com os filhos adotados. E que tenha escolhido adotar uma criança negra, ou portadora de deficiência...

Isso aí, ta valendo a gincana. Quem responder por último é a mulher do padre. Um do lá si e já!

Friday, June 06, 2008

Sonhos coloridos

De vez em quando ela sonha, e o dia seguinte carrega sempre as cores do sonho da noite anterior. Tem vezes que as horas passam roxas de angústia, ou amarelas de canções saltitantes, ou ainda verdes de relaxamento, ou azuis, cinzas e violetas. As horas têm cores ditadas pelos sonhos, e isso ela nunca conseguiu explicar para ninguém, pois ninguém há de entender que o roxo é da angústia e o verde é que é da paz, e não o branco, que na verdade é uma cor muito confusa porque é, ao mesmo tempo, todos os espectros de cores juntos e a total ausência de pigmentos de cor. O branco é tudo e nada de uma só vez.

E por causa dos sonhos de cores muito intensas, ela acordou um pouco triste outro dia. Lembrava vagamente de por quê se sentia melancólica. Talvez fosse a saudade, que de vez em quando aparece inexplicável, aperta bem o peito e foge momentos depois, sem dar explicação. Ou então é a noção de que tem coisas guardadas bem fundo que só são remexidas à noite, contra a sua vontade, e a poeira das mágoas empacotadas ainda faz espirrar pela manhã.
Os sonhos são cruéis demais, e tinha dias que ela odiava sonhar.

Mas depois esquecia do ódio e sonhava em amarelo, e ficava tudo bem porque então ela colocava uma canção bem saltitante e assim, aos pulinhos, começava tudo de novo.

Um texto antigo redescoberto

Japanimation me mostrou um texto antigo, que ele descobriu garimpando meus 357 blogs. Eu, que nem lembrava do texto, reli e gostei. E olha que eu quase nunca gosto de nada que eu escrevo. Vai ver eu escrevia muito melhor naquela época...


Terça-feira, Agosto 24, 2004

Medo
Sobre o tédio

Sentou ao lado dela e começou a explicação: “... é que eu já tive algumas decepções e agora não quero mais me apaixonar”. Ela tragou o cigarro, olhou para ele e sorriu:
- Quantos anos você tem mesmo?
- 23
- Então eu devo te avisar: isso é só o começo.
Os dois então se calaram. Um em frente ao outro e tantas outras distâncias, muito mais que uma cadeira mais dois palmos entre um joelho e outro, e tantas coisinhas que precisavam ser entendidas, mas que não eram ditas porque nem tudo pode e deve soar pelos ares – até que ela arriscou e mandou:
- Vou te ligar um dia desses.
Ele fez cara de quem acha que aí já é demais, que aí já é muita interferência:
- É que eu não sou um bom partido.
- Quem disse que eu acho que você é um bom partido?
Ele riu do comentário e puxou a cadeira dela pra perto. Os joelhos se tocaram, mas as outras distâncias continuavam as mesmas. Ela fez que não entendeu, fez que esqueceu do que já sabe, jogou o cabelo pra trás e riu muito mesmo.
- Você ta bêbado!
Depois ela se cansou e deu uma olhada no relógio, e já era quase tempo de virar abóbora e perder o sapatinho.
- Ei, ei, tudo bem se eu te ligar? Ou você vai ficar tenso?
- Não vou ficar tenso. Tudo bem.
Ela levantou, rodeou a cadeira, chegou por trás dele e lhe segurou a cabeça. Deu um beijo na testa e ia dizer algo, mas decidiu não dizer nada. Catou a bolsa e foi embora, deixando ele lá sentadinho, no topo de seu monte de dúvidas, de seus 23 anos, de sua incerteza e de suas infinitas e assustadoras possibilidades.

posted by bruna paixão at 12:48 PM

Lutas de espada sem sangue

Fui assistir "Crônicas de Nárnia: o Príncipe Caspian", porque assumo mesmo que adoro filminhos em ambientação medieval, com magia, castelos, príncipes, princesas e lutas com espadas. São resquícios dos meus tempos de jogadora de RPG, em que minha personagem, Ayla, era uma feiticeira mediana e uma péssima atiradora de funda. E mesmo assim eu me divertia, vejam só. Daí eu não nego essas sagas, mesmo que elas sejam produzidas para um público algumas décadas mais novo que eu, como foi o caso deste segundo filme sobre Nárnia.

Não me importo com narrativas infantis, mas dessa vez confesso que perdi um pouco da minha paciência habitual. Não sei se foi a menina que interpreta a Lucy que, de tanto que se leva a sério, parece até uma daquelas crianças do programa Raul Gil. Ou se foi o climinha forçosamente criado entre o príncipe Caspian e a Susan. Ou, ainda, se foram as lutas de espada em que não se via sangue.

Depois que percebi que as mortes por espada eram as mais limpas da história do cinema - tanto que as lâminas não apresentavam nem um resquício de líquido vermelho depois que eram retiradas dos corpos dos inimigos - fiquei absolutamente obcecada pela maneira como os guerreiros morriam no filme. Alguns tinham a garganta cortada, mas o plano era feito pelas costas da vítima, de modo a não mostrar o ferimento de frente. Outros levavam flechadas ou eram esmagados por pedras das catapultas. Nenhuma morte era suja, e nem a noção de que isso acontecia para preservar a classificação livre do filme aplacava o meu incômodo.

Acho que fiquei tão incomodada porque esse episódio de Nárnia apresenta muito mais lutas que o primeiro, quando eles descobrem o mundo mágico. Nas 2h20 de história, tudo era luta, guerra, conquista. Como no segundo Senhor dos Anéis, mas mirando em uma faixa etária muito menor.

Queria saber se outras pessoas perceberam a ausência de sangue nas lâminas das espadas. E queria saber, mais ainda, se só eu me incomodei com isso. Mas, apesar de todas as minhas reclamações, foi bem divertido ir ao cinema na quarta pra ver Crônicas de Nárnia. Comprei um pacote de pipoca e um copo de mate com limão e me deixei levar pela história dos cinco pentelhinhos ingleses. Porque todo mundo sabe que eles são pentelhos, certo? Ou eu estou implicando de novo?

Tuesday, June 03, 2008

Sempre uma grande diversão

Foi culpa da Bárbara eu ter desenterrado o meu DVD de Crepúsculo dos Deuses, comprado nas Lojas Americanas por uns R$12, para assistir pela décima primeira vez. Nessa última sessão eu tinha o Japanimation ao lado, que nunca havia assistido antes, e eu praticamente já estava estragando tudo pra ele, de tanto que falava que era incrível. Eu tenho esse dom: quando me apaixono por um filme, uma música ou um livro falo tanto deles pros outros que crio uma expectativa absurda e, inevitavelmente, os amigos não acham minhas sugestões tão incríveis assim. E eu tinha medo de ter feito o mesmo com o Japa.

Mas nem mesmo minha língua maior que a boca é capaz de estragar esse filme. Crepúsculo dos Deuses é uma daquelas obras que todos os professores de cinema da minha faculdade diziam ser filmografia básica. Mesmo assim, demorei a ver. Lembro que uma vez aluguei na locadora, levei pra casa junto com outros filmes e, quando fui assitir, não soube settar o DVD pra ver sem notas. Juro por deus: devolvi o disquinho sem saber do que se tratava, roxa de curiosidade e de vergonha por não ter resolvido uma questão tão primária.

Hoje tenho na cortiça do meu quarto (esse é um hábito adolescente que nunca consegui me desfazer, o de ter um quadro de cortiça no quarto) uma lista de 100 filmes que são obrigação na vida de qualquer ser humano. Ganhei a lista no curso de assistência de direção. Confesso que me dá uma certa angústia ler aquela lista e descobrir que vi muito pouco dos 100 títulos listados. Dá a impressão de que nunca vou conseguir terminar esta tarefa, ainda mais porque a lista inevitavelmente aumenta e se transforma a cada estréia de sexta-feira.

Faz duas semanas que não vou ao cinema. Me sinto um pouco menos inteligente, confesso. Ou melhor: me sinto menos atualizada. Não vi Indiana Jones, e todo mundo só fala de Indiana Jones. Eu fico quieta. Sem graça de admitir que faz duas semanas que não vou ao cinema. Que tenho visto muito Seinfeld, muito Lost, muita Ugly Betty e todas essas coisas que eu adoro ver e que o Japanimation baixa pra mim.

