Thursday, November 17, 2005

Viagem parte V - Alto do Moura, Caruaru, PE

Alto do Moura é a referência de artesanato do nordeste. Tudo aquilo que a gente vê vendendo em feiras - bonecos de barro, bois sem perna, estátuas de Lampião e Maria Bonita - tudo isso é produzido lá e exportado para os outros cantos do país. Hoje, Alto do Moura é um amontoado de ateliês e lojinhas por onde turistas nacionais e internacionais se acabam nas compras. É que lá é barato demais, próprio para comprar presentes para toda a família.

Todo mundo que mora em Alto do Moura faz esculturas. Esse conhecimento é passado de geração em geração, e as crianças do lugar aprendem a fazer brinquedos de barro ao invés de comprar bonecos e panelinhas de plástico nas lojas. Até Mestre Vitalino, que foi quem elevou os bonequinhos de barro à categoria de arte popular, aprendeu seu ofício fazendo brinquedos.

Um lado ruim (já que falaram que eu to muito deslumbrada com o nordeste heheh): eu, como turista otário que sou, acabei pagando muito mais caro pelas peças. Explico: eu não sei pechinchar, e no Alto do Moura é essencial chorar um pouquinho na hora do pagamento. Dessa forma, é possível conseguir um desconto muito interessante - pelo menos foi o que presenciei com os chorões do meu grupo. Vai ver que é por isso que o carioca é conhecido no nordeste como ruim de jogo.

Tuesday, November 15, 2005

Viagem parte IV - Areia, PB e Barra de Cunhaú, RN

Viajar pelo interior do país é muito diferente de viajar pelas cidades turísticas. Não só por causa das diferenças socias e etc, mas pelas paisagens que só uma corrida de carro proporciona. Foi conhecendo as estradas da Paraíba e Rio Grande do Norte que descobri que o céu do nordeste brasileiro talvez seja o mais bonito do mundo. Muito azul, com nuvens brancas aqui e ali, interminável e limpo. Quase uma poesia.

Areia foi a primeira cidade da Paraíba a ser tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional. É também o lugar onde foi construído o primeiro teatro do estado, no começo do século XX. Por ser uma cidade no alto da serra, o clima de lá é ameno, e à noitinha faz certo frio, inesperado em um município do nordeste - pelo menos para aqueles que moram lá pro sul, como eu.

O caso de Barra do Cunhaú é outro. Trata-se de uma localidade no litoral do Rio Grande do Norte, uma colônia de pescadores que recentemente foi descoberta pelos gringos que gostam de praticar kite e windsurf. A fama da cidade cresceu de tal forma que vários restaurantes e pousadas foram abertos da noite para o dia. O engraçado é que pouca gente noBrasil conhece Cunhaú, e outro dia eu peguei um vôo com uma menina que é campeã brasileira de alguma categoria de kite surf e ela confessou nunca ter pisado no lugar. Nem ouvido falar.

Agora, imagine o que é para os habitantes das duas cidades, pessoas que têm um ritmo de vida muito diferente dos que vivem nas metrópoles, receber uma equipe de reportagem de televisão. É quase como uma invasão, um estupro no cotidiano deles, com todos aqueles equipamentos, cases, vans e etc. Aliás, tenho pensado muito sobre tempo e estilo de vida, mas ainda não cheguei a nenhuma conclusão do que quero pro meu futuro. Pra variar, a única coisa que pode parecer segura, na minha vida, é saber o que não quero. E até isso muda com mais freqüência do que eu gostaria.

Saturday, November 12, 2005

Viagem parte III - Recife

Eu ando tipo apaixonada por Recife. Completamente in love. A cidade tem um clima de Rio de Janeiro mas, ao mesmo tempo, esconde nas entranhas anos e anos de história. E a gente sente isso quando anda pelos becos e quando visita o centro antigo das igrejas caindo aos pedaços e ruas cheirando a esgoto.

Recife se autointitula "Veneza brasileira", porque é cortada por dois rios, etc e tal. Nunca fui a Veneza, mas imagino que deve haver uma grande licença poética na comparação. O que eu posso afirmar é que a capital de Pernambuco é de verdade o lugar dos homens caranguejos, como dizia Chico Science, porque o mangue faz parte da cidade tanto quanto as igrejas centenárias.

Eu me apaixonei por Recife porque tudo aqui é absolutamente mergulhado em cultura, popular ou erudita, para pobres e ricos. Veja bem: hoje é sábado e na cidade se apresenta a ópera Carmem, o grupo Cordel do Fogo Encantado e o Pastoril do Velho Maroto, para citar apenas esses poucos. Milhões de micro acontecimentos pipocam ao mesmo tempo, em cantos por onde já passaram índios, negros, portugueses e holandeses, de forma que o povo daqui tem uma aparência muito característica.

E como os pernambucanos gostam de assuntar. Quem é do tipo que prefere ficar sozinho olhando o mar e fumando um cigarrinho não deve se assustar. Porque aqui, se você está de bobeira, vem logo um puxar assunto. E o assunto não termina nunca mais. E vira um caso depois do outro, e quase todo mundo já morou no Rio (ok, agora é a minha vez da licença poética...), e a conversa rola pra sempre, a menos que um dos interlocutores tenha que trabalhar. E essa parte, invariavelmente, é minha.

Ah, sim, e tem os tubarões. Ao longo do calçadão da praia de Boa Viagem - tipo Ipanema, sabe? - ficam expostas placas com o desenho de um tubarão e os dizeres: Cuidado. Área sujeita a ataques. Proibido surfar.
E eu, como boa turista, fui fotografada com uma dessas placas fazendo fundo, por uma senhora que tomava sol no banco do calçadão. E que puxou papo comigo.

Rapidinhas porque estou com sono

*** É só a Bárbara colocar um link pra cá no blog dela que começa a entrar um monte de gente nova. Celebridade internética é isso aí.

*** Uma das minhas maiores divesrões ultimamente é descobrir como as pessoas acham este blog. As pesquisas no Google são as mais loucas, e eu sempre fico imaginando que o cara que tava procurando determinada coisa na net e acabou caindo aqui deve ter ficado deveras decepcionado. Afinal de contas, aqui não existe informação confiável.

*** Tá passando Ghost World no Telecine Cult. Cool!

Monday, November 07, 2005

Êxtase natural é melhor do que em pílulas

Se tem uma coisa que me deixa em êxtase, é arte. Pode parecer pedante, mas é verdade: às vezes estou lendo um livro e passo por algum trecho que me dá vontade de ligar pra amigos e conversar sobre o que li por horas e horas, até esgotar o assunto. Ou então quando vejo um quadro e tenho vontade de abraçar alguém ao meu lado, ou puxar um estranho pelo braço e falar:"você viu isso? como é que isso é possível?", e ficar rindo que nem boba, meio saltitante, entende? Não se trata de um carão cultural, mas é que existem situações em que eu sou tocada muito fundo na alma.

Hoje foi um desses dias em que eu me senti como criança em parque de diversões. Fui visitar o museu do Francisco Brennand em Recife, que é um dos lugares mais maravilhosos que eu já vi na vida.

Brennand é um senhor de família rica, que herdou do pai (dentre outras coisas, é claro) uma fábrica de cerâmicas abandonada. Ele reconstruiu a fábrica, transformou em museu e exposição de peças, abriu uma oficina de cerâmica e recebe, diariamente, dezenas de pessoas do mundo inteiro que vêm admirar suas obras. Ele é um velho safado, já nos seus 78 anos, que enche os jardins e o interior da antiga fábrica de seu pai com esculturas fálicas, peitos, cabeças e desenhos completamente insanos. Ele é tão controverso que uma parte da população de Recife ficou revoltada com a escultura que ele colocou próxima ao Marco Zero - encomendado pelo governador - e que se trata de um obelisco de muitos metros de altura que lembra bastante um pênis.
É um velho safado, mas eu adoro.

