Friday, April 18, 2008

Os Estrangeiros

Como todos os outros brasileiros espalhados pelo planeta, tenho acompanhado diariamente o caso Isabella. Mas ao contrário da grande maioria, não tenho uma opinião formada: acho tudo um grande mistério, e considero que só o C.S.I da televisão conseguiria resolver essa história. E, mesmo assim, só se for a unidade de Las Vegas. A exepriência é muito importante nessas horas.

Para mim, o circo armado em torno da morte da menina lembra, em muito, 'O Estrangeiro', aquele livro do Camus que todo mundo leu aos vinte e poucos anos e ficou absurdamente influenciado. O anti-herói do livro é declarado culpado por matar um argelino (o cara é francês) e pega a pena mais alta depois que é julgado não pelo crime, mas pelas suas atitudes frente à sociedade. Vai uma pessoa lá e testemunha contando que o cara não chorou no funeral da mãe. Depois, vai uma ex-namorada e diz que o cara é frio, incapaz de demonstrar sentimentos. E quando a narrativa chega ao fim do julgamento, o anti-herói vira inimigo número um da nação, ganhando um castigo maior que o do parricida julgado na sessão anterior.

É óbvio que o pai e a madrasta da Isabella já estão condenados. O que me faz pensar que, se um dia olharem pra minha vida com a mega lupa que estão usando para esquadrinhar a vida do casal, tenho certeza de que a opinião pública será de que eu sou uma assassina. Mesmo que quem me conheça bem saiba que é impossível eu, um dia, matar alguém. Aliás, quem é que sobreviveria a uma lupa sobre a sua vida? Não acho que alguém atenda a todos os padrões de normalidade que as pessoas cobram uns dos outros.

Disseram que a madrasta deu chilique de ciúmes. E quem nunca deu? Disseram que ela reclama da presença da enteada no fim de semana. Já ouvi muitas amigas que são namoradas ou casadas com homens que já tem filhos reclamarem da mesma coisa. Já vi e já participei de brigas com namorados que eu preseumo que o resto da vizinhança tenha ouvido. Alguém aqui nunca berrou com o namorado? Ou nunca ouviu o namorado berrar com você?

Não tenho a pretensão de dizer que o pai e a madrasta da Isabella sejam inocentes e ótimas pessoas. Mas ver um taxista que fez uma corrida com a Ana Carolina há não sei quanto tempo ir testemunhar é demais, né não?

Qualquer um é estrangeiro quando todos viram as costas de uma vez só. É muito fácil se unir em grupinhos de iguais e apontar pro outro lado da rua. Difícil é apontar pra dentro do grupo.

1 comment:

Gisela Lacerda said...

Bem, apesar de estar na cara que foram eles, seu texto mostra bem as garras afiadas da sociedade. Interessante a comparação com o livro de Camus, porque não percebo desse jeito essa situação nem descrita no livro.