Friday, May 30, 2008

Tudo se encontra na capital

Devo admitir que São Paulo tem uma carcaterística que me seduz quase que completamente: a diversidade cultural. Qualquer tipo de comida, artesanato, música, arte, teatro e filme produzidos em qualquer canto do Brasil pode ser encotrado em Sampa. E eu, que já andei por muitos cantos brasileiros e acabei me apegando por manias regionais, gosto de saber que logo ali tem um gostinho do Rio Grande do Sul, ou do Ceará, ou do Acre. Me lembra, mesmo que só um pouquinho, da época em que morei em NY e conseguia encontrar Nescau e bombons Garoto pra vender no supermercado do meu bairro. Eu achava que NY era incrível porque não era o lar de ninguém mas, ao mesmo tempo, era o que mais se aproximava de qualquer tipo de cultura situada fora de seu país natal. Em uma escala muito menor, São Paulo também é assim.

Outro dia eu estava na casa do Japanimation. Faziam uns 12 graus na rua, chovia, ventava e o edredom era o melhor lugar do mundo, quando não sei por que, me lembrei da existência da cuca. A cuca vem a ser um pão doce alemão que é muito popular no RS - principalmente na cidade de Novo Hamburgo - e que é simplesmente uma tentação divina, quase pornográfico de tão gostoso. Eu fiquei viciada em cuca de chocolate (tem de vários sabores, minha gente) quando passei uma longa temporada de trabalho nas terras gaúchas. Pronto, me ferrei: cuca só se vende no sul, e mesmo assim só no RS, porque nem Santa Catarina, nem Paraná têm o costume de produzir essa delícia. Não sei o que me deu - talvez tenha sido o frio - que fiquei com uma vontade louca de comer uma cuca de chocolate como aquelas que viraram mania em Novo Hamburgo.

Googling "cuca alemã de chocolate em São Paulo", descobri um blog que citava um supermercado gaúcho que tinha aberto filial em Sampa. E, acreditem, vendia cuca de todos os sabores.
Corremos pro supermercado, compramos mais um milhão de coisas calóricas e irresistíveis, e afundamos no edredom. São Paulo é frio e bom pra comprar comida de todos os cantos do Brasil - então vamos aderir e na segunda a gente corre atrás do prejuízo.

Wednesday, May 28, 2008

Com o futebol ninguém se sente sozinho

Eu já fui futeboleira, do tipo que escutava mesa redonda no rádio e ia ao Maracanã. Graças a deus essa fase passou, depois que o meu time perdeu de virada em pleno Maraca, e eu tive que percorrer praticamente toda Tijuca atrás do meu carro estacionado sabe-se lá aonde, cabisbaixa e mal humorada com a virada do jogo.

Mas agora que eu moro no bairro mais tricolor do Rio de Janeiro, mesmo quando eu não to interessada, acabo participando da festa. Explico melhor: pela minha janela, cercada de outras janelas por todos os lados, ecoam gritos de júbilo a cada gol do Fluminense. E, a partir do primeiro, uma espécie de comunicação é estabelecida entre os torcedores: eu grito Nense aqui e outro alguém grita Nense lá, e soa uma corneta, e uivam os mais animados. Quando o adversário faz gol, já é diferente: a gente ouve um 'mengo' aqui e ali, provando que a maior torcida do mundo é realmente a do Flamengo, principalmente quando eles estão fora do campeonato e só querem que os outros times cariocas percam.

Para quem cresceu ali bem pertinho do clube das Laranjeiras, é praticamente impossível não ser tricolor. Até os flamenguistas da São Salvador devem ter aprendido a nadar da piscina de 50 metros do Fluminense, escondendo isso dos outros amigos que é pra não ser zoado na escola. Mas tem jeito? Se você mora em Laranjeiras ou no Flamengo, não vai nadar lá na Gávea, certo? Então, uma hora ou outra, mesmo os rivais do pó de arroz têm que pisar no clube inimigo.

Como não tenho saco pra assistir 90 minutos de bola rolando, minha tática pra saber o placar é muito simples: nego gritou, eu dou uma olhada na internet e fico por dentro da pontuação. Semana passada o Fluminense ganhou e teve até comemoração na praça. Mas como eu me defino como "tricolor não praticante", fiquei morrendo de preguiça da bebedeira da vitória, apesar feliz pela conquista. É que mesmo na minha curta carreira de torcedora eu aprendi que não vale a pena sair do sério por causa de time de futebol. Mesmo que a alegria entre ecoando pela minha janela.

Tuesday, May 20, 2008

Vale dos Templos




Um dos passeios mais legais que eu fiz desde que passei a, digamos assim, freqüentar São Paulo, foi conhecer o Vale dos Templos. É um refúgio em Itapecerica da Serra, a uma hora de Sampa, mas que parece estar muitos quilômetros de distância da capital paulista. Primeiro porque quando a gente chega lá, percorre ruazinhas de terra que lembram caminhos para casas de campo. Segundo que, passando o portal da entrada, temos a impressão de que entramos em outra dimensão, tal é o silêncio e a paz daquele lugar.

Não sou budista. Até admiro a filosofia de Buda aqui e ali, mas nada que me faça acompanhar os cultos ou tentar meditar. Mas quando a gente chega lá, a história é outra. Antes de chegarmos aos templos, na descida do morro, há um cemitério japonês, com lápides luxuosas que lembram um pouco aquele monolito de "2001" - sendo que nas lápides há uma escritura em japonês com o nome da família do morto. É incrível, porque você não espera encontrar um negócio daqueles no meio da mata. Uma surpresa.

E assim são todos os momentos do passeio. Cada esquininha que você vira, cada árvore que você percebe, guardam uma pequena admiração.

Compramos comidinhas pro piquenique (e eu levei um vinho, é claro, porque não sou nem um pouco espiritualizada...), estendemos o lençol e curtimos o resto do tempo no parque , que fecha às 17h e, obviamente, a gente só conseguiu chegar lá umas 16h. Uma outra família estava reunida um pouco mais adiante, e tinham umas crianças que corriam pra lá e pra cá.

E tinham uns patos que roubavam a ração que a gente comprou pra alimentar as carpas. E ainda um monge que eu acho que fez voto de silêncio, porque quando eu disse boa tarde ele só acenou com a cabeça. E um friozinho de 16 graus, que eu não senti porque bebi a garrafa de vinho quase inteira. E as cinzas do Cassio Gabus Mendes. E um monte de origamis pendurados sobre um anjo japonês. E cheiro de insenso dentro dos templos. E queijo brie com geléia de mirtilo.

Ai, ai, como a vida é boa.

Monday, May 19, 2008

Todos unidos contra o mal

Alguém em falou que, quando em perrengue, seres humanos tendem a se unir e se tonar solidários uns com os outros. Realmente, quando uma cidade passa por uma catástrofe, ou por uma guerra, de repente todos aqueles que antes nem olhavam para a cara dos seus vizinhos passam a se preocupar e ajudar ao próximo. Como se caísse a ficha de que todo mundo está morando na mesma canoa furada.

Em São Paulo, essa solidariedade do perrengue pode ser vista no trânsito. Todos os esforços estão voltados para avisar os companheiros sobre qual caminho está engarrafado, qual está livre, quantos quilômetros de trânsito foram verificados... Uma estação de rádio, a Sulamérica FM, apresenta de manhã um programa que não toca músicas, só dá boletim de trânsito. E a galera participa ativamente, liga pra lá e avisa: "olha, eu to parado aqui na avenida tal, ta tudo ruim, então é melhor que os ouvintes que vão pra zona x que sigam pela rua y", ou então mandam emails através do WAP do celular sugerindo melhores caminhos e dando os panoramas da região.
Enfim, é um povo unido contra um mal.

Outra situação curiosa é aquela que diz que são tantos os quilômetros de engarrafamento. Nunca entendi que cálculo era aquele, porque eralmente imaginava uma fila dos tais quilômetros só de carros parados. Mas então o Japanimation me explicou que esse cálculo é feito da seguinte forma: eles pegam todos os trechos da cidade que estão engarrafados, medem a distância de cada pequeno engarrafamento e somam. E daí, o número de quilômetros divulgado é importante para que o pobre do paulista possa calcular quanto tempo ele vai demorar para chegar em determinado endereço.

No caminho que faço da casa do Japanimation pro aeroporto, ficamos sempre engarrafados no trecho inicial. Na avenida próxima ao apartamento do Japa, há um muro com um grafite, onde se lê "Você é escravo do trânsito". Tudo bem, é verdade, mas dá uma deprê danada ler aquilo às 7h30, com medo de perder o avião, contando carros incontáveis freando na sua frente.
Você é escravo do trânsito, e o trânsito manda em São Paulo. Solução? Se muda por Rio.