Enquanto estava lá, extasiada, passeando pela releitura do Taj Mahal que Brennand contruiu, me deparo com o próprio artista conversando com um grupo de visitantes. Ele trabalha no museu, de segunda a sexta, e recebe pessoalmente os turistas que vão prestigiá-lo. Fiquei com uma vontade louca de ir até ele e apertar sua mão, e falar alguma coisa do tipo: "isso aqui é sensacional"; mas aí deu vergonha. Vergonha! Logo eu, tão cara de pau pra algumas coisas, fiquei toda travada e acabei desistindo da idéia de conversar com o homem. Quem sabe outro dia...

Mas outro dia talvez não exista, como ele mesmo já sacou. Aos 78 anos, a gente começa a pensar que daqui a pouco a morte chega. Brennand sacou a proximidade da morte, mas não se deixou intimidar: está construindo um grande mausoléu em uma parte do jardim onde se lê "Casa dos Sacrfifícios"(ou algo parecido, não lembro muito bem...). Fúnebre? Nem um pouco. A construção está pintada de vermelho, cheia de esculturas - fálicas ou não - e envolta naquele clima mágico que ele conseguiu criar em todo o espaço.
Aquilo lá parece o País das Maravilhas. E eu confesso que me senti meio Alice.

Friday, November 04, 2005

Viagem parte II - São Luís

Pra quem acha que o Rio é quente, São Luís deve ser tipo a casa de verão do diabo. Fica logo ali, na esquina da linha do Equador, e o sol faz juz à localização. É de rachar qualquer coco. Eu saí todos os dias usando filtro solar 15, boné e óculos escuros e, mesmo assim, quando me olho no espelho fico assustada com meu bronzeado. Há muito tempo eu não tinha uma cor assim tão... saudável. To adorando.

Mas a cidade é demais de maravilhosa para quem está de férias. O surpreendente é que neste polo turístico internacional que é São Luís do Maranhão só existe um hotel cinco estrelas. Perguntei pro Pituíba, nosso motorista-chaveirinho que calça 33, por que grandes redes de hotéis não vieram encher as burras de dinheiro na cidade. Ele me explicou que tudo o que existe de investimento no estado, e principalmente em São Luís, tem que passar pelo crivo do Sarney. Por "crivo" quero dizer que o Sarney tem que ter uma porcentagem, tem que ser sócio, tem que estar participando. Se não, nada feito.

O povo daqui é totalmente mixed feelings em relação a José Sarney: eles são gratos pelos avanços que o político trouxe, e ao mesmo tempo têm raiva porque ele bloqueia novos investimentos. Existe até a piada de que o livro que o Sarney escreveu entitulado "O dono do Mar" na verdade deveria se chamar "O Dono do Maranhão".

Fora esse pequeno detalhe do nosso ex-presidente, o povo de São Luís é incrível. Hospitaleiros, animadíssimos, participantes ativos de festas populares que pipocam o ano inteiro. Digo que é um povo incrível porque eles continuam comemorando e dançando e cantando no meio da grande pobreza que arrasa o estado. Mais uma vez, para quem acha que no Rio de Janeiro existe gente pobre, precisa conhecer Maranhão. É triste demais, e nós, classe média pseudo-européia do sudeste, não estamos preparados para ver meninos de 6 anos com dentes podres. Pra se ter uma idéia.

De São Luís, carrego ombros ardendo e vermelhos, bronzeado a la taxista (daqueles que tem a marca da manga da blusa, saca?), arroz de cuxá, um milhão de maneiras de preparar e comer camarão, Dona Lili - que aos 77 anos é considerada patrimônio cultural da cidade -, centro histórico, guias mirim, passagens subterrâneas que ligavam igrejas e pequenos bumba-meu-boi para dar de presente. Ah, que terra boa...

Thursday, November 03, 2005

Só no Maranhão você encontra Jesus

Em São Luís, Coca-Cola e Guaraná Antártica não são sucesso. O campeão de vendas na categoria é o Guaraná Jesus, um refrigerante tão rosa, mas tão rosa, que se eu ainda tivesse 16 anos iria tentar pintar o meu cabelo dessa cor. É que aos 16 eu gostava muito de cores não convencionais para cabelos. Anyway, Jesus tem gosto de groselha, canela e água com gás, e exibe, em letras garrafais, o aviso: "Colorido artificialmente". Ah, bom...

Outro dia um guia mirim me contou que a Coca-Cola comprou a produção do refrigerante, e que ele só não é comercializado no resto do Brasil porque o antigo dono, em seu leito de morte, pediu que a distribuição ficasse só no Maranhão. E acabou que a bebida se tornou tão folclórica e popular quanto o bumba-meu-boi e o reggae, e até na loja de artesanato do hotel vendem garrafinhas da marca, altamente inflacionadas: R$1,50 cada.

Eu já sabia que Jesus existia porque um dia entrei em um apartamento que exibia a garrafa de vidro, ainda fechada, como enfeite. Só que a cor já estava desbotada, e o sabor incomparável não podia ser apreciado. Agora, saio de São Luís a caminho do Recife com três garrafas na mala. Uma pra mim, outra pro dono do apartamento onde jazia o refrigerante desbotado, e a terceira para os meus amigos provarem.
Porque todo mundo deveria provar Jesus uma vez na vida.

Wednesday, November 02, 2005

Viagem parte I - Fortaleza

A semana passada foi toda cearense. E, cara, como eu gosto do Ceará. Vai ver é porque uma vez tive umas férias maravilhosas em Jericoacoara, e em uma noite na boate moderninha de Fortaleza, o Órbita, eu fiz dezenas de amigos e levei todo mundo pro hotel onde eu estava hospedada, e a galera ficou em festa até que o recepcionista ligou pro meu quarto e disse que se aquele povo todo continuasse lá até depois das 6h, ele teria que cobrar uma diária de cada. Em questão de segundos coloquei todo mundo pra fora, com troca de endereços e emails e a promessa de manter contato. Óbvio que nunca mais falei com nenhum daqueles novos amigos.

Esse era um tempo bom, quando eu era jovem e podia fazer viagens deste tipo. Agora, passei por Fortaleza a trabalho mesmo. E cheguei do vôo e deixei minhas coisas no hotel e saí correndo pra gravar, como costuma ser no meu trabalho. Estômago enrolando de nervoso de não dar tempo de gravar tudo, filtro solar 15, óculos, boné e, mesmo assim, ombro vermelho à noite. E olha que eu adoro tudo isso.

Se bem que eu provei o mar do Ceará no meu segundo dia. Fomos gravar em uma cidadezinha chamada Paracuru, a 1h30 de Fortaleza, que é conhecida entre gente saudável como um windsurf spot. Depois que terminamos tudo, lá para as 5h30, corremos para a praia aproveitando os últimos resquícios de sol. 5h30 aqui já está quase escuro mas, em ,compensação, o dia amanhece bem cedo, tipo 5h da manhã. Ah, sim, e não tem horário de verão. Mas então, lá na praia, terminamos o dia mergulhados naquele mar delicioso, com tudo escuro ao nosso redor, minha bolsa jogada na areia e eu sem nenhum medo de que ela sumisse. Aquilo era Paracuru, pelo amor de deus, e só a empresa onde eu trabalho deve ter mais empregados do que aquela cidade tem de habitantes. E eu acho que todo mundo deveria dar uma passadinha lá pra ver como aquilo funciona.

Mas não é só isso, tem o povo também. Um povo sofrido pra caramba, que faz qualquer pessoa com crises existenciais se achar o ser humano mais ridículo da Terra. O nordeste - principalmente o Ceará - pode ser visto de duas maneiras: daquela em que você curte as praias, volta bronzeado e passa longe da realidade, ou aquela em que você perde o sono tentando imaginar como é que as pessoas daqui fazem pra manter o humor em certas situações. Eu, pra variar, to tentando o caminho do meio.

