Saturday, September 29, 2007

Frenética

Não parei de fumar. Mas tenho uma explicação perfeitamente lógica pra isso, que vou dar uma outra hora. A vida tem estado frenética, corrida, e eu preciso confessar que adoro isso. Todas essas coisas acontecendo e eu com a sensação muito nítida de que tudo tá indo bem.

Outro dia ganhei um convite pra assistir Madeleine Peyroux no Teatro Municipal. Tive dois aniversários na semana, recebi um convite inusitado de trabalho, disse adeus a um menino bonitinho mas ordinário, ganhei uma audiência contra uma operadora de telefonia celular, penso no meu reveillon no Machu Pichu. Não sei como vai ser o ano que vem, mas também não quero concluir nada agora. 2007, com todos os seus altos e baixos, tem sido um ano que vai ficar pra história.

Às vezes paro para contar os meses desde que terminei um namoro que acreditava ser eterno, mudei pro apartamento novo e fiz uma dezena de novos amigos. Fico surpresa em descobrir que não faz tanto tempo assim. Tenho a impressão de que já se passaram anos, décadas, porque claramente não sou a mesma pessoa do começo do ano.

A Baxt estava falando de epifania outro dia. E só agora eu saquei o que é. Entendi (quase) tudo.

Wednesday, September 19, 2007

Ex-fumante com data marcada

Paro de fumar no dia 23 de setembro. Toda vez que falo isso, meus amigos me olham de lado e soltam aquele risinho zombateiro, de descrença, sabe como é? Nós, os fumantes que planejam parar de fumar, somos alvos de todo tipo de dúvida da sociedade. Somos uma categoria que sofre com o preconceito geral: o dos fumantes que não pensam em largar seu vício, o dos fumantes que tentaram inúmeras vezes ficar longe da nicotina e desistiram da empreitada (por hora) e o dos antitabagistas convictos. Ou seja: todos estão contra nós, e nós estamos contra nós. Porque dentro do nosso grupo, ninguém leva fé nos outros. Uma eterna guerra, contra tudo e contra todos.

Mas eu já estou convencida de que tenho que parar de fumar. Há muitos e muitos anos, quando eu comecei com o cigarrinho malvado na minha vida, dizia a todos que aos 30 seria dado o adeus a este delicioso e fedorento troço. Só que, naquela época, os 30 anos eram uma época distante, mítica, em que eu supostamente já estaria casada, grávida do primeiro filho e ganhando o triplo do que ganho atualmente.
Ah, que delícia é ser adolescente e imaginar a vida aos 30...

Nada do que se supunha foi configurado. No entanto, mantenho a minha promessa, a única que depende única e exclusivamente da minha força de vontade direta. É só eu querer que pronto, parei. Como em um passe de mágica. Então, vambora, né. Chega de empurrar com a barriga.

Enquanto isso, fico me deliciando com as últimas doses do bastãozinho do prazer (soou erótico, ou foi impressão minha?). Fumo cigarros dirigindo, com a janela aberta, curtindo o ventinho. Fumo em frente ao computador, enquanto converso na internet. Fumo na hora de esticar as pernas para o cafezinho de 9h às 18h. Fumo quando assisto Seinfeld. E, claro, fumo quando encontro os amigos pra um chopinho.
Ai, como é bom fumar.

Mas pra mim, já deu. Por isso eu digo tchau. Se ninguém acredita, só lamento.
E acendo mais um cigarro brindando a isso.

Tuesday, September 18, 2007

I go out on Sunday night and I come home on Monday morning

Existe um determinado momento da noite que a gente sabe que não deve ir além. Um instante em que a nossa consciência avisa: mais um drink vai ser exagero, amanhã é dia de trabalho, não converse com malas em potencial, etc etc. Essa parte da decisão noturna eu já entendi. O que eu ainda não sei como acontece é exatemente quando e por que a gente opta pelo errado. Qual é a hora da definição do fracasso do dia seguinte? Não dá pra saber...

Outro dia fui encontrar amigas para um singelo drink e um inocente bate-papo. Pelas minhas contas, à meia-noite eu estaria em casa, com a alma intacta e o dia de trabalho de segunda-feira cheio de produtividade. Mas o que parecia ser uma noite calma se transformou em uma festa longa... e que acabou tarde.

No dia seguinte, eu catava os milhos em cima do meu teclado. A cabeça pesava e cada cigarro parecia a morte. Eu só queria, desesperadamente, dormir. Mas como a gente paga pelas escolhas que faz - mesmo que elas tenham sido feitas na base do mojito - meu dia só acabou 10h30 da noite, com direito a geladeira sem comida e quarto completamente desarrumado.

E tem mais: demorei a dormir. Inacreditável.