Friday, May 16, 2008

Parando no auge

Alguém já disse, uma vez, que uma coisa boa de trilogias é que no terceiro acaba. Realmente, a julgar pelas infindáveis seqüências de certos títulos cinematográficos, cada uma com menos qualidade que a anterior, é de se comemorar um final, tipo: ai, que bom, estou livre. Eu me senti assim com Matrix: o primeiro foi aquela coisa incrível, figurinos de vinil, Neo tudo de bom, etc e tal. O segundo já desceu bem mais quadrado, mas eu até dei um desconto, porque uma história tinha que ser contada ali, e tinha que deixar um gancho pro grand finale. Mas o terceiro... ui. Arrepio só de lembrar.

Mas algumas continuações funcionaram tão bem que deixaram até saudade. Lembro que quando assisti o primeiro do Senhor dos Anéis, saí do cinema ansiosa para a segunda parte. E quando vi o terceiro e último filme da série, rolou uma certa melancolia de perceber que tinha acabado ali. Quer dizer, eu não ia mais ficar esperando o lançamento no próximo ano, lendo a respeito, contando os dias...

O mesmo aconteceu com Kill Bill. Achei muito foda o Quentin Tarantino não ter se dobrado a mais uma trilogia ao dividir a saga de Beatrice Kiddo em duas partes apenas. E na minha opinião os filmes são tão equilibrados que é difícil separá-los de contexto. Pra mim, o 1 e o 2 são o mesmo filme, não há divisão. Por isso achava mega estranho quando alguém vinha me perguntar de qual dos dois Kill Bill eu gostei mais. Eu pensava: puts, esse cara não entendeu nada!

Mas, pelo visto, quem não entendeu nada fui eu. Porque ontem (quantos anos depois do lançamento do primeiro KB? Uns 4?), Tarantino anunciou que vai fazer o Kill Bill 3. Confesso que... dei uma brochada.

Eu queria ter o Kill Bill como aquela seqüência perfeita, dois filmes clássicos que se completam. Não queria testemunhar uma série que vai caindo de nível, como em O Poderoso Chefão. Porque isso me deixa meio deprimida, confesso.

Mas aí o cara quer fazer o terceido Kill Bill. Beleza, eu até confio nele. Até acho que ele é foda, que vai fazer um filme bom. Mas que soou desesperado, isso soou.
E a gente aqui de fora só fica esperando, com a certeza de que vamos todos assistir no cinema, mesmo que seja uma droga.

Thursday, May 15, 2008

Foi algo que eu disse?

Faz pouco tempo que decidi colocar o endereço deste blog no meu currículo. É que eu achava que o Poça D'água era bobo demais para ser levado em consideração em uma disputa de trabalho e, além disso, algumas vezes os textos daqui assumem um ar confessional demais. Mas todas as minhas crenças foram abaixo quando uma entrevistadora admitiu que procurou meu nome no Google, achou o blog e leu de cabo a rabo. E achou os textos muito bons.

Se através do blog fui bem analisada, e se meu nome aparece facilmente em qualquer site de busca, por que não colocar a minha URL no currículo? Realmente não faz o mínimo sentido, ainda mais porque sou uma pessoa que, além de blog, tem Flickr, Twitter, Orkut (claro), MySpace e tantas outras nerdices inventadas na era da rede mundial de computadores.
E, convenhamos, o meu texto é bom!

O meu texto é bom. Eu sou uma profissional de televisão completa. Eu me adequo a qualquer cargo em poucas semanas. Eu gosto de sentir frio na barriga e de percorrer outros caminhos. Eu não tenho problemas com relacionamentos interpessoais. Aliás, eu não tenho nem problemas com oportunidades de trabalho, porque estou empregada, com bebefícios mil, e todos os meus chefes me elogiam.

Então por que eu nunca fui chamada para nenhuma das últimas três vagas a que me candidatei?

Eu fico pensando: "Será que fui muito arrogante quando disse que sou uma profissional de televisão completa? Mas... cara, eu sou mesmo! Será que eu deveria ter fingido que não? Será que eu deveria ter dito que sou completa mas que, por outro lado, ainda tenho muito o que aprender? As pessoas adoram ouvir que a gente tem muito a aprender com elas. Vai ver foi isso..."

Sempre que saio de uma entrevista, tenho certeza quase absoluta de que fui muito bem. Sei conversar e expor minhas qualidades, e admito que nunca fiz certa coisa, mas que também não tenho medo de tentar, etc etc. Então depois, quando não me procuram com a resposta, eu fico dias martelando: O que eu fiz de errado? É quase como terminar um casinho que você jurava que ia virar namoro. Do nada a história desanda, e você nunca sabe exatamente por quê.

Da última vez foi uma troca de emails com o pessoal de um respeitado site de música eletrônica. Mandei meu currículo e recebi uma resposta quase imediata, pedindo para listar meu gosto musical. Fiquei animada com a rapidez e pronto: discorri sobre o que tenho baixado, sobre o que descobri recentemente, sobre os últimos shows incríveis que eu vi, sobre meu vício na Last.fm... E depois, quando dei meu endereço na Last, nunca mais ninguém do site me escreveu.

Será que não gostaram do meu gosto musical?
Mas, cara... Eu tenho um gosto tão bom!

Estou me tornando uma especilista no pé na bunda de Recursos Humanos.

Tuesday, May 13, 2008

Info addicted

A primeira vez que ouvi o termo "viciados em informação" foi quando uma amiga explicava que seu marido era um data addicted: ou seja, alguém absurdamente enlouquecido por tecnologia, aquele que conhece e pesquisa as ultra novas novidades tecnológicas. É um hobby caro - especialmente para quem mora no Brasil e ganha em Real - mas é uma mania que se espalha no país em progressão geométrica.

Só que eu não sou uma data adictted. E dou graças a Deus, porque dificilmente teria dinheiro para adquirir todas as coisas muito legais que aparecem todos os dias nos meus emails. Mas justamente por essa mania de querer saber sobre tudo que está sendo lançado, relançado, divulgado, revitalizado, inventado, remasterizado (mesmo que eu não tenha nenhuma intenção de adquirir qualisquer dos ítens), me descobri um outro tipo de viciada: a dependente de informação.

A princípio, não há nada de mal em se tornar uma info addicted - ainda mais para uma jornalista que, a princípio, tem que saber de tudo mesmo. Mas a verdade é que a caçada por novidades se tornou quase doentia: toda vez que recebo um email com um link bacana, fico me perguntando como é que nego descobriu esse endeerço, e vasculho os outros links da página, à procura do que pode ser ainda mais interessante, e penso em postar no Twitter minha mais nova descoberta, e só sigo lá quem tem a me oferecer informação relevante (a não ser que sejam amigos da vida real).

Veja a maldição que é ser uma info addicted:

- Quando estou de bobeira em casa ou no trabalho, me sinto na obrigação de procurar novidades na rede. Mas eu acabo voltando sempre aos mesmos sites, o que me deixa muito mal-humorada. - Me sinto culpada quando fico em casa vendo televisão: acho que deveria usar eu tempo livre para ver um filme, ou ler um livro, ou porduzir de alguma maneira.
- Tenho vontade de conhecer o mundo inteiro, e raramente consigo decidir qual é a minha prioridade. Ou seja: minha meta muda assim que recebo informações sobre outro destino.
- Quando vejo uma matéria muito legal, penso: "damn it, por que não pensei nisso antes?" E tenho uma inveja negra do autor (a não ser que o autor seja meu amigo, aí a inveja é branca).
- Tenho idéias de matérias imperdíveis e não sei onde publicá-las. E como sou mesquinha, não quero passar essas idéias pra ninguém, achando que um dia vou finalmente realizar as reportagens.
- Dou refresh no Twitter de 5 em 5 minutos para ver se alguém postou alguma coisa legal.

Agora os pontos positivos - porque nem tudo é terrível nessa vida:

- Informação, atualmente, vale mais que dinheiro. Portanto, convenhamos que o meu vício veio bem a calhar.
- A troca de informações é o que há de mais belo na internet, a meu ver. I'll show mine and you'll show me yours, e dessa maneira todo mundo conhece coisas bem legais.
- Obter informação faz as idéias crescerem e a critividade aumentar, e quanto mais idéias a gente tem, mais elas surgem.
- Mais uma vez a internet ajuda todo mundo: temos acesso a qualquer revista ou publicação, de qualquer parte do mundo, absolutamente de graça.
- As pessoas te acham incrível quando você vem com uma solução que você viu em um site qualquer. Acham que você é a pessoa mais inteligente do mundo, mesmo a idéia não sendo originalmente sua...