Wednesday, October 26, 2005

Homens que pedem em namoro

Eu tenho um amigo que está saindo com uma menina há alguns meses, mas ainda não sabe se está namorando. Não, ele não tem quinze anos, ele tem quase trinta, já morou com outra namorada e já teve inúmeras outras meninas menos importantes. Mesmo assim, ele ainda se pega questionando se o que vive é ou não um namoro.

E um dia ele conversava comigo no carro para saber se aquilo que ele tinha era um relacionamento oficial, dizendo que ele não queria assustar a menina, e que etc e tal, quando eu perguntei: "Você já pediu ela em namoro?"

Ele riu. E riu mais. E o que eu fiz foi acender um cigarro e esperar que o ataque terminasse.

Por fim, ele parou, olhou pra mim, e respondeu:
- Pedir em namoro? Eu nunca fiz isso na minha vida!

Coitadinho, eu pensei. E falei:
- Coitadinho de você.

Esse meu amigo não sabe o quanto é legal você pedir em namoro. E, pelo visto, essa garota com quem ele está quase-namorando também não vai ouvir da boca dele.

É muito bom responder "sim". Mesmo quando você não tem certeza se é isso que deve fazer no momento. Um homem que pede em namoro já tem um diferencial dos outros. Merece uma atenção melhor, um tratamento especial.

Tá bom, eu confesso que já ouvi a pergunta, e que ela foi essencial para tornar a minha resposta positiva.
As pessoas precisam parar de ter medo e começar a agir de modo mais direto. Dá uma preguiça danada tentar adivinhar o que está rolando entre um casal.

Às vezes dá a maior saudade dos tempos da minha avó. Como a vida devia ser fácil de viver...

Thursday, October 20, 2005

Uma pesquisa mais bizarra

Hoje tentei pesquisar minhas imagens no Google. Coloquei meu nome, cliquei no Google Imagens e apareceu um monte de fotos de cantores gospel.
Que nada tinham a ver com o meu nome. Pelo menos isso.

Wednesday, October 19, 2005

Bernard Cornwell rules!

Eu sou uma amante dos nerds. Na verdade este texto deveria se chamar Nerds rule!, mas aí eu me emocionei com o Bernard Cornwell e resolvi mudar tudo. Mas, como uma amante de nerds, eu mesma já me vi envolvida até o pescoço com comportamentos nerdísdicos de primeira. Já virei noite jogando RPG em ambientação medieval. Já li quase todos os quadrinhos do Sandman. Já usei camisetas de bandas de rock (alguém duvida que não há nada mais nerd do que isso?) e recentemente me vi na festa de uma amiga perguntando baixinho: "Ei, é aquele ali que é o Cardoso?" Quando você participa de uma festa em que a maior celebridade é um blogueiro famoso, você é nerd. E não há nada que se possa fazer para alterar este fato.

E por causa de toda nerdice adquirida, fiquei interessada em histórias da época medieval. Guerra de senhores, Cavaleiros da Távola Redonda, magia e brumas da Inglaterra antiga. Adoro tudo isso. É claro que li todos os volumes de "As Brumas de Avalon", mas isso foi lá pelos meus 14 aninhos, e hoje em dia confesso que acho o livro muito... mulherzinha. E não tenho mais paciência.

Até que conheci Bernard Cornwell. Uma amiga me mandou de presente os volumes de As Crônicas de Arthur, três calhamaços de 300 páginas que eu devorei feliz da vida durante 2004. Não tinha absolutamente nada a ver com As Brumas de Avalon, e eu fiquei particularmente feliz com as descrições de cenas de guerra, com muito sangue, sangue por todo lado, sangue, sangue, sangue. Coisa de quem já jogou RPG.

O sinistro foi me pegar pensando no personagem principal. Pensando mesmo. Andando de ônibus, olhando pela janela e matutando: "O que será que o fulano (não lembro mais o nome...) vai fazer depois que Arthur nomeá-lo soldado?"
Quantos escritores você já leu que o fizeram pensar no personagem principal?

E agora eu me dedico à série Busca do Graal. Me dedico mesmo. Chego em casa, janto e me tranco no quarto. Não vejo TV, não leio jornal, não ligo pra ninguém. O meu negócio é com o Bernard. (Por enquanto)

Friday, October 14, 2005

Uma noite para cortar os pulsos

Na próxima sexta eu vou cortar os pulsos. Aviso logo para que depois ninguém fique surpreso com os meus pulsos cortados, já que meus amigos têm mania de achar que eu sou otimista (não sei bem quem inventou isso, mas a verdade é que eu peguei a fama, e agora está difícil de largar). Mas então, semana que vem estarei sozinha no quarto, sem companhia de amigos, porque todos eles estarão no show dos Strokes.

Já foi o tempo que eu me preocupava com shows perdidos. O pior deles foi o dos Beatsie Boys, quando tocaram no Rio e o meu pai não me deixou ir porque era ano de vestibular. Longínquos 1993. Na época pensei: "what the hell, uma hora os caras voltam". Mas eles nunca mais voltaram, e eu lembro com amargura da apresentação tão cobiçada que eu perdi.

Ano passado a história se repetiu, mas com uma sutil diferença: perdi a vinda dos Pixies, só que dessa vez foi por causa de trabalho e não por causa do meu pai. Tinha ficado uns bons meses na rua da amargura, e quando finalmente algum trabalho apareceu, eu tinha que começar a labuta no mesmo dia da apersentação dos caras lá em Curitiba. Dessa vez pensei: "Que coisa adulta", o que é sempre pior que pensar "what the hell". E os caras não vão mais voltar.

Agora é a vez dos Strokes. Não me perocupei em comprar os ingressos - que acabaram em quatro dias, por sinal - porque tinha uma viagem marcada. Os dias passam e a minha viagem é transferida para uma semana depois. Mas daí é tarde demais. Não existem mais ingressos disponíveis, e todos os meus amigos - to-dos - estarão lá.

Bom, pode ser que eu não corte os pulsos na próxima sexta e decida, ao invés da investida dramática, ir ao cinema. Ainda não sei. Até lá eu me decido.

Thursday, October 13, 2005

Pesquisando pessoas no Google

Que atire a primeira pedra quem nunca colocou seu próprio nome no Google só pra ver o que aparece. Um dia comentei com uma antiga chefe que tinha feito esta experiência, e uma semana depois ela chegou ao trabalho com um globo de presente pra mim, seguido com a fala: "Isso aqui é pra você ver quantos lugares no mundo você ainda não conhece, e quanta gente mora em todo esse espaço. Pense nisso ao invés de pesquisar seu nome no Google" Foi uma fala de impacto, mas dita com muito cuidado, e por isso, no final, eu acabei concordando com ela. Mas hoje - só de curiosidade, sabe como é - eu pesquisei meu nome de novo.

E aparece tanta coisa bizarra! A maioria é de links pro meu blog antigo, o Pequenas Observações sobre Coisas sem Importância, que era um sucesso absoluto de público e bilheteria - mas que foi tirado do ar pela Globo.com porque eu fiquei dois meses sem atualizar. Bastards. Mas o engraçado é que não aparece uma linhazinha sequer deste meu novo diarinho de pensamentos pequenos e rasos, e eu não sei por quê. Vai ver é porque eu não escrevo o meu nome aqui em nenhum lugar. (Então que fique logo registrado BRUNA PAIXÃO. Tomara que agora o Google me localize).

Só que esquisita mesmo é essa mania que eu tenho de pesquisar outras pessoas na internet. Ou melhor: de pesquisar possíveis príncipes encantados. Será que só eu faço isso?
Acho incrível o quanto você pdoe descobrir sobre alguém usando a internet. Você descobre até o que não quer descobrir. Vê fotos que nunca deveria ver, lê textos que não deveriam estar publicados, é um desastre só. E mesmo sabendo de tudo isso, continuo fazendo. Uma vergonha.

Pesquisar pessoas no Google é feio, feio, feio. Mas às vezes eu não resito...

Tuesday, October 11, 2005

Amanhã é feriado! Mas não pra mim...

