Thursday, June 28, 2007

And the readhead girl goes by

Toda vez que paro naquele sinal, vem um senhor meio maluquinho, com chapéu de pedreiro na cabeça, vendendo balas de hortelã. Na primeira vez, eu disse que não (não compro nada nos sinais e, pra falar a verdade, a pobreza tem que ser muito mais profunda para me abalar). Na segunda vez disse que não de novo, mas dessa vez olhei pra ele e sorri. Ele sorriu de volta, perguntou sobre a minha mãe (sem fazer a mínima idéia de que a minha mãe está morta há pelo menos 15 anos), elogiou o corte de cabelo e foi embora. Hoje eu resolvi comprar as balas e, por falta de troco, acabei levando cinco reais em confeitinhos de hortelã. Ele pediu, me deu a quantidade errada, e eu não reclamei. Deixa eu fazer uma boa ação monetária por hoje.

Toda vez que estaciono na frente daquele açougue desativado, o homem que mora na calçada me dá boa noite ou bom dia, madame. Na primeira vez, não olhei e respondi bem baixinho. Na segunda vez, olhei, sorri e retribuí o cumprimento. E ontem, na terceira vez, saí do carro e ele ajeitou o espelho retrovisor, avisando que o caminhão de lixo ia passar na rua durante a noite, e que era melhor tomar cuidado.

E tem o cara do boteco onde eu compro cigarros. E os mecânicos da oficina de motos que passam cantadas pra todas as meninas da rua. E o caixa do supermercado que empacotou minhas compras bem rápido, porque eu estava atrasada. E as mesmas babás, com as mesmas crianças, na pracinha onde tem o chafariz francês. E os porteiros do meu prédio, e muitos meninos de vinte e poucos anos que são colírios para os meus olhos de pré-balzaquiana, e o chorinho aos domingos, e as duas academias, uma bem melhor que a outra.

Aos poucos, bem aos poucos, eu também vou fazendo parte do meu bairro.

Wednesday, June 27, 2007

Sobre topadas e sonhos

Tem coisas que a gente ouve na infância e que teimam em nos seguir o resto da vida - não importa o quanto idiota seja a questão. Falo de manias, superstições, lendas, que em algum momento algum imbecil nos ensionou. No meu caso, lembro de duas histórias que volta e meia me pego pensando: a das topadas e a dos sonhos.

A das topadas nasceu na época em que eu estudava em um colégio de freiras. Essa temporada religiosa foi a responsável por noventa por cento do meu repúdio à Igreja Católica e a todas as suas representações (menos igrejas antigas que, inexplicavelmente, eu adoro visitar). Eu tinha uns dez anos e fazia aula de catecismo - porque a boa, naquela época, era fazer primeira comunhão; um mega evento social! - e estava nessa aula quando alguém perguntou pra freira/ professora se era verdade que Deus castigava.

- Castigar, ele não castiga - ela explicou - porque Deus é todo perdão. Mas de vez em quando ele dá uns avisos, né? Quando acontece um pequeno acidente, uma perna quebrada, um tornozelo torcido...

Desde então, toda vez que dou com o dedão na parede, ou com o cotovelo na maçaneta da porta (sabe aquele choquinho que dá?), eu penso em Deus. Na verdade, eu me pergunto: "mas o que que eu fiz pra levar uma dessas?", e busco o que poderia ter causado esse mínimo aviso divino. E olha que eu ainda não decidi se acredito ou não nessa coisa de poder do criador.

A outra história, a dos sonhos, não tem nada a ver com o colégio de freiras. Tem a ver com um suplemento que vendia no jornaleiro que se chamava "Mistérios do céu e da Terra" - acho que era mais ou menos isso. Esse livro falava de almas, vida após a morte, feitiços... Ensinava até a fazer um boneco vudu usando terra de cemitério (isso eu lembro bem, porque fiquei intrigadíssima com a idéia de ter que ir até o cemitério levando um baldinho e uma pá para depois confeccionar o seu boneco). Nessa época eu devia ter uns oito ou nove anos, mais novinha ainda que no episódio das topadas.