Monday, May 12, 2008

Jonathan Safran Foer

Estou na reta final do "Everything is Iluminated", livro daquele cara que eu odeio, porque é genial e tem a minha idade, Jonathan Safran Foer. O que acontece quando estou nas últimas 50 páginas de um livro é que fico absolutamente obcecada por terminar logo a leitura. Não paro de pensar no desfecho e nos personagens, fico ansiosa para poder, finalmente, sentar na cama, embaixo do cobertor, e me dedicar ao fim do romace. E depois, quando acabo, fico meio arrependida de ter ido tão rápido, porque dá um vazio e faz falta a companhia dos personagens do livro terminado.

"Everything is Iluminate" virou filme que eu, resistindo à maior de todas as curiosidades, ainda não assisti. Quero terminar o livro e só depois ver como é que ele foi adaptado ao cinema - mas confesso que existe uma constante luta interna pra não dar o braço a torcer e baixar de uma vez o longa.

E o livro está aqui na minha bolsa. Ele me olha lá do fundo e eu resisto ao impulso de abrir em uma página qualquer e ler um trecho. Ele é um livro que serve assim também, aberto ao acaso. Mesmo fora de ordem ele faz sentido, porque cada palavra escrita foi certamente bem pensada e, por isso, carrega um caminhão de significados.

Futilidades sobre Jonathan Safran Foer:

- "Extremamente alto, incrivelmente perto" foi eleito pelo Poça D'água's Voice Reader, o Oscar dos livros lançados e lidos por quem escreve esse blog, como o melhor romance publicado no século XXI
- Ele já veio ao Brasil participar da Flip e eu mosqueei e não fui lá pedir a benção.
- Como quase todo judeu americano, ele mora em Nova York. E como quase todo morador de Nova York, o que ele escreve tem muito a ver com a sua cidade (o que me faz analisar que os novaiorquinos são os cariocas dos Estados Unidos. Será?)
- Os direitos de "Extremamente.." foram vendidos para a Paramount, o que me deixa com medo, porque o livro é realmente incrível, e se o filme não for nada menos que maravilhoso, eu vou ficar muito, mas muito irritada.
- Ele mora na mesma rua que o Paul Auster.
- Ele é vegetariano (característica que me deixa um pouquinho desapontada).

Friday, May 09, 2008

Vida Estrangeira

Por causa do post abaixo, fiquei lembrando da minha época de newyorker girl. Foi uma passagem meteórica - 6 meses - mas foi o tempo suficiente para que eu me moldasse ao sabor do american way of life. Quer dizer, parece até que o governo americano sabe direitinho a hora de mandar os latinos embora: quando eles estão se acostumando com o frio, com o dinheiro, com o trabalho, com as relações sociais... eles têm que voltar. That's the way it is.

Morei em NYC de maio a novembro de 2001. De recheio dos meus meses na América há o episódio que inaugurou o século XXI: o ataque ao Worl Trade Center. É óbvio que a minha temporada novaiorquina ficou muito marcada por esse fato, mas não ficou restrita a isso. Mesmo depois dos ataques, tenho outras lembranças que não remetem, necessariamente, à derrubada das Torres Gêmeas.

Posso dividir o tempo que estive em Nova York em três partes: assim que cheguei, depois que comecei a trabalhar como garçonete e quando entrei de estagiária na Globo NY. O 11 de setembro foi já na minha época de estagiária, e eu senti todo aquele caos com o gostinho de quem acabou de se formar jornalista e está no meio do furacão mundial. Os amigos me escreviam pedindo pra eu voltar pro Brasil, e eu respondia: "mas nem morta! Agora que tá ficando bom?" E babava observando as putas velhas do jornalismo brasileiro cobrindo os atentados. Só tinha primeiro time, e se tem uma coisa que me dá um tesão na vida, é ver gente competente trabalhando.

Mas antes disso, quando eu havia acabado de pisar nos Estados Unidos, decidi tirar um mês de férias e conhecer a minha nova cidade temporária. Todos os dias eu pegava o guia da Folha de SP e escolhia onde queria passear. Passei um dia inteiro andando no Metropolitan Museum, parando só pra comer um cachorro quente do lado de fora, e depois entrando de novo no prédio. Fiz o mesmo com o Museum of Natural History - e, mesmo assim, não consegui ver todo o acervo. É coisa pra cacete!

Eu vagava pela cidade sem muito dinheiro no bolso, conversando com quase ninguém, totalmente Lost in Translation (apesar de que eu falo inglês muito bem, mas é que sou meio bicho do mato mesmo). Foi uma época solitária.

Depois, quando consegui um trabalho de fim se semana em um restaurante brasileiro no Greenwich Village, tudo mudou. Eu saía do restaurante meio bebinha, sempre, lá pela meia-noite, uma hora da manhã, e as ruas estavam cheias de gente. Era o bairro gay de NY (um deles), e em cada esquina existiam dezenas de bares, e todo aquele povo ficava na rua conversando e rindo e falando alto. Eu conseguia fazer amizades fast food no caminho do restaurente ao trem (morava em New Jersey, então era trem e não metrô o que eu pegava, mas na prátoca era tudo a mesma coisa). Era uma época divertida.

A terceira parte, de quando fui estagiar na Globo, é a mais cansativa de todas: eu trabalhava de manhã em um restaurante americano típico, e de tarde eu ia pra Globo, de onde só saía às 9h, 10h da noite. Acordava às 6h porque tinha que chegar às 8h no restaurante (1h de metrô), vivia cansada, mas estava feliz. E depois que o WTC caiu eu fiquei só trabalhando na Globo mesmo, mas trabalhava umas 12h por dia e, dessa vez, ganhando uma graninha pelas organizações.

Eu morria de saudades do Brasil. E quando voltei, achava que tudo no Rio era lindo. Meus amigos reclamavam que não tinha nada pra fazer na cidade, e eu dizia: "Mas olha que linda a Lagoa".
Obviamente, esse sentimento passou em uma semana, e depois tudo voltou ao normal. Só ficou a saudade da New York Fucking City.

Thursday, May 08, 2008

A praça é nossa

Uma das coisas legais que eu achava sobre morar em NY é que lá o povo realmente usa os espaços públicos. Explico melhor: quando é verão, o interior dos restaurantes fica vazio, porque todo mundo pede almoço pra viagem, e senta pra comer nas escadarias e chafarizes das praças. À uma da tarde é possível ver todos aqueles bancos e muretinhas tomados de gente com a quentinha na mão, comendo com talher de plástico e bebendo refrigerante em lata. Aquilo me encantava porque ficava muito claro que Nova York é realmente dos novaiorquinhos: eles usam e respeitam a sua cidade como uma extensão da casa deles.

Daí cheguei no Rio com a tal da sensação de que o que é público também é meu. Não lembro mais aonde foi, mas teve um dia em que eu estava cansada e resolvi me sentar na escada, e então veio um segurança e falou que eu não podia sentar ali porque atrapalhava a passagem. Uma escadaria enorme e só eu no canto e ele dizendo que eu estava atrapalhando! Foi aí que caiu a ficha de que a cidade não era minha, como eu pensava antes.

Quando me mudei e comecei a frequentar a querida pracinha da minha rua, a tal sensação de que o espaço público é uma continuação do privado voltou a me dominar. Isso porque existe uma série de eventos naquele coreto que me deixaram à vontade o suficiente para que eu chame o local de "meu bairro".

Na minha praça, crianças fazem festinhas de aniversário embaixo do coreto. O garçom do boteco da outra calçada arruma mesinhas e serve no meio da praça. Tem bloco de carnaval (pra quem gosta) uma vez por mês. Todo domingo, a partir das onze horas, rola um chorinho de craques, com partituras e tudo.

E não é só nas minhas redondezas que a praça é do povo. Em Laranjeiras, na General Glicério, é famoso o chorinho de sábado, logo depois da feira que tem tapioca e um mega pastel incrível. O povo fica lá ouvindo o chorinho, bebendo uma latinha, dando um relax da vida louca daquela cidade.

Outra praça que eu sou fã fica em uma daquelas ruas atrás da Jardim Botânico, naquele tipo de endereço que a gente nunca aprende o nome, mas sabe chegar lá de olhos fechados. Todo ano tem festa junina, e gente de todas as idades comparece fantasiado, e come salsichão e churrasquinho, e ouve música de festa junina, e não aquele funk podre que dominou as festividades de junho/julho da zona norte da cidade.