Amanhã terei que trabalhar. Eu já deveria ter me acostumado a não ter feriado, horário, fim de semana ou qualquer outro tipo de day off institucionalizado. Afinal de contas, faz parte da minha profissão. Acontece que à medida que o tempo passa, menos paciência eu tenho para expedientes em dias que deveriam ser de folga.

Quando comecei a brincar de adulta, eu achava o máximo falar que estava super cansada de tanto trabalho. É essa veia workaholic que eu tenho e que agora eu luto tanto para fazer com que ela cale a boca. Mas no meu primeiro emprego ela gritava a altos brados. Fizesse chuva ou sol, fosse natal ou véspera de ano novo, lá estava eu em frente ao meu computador, suportando um calorão (é que desligavam o ar condicionado central do edifício nos dias que não eram "úteis", como se já não bastasse todo o resto), com o ICQ ligado e digitando loucamente.

Também, pudera: nessa época eu tinha pouco dinheiro, não tinha namorado, não gostava de praia e podia chegar na redação lá pelo meio-dia. O que rolava era que eu saía todos os dias e ia trabalhar todos os dias. Uma pessoa feliz.

Mas agora eu tenho uma puta inveja de quem tem um emprego de 8h às 5h, que tem fim de semana, que tem feriado, que tem férias remuneradas, décimo terceiro e licença maternidade. E essas pessoas são cada vez mais raras. Cada vez mais....

***

By the way, tem um textinho meu na Mood sobre o Nokia Trends do Rio. Não procurem informações corretas, trata-se apenas de uma visão muito pessoal de uma festa para muitos.
Enfim, quem puder, passa lá.

Monday, October 10, 2005

Festa de amigos dos amigos

Sexta-feira em Santa Teresa, bem em frente à bela paisagem de pequenas luzes do Morro dos Prazeres. Digam o que quiser, mas eu acho que a favela à noite é muito bonita, toda iluminada por milhares de casas, casebres, barracos e prédios de três andares. Do outro lado da vista estava eu, debruçada sobre uma janela de apartamento, esperando que a sala ficasse cheia. É que cheguei muito cedo na festa, e como não conhecia ninguém, esperei pela música alta na companhia de coca-cola + vodka. Adoro.

Eu gosto dessas festas em casa de amigos, com músicas que todo mundo gosta e a sensação de que a casa poderia ser sua. Quer dizer, graças a deus a casa não era minha, porque o povo estava empolgado e o meu lado virginiano de primeiro decanato provavelmente ficaria freaking out com toda aquela animação. Mas é bem possível que nenhum virgiano morasse naquele prédio inteiro, a julgar pelo barulho que a gente fazia. Não houve reclamação por parte de nenhum vizinho, e isso foi realmente incrível.

Tinha esquecido de como era divertido sair para este tipo de festa. Tanto que às 4h da manhã pessoas decidiram dar uma passadinha ali no Riocenacontemporânea. Uma passadinha às 4h da manhã em qualquer lugar era algo que eu nao fazia há muito, mas muito tempo mesmo. E foi neste estado de espírito que cheguei à Estação Leopoldina.

Descobri todo um mundo novo depois desse final de semana. Descobri que é divertido ter namorado e sair sozinha, principalmente porque dessa forma a gente não carrega aquele eterno pensamento "será que hoje vou conhecer alguém interessante?" - pensamento este que nos persegue mesmo quando não estamos interessadas em ninguém.

Depois de uma hora de Riocenacontemporânea e Estação Leopoldina, decidi que a minha noite estava completa. Cheguei em casa e tirei os sapatos para não acordar o resto da casa, até que me joguei na minha caminha de solteiro. Não tenho certeza, mas acho que a noite tinha se transformado em 1998. Ou talvez até antes disso.´

É ótimo ser jovem de novo.

Friday, October 07, 2005

Cheiros

Cheiros inesperados são deliciosos. Daquele tipo que a gente está passando e de repente sente um perfume e pensa: nossa, esse é de fulano. Ou então aqueles que imediatamente trazem sensações e sentimentos de volta, ou que lembram uma época específica. Adoro os cheiros.

Lembro que certa vez, lá pelo começo das aulas na faculdade, conheci um menino que me rendeu um ou dois encontros de verão. Nada mais que isso porque eu andava apaixonada por outro, e eu sou assim mesmo, fiel até a paixões não correspondidas. E depois eu nunca mais vi o menininho, que era uma pessoa legal, mas que parava por aí. Anos depois, quando terminei a faculdade, encontrei com o tal cara sem querer e a gente parou no Leblon pra tomar um café e colocar as novidades em dia. Papo vai, papo vem e, na despedida, trocamos um abraço. Nessa hora, ele vem com a surpreendente frase: "Nossa, você ainda usa o mesmo perfume!" E uso mesmo. Le Male do Jean Paul Gaultier, o qual sou cliente desde os dezoito aninhos, quando ganhei um frasco e passei a usar só porque não tinha outra marca disponível no momento. Perfumes masculinos são irresistíveis para mim.

E aí ontem, desfazendo a mala de roupas que estavam espalhadas em uma casa que não é a minha, veio um cheiro de surpresa, um cheiro de uma pessoa que não sou eu. Respirei fundo. Era como se a pessoa que não sou eu estivesse lá ao meu lado, o que me fez lembrar de várias situações interessantes e engraçadas, e eu sorri de saudade.

Tem gente que precisa de fotos, tem gente que precisa de músicas, tem gente que precisa de longas conversas ao telefone. Eu só preciso da fragância certa.

Thursday, October 06, 2005

No escritório

No trabalho são anunciados planos mirabolantes de sucesso incontestável. Mas como eu sou mercenária, tudo o que penso é em ganhar um aumento. Outro dia li no meu horóscopo que esse era um bom mês para melhorar as finanças, mas até agora ninguém bateu no meu ombro e disse: "hmmm, você está merecendo ganhar mais". Então acho que sou eu que tenho que me mexer.

Uma coisa que não suporto no ambiente de trabalho é fofoca. E como tem, meu deus. O quanto cresce a fofoca é o quanto eu me distancio do grupo. E aí acaba que eu não sou convidada para festas e chopes do pessoal do escritório, o que realmente me incomoda. Odeio não ser convidada para festas, mesmo que eu não tenha a mínima pretensão de aparecer. Esse é um dos mes 4.723 defeitos.

No trabalho, é preciso ser diplomático, dizem os livros de auto-ajuda que eu não li. Mas me falta essa diplomacia, e o máximo que eu consigo é ficar de longe rindo das piadas maldosas, um pouco incomodada, com certa culpa sobre os ombros.

Ainda bem que está chegando o fim de semana.

Wednesday, October 05, 2005

Adultos

Quando nosso amigos começam a arredondar para cima sua conta no bar, isso é sinal de que estamos virando adultos. Quando passamos a escolher o que vamos comer sem olhar a coluna da direita - a dos preços - isso é sinal de que viramos adultos e ganhamos razoavelmente bem. Agora, quando damos uma festa de aniversário em um bar e a conta final dá muito menos do que o bolo de dinheiro + ticket, e decidimos continuar a festa com o dinheiro que sobrou, isso é sinal de que não queremos virar adultos. Principalmente se essa festa estiver acontecendo em uma terça-feira.

Tenho problemas em usar a palavra "adulta" para me descrever. Isso só funciona quando quero afirmar que sou uma pessoa consciente de todas as merdas que eu faço. Nesse caso, posso usar frases do tipo: "Eu sei onde estou me metendo, sou uma pessoa adulta" - mesmo quando não faço a mínima idéia do que estará por vir. Aliás, não ter idéia do que vai acontecer é um dos aspectos que mais me seduz em qualquer situação. E talvez explique por que não gosto de me chamar de adulta.

Ontem foi aniversário de doze anos da minha irmã mais nova, e nós fomos comemorar a data comendo um mega hamburguer com cebola frita, cogumelos, queijo e bacon no Friday´s. Uma das coisas boas de ser adulta e não aceitar essa situação é que ter dinheiro para pagar mega hamburgueres em franquias americanas super caras.