E aí que tinha um capítulo desse livro que falava sobre sonhos. E explicava que, enquanto estamos sonhando, nossas almas deixam o nosso corpo para vagar pelo mundo, encontrar pessoas, conhecer lugares diferentes. Um passeio básico no plano imaterial.
O texto dizia, ainda, que quando encontramos uma pessoa em um sonho, significa que nossas almas realmente se encontraram durante a noite, e que conversaram e passaram um tempo juntas e tal. E depois disso, para o resto da vida, toda vez que sonho com alguém penso na possibilidade do encontro de almas.

Mas por quê, exatamente hoje, lembrei dessas histórias? Acho que tive um sonho estranho, com uma pessoa que não vejo há muito tempo. Mas eu não lembro quem ela era, e nem o que acontecia no sonho. E no caso de almas que se encontram (o que me deixa muito confusa, porque fiz análise durante anos e tinha outra visão do que rolava na minha cabeça após adormecer), isso significa que a outra pessoa sonhou comigo também?

Até gostaria de acreditar no encontro das almas. Mas é muito mais lógico acreditar nas peças que a minha mente prega.

Tuesday, June 26, 2007

Eu sei que você está lendo isso

Abre a foto proibida e fica uns dois segundos olhando pra ela, e então conclui: acabou. Fecha a foto, desliga o computador, mas a imagem ainda existe lá no fundo, embora a sua tentativa seja ignorá-la. Ela não vai embora. Ela não vai embora tão fácil assim - é como deitar sob o sol de olhos fechados, abrir e enxergar uma cadeira de praia, e depois fechar os olhos de novo: tá lá a cadeira, na penumbra dos olhos fechados, demorando a desfazer o contorno. Já percebeu que isso acontece? E se deitar agora e tentar dormir, vai estar no centro do escuro a mesma foto, o sorriso torto e todas as olheiras do mundo, os dentes manchados de incontáveis cafés e cigarros e quem sabe mais o quê, o cabelo que teima em continuar despenteado. Era assim até o ano passado - vai saber como é esse ano. Mas não importa, porque o que vale é a imagem do computador, aquela que restou, a que não foi deletada nem guardada no fundo de uma gaveta qualquer, a que não se juntou a tantos outros arquivos mortos acumulados com os anos. Daqui a pouco eu faço trinta, faz aí as contas de quantas fotos inesquecíveis eu já esqueci que tenho. As fotos se renovam e as manias também, os programas imperdíveis são outros, alguns amigos permanecem os mesmos. No final, é tudo esquecimento - mas este texto vai continuar aqui, não importa o que aconteça.

Vai, confessa. Você sabe do que estou falando.

Monday, June 25, 2007

It's a small world after all

Uma amiga me chamou para um encontro de um site de relacionamentos. Toda vez que eu falo "site de relacionamentos" as pessoas me olham de um jeito engraçado, achando que se trata de encontros on line. Mas não é nada disso. Essa é uma página de rede de amigos, no estilo do Orkut e de tantos outros por aí. O nome do site em questão é Small World, e eu nunca tinha ouvido falar até a noite de sexta passada.

A grande diferença do Small World em relação aos outros sites de relacionamento é que nele não é qualquer um que entra. Uma vez convidada, a pessoa tem que passar pelo "crivo" dos outros membros do grupo, que vão examinar suas referências, sua procedência, seu endereço, etc. Obviamente, eu não faço parte de tal grupo seleto de internautas. Fui no encontro no maior estilo bicão mesmo.

Hoje soube que fazem parte da conexão gente do naipe de Roberto Justus e outros famosos/ricos. Se bem que não tinha ninguém a nivel de Caras no encontro.

Mas vamos lá. Chegamos - eu e a minha amiga - no quiosque da Lagoa onde o programa havia sido marcado. A língua que se ouvia era o inglês, já que havia uma boa quantidade de gringos sentados à mesa. Em um primeiro momento, nós duas fomos renegadas à nossa mediocridade (eu mais do que ela, já que a minha amiga faz parte da rede, embora ela ainda não tenha moral para convidar ninguém). Mas depois de algumas doses de qualquer coisa, treinávamos intensamente o nosso inglês com as pessoas ao redor.