Quando etsou no Rio e não me acabei na noite anterior, meus domingos acontecem da seguinte maneira: acordo umas 11h30, desço e tomo um café na casa de sucos Copa de 70 (nome sensacional, vamos lá), sento no coretinho e fico ouvindo e vendo a vida passar. Quando acaba, vou logo ali no Oi Futuro ficar dando pinta até chegar a fome e a vontade de comer de novo. Faço tudo a pé, porque já dirijo muito nesse mundo de meu deus. E faço reverências ao sol da minha cidade do coração.

Wednesday, May 07, 2008

Melhorando (parcialmente) o orçamento

E então, pela primeira vez na vida, estou realmente correndo atrás de frilas. Já consegui meu primeiro, a assessoria de imprensa do Hush Hush, e confesso que tenho certo frio na barriga, uma urgência de fazer um trabalho lindo. É que há tempos não faço assessoria, então tudo é um eterno recomeçar: escrever o release, montar o mailling, criar estratégias de divulgação... Enfim, é tudo bacana demais, e eu to empolgada e também com um certo medinho. Mas eu simplesmente adoro sentir um certo medinho.

Fora isso, tenho ainda uma lista de revistas pra entrar em contato e propor sugestões de pautas frilas. Incrível como as idéias para matérias têm surgido aos borbotões: toda hora tenho um insight do que poderia ser reportagem, e então corro pra agenda que separei especialmente para os frilas e anoto a idéia em duas palavras, que eu sei que farão com que eu me lembre delas mais tarde.

O lance é que comprovei, por cálculos e mais cálculos, que não poderia manter um namoro no eixo Rio-São Paulo ganhando o que ganho. Era terminar o namoro ou rebolar pra fazer a renda crescer. Então vamos lá, né, minha gente, porque eu não deixo o Japanimation de bobeira de jeito nenhum! Acha que vou dar esse mole?

Mas o mais legal é que a busca por frilas me fez vislumbrar uma nova possibilidade na minha profissão. Eu já estava fazendo tudo no automático, meio sem saco e meio zumbizinho mesmo, até que fui inventar de ter coisa nova, e olha aí o medo "do bem" de volta. Frios na barriga fazem a gente acordar pra todo o resto, não é não? E parece até que criatividade é um músculo: quanto mais você exercita, mais idéias aparecem.

Tuesday, May 06, 2008

Diálogo que mudou a minha vida. Sério.

Ex-girlfriend: Whatever happens in the end, I don't wanna lose you as my friend.
Jack: I promise, I will never be your friend. No matter what. Ever.

Desse curta.

On the road

Gosto de tomar decisões súbitas sobre viagens e afins. De repente, me dá uma vontade de encher o tanque do carro, comprar um saco de Fandangos sabor presunto e uma latinha de iced tea e mandar ver na estrada. Tudo bem, era muito mais legal quando eu fazia isso antes de roubarem o rádio do carro. Mas eu ainda tenho o meu iPod - god bless its soul - e um cartão de crédito sempre à beira do precipício, mas que nunca pulou de verdade. O resto é achar uma pousada que caiba no meu parco orçamento cansado de gastar com tanta ponte aérea.

O Japanimation é como eu, meio ligado a uma aventura. Só que muito mais cauteloso: ele pesquisa preços, pondera sobre a melhor época, faz cálculos inimagináveis pra mim, que vivo na indecisão entre ser uma perdulária total ou encarar o quão careta é o meu posicionamento em relação à grana. Tanto que nunca na vida entrei no cheque especial.

E essa nossa história de gostar de viajar com mochila nas costas encontrou reforço quando passamos um mês só assistindo road movies. Sem brincadeira, foram uns três seguidos: o ganhador do Oscar "Onde os Fracos Não Têm Vez", aquele outro que é bizarro mas também é lindo "Na Natureza Selvagem" e, finalmente, "The Darjeeling Limited", que é bom demais. E todos esses filmes (pricipalmente o "Na Natureza Selvagem") me deixaram com coceira pra tirar trinta dias de férias, encher a mala do Palio 1000 e seguir para o Nordeste. Ou pro Centro. Ou pro Sul.

Planejamos pegar o carro até o sul da Bahia e ficar por lá durante uma semana. Outra opção é a Chapada dos Veadeiros, menos hypada que a de Diamantina, mas tão bonita quanto ela. Ou seguir pra Floripa, ver as baleias e os golfinhos e todas aquelas praias de águas muito claras que eu nunca dei sorte de encontrar. A gente planeja o tempo inteiro e, quem sabe, um dia a gente realiza o que a gente sonha.

Uma vez só conseguimos fazer uma coisa assim, de pegar as malas, jogar no carro e ir embora. Foi quando conhecemos Ilha Grande, uma das melhores viagens de todos os tempos.
Mas como eu nunca estou satisfeita, quero mais. Quero lugares novos. Quero mais caminhadas. E quero gastar toda essa energia acumulada no vai e vem casa-trabalho-casa.

Monday, May 05, 2008

Você percebe que está ficando velho quando

- Dá uma festa na sua casa e no final sua geladeira tem mais cervejas do que tinha antes.
- Ouve o pronome de tratamento "senhora" com muito mais frequência do que "você".
- Demora um dia e meio pra se recuperar de uma ressaca.
- Considera que é melhor comer algo antes de beber pra não ter dor de cabeça no dia seguinte.
- Começa a andar com um bloquinho, anotando as calorias de cada refeição.
- Seus amigos se casam e os pais deles perguntam: e aí, quando vai ser o seu?
- Um dia a menos de academia significam mais 500g na balança.
- Seu pai alerta sobre a raiz branca à mostra na sua cabeça.
- Empresta dinheiro pros seus pais.
- Se pergunta porque não escolheu uma carreira que pagasse mais. E começa a encarar a possibilidade de estudar pra aquele concurso com salário inicial de 5 paus, apesar do trabalho burocrático.
- Se dá conta de que adquiriu medos novos, como claustrofobia, desconfiança e paranóia de que você pode ser assaltado em qualquer lugar, por qualquer pessoa.
- Faz a contas e percebe que se não se jogar agora, não vai ter tempo de se jogar depois.
- Acha que está na hora de ter filhos mas treme só de imaginar uma vida acordando antes das 10h.

Wednesday, April 30, 2008

Parabéns pra você

Ontem foi aniversário do Haldoleta, e por isso eu resolvi escrever sobre ele.
Eu costumo chamá-lo de Ladrão de Oxigênio porque ele tem um nariz grande. Em contrapartida, ele me chama de Sembrunda, por razões óbvias demais para serem especificadas aqui.
Quando estamos só um poquinho alterados, nos fechamos em piadas que só nós dois entendemos, deixando o resto da roda de fora. Mas eu juro que é mais ou menos sem querer que a gente faz isso.
Deposi de anos dizendo pra todo o Rio de Janeiro que não gostava de mim, ele pagou pela língua e virou um amigo do peito (bem feito).
Eu também costumo chamá-lo de Pentel.
Ele já segurou minha onda em uma bad inacreditável. A primeira e única, pelo menos.
Ele já me pediu conselhos sobre mulher quando era solteiro (agora ele tá bem namorandinho).
Quando ele era solteiro, todas as minhas amigas ficavam suspirantes quando a gente saía junto.
Ah, sim. Alguns dos meus amigos também.
A gente fica meses sem se ver, dpeois se encontra e faz as mesmas piadas de sempre.
Ele ganhou o troféu de "homem do ano da minha vida" em 2005 (empate técnico) e 2006 (ganhador absoluto).
Ele fez 33 anos, parou de fumar e começou a correr. Emagreceu um monte. Essas coisas que acontecem com as pessoas depois dos trinta.
Eu tenho o maior orgulho, porque ele é psiquiatra e vai ganhar muito dinheiro e vai levar o meu filho pra passear.
Ele é praticamente uma mulher com peru, sentimentalmente falando.

Tuesday, April 29, 2008

Cada dia, mais um adeus

Todos os dias ando pela praça do meu bairro como se fosse uma despedida. Essa sensação de adeus surgiu depois das minhas idas regulares a São Paulo. Comecei a encarar a possibilidade de não estar mais no mesmo endereço no ano que vem e, desde então, meus passeios pela pracinha têm um gosto um pouco mais melancólico que o habitual.

Conheço de cor todos os personagens daquela praça: os mendigos que ficam matando o tempo por lá durante o dia, os adolescentes que cabulam aula 4 vezes por semana e bebem vinho barato embaixo do coreto, as babás com criancinhas onde há brinquedos para bebês, a turma da cervejinha de garrafa que chega à noite, os músicos do chorinho do domingo. São identificáveis os tipos que habitam minha rua e a minha praça, e eu me despeço deles mais um pouquinho a cada dia, quando caminho em direção ao estacionamento.