A grande diferença entre minha irmã e eu - além dos 16 anos que nos separam - é que ela pediu coca normal, enquanto eu bebiba coca light.
Não tem jeito, um deslize ou outro sempre nos lembram a nossa verdadeira idade.
(principalmente se for levado em conta que ela não tem celulite nenhuma, enquanto que eu...)

Tuesday, October 04, 2005

Namorado

Como de costume, acordei ainda louca de sono, e fiz mentalmente a lista das tarefas que deveria realizar hoje. Funciona como uma espécie de fator de expulsão da cama, já que eu não estava, também como de costume, com a mínima vontade de levantar. Uma coisa é você ser obrigada a acordar porque precisa chegar a certa reunião às 9h da manhã. Outra bem diferente é ter a reunião marcada para as 14h e ter que chegar às 10h só para não ficar muito feio. Em um Universo perfeito, hoje eu sairia de casa às 13h, para chegar ao trabalho a tempo do meu encontro profissional. Mas como nem o meu trabalho, nem eu, nem o universo são perfeitos, foi com muito esforço que me chutei da cama uns vinte minutos depois do despertador começar a tocar. E só consegui me chutar usando a técnica da lista mental de tarefas do dia.

Se de manhã me obrigo a ficar ligada nas ocupações e deveres de um ser quase totalmente responsável, à noite quero, desesperadamente, deixar tudo para trás. Também inventei uma técnica particular para me desvincular de todo o peso de trabalho + pressão + pouco dinheiro, e essa técnica se chama "namorado". Basta eu pensar um pouquinho nele e pronto: em questão de minutos estou pulando as nuvens junto com meus carneirinhos. E só volto a mim na manhã seguinte, quando o despertador toca.

Fora isso, bem, estou entediada. Acordo entediada, chego ao trabalho entediada, converso aparantemente animada - mas no fundo estou transbordando de tédio. Parece que as coisas estão se movendo em câmera lenta, e isso me dá uma impaciência louca. Não tenho tido saco nem comigo mesma. Como se faz para tirar férias de si mesma? Na verdade, pouca gente sabe, mas existe uma maneira de parar de encher o próprio saco. E essa maneira se chama... "namorado".

Só que o meu está longe. Quilômetros de distância. E aí eu sou obrigada a me agüentar até poder voltar ao normal.
Ai, que tédio.

***

Se bem que aconteceu um milagre. Meu peixe não morreu. E eu juro que ele estava seguindo a luz branca na última vez que o vi. Eu juro que ele já estava com um pézinho lá no céu dos peixes. Mas ele voltou a si e ontem, quando me viu, fez festa pedindo comida.
Vai ver não era a hora dele ainda.

Monday, October 03, 2005

Meu peixe está morrendo

Outro dia acordei e o meu peixe estava morrendo. Eu percebi que ele não andava lá essas coisas, comia pouco, nadava menos ainda, e nem se animava quando eu entrava no quarto. É que, em condições normais, o meu peixe ficava muito feliz quando me via, já que eu era sinal de que ele receberia comida. Mas nos últimos tempos ele mal chegava na beira da água à procura da raçãozinha quase diária. E outro dia, finalmente, eu vi que ele não passaria de algumas horas.

Mas o que você faz quando um peixe está agonizando? Nada. Não é como um cachorro, ou um gato, que você pode levar pro veteriário e esperar por um milagre. Quando um peixe agoniza, o máximo que podemos fazer é esperar pela hora da morte. Como eu sou uma pessoa cheia de compromissos inadiáveis, tive que deixar o peixe moribundo pra trás, e desde então não pus mais os pés em casa. Há três dias não apareço por lá. Não consigo pensar no que vou fazer com meu peixinho morto, boiando de barriga pra cima. Vai ter o mesmo fim que tantos outros já tiveram. É o caminho natural das coisas.

E então, diante de toda a minha impotência naquela situação de quase-morte, eu mandei uma mensagem no celular para alguém que entenderia. A mensagem dizia apenas : "Meu peixe está morrendo." Cinco minutos depois, a resposta veio: "Ahh..."
Era só disso que eu precisava.

Não é todo mundo que entende o que você sente quando o seu peixe está morrendo. Quando se encontra uma pessoa assim, é preciso aproveitar com todos os poros o que ela tem a oferecer a você. Eu já sabia disso, mas a cada minuto mais um detalhe me confirma que é verdade.
Pessoas que entendem o peso da morte de um peixe entedem também de muitas outras coisas. É por isso que eu não abro mão de gente assim por nada no mundo.

Quando você voltar, o aquário vai estar limpo, com um novo morador, só esperando para que você o conheça.
Até lá, todos as minhas mensagens de celular estarão em silêncio. Simplesmente porque não adianta tentar de outra forma.

Thursday, August 18, 2005

Eu odeio aproveitar o dia intensamente

Sempre que estou sem assunto, dou uma passadinha em blogs alheios. Eu sou uma usurpadora, um chupa-cabra de idéias dos outros, portanto cuidado na hora em que me contarem algum projeto mirabolante. Eu posso esquecer toda a minha ética em momentos como esse.

Um ponto positivo é que eu sempre cito de onde roubei o tema. Será que isso faz de mim uma pessoa menos rata? Anyway, estava eu muito entediada na casa do meu namorado (ele não estava, é claro), quando resolvi espiar o blog da Baxt. E lá pelo meio tnha um negócio falando sobre Carpe Diem, etc, e o resto eu não vou contar porque tenho preguiça, portanto quem se interessar que passe lá pelo site dela.

E daí eu me lembrei de que, depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, todas as campanhas publicitárias norte-americanas abordavam o tema "aproveite a sua vida enquanto é tempo". Não sei se foi nesse momento que nasceu um certo asco por tudo o que envolve aproveitar o momento, cease the day e todo o resto que diziam na Sociedade dos Poetas Mortos, ou se esse sentimento já vinha crescendo em mim havia um tempo. Talvez tenha sido uma mistura dos dois fatores, um negócio que começou de um jeito e terminou de forma explosiva no pós ataque ao World Trade Center. O fato é que eu simplesmente odeio a idéia de ter que aproveitar a vida intensamente.

O que é meio estranho. Porque na adolescência, lembro bem, eu era uma mistura de hippie-gótica-punk-alternativa (deu pra imaginar?) e adorava colecionar frases de celebridades do rock que tinham morrido jovens. Escrevia na agenda "live fast, die young" e coisas do gênero. Quando ficava em casa muito tempo sem fazer nada, começava a sentir a ação do que meu pai chamava de bicho-carpinteiro e queria ir pra rua, descobrir as coisas, viver aventuras. Pelo menos era assim que eu encarava os meus dias. E, naquela época, qualquer quarta-feira à tarde com amigos depois do colégio era uma diversão sem precedentes.

Mas essa época passou, e agora tudo o que eu procuro fazer nos finais de semana é ficar quieta no meu canto e pisar levemente na jaca à noite. Todo sábado eu me programo para ir à praia- ao cinema - à exposição - ao anima mundi (quando tinha) - ao aterro do flamengo para patinar de rolleer, etc. E, no final, acabo é passando a tarde assistindo ao especial de Seinfeld na Sony, para depois tirar uma sonequinha, para depois acordar e tomar banho e sair. E olha que eu já acho isso muito.

