Tuesday, November 01, 2011

Salão de traumas

Pra mim, a vida dos cupons de desconto se revelou o portal para um universo paralelo antes ignorado: o dos salões de beleza mequetrefes. Aquele tipo que, em geral, é todo de vidro e voltado pra rua, exibindo aos passantes as pobres das clientes de cabelos desgrenhados, ou pés arregaçados, ou sobrancelhas dilaceradas. Como usuária assumida de muitas das escovas inventadas por aí (progressiva, inteligente, london, marroquina e, a última, de clorofila), fico sempre de olho grande em promoções de beleza de sites de comprar coletivas. Invariavelmente, quando chego no endereço do cupom, me deparo com um desses coiffeurs de clientela exposta. É como se fosse caro demais bancar uma parede fosca, ou como se a falta privacidade das moças que querem ficar mais belas fosse o preço a ser pago por elas terem se atrevido a pensar mais barato. Consumo consciente não se aplica a salão de beleza: a gente tem que pagar caro pra preservar o processo, mesmo que o resultado final seja incrível com ou sem parede de vidro.

De uma maneira geral, salões de beleza são ambientes irritantes. Com tantas conquistas tecnológicas, a que eu mais desejo ainda não foi inventada. Saca aquela máquina dos Jetsons em que as mulheres entram horrorosas e saem princesas? Queria uma dessas em casa. Por que ninguém inventou ainda? Desconfio que seja um complô da indústria de cosméticos. Porque não dá pra contabilizar a quantidade de vezes que eu saí de casa com uma roupa completamente maluca porque estava com muito sono pra pensar em ter estilo. E, obviamente, ao passar por uma mulher com roupas melhores que as minhas, sentia um impulso quase incontrolável de entrar no primeiro salão de beleza que passasse na frente. Tudo pensado pela Wella, pela Redken e pela Loreal Profissionel. Uma teoria da conspiração da beleza.

E também tem as nossas semelhantes. Mulheres têm um scanner  no olhar quando se encontram com outra que elas consideram competição. Pode ser casada, pode ter mil anos, pode ter só 15: se uma mulher encontra outra que considera rival, ela dá aquela filmada dos pés à cabeça. É mais forte que nós. Mesmo que não seja pela competição propriamente dita, que seja pela admiração. E pela inveja. Mulheres são invejosas com outras mulheres. Principalmente as mais magras e mais bem vestidas que elas.

O que torna o salão de beleza um ambiente tenso. Em que clientes se posicionam uma em frente das outras, com papel laminado na cabeça e algodão entre os dedos. O único ambiente de beleza em que o constrangimento supera o scanner do mal feminino é o instituto de depilação. Porque ninguém ali deseja que outra pessoa saiba quais são os lugares cabeludos que vai ter que resolver naquele momento.

Uma vez, num desses centros de depilação express, vi um homem. Era o técnico do bebedouro, fazendo seu serviço completamente constrangido. Mesmo totalmente sem graça, ele não conseguiu deixar de olhar pra cada cliente que entrava e fazia o seu pedido na recepção. Ele estava associando o corte à dona, estava claro. E mesmo sofrendo de uma vergonha sem limites por estar na hora errada, no lugar errado, ele não conseguia deixar de lado a curiosidade de checar quem estava pedindo o quê.

Mais um motivo para que seja inventada a máquina dos Jetsons. Quantos técnicos de bebedouros, eletricistas e carpinteiros não vão se beneficiar com esse projeto? É a salvação da humanidade. E o fim das insuportáveis revistas de celebridades.