Tuesday, June 14, 2011

A única história de amor





Eu não esperava que o livro da Patti Smith "Só garotos" fosse me ensinar o que é amar de verdade. Eu achava que simplesmente ia ler uma puta biografia, de uma das maiores poetas e cantoras de rock de todos os tempos. E eu achava que o nome original era "Only boys", e pensava que ela queria dizer que estava sempre cercada por muitos homens, no começo da era punk, em meados de 1970.


Só que não é "Only Boys". É "Just Kids". E o punk me deu uma lição de amor.


O livro conta a história de Patti com o fotógrafo Robert Mapplethorpe. Dois artistas mortos de fome morando na Nova York da década de 60. O lindo é que os dois fizeram um pacto de proteção mútua que não foi dissolvido nem com o fato do cara ser muito e absolutamente gay.


Quanto mais eu lia a história dos dois, de luta e de apoio, e de carinho... Mais eu tive medo de nunca me aproximar de um amor desse tipo. Amor que só dá e quase não pede de volta. Amor que fecha com aquela pessoa, que confia, que sabe que nada de ruim vai acontecer vindo dela.


A minha geração aprendeu a amar desconfiando sempre. Quer dizer, as minhas amigas, o meu círculo social, todos os que estão ao meu redor pisam com calma e bem devagar quando se trata de relacionamento. Ninguém se joga. E eu, a mais desconfiada dos desconfiados, a ascendente em escorpião que não admite levar ferroada de ninguém, me previno tanto do problema que acabo me esquecendo de fechar os olhos e pular.


Viver meu amor passou a ser a minha intenção. Dou a mão a Patti e pulo.

Trabalho de mulher

Eu sei o que é trabalho de homem. Matar barata, trocar pneu de carro, consertar encanamento = trabalho de homem. Só que um dia me pediram pra definir o que é "trabalho de mulher". E tudo o que eu pensava soava muito machista. Cuidar da casa? Fazer compras? Cozinhar? Essas parecem as funções de uma mulher dos anos 1950.

Parece que a mulher da década de 2010 não tem bem um trabalho definido...
A gente ainda ganha bem menos do que os homens. Mas temos a cobrança igual. E trabalhar fora acabou por afastar as mulheres dos assuntos de casa. Do que fazer pro jantar, repor mantimentos ou finalmente mandar pendurar aqueles quadros que estão há três semanas no chão da sala.

Tem um bando de homem que reclama. Uma vez, o Leo Jaime me falou que as mulheres se acham cheias de direitos, mas que na hora do aperto levantam o cartão de café com leite. E o pior é que é verdade. Quantas vezes eu já não usei meu passe café com leite, mesmo me achando totalmente independente e dona do meu nariz? Usando sempre o argumento de que isso ou aquilo é "coisa de homem". E que por isso eu não precisaria me mexer.

Mas tem horas que eu acho que a validade do cartão de café com leite vai expirar. Quando eu não for mais novinha (ops, nem sou tão novinha assim...), e o meu sorriso não amolecer muitos marmanjos por aí, será que vai ser mole encontrar alguém pra trocar o pneu do carro? Tudo bem que eu sempre dei uns dez real de agradecimento, mas o fato é que, uma vez acionado, não costumo esperar muito pro meu cartão café com leite fazer efeito. Até quando?

Voltando às vacas frias: eu não sei fazer trabalho de mulher, e também não sei fazer trabalho de homem. O que me torna, automaticamente, uma imprestável social. Eu sou muito melhor no meu trabalho do que nas tarefas domésticas. Mas o lance é que meu salário não é lá essas coisas, e nem assumir o papel de provedora da família eu posso.

E sabe o qu é pior? Tenho zero vontade de aprender qualquer tipo de trabalho doméstico.
Que tenha prazo longo o meu cartão café com leite!