Havia um italiano que trabalhava pra Tim. Um alemão que dava aulas na Coppead. Um paulista corretor de imóveis que também não era do grupo. E umas meninas que pareciam ter vivido na Europa por algum tempo.

Os papos iam na base do: o que você faz? onde você mora? o que está achando do Brasil?
Em nenhum momento ficou aquele clima de "somos ricos e jovens" - até porque ninguém ali era tãããão jovem assim, a média era de mais de trinta anos. Eu logo firmei conversa com o italiano, que era, sem dúvida, o cara mais engraçado do grupo. E com o paulista, que era gay e mega simpático. Os outros não tive nem como conhecer, entretida que estava no papo da dupla surreal.

De lá resolvemos sair para dançar. Alguém falou em Lapa, outro falou em Ipanema. Fomos parar em um lugar chamado Hotel OuroVerde, em Copacabana. Um lugar que, na boa, não recomendo pra ninguém.

Quarenta minutos depois de chegarmos ao hotel/boate, resolvi que era hora de voltar pra casa. Dei um tchau geral, peguei telefones e emails dos meus novos camaradas, com a promessa de manter contato. Ainda não sei se serei capaz de manter a promessa. Geralmente, não cumpro.

Mas o mais interessante de tudo foi a idéia surgida no almoço de hoje, quando eu contava as aventuras de sexta-feira. Alguém na mesa teve a idéia de criar um site exatamente o contrário do Small World, em que os mais bagaceiros pudessem entrar. Nada dessa história de cifrões e referências. Quanto mais vira-lata fosse a pessoa, mais bem vinda ela seria no grupo.
O nome, disseram, deveria ser "Coração de mãe".

Só que, pensando bem, não adianta a gente fazer uma página nos moldes do Coração de Mãe. Porque, na verdade, essa página já existe.
Chama-se Orkut.

Friday, June 22, 2007

Mudando o shape

Uma vez um amigo me perguntou por que as mulheres cortavam o cabelo quando terminavam um namoro. "Porque elas querem se sentir mais bonitas, basicamente" - expliquei. E então ele começou a reclamar que tinha mulher que acabava se enfeiando, que era mais bonita antes, etc e tal.

Mas, na real, só sendo mulher pra saber o poder renovador que tem uma passadinha no salão de beleza.

No meu caso, não é bem assim. Eu gosto de ter a unha feita, cabelinho cortado e devidamente esticado com formol, pernas depiladas, olheiras escondidas... Mas gostaria muito mais de tudo isso se eu vivesse no mundo dos Jetsons, onde basta você entrar numa mega máquina com mil braços para sair linda e perfeita.

O tratamento de beleza que eu mais odeio é fazer as unhas. Acho um saco ter que ficar de small talk com a manicure enquanto ela cavuca as minhas cutículas, ou esfrega a sola do meu pé com aquelas lixas terríveis. Invariavelmente, morro de cosquinha durante esta etapa da tortura, e me contorciono toda enquanto a pobre da mulher tenta fazer seu trabalho.
Depois, peço desculpas: "É que sinto cócegas"

Hoje eu tive um dia de salão de beleza. Fazia tempo que eu não encarava aquele recinto, e já era hora de eu dar a tal da renovada pós-término.

O que não se faz nessa vida em nome da possibilidade de se apaixonar de novo...

Thursday, June 21, 2007

Aplauso ao chope

Foi uma combinação entre amigos: vamos sempre aplaudir o primeiro chope, e talvez o último também. A idéia surgiu depois de um pôr-do-sol no Posto 9, em que um amigo que queria ser hippie - mas não é - insistiu naquele ritual bizarro da praia de Ipanema. Seguiu à risca a juventude dourada e se pôs a bater palmas pro horizonte. E eu, ao lado dele, horrorizei.

