Tuesday, September 30, 2008

One of the guys

Tenho as unhas descascando porque considero uma espécie de tortura chinesa fazer os pés na pedicure. E não é que outro dia descobri que está na moda usar as unhas descascando, e que estrelas louquinhas e bebinhas de Hollywood pagam dinheiro para ficarem com as unhas exatamente na mesma situação que as minhas, mesmo que as minhas tenham sido apenas descaso e as delas tenham sido milimetricamente descascadas? Primeiro pensei: que moda ridícula, mas depois pensei: ótimo, estou na moda, e por último pensei: que se foda, semana que vem não vai ser mais moda mesmo, então é melhor marcar logo a sessão de tortura.

Devido à minha assumida preguiça de fazer as unhas e cuidar dos cabelos e frequentar saloes de beleza, de vez em quando penso que queria ser homem. É um desejo antigo, remonta da época dos twenty something e nada tem a ver com sexualidade, mas sim com a admiração pela facilidade com que os participantes do gênero masculino levam a vida. Eu bem que queria acordar, olhar pra uma mega bunda e ficar, instantaneamente, de bom humor. Mas não, eu tinha que nascer mulher, e precisar de uma bela bunda masculina pra olhar de manhã, e mais umas roupas novas, uns quilos a menos, um cabelo menos ressecado e um salário melhor. Ah, sim, e precisaria também, além da bunda e de tudo mais, de um bom livro e um bom filme e alguma promessa de satisfação da alma para que o meu dia comece bem e, com isso, eu fique de bom humor.

Se bem que, de vez em quando, me entrego aos simples prazeres da vida masculina quando sento em uma mesa de bar e ouço os comentários e desfilos piadas de quinta série, mas que naquele momento fazem sucesso e, quando percebo, eu praticamente tenho um saco. Mas é tudo mentira, é claro: eu continuo sendo menina, mas imagino que tenho um saco e rio de piadas de salão com uma satisfação sincera.

Fiz balé na infância, gostava da Cinderela e queria casar na igreja, de véu e grinalda e vestido de bolo. De algum jeito, não sei bem como, tudo isso desapareceu e deu lugar às olheiras e ao dente escuro e às unhas descascadas segurando um copo, ou gesticulando e derrubando a tulipa, ou sentando em cima do calcanhar para ouvir histórias alheias.
É libertador ter me livrado da torre do castelo, mas não conta pra ninguém que eu ainda gosto de usar luvas até o cotovelo, e aproveito as festas à fantasia pra vestir a minha roupa de Breakfast at Tiffany's.

Wednesday, September 24, 2008

Lista de fim de ano

Uma das coisas que mais tem me animado ultimamente é o planejamento da minha viagem de reveillon. Vou passar o año nuevo em Buenos Aires, pela primeira vez pisando em terras portenhas, armada de uma lista de lugares pra conhecer e gente pra procurar e restaurantes e bares e boates. E Montevidéu. Porque quem foi a Buenos Aires e não pegou o barquinho para o Uruguai, deu mole.

É claro que o Japa já conhece a Argentina - foi no friozinho, bebeu vinhos e comeu alfajor, dançou tango e tudo mais. Mas agora ele resolveu me acompanhar em outro tipo de viagem a BsAs: o do calor do verão sulamericano, com direito a idas a shows de rock de bandas locais desconhecidas, jantares em restaurante mega caros de Puerto Madero, ouvindo Kevin Johansen e gastando tudo nas outlets da Puma e da Nike.

O foda é que a viagem a Buenos Aires é um dos tópicos que consegui riscar das coisas a realizar em 2008. É uma mania minha fazer listas com dez ítens de planos para o ano novo. Eu escrevo, e deixo a lista guardadinha, e de vez em quando dou uma olhada pra ver a quantas andam as minhas realizações.

Qual não foi a minha surpresa ao consultar a lista de descobrir que a viagem a BsAs seria o sétimo tópico realizado de 2008 ("conhecer uma cidade da América do Sul"). Mais que isso: com a ida a Montevidéu, vou conhecer duas cidades com uma cajadada só. E isso dá um orgulhinho, uma pequena satisfação - ainda mais pra mim, que tenho a péssima mania de não valorizar minhas conquistas.
Sou dependente das listinhas oficiais de ano novo pra lembrar que eu queria muito alguma coisa que consegui.

Wednesday, September 10, 2008

Coletivos

Andar de ônibus na zona sul do Rio - desde que fora do horário de rush - é como assistir televisão ao vivo, na sua janela: mãe passeando com carrinhos de bebê, cachorros com vestidinhos de inverno e suas donas solteironas, aqui e ali algum conhecido dos tempos de faculdade, gente mal vestida, gente bem vestida, gente bonita, gente feia, gente pobre e gente rica. Um montão de gente.

É por isso que há uma semana eu resolvi deixar o carro na garagem. Vou pro ponto de ônibus, pago a passagem, entro e leio meu livrinho de bolso. De vez em quando canso e olho pela janela pra ver a televisão ao vivo, e depois me entedio de novo e volto pro livro. Caminho do ponto de ônibus até a minha casa, prestando atenção aos prédios art decó da zona sul do Rio, esticando a vista pra ver a decoração de certos apartamentos e descobrindo lojinhas que estão ali há anos, e que eu nunca tinha visto.

É bom passear pelo meu bairro.