A praça São Salvador habita os meus sonhos há anos, muito antes de eu me mudar pra lá, quando frequentava a casa de um ex-namorado que morava por ali. Eu acordava cedo e ia tomar café na padaria, e depois comprava jornal e sentava em um banquinho no sol. Ficava vendo as crianças jogando bola e reparando no brilho da água do chafariz francês. Nessa época, eu pensava que ali era um dos melhores lugares do Rio para se morar, e pedia ao ex-namorado que procurasse um apartamento para alugar por aquelas bandas. Mas o namoro acabou e quem foi morar perto da pracinha fui eu. Graças a Deus, a vida tem dessas ironias.

O fato de estar todos os dias me despedindo mais um pouquinho não é de todo mau. A melancolia existe, mas, em compensação, eu aproveito cada fresta daquela paisagem ao máximo, tento caminhar devagar mesmo quando estou com pressa, penso em sentar pra ler o jornal no banco como fazia quando ainda não morava ali, frequento os bares durante a noite e o chorinho do fim de semana.
Aproveito enquanto está ao meu alcance. E tem sido saboroso.

Monday, April 28, 2008

Me leva que a gente vai

- Bora passear na Liberdade e gastar dinheiro com um monte de quinquilharias?
- Bora.

- E se a gente chamasse todos os amigos pra beber no meio da Virada Cultural?
- Já to ligando pra Fernanda.

- Ai, não sei... Deu uma perguiça de sair...
- To ligando pra cancelar com a Fê.

- To a fim de fazer uma fritada de camarão.
- Eu faço o arroz com furikake.

- Não abre a cortina que tá muito sol lá fora e eu queria ver dois filmes direto.
- "Darjeeling Limited" e "Paranoid Park".

- Vamos ver um episódio de Friends pra dar soninho?
- Vamos beber saquê?
- Vamos beber cerveja?
- Vamos tentar dormir cedo pra aproveitar melhor o dia amanhã?
- Vamos fazer uma sauna?
- Vamos fazer uma esteira?
- Vamos guardar dinheiro pra ir pro Japão?
- Vamos comprar um apartamento no Jardim Paulista?

- Vamos desligar o celular.

Friday, April 25, 2008

A última das otimistas

Sou uma otimista. Meus amigos dizem isso, sempre disseram, e eu, durante muito tempo, combati a definição. Afinal de contas, costumava ler Fernando Pessoa e me vestir de preto, quando tinha 16 anos. E aos 20 anos, acreditava que só eu e os meus amigos sabíamos a real dor do mundo. O resto dos mortais, coitados, eram ovelhas guiadas em direção ao caminho que seus pais já haviam trilhado. Bunch of conformists.

Só que depois eu percebi que as mesmas pessoas que cruzavam os braços e se encostavam ao meu lado nos pilotis da minha faculdade, deixaram de olhar o resto do mundo sob esse ângulo, digamos, incorfomista, e passaram a ter um bom trabalho, família, filhos, casa & carro. E, como os outros, eu me tornei parte desse grupo.

Toda a questão do otimismo é: não dá pra ser de outro jeito? Vambora dessa maneira mesmo, então. Tipo: tá no inferno, abraça o capeta. E, se é pra entrar no jogo, bora entrar de braços abertos, sorriso nos lábios, matando no peito e correndo pro gol. Se é pra entrar, que seja com o campeonato ganho, nos dez minutos finais, só pra fazer aquele pontinho que alegra a galera. Alegria desnecessária ainda é alegria.

E eu sou otimista do tipo burrinha, que acredita em todo mundo, até que leva a bordoada na cabeça. E além de burrinha, eu sou meio esquecida, porque mesmo levando nos cornos, to lá eu acreditando em nenguinho de novo. Quer dizer, arrumo outros pra acreditar. Mas corro o risco sempre.

Lembrei do lance do otimismo porque é uma característica quase inocente, e eu tenho visto muitos casos gente inocente enganada por aí. Quer dizer, por mais que eu tente não julgar, é muito difícil não achar ridícula a história daquela senhora da Barra da Tijuca que comprou um bilhete da Sena "premiado" por módicos R$240 mil.

Acho que cheguei a uma conclusão sobre o assunto: tudo bem que os otimistas sejam inocentes. Mas nem todo inocente é otimista...

Thursday, April 24, 2008

Amizade na vida adulta

No último ano, fiz muitos novos amigos. Normal, certo? A gente termina um namoro, começa outro, muda de posição no trabalho, e vai aumentando o círculo de convivência. O que eu acho engraçado são aquelas situações em que a gente conhece a pessoa apenas uma vez ao vivo, e depois mantém contato apenas através da internet. Em alguns casos extremos, nem o contato ao vivo existe: os amigos cyber de amigos do mundo real vão se apresentando e estabelecendo uma conexão. O Zander é o maior exemplo desse tipo de amizade cyber: visitamos muito um o blog do outro até finalmente nos conhecermos ao vivo.

O Twitter me mostrou um outro tipo de novos amigos. Os que eu só conheço por nick, e que me lembram um pouquinho minha época de twenty-something, quando todos os blogueiros do Rio se conheciam e visitavam as páginas uns dos outros. E quando finalmente nos encontrávamos ao vivo, era engraçado: todos comentando de posts alheios, no maior estilo nerd de ser.

Acho legal também quando algumas amizades superam términos de namoro e continuam firmes e fortes. Tenho uns três amigos que conheci através do meu ex, com quem hoje converso mais do que ele próprio. Tenho também alguns amigos do peito que foram ex-casinhos, mas que terminaram na mais pura amizade, com direito a double date: nós e nossos respectivos saindo pra jantar.

Houve um tempo em que acreditei que fazer novas amizades depois da fase adulta era praticamente impossível. Aos poucos, minha teoria foi caindo pro terra. Talvez isso realmente aconteça com aquelas pessoas que se casam e têm filhos e vêem sua vida social um pouco engessada nos programas com outros casados e pais (sem que isso seja uma crítica). Mas como ainda não cheguei a essa fase, e sou realmente uma pessoa pilhável com programas absurdos, acabou que o último ano me fez conhecer gente legal, que eu vou levar comigo pra sempre.
Japanimation é uma delas.

Tuesday, April 22, 2008

Arroz com Furikake

Impossível namorar com um japonês e não ficar familiarizada com os costumes orientais. É por isso que volta e meia eu e Japanimation vamos dar um pulo na Liberdade, onde compramos potinhos, temperinhos, balinhas e bebidinhas originais da terra do sol nascente, e corremos pra casa pra experimentar as novas aquisições. Aliás, descobri que esse bairro é o preferido dos cariocas que se mudaram pra Sampa, como no caso desse cara aqui.

O campeão no quesito 'melhores sabores orientais' é, definitivamente, o arroz com furikake. Quase ninguém conhece o tempero japonês que vai em cima do arroz, e que tem sabores variados de peixe, ovo, vegetais, mix, etc. Toda vez que vou pra casa do Japanimation, fazemos arroz naquelas panelas elétricas (aliás, aposto que muita gente aqui no Rio nem conhece as tais panelas!), e passamos o fim de semana beliscando a iguaria, fazendo montinhos entre as refeições, ganhando alguns deliciosos quilos a mais.

Volta e meia eu e o Japa inventamos de fazer um almoço oriental. No Japão, os pratos são separados por tigelinhas do tamanho de uma única porção. Comemos, então, com um monte de vasilhas em cima da mesa: uma pro arroz com furikake, outra com missoshiro, outra com bolinhos chineses... E comemos de hashi, e bebemos saquê em copos de cerâmica, e dispensamos os sushis. Deve ser por isso, por comer pequenas porções em diversos recipientes, que os japoneses são tão magros, imagino.

Eu não fazia idéia de que o arroz com furikake era o número um na preferência dos descendentes e simpatizantes de japoneses. Depois li uma matéria com nisseis famosos, e todos se derretem frente ao pozinho mágico. É amor à primeira vista.

Friday, April 18, 2008

Piadinha nerd muito legal


Os Estrangeiros

Como todos os outros brasileiros espalhados pelo planeta, tenho acompanhado diariamente o caso Isabella. Mas ao contrário da grande maioria, não tenho uma opinião formada: acho tudo um grande mistério, e considero que só o C.S.I da televisão conseguiria resolver essa história. E, mesmo assim, só se for a unidade de Las Vegas. A exepriência é muito importante nessas horas.