Wednesday, August 17, 2005

Terra do Nunca

A menos que todas estas coisas não sejam verdade - todas estas coisas que você me fala quase todos os dias, sobre amor e ficar junto e destino e tudo mais - a menos que nada disso seja verdade, então eu não tenho motivo para me preocupar com os outros (e com as outras, principalmente). Mas se na verdade tudo o que você me diz não passa de fantasia (veja bem, não digo que seja mentira, e sim fantasia, porque quando a gente mente a gente procura deliberadamente prejudicar o outro, enquanto que quando a gente fantasia, queríamos que aquilo se tornasse realidade) - então, se tudo o que você me diz não passa de fantasia, aí sim eu teria que me preocupar com traições morais, psicológicas e sexuais. E eu bem que acho que você é chegado inocentemente a uma fantasia, como naquele dia em que você disse que me amava. Hoje eu sei que você pode realmente me amar - já se passou tanto tempo e tal, e continuamos juntos e tal -, mas, naquele tempo, acho que você não me amava de verdade, mas você queria desesperadamente que aquilo se tornasse realidade, e então você falou a tal frase original: eu te amo. E aí eu ouvi e repeti que eu também, embora eu fosse exatamente como você: não amava, mas queria amar. E sabia que era só questão de tempo.
Como naquela outra vez em que a gente tinha bebido demais e eu estava levíssima, mais leve que o ar, flutuando entre os fogos, toda feliz porque estava rasa como muitas pessoas aparentemente felizes são, e então você me olhou bem sério - ok, nem tão sério assim - e segurou meus cabelos enquanto eu vomitava no jardim - eu nunca fui muito boa com bebidas, a menos que sejam destilados - e eu disse que tudo bem, e agora: olha aí.
Mas eu deveria saber, desde aquele dia, que você é chegado em um faz-de-conta, que você vive numa Disneylândia pessoal, e que quer transformar tudo em Vocelândia. Eu deveria ter percebido mas, por outro lado, isso não faria a mínima diferença. Afinal, eu também gosto de um conto-de-fadas. E outro dia mesmo eu vi a Sininho.

Tuesday, August 16, 2005

Sábados

Ai, que preguiça disso tudo de novo: pista enfumaçada, São Jorge sobre a porta e som ensurdecedor vindo dos quatro cantos do mundo. Acabei de acordar porque agora, no Rio, ou a gente tira um bom cochilo antes de sair à noite, ou tem que apelar para barbitúricos. Como eu já me considero velha demais para o delsumbramento adolescente das drogas, resolvo que dormir uma horinha à tarde é a minha alternativa. Mas que nada, esta foi uma péssima opção: chego no Dama de Ferro às quatro da manhã com a cara exata de quem acabou de acordar.

Lá em cima, pessoas estão se acotovelando, meninas muito magras seguram drinks rosas e formam-se almôndegas humanas remanescentes de 1997. Apesar de tudo, eu gosto daqui. Basicamente, o problema são as outras pessoas. As que me fazem bocejar. Me aproximo do bar para beber qualquer coisa e ouço a conversa ao lado (é que eu adoro ouvir a conversa ao lado. Não que seja uma questão de fofoca, mas sim de genuíno interesse no exemplar humano à primeira vista, antes de começar a sentir sono com comportamentos repetitivos):

- ... eu liguei pra ele e ele disse que vinha pra cá, ele tem uma namorada, mas a relação está mal das pernas, eu gosto dele mas ele não larga a namorada por mim, outro dia ele passou lá em casa e a gente começou a transar e no meio do sexo a namorada ligou, foi realmente muito constrangedor, mas eu não sei o que ele vê nela, ela é meio gordinha e se veste muito mal, ela nunca sai com ele, não gosta do tipo de música que ele gosta, daí ele fica sozinho por aí, todo interessante, dando sopa para as meninas que vão a bares gays e que têm pouca opção, ela pede mesmo pra ser corna, tadinha...

(Suspiro) Somos todos uns certinhos travestidos de modernos. Os preconceitos são os mesmos no Dama de Ferro ou no Bombar, só que aqui as pessoas usam mais piercings e ficam com outras do mesmo sexo. E é isso o que me dá sono.
Olho para o relógio: quatro e meia. Ainda é preciso resistir um pouco mais.

Tuesday, August 02, 2005

Plágio

O meu ego super mega king size ficou ouriçado na semana passada quando descobri que um texto que eu havia escrito há anos circulava pela internet sem os devidos créditos. Tudo aconteceu quando decidi mostrar um dos quatrocentos e sessenta mil blogs que eu criei e depois abandonei na rede. Aquele era dos tempos em que eu morava em NY pobre, praticamente miserável e nem um pouco glamourosa - mas atenta ao que corria ao meu redor, como sempre. E o texto em questão era sobre as características básicas dos nova-iorquinos, um blá blá blá besteirol que inventei porque não tinha nada melhor a dizer.

Mas então. Não é que eu estava mostrando o tal do site quando alguém disse: já recebi isso por email!
Calma aí. Sem link pro meu site? Poxa, que falta de criatividade. E nem era um texto tão bom assim. Definitivamente, nada que me levasse ao Pulitzer e ao reconhecimento internacional.

Assim, gente, se alguém quiser mandar texto meu por aí, tudo bem, sem problema. Mas coloca o endereço do blog, vai.
Ainda mais agora que eu coloquei contador. Dá uma deprê danada entrar aqui e ver que todos os acessos foram meus....
Entendam que o meu super mega king size ego não agüenta tanto abandono.

Friday, July 29, 2005

Nota

Alguém acredita que eu já to enjoando de Caio Fernando Abreu?
Estou acostumada com cultura McDonalds: a gente vê, come, se entope, acha delicioso, e daqui a meia hora tá com fome de novo.

Extra! Pré-balzaca só assiste a filmes de super-heróis! (e ainda tece comentários sussurrados durante a sessão)

Achei Batman Begins chato. Quer dizer, tem coisas boas e coisas ruins, mas o que ficou na minha lembrança foi o fato de que as coisas ruins são tão bobas que poderiam ter sido facilmente evitadas, tornando o filme realmente o melhor filme do Batman de todos os tempos. Por causa disso – da facilidade com que poderiam evitar erros bobos – o meu veredicto final é radical: o filme é chato.

De chato eu falo pelo nervoso que eu tive do ator principal, porque ele tem a língua presa daquele jeito como o presidente Lula fala (nessas horas eu queria ser uma pessoa genial para conseguir escrever o som que a língua presa do Lula faz). E ele tem cara de cu. E eu não imagino o Bruce Wayne com cara de cu; foi mal.

Outro ponto que eu não gostei foi a maneira com que o Batman conseguiu todos os utensílios incríveis do batcinto. Eu sempre achei que o Batman era cabeçudo, que ele estudava pra caramba até conseguir construir, ele mesmo, os utensílios que precisava em sua busca de vingança. Mas lá no filme, tudo é dado de mão beijada por um antigo diretor nas empresas Wayne, e esse pequeno detalhe transforma Bruce Wayne em um herói que consegue combater o crime porque é milionário.

E, vem cá, gancho pro número 2 é foda, né? Pensei que eles tinham parado de fazer isso em 1985.

Ok, algumas coisas são bacanas, tipo a historinha dele vendo os pais serem assassinados e perdendo o gosto pela vida, etc etc. Mas como aprendiz de nerd viciado em quadrinhos, devo dizer que todo mundo criou muita expectativa quanto a esta versão da história do homem morcego. E olha que esse ainda é o melhor filme dos cinco já lançados. Coitado do Batman...

Ah, mas Quarteto Fantástico é óóóótimo. Adooooooro. O homem chamas é o melhor de todos, mas eu adorei o Coisa depois que ele se transformou. Aliás, eu preferia ele transformado que na aparência normal. E depois ele deixa a mulher loira-gelada pra trás e consegue uma caliente mulata ceguinha. Quem não iria fazer essa troca? Mas eu quase chorei quando a mulher dele colocou a aliança de casamento no chão, coitadinho, e me perguntei se as lágrimas do Coisa seriam de pedra. Mas ele não chorou, porque ele era machão e homens não choram, né.

Você sabe quando um filme pipoca vai ser bom quando ele agrada a ambos os sexos. Olha só: enquanto as mulheres tinham o homem chamas de peito nu a cada quadragésimo de segundo, os homens tinham a mulher invisível com decotes até o umbigo durante o filme inteiro. Assisti ao filme com o meu namorado e tenho certeza de que pensamos as mesmas coisas, embora com alvos diferentes.