O problema é que se alguém me perguntar se rolou um arrependimento, eu vou confessar que... não. Nenhum. Nem dos telefonemas insanos de madrugada, direcionados a pessoas improváveis (quando a gente acha que ninguém vai atender, aí mesmo que nego atende, né? Esse mundo tá todo do avesso).

Vai ver a minha consciência, de tanto ser ignorada tarde da noite, optou por se calar de vez.
É o preço que se paga.

Friday, September 14, 2007

I go out on Friday night and I come home on Saturday Morning

Quem foi que disse mesmo que com 30 anos acabou o tempo de fazer loucurinhas? Comigo não rolou isso não. Na verdade, tenho 30 anos e 15 dias, e por isso não me libertei ainda do ranço dos twenty-something. Mas a impressão que eu tenho é de que justamente agora é que tá ficando bom! E só lamento o tempo inacreditávelmente enorme que eu perdi com cabelos esquisitos e reclamações pseudo-existencialistas.

Outro dia um amigo me escreveu perguntando como é que eu estava me sentindo agora que tinha chegado aos 30. Respondi que estava ótima, que me achava muito mais bonita agora do que aos 25, e que a independência financeira era um presente dos deuses. No email de resposta, ele escreveu: "Caramba, você está soando como uma autêntica balzaquiana".
Vale ressaltar que esse meu amigo é mais velho, tem dois filhos, etc, e me conheceu com vinte e poucos, no auge dos meus questionamentos pós-adolescentes, que ele provavelmente encarava entre o tédio e a diversão de homem mais velho. Talvez a constatação do meu amigo de que agora eu tenho 30 tenha feito com com que ele se sinta meio coroa. Afinal de contas, eu era o seu contato com o mundo "jovem", solteiro e sem amarras sociais.

Apesar da minha rotina continuar basicamente a mesma, há alguns aspectos que eu não posso negar que mudaram sensivelmente. Na maioria das vezes eu sei exatamente o que falar e quando falar, e são cada vez mais raras as pessoas que conseguem me impressionar de alguma maneira. Sei que é um papo blasé e meio pentelho, mas alguma coisa tem que mudar na gente depois de certa experiência de vida, né? E, pra falar a verdade, nem sei se é tão bom assim não ser surpreendida pela humanidade.

Eu sinto um pouquinho de falta de ficar desconcertada diante de uma situação e de sentir frio na barriga. Mas é só um pouquinho mesmo. De resto, to bem melhor agora.
Quem viver até os 30, verá.

Wednesday, September 12, 2007

Coisas legais que fiz nos últimos dias

- Pedi uma pessoa em casamento e ouvi um sim (provavelmente ele nem se lembra, mas isso não vem ao caso agora).
- Vi o sol nascer na Praia de Botafogo e tirei milhões de fotos com o celular.
- Dei uma estrela no canteiro central do Aterro do Flamengo, no exato momento que um ônibus passava.
- Apresentei dois amigos que se tornaram grandes companheiros naquela noita.
- Coloquei meus amigos de graça pra dentro de uma festa.
- Fiz uma macarronada pra duas amigas.
- Encontrei ao vivo um amigo virtual.
- Dei de presente pra uma amiga que tinha arrancado os cisos um pote (pequeno) de Haagen-Dasz.

Monday, September 10, 2007

O filme do momento

Outro dia fui fazer compras e ouvi um empacotador comentando com outro: "...agora vai sair a segunda versão pirata, dizem que é diferente da primeira, e que tem a versão proibida também. Lá no Centro eu comprei um DVD e já emprestei pra um camarada..."

Mesmo sem ouvir o nome do filme, eu sabia que eles estavam falando de Tropa de Elite.

Essa foi a terceira ou quarta vez na semana que ouvi alguém comentar sobre a obra não lançada de José Padilha. Até a minha manicure assistiu ao filme, e o meu professor de direção cinematográfica mencionou na aula o caso de pirataria da obra. Esse é o assunto do momento, e vai das classes A a D: do governador do Rio aos empacotadores do Zona Sul.

Depois de prestar atenção na conversa dos meninos do mercado, resolvi que era hora de saber que negócio é esse que todo mundo está falando. Procurei no Youtube um trecho do filme e, pra minha surpresa, encontrei a tal cena de invasão do morro, em que o policial pega um estudante pra cristo e põe a culpa da situação em que vivemos em "maconheiros como ele".

Eu fiquei impressionada, achei a seqüência bem feitinha e tal. Mas uma amiga me disse que viu o filme e achou tudo muito lugar comum: as cenas de violência, a truculência dos policiais, o ambiente das bocas de fumo. Só que eu não sei se é tão lugar comum assim, porque eu imagino que invasão de morro seja exatamente daquela maneira. Quer dizer, eu, enquanto classe média alta do asfalto, não faço a mínima idéia do que acontece nas favelas com boca de fumo. Não subo morro pra comprar nada, então todas as vezes em que estive em uma favela eu passei bem longe dos cara. Nunca levei uma dura, nunca fui presa, nunca fui a baile funk. Então, pra mim, tudo o que rola na seqüência do filme pode ser o mais puro retrato da realidade.