Para mim, o circo armado em torno da morte da menina lembra, em muito, 'O Estrangeiro', aquele livro do Camus que todo mundo leu aos vinte e poucos anos e ficou absurdamente influenciado. O anti-herói do livro é declarado culpado por matar um argelino (o cara é francês) e pega a pena mais alta depois que é julgado não pelo crime, mas pelas suas atitudes frente à sociedade. Vai uma pessoa lá e testemunha contando que o cara não chorou no funeral da mãe. Depois, vai uma ex-namorada e diz que o cara é frio, incapaz de demonstrar sentimentos. E quando a narrativa chega ao fim do julgamento, o anti-herói vira inimigo número um da nação, ganhando um castigo maior que o do parricida julgado na sessão anterior.

É óbvio que o pai e a madrasta da Isabella já estão condenados. O que me faz pensar que, se um dia olharem pra minha vida com a mega lupa que estão usando para esquadrinhar a vida do casal, tenho certeza de que a opinião pública será de que eu sou uma assassina. Mesmo que quem me conheça bem saiba que é impossível eu, um dia, matar alguém. Aliás, quem é que sobreviveria a uma lupa sobre a sua vida? Não acho que alguém atenda a todos os padrões de normalidade que as pessoas cobram uns dos outros.

Disseram que a madrasta deu chilique de ciúmes. E quem nunca deu? Disseram que ela reclama da presença da enteada no fim de semana. Já ouvi muitas amigas que são namoradas ou casadas com homens que já tem filhos reclamarem da mesma coisa. Já vi e já participei de brigas com namorados que eu preseumo que o resto da vizinhança tenha ouvido. Alguém aqui nunca berrou com o namorado? Ou nunca ouviu o namorado berrar com você?

Não tenho a pretensão de dizer que o pai e a madrasta da Isabella sejam inocentes e ótimas pessoas. Mas ver um taxista que fez uma corrida com a Ana Carolina há não sei quanto tempo ir testemunhar é demais, né não?

Qualquer um é estrangeiro quando todos viram as costas de uma vez só. É muito fácil se unir em grupinhos de iguais e apontar pro outro lado da rua. Difícil é apontar pra dentro do grupo.

Thursday, April 17, 2008

Sem grana

Como eu contei outro dia, ando dura como há anos não era. Exagerei no cartão de crédito, entrei no curso de espanhol e na academia sem colocar no papel quanto sairia isso para o meu (parco) orçamento e, ainda por cima, me descabelo com as promoções quase-vantajosas da Gol Linhas aéreas. Resumindo, minha vida financeira está um caos.

E de repente eu me vejo fazendo contas para saber se posso ou não posso tomar um chope com os amigos. É verdade o que dizem, que depois que você se acostuma com um padrão de vida, descer desse patamar é quase impossível. Todo o problema é que meus gastos fixos aumentaram consideravelmente, mas meus hábitos insano-econômicos continuam os mesmos. Ainda é difícil resistir a uma liquidação mega power. Ou a uma balada que promete ser inacreditável. Ou a uma viagem no fim de semana. É muito, mas muito difícil mesmo, não cerder à minha alma de milionária.

Bom, com esse baita tombo financeiro que eu levei, estou reaprendendo a viver na base dos cálculos. Confesso que ainda dou algumas escorregadelas, que estão me custando minha queriada e suada poupança, mas já consegui fazer um pequeno manual para tempos de crise.
A saber:

1 - Economizar no almoço
Vou almoçar no bandeijão ao invés de dar pinta no restaurante onde os diretores da empresa se reúnem. Como sou metida a besta, adorava comer no meio dos ricos. Agora vou pra junto da plebe e garanto uns troquinhos a mais pro chope de fim de semana.

2 - Ir ao cinema às quartas
Como todo mundo sabe, quarta-feira é o dia mais barato para se ir ao cinema - pelo menos no Rio e em SP. Reservei essa noite pra me atualizar cinematograficamente. A preferência é por cinemas de rua, porque aí não tenho que pagar estacionamento de shopping.

3 - Chopes, só no fim de semana
Acabou essa história de encontrar os amigos de segunda a quinta. Até porque, com a minha atual escala da semana, eu nem tenho tempo pra isso mesmo...

4 - Fazer programas diurnos
Praia não gasta nada. Paineiras também não. Jardim Botânico até gasta um pouquinho, mas nada que se compare ao que eu costumo gastar no sábado à noite.

5 - Esquecer, por um tempo, mega baladas

6 - Esquecer, por um tempo, comprinhas deliciosas.

7 - Esquecer, por um tempo, passagens de "promoção" da Gol e encarar Rio-SP de ônibus mesmo.

8 - Tentar cozinhas receritas incríveis em casa
Eu juro que o processo é divertido, mesmo que o resultado final fique uma merda. Se ficar muito ruim mesmo, do tipo incomível, dá pra comprar uma pizza no Zona Sul, que é bem baratinha, e tem pertíssimo da minha casa. Mas, na boa, eu nunca fiz uma comida incomível. Mais ou menos, tudo bem. Incomível, jamais!

9 - Chamar a galera pra casa ao invés de ir pra rua.

10 - Sentar a bunda em casa e aproveitar para ler todos os livros que estão pendentes.
E olha que são muitos. Eu mal dou conta da Rolling Stone mensal!

Pelos meus cálculos, em junho eu to bem de novo. Mas aí começa a saga de juntar dinheiro pra viajar pra Tóquio.
Mas isso é outra história. E eu já cansei de chorar por ser pobre por hoje. Tá de bom tamanho já, né?

Wednesday, April 16, 2008

Mais um membro pro subclube

Da última vez que fui na casa da Clarissa, ela exibia uma barriguinha de uns cinco meses de gravidez, que contrastava bastante com seu corpo magérrimo de professora de pilates. Enquanto Guilherme, o filho da Bia, tocava de cinco em cinco minutos o boneco do Darth Vader que decorava o futuro quarto do bebê, eu e as outras não-mães da casa nos empanturrávamos de pizza e coca-cola. E vinho branco. E pão de queijo.

A Clarissa, a Bia e todas as outras pessoas que estavam no apartamento da Barra da Tijuca naquela noite, são amigas de colégio que o tempo insistiu em não separar. Ao contrário: depois de velha fiquei mais próxima a elas do que quando era estudante e andava preocupada demais em passar as madrugadas de sábado na Dr. Smith - programa que mais ninguém ali gostava de fazer - com execeção da Cris, que de vez em quando se aventurava pelos caminhos underground.

O fato é que a Clarissa daqui a pouquíssimo vai ter um filho e vai entrar pro hall das mães do grupo. Esse subclube vem ganhando mais e mais adeptas, a cada ano que passa, apesar do ritmo lento. Parece que é mesmo um caminho sem volta.

Eu gosto de ver as amigas finalmente se tornando adultas. Eu gosto de acompanhar as ultras, ver as roupinhas de bebê e comprar presentes pro futuro rebento. Afinal de contas, meus hormônios também estão aí. Que atire a primeira pedra a mulher que nunca sentiu o peso da necessidade da procriação ao se deparar com um bebê fofíssimo pela frente.

Meu pequeno grupo de amigas se encontra de vez em quando, através de combinações por grupos de emails. Se não fossem os emails, não sei o que seria da minha vida social. Somos todas mega atarefadas, trabalhando muito e ganhando menos do que gostaríamos, cuidando da casa aos trancos e barrancos, bebendo um pouquinho mais no fim de semana, tendo que administrar amigos, namorados, ficantes e pais em um espaço de 48 horas, se jogando na academia na segunda-feira pra compensar o descompensamento do sábado e do domingo.
Tenho certeza de que o Yahoo pensou na gente quando inventou os egroups.

Tuesday, April 15, 2008

Síndrome do jogador de RPG

Quando eu era mais nova, jogava RPG. Faz parte da minha formação geek virar noites regadas a Coca-Cola e pizza, imaginando estar em um território de ambientação medieval, se metendo em encrencas a torto e a direito. (Aliás, "a torto e a direito" é uma expressão legal de se usar, hein? Nunca tinah usado antes...). Foi através do RPG que eu aprendi que, para ter história, é preciso meter o nariz onde não somos chamados. Se o mestre do jogo narra que ali naquela caverna tem um barulho estranho, é logico que o meu jogador vai ver o que é. É preciso criar enredo. E, principlamente, é preciso criar jogo.

Lembrei das noitadas de RPG quando assisti "Beijo Roubado" no último fim de semana. Trata-se de um road movie mulherzinha, bem fofinho e com final suspirante, mas continua sendo o Wong Kar Wai, de alguma maneira. Enfim, a Norah Jones, protagonista, sai pelos Estados Unidos, vivendo um pouquinho em cada cidade. Totalmente On The Road de esmalte. E durante o filme ela vai se metendo nas encrencas, metendo o bedelho na vida dos outros e, assim, vai criando seus acontecimentos.