O Quarteto Fantástico também deixou gancho para a parte 2. Mas este a gente releva – afinal, vamos todos poder rever músculos definidos e abdomens sarados. Diversão para toda família.

Tuesday, July 26, 2005

Subjetivismo

Funciona da seguinte maneira: observe tudo o que está a seu redor e pense sobre isso. Pense mais. Pense até descobrir que existem problemas que devem ser resolvidos, questões de vida ou morte interiores que precisam de remédio com a máxima urgência. Não dê um só minuto de paz ao seu pequeno cérebro pequeno-burguês, e também não permita quer ele se ocupe com questões sócio-econômicas do seu país.

Foi cansando de ser assim que decidi que seria rasa, que falaria apenas do estritamente palpável, como meus sonhados pares de sapato estilo anos 20 que outro dia vi vender no shopping. Mas descobri, para desespero do meu super mega king size ego, que todas as mulheres do mundo – eu quero dizer todinhas as mulheres meeesmo – têm adoração a sapatos. Tento que até escreveram um livro sobre isso.

Mas, então, eis a questão: como deixar de ser subjetiva quando a única coisa que me diferencia do resto são os meus profundos ou profanos pensamentos? Grande questão.
Eu pensei sobre isso, pensei em como é importante não abandonar este blog (mesmo sabendo que eu já criei nomes muito mais interessantes do que este) e decidi, por pura preguiça mental, a me manter por aqui e ignorar o verdadeiro motivo da criação destes textos: a observação (e, em conseqüência, a crítica) dos comportamentos repetitivos na noite eletrônica carioca.

Traduzindo: dá licença, mas eu não quero mais falar sobre noite. Não me dá o mínimo tesão falar sobre noite. E, como já foi dito antes, leitura tem obrigação de despertar a libido – ou então não vale de nada.

Tuesday, July 19, 2005

Caio Fernando? Adooooro!

O povo da noite adora esticar os “Os” da palavra “adoro”. E sempre estica os da segunda sílaba, como que para dar ênfase de que gosta mesmo daquilo. Quando leio a palavra “adoro” escrita dessa forma, imagino logo uma pessoa jogando a cabeça pra trás, com um copo de ProSecco na mão, vestindo calças Diesel. Eu sei, é uma imagem lugar-comum e ridícula, mas eu não tenho culpa que o mundo seja um esteriótipo só.

Mas, na boa, eu me recuso a escrever um texto sobre “Adoooooro”. Eu prefiro escrever sobre Caio Fernando Abreu. É que outro dia me ligaram da Argumento para avisar que a minha encomenda de Morangos Mofados, feita há quase um ano, finalmente havia chegado. Saí correndo para a livraria mais cara do Rio e comprei meu livrinho. Fininho. Pronto pra ser devorado. Mas que eu leio com cuidado, aos poucos, golinho por golinho.

Nos poucos contos que já li, descobri que a noite eletrônica carioca deveria conhecer Caio Fernando Abreu. Deveria ser obrigação, tipo assim: quando você chegasse na Fosfobox, ganhava um dos contos de Morangos Mofados xerocado. E aí sentava naquele sofá perto do bar e tentava decifrar as letras mal impressas no escuro, e só depois de ler tudo, até o final, você tinha o direito de jacar da maneira que desejasse.

Ai, que delícia o Caio Fernando deveria ser, uma biba atormentada, subjetiva ao extremo, do tipo que não fica um segundo sequer sem pensar sobre vida, cocaína, ser humano, sexo, homossexualidade, Baixo Leblon e tudo mais o que poderia ser dito em 82. Ai, que delícia que ele deveria ser, eu fico lendo e pensando nisso, e também penso em por quê não conheço ninguém assim. Das duas, uma: ou eu simplesmente não consigo fazer surgir o lado interessante das pessoas – o que me torna, logicamente, uma pessoa desinteressante também -, ou eu ando freqüentando os bares errados. Ou, ainda, ambas opções estão corretas.

E, imagina só, se todo mundo ganhasse um conto de Morangos Mofados na porta da Fosfobox, e toda aquela modernidade dos tempos da minha avó descobrisse que a boa literatura dá, literalmente, tesão, talvez as festas eletrônicas não fossem tão zero a zero quanto são. Ou todo mundo ia ficar com um cigarro na mão, o copo de ProSecco e a xerox na outra, jogando a cabeça pra trás em suas calças Diesel e gritando: “Caio Fernando Abreu? Adoooooro!”

Monday, July 18, 2005

Últimos anos dos vinte e poucos

Uma das piores verdades que me bateram nestes últimos tempos de vinte e poucos anos é de que eu não sei mais escrever. Foi algo que desaprendi. Será que isso é muito comum, você ter uma coisa que realmente gosta de fazer, e que faz bem, mas que deliberadamente joga pela janela? Pois foi isso o que eu fiz: joguei meus textos fora.

Outro dia sentei em frente ao computador, angustiada por uma idiotice qualquer, e tentei vomitar palavras na tela, como costumava fazer antes. Não saiu nada. Fiz e refiz inúmeras vezes as três primeiras linhas; relia, achava uma merda e apagava tudo. Esse processo de escreve – apaga – recomeça eu conheço muito bem, não é de forma alguma uma novidade. O que é novo é que, depois de algumas tentativas, eu cansei e fui ver televisão, com o orgulho intelectual (se é que eu tenho algum) ligeiramente ferido. Eu nunca na vida havia optado pela TV antes.

Não sei bem o que isso significa, essa constrangedora troca de telas, mas desconfio de que seja irreversível. Dizem que as coisas mudam quando se chega aos trinta. Será que mudam também quando se está apenas aproximando deles?

Friday, July 15, 2005

Botas ao lado da cama

Foi de um amigo a melhor descrição que eu já ouvi sobre a vida a dois: “existem botas ao lado da minha cama”. A sentença saiu no meio de um falatório caótico sobre o seu dia-a-dia, mas eu catei a afirmação e guardei na bolsa, porque eu gosto de sentenças assim, inventadas com uma simplicidade genial, e anotei mentalmente o que eu poderia plagiar depois. É que eu sou a rainha do plágio.
E agora, sentada na cama, observo meus próprios sapatos de salto, jogados cada um para um lado no chão de sinteco. Não é a minha casa, mas é quase como se fosse, porque abro a geladeira a hora que eu quero, acabo com o nescau, a manteiga e o leite e tudo fica por isso mesmo – e olha que eu nem saio pra comprar mais. Outro dia cheguei aqui com uma pista de corrida e dois carrinhos, e a gente passou sábado e domingo apostando garrafas de vinho pra ver quem ganhava, e mesmo sabendo que o carrinho vermelho era mais rápido, deixaram que eu ficasse com ele. Assim é o amor: você aceita que lhe prejudiquem e tudo bem.
E está tudo bem mesmo. Quer dizer: eu não vou mais à praia nem ao Baixo Gávea, nunca mais ouvi meu CD do Chico Buarque, compro autoramas falsificados, falam mal de mim às pampas, virei inimiga de gente que eu nem conheço e no final - adivinha – tudo bem?
Tudo ótimo.

Thursday, July 07, 2005

Gente bonita

Sábado fui numa festa de gente bonita, com direito a atriz global e modelos que desfilaram no Fashion Rio. Quer dizer, essa parte das modelos eu não tenho tanta certeza, mas tinham tantas meninas magérrimas lá que elas só poderiam ser modelos, certo? E, se elas são modelos, elas desfilam no Fashion Rio, certo? Pois então, era uma festa cheia de pessoas mais bonitas e mais bem vestidas que eu e os meus amigos, em uma puta casa em um bairro nobre do Rio, ao som de DJs bem cotados na noite carioca. Teoricamente, um evento inesquecível.

Se bem que...nem foi. Acho que era porque as pessoas ficavam encolhendo a barriga enquanto estavam na pista de dança. Quer dizer, eu tentei encolher a barriga enquanto dançava e não consegui – me senti meio que um Robocop dançando, toda durinha, pra lá e pra cá. Daí então relaxei: acho que todo mundo ali já tinha percebido que eu não era modelo nem atriz global, então eu não tinha claramente que manter uma pose.