Mas aplaudir o primeiro chope é muito diferente. Eu e o amigo não hippie tentamos parar no Jobi, domingo à noite. Tudo cheio. Fomos pro Conversa Fiada, comemos um pouquinho, mas estava realmente desanimado por lá. E terminamos no Belmont do Leblon dando uma salva de palmas pra tulipa à nossa frente.

As outras (poucas) pessoas no bar nos observaram sem entender. E ninguém nos acompanhou. Pra falar a verdade, nem senti falta dos outros, porque já tem gente demais indo com as outras no pôr-do-sol de Ipanema. O ritual do chope é só meu e do meu amigo, que é uma das poucas pessoas que entende exatamente as minhas piadas. Eu diria até que ele é a minha alma-gêmea do humor, a ponto de nós deixarmos de lado outros acompanhantes, estabelecendo um papo reto que ninguém mais entende. Às vezes me sinto culpada, mas depois a culpa passa. Adoro não ter culpa de nada.

Tuesday, June 19, 2007

Blog bombando

Fico assustada quando vejo que a quantidade de Unique Visitors desse blog não pára de crescer. Tudo bem que a maioria entra aqui fazendo pesquisa sobre Rivotril (aviso logo a esses: Rivotril é uma merda! Acaba com a libido, dá uma super rebordosa depois do uso e é o verdadeiro paraíso artificial). Mas será que alguma dessas pessoas que caem aqui por acaso voltam mais tarde?

O engraçado é que eu tenho achado os meus textos muito chatos. Parece que eu to chegando aos trinta e ficando com cada vez mais preguiça de pensar. Os poucos amigos que lêem o meu blog (a maioria lê mas não me conta, principalmente os casinhos e os ex-namorados) dizem que o texto continua bom. Mas eu acho que dei uma caída considerável de qualidade.

É triste admitir que eu era mais inteligente aos 24 anos.

O lance que até tenho coisas a contar, mas pouco tempo pra fazer. Agora, por exemplo, está na hora de ir a uma festa de aniversário, pertinho da minha nova casa.

É uma delícia ser livre.

"Ano passado eu não morri, esse ano é que eu não morro!"

Monday, June 18, 2007

Porque eu sou muito amada

Dias desses um cara deixou um recado no meu celular assim: "... queria dizer que eu tenho a minha família, os meus amigos... tenho muito amor. E amor é uma coisa que você não tem. Falta amor na sua vida, Bruna. Muita gente não gosta de você. Mas eu gosto. Se qusier, liga pra mim"

Eu não liguei.

Mas fiquei pensando no que ele disse. De onde ele tirou que eu não tenho amor na minha vida? E o que esse cara sabe da minha vida pra falar que falta isso ou aquilo? Essa humanidade é ridícula, o ser humano é ridículo. Uma vez um amigo (uma pessoa profunda, e não rasa como eu) disse que as plantas deviam estar rindo de nós, porque nós perdemos tempo sofrendo. Eu também acho isso, agora. Mas durante muito tempo cultivei o sofrimento, porque achava que esse era o caminho pro aperfeiçoamento pessoal.

Tudo isso me veio à cabeça porque reli um email guardado de um amigo que não vejo há pelo menos 5 anos. Espero, de coração, que ele esteja muito bem e muito feliz. Talvez o email dele tenha sido o mais lindo que eu já recebi na vida. E foi sem nenhum interesse especial, ele mandou o texto porque foi tocado, de alguma maneira, pelas coisas que eu andava escrevendo na época. E eu escrevia coisas muito mais importantes na época, porque ainda não tinha decidido ser rasa.
E quando eu me pergunto pra quê eu mantenho esse blog, em que todo mundo sabe um monte de parcialidades da minha vida, com emails como esse acabo lembrando sempre da razão.
Leiam vocês e entendam sozinhos do que eu estou falando.