Saí do cinema pensando que também tô precisando dar uma de jogador de RPG. De meter o nariz nas possibilidades que me aparecem pela frente, pra depois decidir se é isso ou não é. Ando decidindo as coisas antes de vivê-las, olha que merda. Como se eu já tivesse 75 anos e sofresse de dores de artrite. Só que eu tenho 30 e acabei de parar de fumar. Ou seja: lavou, tá novo.

Tem gente que passa a vida evitando entrar nas cavernas com barulhos estranhos. Sei lá, de repente eu vou ser assim também. Não me nego esse direito, de passar ao largo dos acontecimentos. Mas é melhor deixar isso pra quando eu tiver artrite, né? Ou pro momento em que barulhos em cavernas não pareçam tão perigosamente tentadores.

Monday, April 14, 2008

'What are you doing?'

Ando completamente viciada em Twitter. E olha que o Zander, há meses, me dizia que eu tinha que entrar, que era muito legal, que não sei mais o que... Eu dizia "ah, não, mais uma mania de pós adolescentes da web, vou ter que ficar fazendo social on line com neguinho, colocar uma foto no profile que revele meu ângulo mais bonito, ficar bolando frases inteligentes..." Ele dizia que não era nada disso, mas eu não fui. Depois o Nicholas colocou pilha também. E eu, nada.

Até que, um dia, recebi por email o link do Twitteratura. E pirei. Na mesma hora, entrei no Twitter e me inscrevi, e comecei a seguir alguns amigos que tinham contas... E agora passo o dia pensando: tenho que postar isso no Twitter, tenho que escrever sobre aquilo, qual será o primeiro post de hoje? E assim por diante.

Pra quem não conhece ainda, o Twitter é (mais um) site de relacionamentos, mais ou menos, em que podemos postar o que estamos fazendo ou pensando no momento. A pergunta "What are you doing?" encabeça a lista de comentários dos meus amigos e de pessoas que não conheço.
Sigo apenas os comentários que eu quero, posso bloquear quem eu acho péla e tenho a possibilidade de só mostrar minhas anotações pra quem for do meu gosto. Mas como sou exibida, deixo tudo público mesmo.
Um detalhe: tenho apenas 140 toques pra dizer o que quero.

É um vício nerd. Mas é divertido.

Tuesday, April 08, 2008

Semanas

Às terças e quintas estudo espanhol em uma sala de freqüência levemente bizarra. Meu professor é um tipo simpático, morador de Santa Teresa, que aprendeu espanhol praticamente sozinho, ouvindo Luis Miguel e conversando, entre cervejas, com um amigo mexicano. Ao meu lado está o adolescente espinhento natural de todas as salas do mundo onde se estuda outra língua que não a materna. E o "meu" adolescente é gente boa, muito mais simpático do que eu era quando tinha a idade dele, e muito mais compenetrado também. Depois, na parede oposta, três matronas se alternam no cargo de Aposentadas que Fazem Cursos. Tenho uma certa inveja do trio, porque eu adoraria me inscrever em aulas as mais variadas, de cursos de idiomas a pintura de porcelana.

Quarta-feira é o dia reservado ao cinema. Vou sozinha, apesar de sempre tentar rebocar amigos via e-mail. Mas isso não é exatamente ruim, porque na verdade eu até prefiro ir ao cinema sozinha, sentar no escuro e não falar com ninguém nas próximas duas horas. Sento na frente de todos os outros espectadores, em uma tentaiva de esquecer que tem gente viva ali. É que gente viva me distrai. Volta e meia me pego olhando pro lado, pra ver se as outras pessoas estão chorando, ou se estão me vendo chorar.

Segunda à noite eu vou à academia, ou lavo roupa, ou arrumo o quarto, ou desfaço a mala, ou posto novas fotos no Flickr, ou tento me concentrar no romance da vez, ou converso no Skype por uma hora, initerruptamente. Segunda é sempre uma noite com infinitas possibilidades e tempo curto para tudo o que se apresenta.

Sexta durmo cedo ou tarde pra esperar quem vem.
E sábado ele chega ou eu vou.
E domingo passamos o dia morrendo de preguiça, aqui ou lá.
E depois tem uma despedida. Mais uma.
E segunda volta de novo, nesse vai e vem que nem dá pra saber onde começa e onde termina.

Pouco tempo pra muita coisa. Por isso que eu tinha que viver mais de 100 anos.

Monday, April 07, 2008

Retorno do Jedi

Quem tem blog sabe que de vez em quando rola um bode de continuar escrevendo. Rola uma total falta de saco, um questionamento do tipo "pra que tudo isso", e aí você percebe que os seus últimos dez textos foram todos risíveis e alvos de comentários pseudo-terroristas da internet (ai, ai, ai, como é fácil ser terrorista na internet, a melhor arma dos covardes anônimos!). E aí você não escreve mais. E pronto. E de vez em quando vê uma coisa ali e outra aqui e pensa: eu poderia fazer um texto sobre isso - mas você não faz. E alguns amigos perguntam por que você não escreve mais, mas são realmente poucos os amigos que perguntam e então, quando você vê, há dois meses o seu blog não vê atualização. E foi assim que detonaram o meu querido Pequenas Observações sobre Coisas sem Importância II, que Deus o tenha. E só não lançaram esse aqui para as trevas cibernéticas porque o Blogger.com é infinitamente melhor que o Blogger.com.br, que, por sua vez, foi um mico de dar dó da Globo.com. Enfim.

Mas desde o último texto o que aconteceu foi que eu perdi o controle do meu cartão de crédito, pela primeira vez em trinta anos, e de repente me vi na maior pindaíba da vida e, mesmo assim, voando para São Paulo de 15 em 15 dias para encontrar o Samurai, antes que ele encontre outra pessoa mais acessível que eu, e ainda por cima me inscrevi em uma academia e comecei um curso de espanhol. Ah, sim, e nunca mais fumei. E quase não tenho tempo para arrumar meu quarto, e não vejo mais Seinfeld religiosamente todos os dias, e não consigo ler o primeiro livro do Jonathan Safran Foer, que eu comprei em inglês mas to boiando em várias partes. E, apesar de tudo e de todos, eu to na boa e achando que as coisas estao indo bem.

Tá tudo bem na Avenida Paulista e tudo bem na Praça São Salvador e eu espero realmente voltar a escrever aqui.

Monday, March 10, 2008

Mauro fez 30 anos

Às vezes parece absurdo o quanto eu e meus amigos estamos envelhecendo. Quer dizer, todo o meu grupo social se recusa terminantemente a virar adulto. Poucos se casaram, quase ninguém tem filhos. E, para a maioria solteira, as noites de sábado ainda são regadas a _________ (complete aqui com o destilado de sua preferência).

Outro dia, o Mauro fez 30 anos. Mauro é um amigo que abandonou a carreira de farmacêutico e decidiu cursar medicina quando já estava nos seus 26 anos. Agora, ele divide seu tempo livre entre os amigos do colégio, todos balzaquianos, e colegas de faculdade, pós adolescentes na frescura dos vinte e pouco.

E que festa fazer em um aniversário com convidados tão diversos? O Mauro estava quase desistindo de ter sua comemoração bombástica, quando, a tempo, lembrou de um lugar que iria agradar tanto seus amigos bagaceiros e trintões quanto à inocente molecada de medicina: uma noite no Buraco da Lacraia.

Pra quem não sabe, o Buraco é um bar GLS que fica na Lapa, onde você paga sinceros R$18 e bebe cerveja de garrafa e caipirinha a noite inteira. São dois andares: no de cima, uma pista que toca Britney Spears e outras musas pop, no de baixo, um videokê incrível, um bar mais ou menos e um darkroom que eu tive medo de entrar.

Mauro fechou a noite cantando "Total Eclipse of The Heart": "O ponto alto do evento, uma catarse coletiva", segundo o aniversariante. Na verdade, o cara de pau do Mauro copiou a idéia que eu tive na minha festa de 30 anos, quando pedi ao Marinho para fechar a noite com "Total..."
Dizem que a música fechou bem a festa; eu não sei, porque não estava mais lá. Fui embora sem dar tchau do meu próprio aniversário.

Anyway, esse texto é só pra falar que é possível ser trintão e se acabar de cantar em um videokê brega do centro e no dia seguinte estar ótimo, concentradíssimo na sua vida de interno-que-um-dia-será-um-médico-de-muito-dinheiro.
E viva balzaquianos que não querem envelhecer.