Decidi que a noite valeria, pelo menos, minhas doses de Red Label original, cada uma a R$7, e enveredei pelo caminho do embelezador artificial. Não que eu precisasse notar, mas acabei notando: a noite estava totalmente zero a zero, como costumam ser as festas de gente bonita e magra.

Tá muito recalcado aqui? Até que está mesmo... Mas é que antes eu dizia que jornalista é um bando de gente assexuada, porque esse povo trabalha muito e ganha mal, até que comecei a freqüentar festas de gente bonita. Eu estava errada: sexualidade não tem nada a ver com dinheiro e beleza, e eu até tive uma certa saudade das minhas festas de faculdade em que todo mundo pegava todo mundo, ninguém era de ninguém, e pra isso só era necessário que comprassem uma caixa de cerveja e colocassem um CD no som. Ai, ai.

Mas enquanto freqüentadora noturna já comprometida, posso dizer o seguinte: para quem estava acompanhado, a noite foi maravilhosa. O céu estava estreladíssimo, não fazia calor nem frio e a varanda era o lugar mais animado da festa – talvez porque estivesse escuro e todo mundo pudesse deixar que as gorduras da cintura ficassem em paz.

Friday, May 20, 2005

Afliçãozinha de sexta-feira

A grande questão das minhas sextas-feiras é: "hoje à noite vou de salto alto ou tênis?" É que a resposta desta pergunta é também o que se espera da noitada que vem a seguir. Se a festa promete ser bagaceira, destruidora e sujeita a ressacas, a resposta é tênis. Se os eventos das próximas oito horas forem mais comportados, a resposta é salto alto. A escollha do sapato é muito mais que uma opção de vestiário, é como assumir uma postura de vida - nem que essa postura dure apenas uma noite.

Quando chega quinta, eu já estou inquieta com a proximidade do fim de semana. Na verdade, ao contrário da maioria dos mortais, quinta-feira é meu dia de mau-humor. O problema é esse quase fim de semana, esse quase descanso, essa contagem regressiva para o pé na jaca. As quinta-feiras são sempre angustiantes para mim, que já acordo pensando: "que saco, ainda não é sexta".

Mas a sexta, essa é dia de festa. Geralmente chego ao trabalho mais tarde e saio mais cedo, me virando do avesso para conseguir menos horas de labuta. Na sexta, a contagem regressiva cessa porque rapidinho eu estou na rua, fones nos ouvidos, me dirigindo ao QG da zona sul onde provavelmente passarei todo o final de semana.

O grande problema da sexta é que, apesar dos meus esforços, ela ainda é um dia útil. Geralmente tenho assuntos sérios a tratar, e no final do dia estou esgotada. Sair na sexta requer uma dose extra de vontade. Mas a comunidade jaqueira me ensinou: pra pegar pesado, é melhor pegar hoje. Afinal, a jaca da sexta reserva dois dias - sábado e domingo - para a recuperação absoluta.

Thursday, May 19, 2005

Preparando a noite

Tudo era mais fácil quando eu tinha vinte e poucos anos. No sábado à noite, praticamente me mudava para a casa de uma amiga com metade do meu guarda-roupa dentro de uma mochila: gel para cabelos, maquiagem, glitter, acessórios em bijouteria, botas pretas de cano alto e salto, ou baixas e de cano médio, casacos de pelúcia, grampos e presilhas, saias plissadas ou lisas (mas sempre saias), blusas com brilhos, ou pretas, ou decotadas, ou de alcinhas e, quando eu estava muito inspirada, um boá de plumas pretas.

Eu e minha amiga roubávamos um pouco do whisky do pai dela e colocávamos Nina Simone aos berros às 11h da noite enquanto nos arrumávamos para a Factoria. Aquilo era mais como um ritual: o gel nos cabelos, o penteado, a maquiagem que às vezes ficava uma merda e precisava ser refeita. Tudo demorava horas, eu e ela meio bebinhas e comentando quem estaria e quem não estaria, que merecia e quem não merecia a nossa atenção e quem, definitivamente, era uma pessoa necessária para a festa.

E então a gente ligava para quase todas as pessoas do Rio de Janeiro, marcava a hora de encontro na porta, com direito a chope no boteco mais próximo. E saíamos no meu Uno Mille vinho, com caixa de som estourada, ouvindo o CD da trilha sonora de Trainspoiting, rumo a Ipanema.

Hoje em dia a gente sai de jeans, tênis e uma blusinha mais arrumada, sem maquiagem, com o cabelo solto ou preso em rabo de cavalo, com menos bijus que antes e completamente esquecidas do meu boá de plumas pretas.
Será que isso quer dizer que estamos virando adultas?
Ai, que medo.

Wednesday, May 18, 2005

Chill Out

Às 6h da manhã, é possível notar uma movimentação estranhamente animada na pista da Fosfobox. Pessoas cochicham aqui e ali, números de celulares são trocados e começa a se formar uma fila para pagar o consumo da noite. A razão da inquietação dos freqüentadores da Fosfobox (e do Dama, e de qualquer outra boate carioca que toque música eletrônica - se é que existe mais alguma) é a pergunta: "Onde vai ser o chill out?"

Quando o tema 'chill out' entra na roda, surge a questão mais importante de todas: quem será e quem não será chamado. Não é todo mundo que está na festa que vai estender a noite dia adentro, mas apenas aqueles que se encaixam em certos papéis determinados. Para que o Chill out sobreviva, é preciso que os participantes encarnem com fineza a tarefa que lhes é dada. Se não, o que seria uma festa pós-noite acaba se transformando em um enterro de vampiros.

Para que seu Chill Out seja um sucesso, certifique-se que compareça:

1) O Mestre de Cerimônias.
É o cara que vai dar as coordenadas da festa, que vai levantar tópicos quando o assunto morrer, que vai sugerir as piadas e a duração do chill out.

2) O piadista.
É a pessoa engraçada que vai fazer todo mundo rir, até que ninguém queira mais rir, e sim ficar vegetando e pensando no universo.

3) O DJ.
É o cara que se preocupa com que música está rolando. Importantíssimo.

4) O fornecedor de drogas.
Essencial para que a festa continue.

5) Os coadjuvantes/figurantes.
Esses são os que seguem as tarefas do Mestre de Cerimônias, riem das graças do piadista, dançam qualquer música que o DJ colocar e consomem a droga que estiver à mão. E, se você bobear, consomem a droga que não está à mão também.
Se você já foi a um chill out, conhece pessoas assim.

Thursday, May 12, 2005

Rasa como uma poça

A melhor descrição de certa personagem que freqüenta a noite eletronica carioca foi: "Essa aí é mais rasa que uma poça d'água". Achei a comparção maravilhosa, e imediatamente a adicionei a meu vasto vocabulário. Desde então, usei e reusei a expressão inúmeras vezes, mas nem sempre para falar da mesma pessoa. A noite carioca tem memória muito curta, sabe como é.

A verdade é que estamos o tempo inteiro cercados de pessoas rasas. No trabalho, na noite, em filas de banco onde a gente consegue ouvir a conversa de celular alheia. A humanidade não passa de uma grande poça de enchente, de uma imensa lagoa de São Pedro d'Aldeia, e por mais que a gente caminhe, não conseguimos passar da água nos joelhos. Impossível de se afogar.

Pois é isso o que aconteceu: eu cansei de tentar ser profunda, de tentar em vão enxergar o que está por baixo de tanto glitter e sombra rosa. Decidi ser rasinha, dá licença? Não tem gente que toma drogas só para ter pauta para assuntos noturnos? Não tem gente que sabe de cor todas as roupas e sapatos dos amigos? Não tem gente que identifica os outros pelos carros que eles usam? Então qual é o problema de eu ser superficial?

Bem-vindos ao site que mostra diálogos inventados e nomes fictícios, mas fala de comportamentos reais.