faz tempo‎
From: ***
Sent: Tue 10/28/03 1:00 PM
To: brunapaixao

Oi Bruneca..lembra de mim..o Godô? Pois é gatinha...faz tempo que a gente não se fala..e mais tempo ainda quea gente não se vê...e confesso fazia tempo que eu não dava um passeio pelosseus blogs..coisa que fiz diariamente por muito tempo, mas acho que a genteé assim memso..cria hábitos para poder odia-los depois.Hoje com um pouco mais de tempo sobrando em minha cabeça e a nostalgiabombando nessa manhã chuvosa paulista resolvi rever ( a minha maneira... aque posso ) amigos e pessoas pelas quais guardo imenso carinho.Mandei e-mails para o Beto..pro David..e dei um volta pelos seus blogs.Estou muito contente de saber que suas letrinhas estão ficando maiores eatingindo pessoas alem do universo www.Tenho orgulho de ter você como amiga...mesmo que distante, as vezes tenhomedo de estar longe e trasformar pessoas que gosto em meros "conhecidos"...estava te devendo um e-mail né?Bruneca..a vida em SP continua meio maluca...apartamento montado pelametade, trabalho demais...confusões empresariais que deixam a genteapreensivo...e saudade..muita saudade.Mas você mesmo sem saber é um canal importante...quando quero lembrar doBG...da matriz..da bunker...tem sempre uma fotinha bacana esperando paraservir de colo. Alem de textos que não posso evitar de achar que foramescritos pra mim...por alguem que mora dentro da minha cabeca...que sabeexatamente como me sinto.Acho que é por isso que te gosto tanto...mesmo que você não saiba..e adistãncia não permita essa intimidade, eu acho que somos muitoparecidos...pelo menos na maneira de pensar e ver as coisas, talvez porisso eu me afaste de vez em quando..ler seus textos me mostram um lado meuque as vezes me incomoda, mas sempre volto quando preciso me reencontrar.Queria te falar que te acompanho..de longe e tenho um puta orgulho de teconhecer...prometo..como sempre... tentar mater mais contato..não conte comisso..mas saiba que estou por aqui. Um Grande beijo " Godô"

Friday, June 15, 2007

Eu recebi uma telemensagem de dia dos namorados

E é uma experiência única. Ou melhor: é bizarro. Porque não há nada, absolutamente, romântico. É mega brega, resumidamente falando.

Só pra esclarecer, a mensagem não foi de um admirador secreto. Foi de um membro da minha equipe, que cismou agora de falar que está apaixonado por mim. Oh, god. Depois de três anos trabalhando juntos, o cara achou que eu era a resposta aos problemas dele. Mas até agora eu não sei exatamente porquê ele resolveu que gosta de mim, mas sei que a minha paciência está nos limites.

Não que eu tenha um coração de pedra. Mas é que sei diferenciar fanfarronice de paixão.

Mas, enfim, voltando à mensagem, a coisa funcionou mais ou menos assim. Ligou uma mulher para o meu celular avisando da telemensagem. Perguntou se eu gostaria de ouvir. "Ok", eu respondi, e a gravação começou. De fundo, uma música com letra que dizia: "eu vou roubar você pra mim", ou algo do tipo. E então, entrou um locutor que deve ser o mesmo cara que faz a voz da Good Times 98 (da rádio 98 FM daqui do Rio, "só sucesso"), e disparou um monte de frases "belas", do tipo: o seu sorriso me ilumina, estou adorando me relacionar com você, os momentos que passamos juntos, etc etc etc. E eu às gargalhadas.

O dia dos namorados é uma data comercial estranha. Quando calhou de eu estar namorando no 12 de junho, troquei presentes com o meu namorado da ocasião, mas sem o mínimo de love effect. Era mais uma coisa no estilo: e aí, do que você está precisando? Ia no automático, sabe como é? Tanto que não lembro o que fiz no último dia dos namorados que passei acompanhada. Provavelmente, não fiz nada de diferente do que faria em qualquer outro dia.

Paralelo a isso, tenho amigas que ficam desesperadas nessa data. Uma vez, um grupo de amigas solteiras emburacou em uma festa de quinta categoria, só para esquecerem que aquele era o dia do amor, teoricamente. Eu não estava junto com elas, apesar de também estar solteira neste ano. Pelo que me lembro, fui jantar com um ex (que já era ex naquele momento).

Mais uma razão pra se ficar amiga dos seus ex-amores. Na pior das hipóteses, eles pagam um jantar no japonês pra você.