E isso tudo me deprime horrores. Tenho amigos que plantam maconha em casa porque gostam de fumar um baseado mas não concordam em comprar de traficantes. Além disso, dizem eles, a qualidade da cannabis caseira é muito melhor que a de atacado.
Admiro quem faz isso, mas a grande maioria compra no morro mesmo, ou então consegue com intermediários que são os buchas que vão lidar com os donos da boca. De qualquer forma, a menos que você passe a produzir seu próprio barato, você está diretamente ligado a toda essa merda. É simples e cruel.

Ao mesmo tempo que eu chego a essa conclusão, eu penso em Nova York. Todo mundo fuma maconha em NY. E usa cocaína. E, mesmo assim, não existe esse duplo controle de estado - o oficial e o oficioso. Então é muito fácil colocar toda a culpa no usuário, mas o buraco é muito mais embaixo.

Tropa de Elite vai estrear no Festival BR, que deve ser em outubro. Eu não vou assistir à cópia pirata, vou esperar pra ver no cinema, em tela grande e, de preferência, com ar condiocionado. Mas vou asssitir e comentar com quem puxar esse papo comigo. Acho que esses temas têm mais é que ser debatidos à exaustão mesmo.

Update (copiando Baxt): Depois de escrever o texto, cheguei na casa do meu pai e enocntrei uma cópia pirata do filme. Aí me sentir na obrigação de assistir, né? Já que eu tava ali... Resumindo, o filme é bom mesmo. E eu vou ver no cinema também. Provavelmente não na primeira semana, mas vou ver.
É isso.

Thursday, September 06, 2007

Nova Mania

Meu mais novo hobby é filmar os amigos quando eles estão no auge da bebedeira. Funciona assim: em certo momento da festa, quando todas as conversas não fazem mais o mínimo sentido, eu ligo a câmera a começo a captar a conversa. Nesse momento, ninguém mais se importa se eu estou filmando ou não. Na verdae, quando se encontram em estado avançado de álcool, todos são grandes atores e pensadores.

Minha primeira experiência foi na viagem pra Teresópolis. O grupo estava sentado na mesa da cozinha - onde, invariavelmente, as festas acabam - quando saquei a minha Sony Cybershot e iniciei a filmagem. Capitei uma amiga imitando o som do ronco dela quando ela bebia, e um dos meninos, que é estudante de cinema, explicando que quando terminar a faculdade vai fazer filmes pornôs e ganhar muito dinheiro. Diz ele que é melhor que fazer filme publicitário.

A segunda experiência foi no dia do meu aniversario, quando eu e dois amigos decidimos terminar a noite no Diagonal, o bar mais deprimente do Rio de Janeiro. Bebemos apenas um chope e o garçom anunciou que o bar estava fechando. Pedimos a saideira e fomos negados! O meu filme consiste no discurso que uma amiga fez sobre o direito de obter o último do chope da noite quando se chega aos trinta anos.

No fim de semana passado ffilmei a minha última obra incrível. Um amigo que já havia consumido váááárias doses de vodca com qualquer coisa sem álcool começou uma manifestação sobre as pessoas que estavam na festa. Corri para a sala, peguei a minha câmera e gravei toda a lógica sem sentido dele. No dia seguinte assistimos ao vídeo e demos boas gargalhadas.

É ótimo eternizar estes momento que não deveriam ser eternizados.

Tuesday, September 04, 2007

Revelações automobilísticas

É dirigindo que tenho as maiores revelações existencialistas. E também idéias para textos. Não sei se isso acontece porque estou relaxada, ouvindo música, fumando um cigarro, ou se é porque este é o momento que me reservo para pensar na vida. O fato é que outro dia tive uma revelação que mudou a minha existência imediata (no sentido de ser existência que está acontecendo no momento, sabe): descobri que se mudo de A pra B e de B pra A o tempo todo, é porque não quero nem uma coisa nem outra.


Foi como tirar um piano das costas. Foi realmente incrível. De repente eu estava admirando o brilho do sol nos carros, cantando Beatles no máximo da minha curta afinação e dirigindo um pouquinho mais devagar que o habitual.

Dirigir é a maior diversão. Às vezes invento de viajar só pra poder ficar trancada no meu Palio 2002 com o som nas alturas e as janelas fechadas. Lembro de uma vez que peguei a serra de Teresópolis depois de ter brigado com um namoradinho tra-lá-lá. Coloquei aquele disco vocal da Björk e fui admirando toda a mata Atlântica intocada da região. O celular estava fora de área, o meu tanque estava cheio e o meu cartão de crédito andava a pleno vapor. O que mais eu posso pedir da vida, meu deus?

Uma pena a gasolina ser tão cara.