Tuesday, June 12, 2007

Odd Job Jack

Outro dia conversei com a versão em carne e osso daquele cara do desenho do Adult Swim, conhecido no Brasil como Jack Bom de Bico. Por acaso - mas isso é só uma coincidência, minha gente - ele também ouve Nina Simone. Resumindo, todos os meus textos se encontram em algum ponto. Se eu continuar assim, vou acabar falando do Lost in translation.

Olha só por onde o Odd Job Jack já passou:
1 - caixa de uma multinacional de fast food do Largo do Machado
Depois que ele foi demitido - provavelmente porque dava lanche de graça pra todos os seus amigos, e só marcava um suco na caixa registradora - fez um panfleto sobre os porcos capitalistas da rede americana de lanchonetes, e ficou distribuindo na porta da ex-empregadora dele. Nesse panfleto, ele contava algumas verdade sobre a cadeia de fast food. Como, por exemplo, que todos os funcionários bebem o sorvete da casquinha direto do recipiente aonde ele fica guardado no congelador. Ou seja: se você já comeu uma casquinha no Largo do Machado, dividiu essa delícia com outros tantos funcionários da rede.

2 - caixa extra de natal das Lojas Americanas
Segundo jack, nunca a LA vendeu tantos laticínios quanto naquele natal. Porque era só isso que ele marcava nas suas vendas.

3 - Garçom de restaurante
Foi demitido depois que fumou maconha no teto do restaurante depois do expediente. Ele me jurou que, na época, achava que não tinha nada demais ele fazer isso, já que o seu horário de trabalho já tinha terminado. O melhor é que não foi demitido por justa causa, e por isso entrou na justiça e ganhou uma mega indenização da empresa.

4 - vendedor de loja no Fashion Mall
Foi o recorde de menor tempo em um emprego. Ficou trabalhando por duas horas, e foi demitido quando não soube explicar a diferença entre uma blusa de cotton e uma de algodão para uma cliente.

E depois de ouvir isso tudo, em meio a três doses de vodka, eu acabei pensando: "um brinde ao Jack!" É que finalmente eu conheci alguém com alguma história pra contar, só pra variar um pouquinho...

Monday, June 04, 2007

Nina Simone

Nina Simone une as pessoas. Ela é uma espécie de termômetro para saber se vale a pena ou não que alguma conversa seja estabelecida. O mesmo acontece com Dostoiévski, mas em graus diferentes, é claro. É que tanto Nina quanto Dostoiévski pertencem a um grupo de artistas que pouca gente saca. Não no sentido de erudistismo, ou cultura, mas sim no de sentir a alma tocada. Como eu havia dito no texto sobre Lost in Translation.

Lá vem eu com essa história de novo. Mas não posso evitar. Ouvir Nina Simone em uma conversa faz com que uma estrelinha brilhe automaticamente dentro da minha cabeça. E então, a situação é vista de outro modo. Meu interlocutor ganha mais respeito. Eu penso: se ouve Nina Simone, é boa gente, e vamos nos dar bem. E, geralmente, eu comento que vi o show da diva no extinto Claro Hall, um ano antes dela morrer.

Na morte de Nina eu fiz um texto. Foi a única das minhas cantoras de jazz preferidas que eu consegui ver ao vivo, com o queixo encostado no palco, os olhos grudadinhos nos seus movimentos. Não tenho certeza, mas devia haver um fiapo de baba escorrendo no canto da minha boca. Ou não, porque essa imagem nem combina com um show da Nina Simone.

Durante recente conversa noturna, aos berros (devido ao som ensurdecedor da pista de dança), Nina foi citada. E eu lembrei do show, e do texto do dia da morte dela, e de todas as vezes que eu e Mayra ouvíamos jazz bebendo whisky roubado do bar da casa dela. Mayra criou uma festa bissexta de jazz, mas eu continuo sem fazer nenhuma produção cultural. Acredito que Nina seja para se ouvir sozinha. Ou a dois - de preferência, com possibilidades sexuais em jogo.