Monday, August 21, 2006

Versão in line

Existe um submundo dos patins no Rio de Janeiro. Descobri o underground sobre rodas depois que ganhei de aniversário antecipado do Ninja um par de patins in line. Há duas semanas todos os meus sábados e domingos são dedicados a tombos com joelheiras e cotoveleiras que não protegem a minha bunda. Mas a culpa, obviamente, é minha. Eu é que tenho que cair direito.

Falando assim até parece que foi um presente de grego. Mas a verdade é que eu estou absolutamente viciada no brinquedo novo, a ponto de trocar a vida noturna pelas manhãs no Aterro do Flamengo. Eu e Ninja parecemos crentes recém convertidos e vendedores de Herba Life: não podemos ver um conhecido que tascamos a ladainha da vida sobre rodas em cima do coitado.

E não somos só nós que nos comportamos desse jeito. Quando você coloca seus patins e vai para um lugar público, pode contar que você fará contato com alguém que também gosta do esporte. Quando dois patinadores se cruzam numa pista, rola aquela olhada de reconhecimento underground: "você faz parte do clube." Mesmo que você não conheça ninguém do submundo do roller, você será (bem) recebido nesse meio e se tornará, dessa forma, um vendedor de Herba Life dos rinques de patinação.

Outro dia eu e Ninja fomos para o Parque dos Patins. Eu estava lá colocando meus equipamentos de segurança - que, no meu caso, são extremamente necessários - quando fomos abordados por um daqueles patinadores profissionais. Sabe aquele tipo de pessoa que se comporta sobre rodas como se estivesse de pé no chão? O cara se aproximou e sacou um cartão, e explicou que toda quarta tinha um grupo que se reunia ali para patinar e trocar dicas. E contou que rolava um site com datas dos encontros e lista de discussão. E convidou a gente para uma festa no sábado seguinte!

Eu e Ninja não acreditamos em tamanha hospitalidade. E fomos percebendo que em todo lugar de patins era assim: uma galera que se conhecia abraçando os novatos. Nada de gritos do tipo fora hauli. Vai ver que esse povo dos patins faz tanto exercício que é movido a endorfina. Vai ver vem daí tanto bom humor!

Tuesday, August 15, 2006

Tadinho do agricultor de Juiz de Fora



Orelhão de Ouro Fino, MG: não é fofo?

De todas as notícias terríveis e horripilantes que dominram os jornais nas últimas semanas, a que mais me emocionou foi a história do agricultor de Juiz de Fora que veio tentar a vida no Rio de Janeiro. A história dele se tornou o meu exemplo pessoal de esteriótipo de interioranos x moradores da cidade grande: os primeiros sempre ingênuos, fofos, prontos para cair no conto do vigário; os segundos sempre exxxxpertos, de olho nos otários, sem perdoar um pobrezinho recém chegado do campo.

Pra quem não sabe, a história é a seguinte: o tal agricultor veio de carroça com os dois filhos de Juiz de Fora ao Rio de Janeiro, em uma viagem que durou dois meses. Ele ficou famoso assim que chegou à cidade porque foi fotografado andando com a carrocinha no meio da avenida Presidente Vargas. O mineirinho estava com tudo preparado pra ficar na casa de uns parentes na Rocinha, mas daí falarm pra ele que se ele fosse morar lá, teria que se desfazer da carroça e da égua Darlene. Só que aí ele não quis, porque a Darlene era uma égua que tinha ajudado muito a família dele quando eles ainda moravam no roça. E aí ele resolveu ir pra um outro bairro onde a égua ficaria a salvo.

Só que é dura a vida na cidade grande. O agricultor foi até a Ceasa, em Irajá, pra ver se conseguia alguma comida para os filhos. Amarrou Darlene do lado de fora e foi à luta. Quando voltou, cadê Darlene? Ela e a carroça haviam desaparecido, fruto de algum desalmado mais rápido do que ele.

"O que eu vou fazer da minha vida agora? Como vou trabalhar", ele perguntava à repórter do Globo. Eu não sei o que ele vai fazer. Poderia voltar a Juiz de Fora e reconstruir sua vida na terra que ele conhece bem. Mas se o homem colocou os filhos pequenos em cima de uma tábua sobre rodas durante dois meses só para tentar a vida no Rio, é sinal de que as coisas na cidade dele não andavam lá essas coisas.

Eu tenho muita pena do mineirinho agricultor. Torço pra que um ricaço desses leia a sua história e o contrate como piscineiro, ou jardineiro, ou caseiro. De vez em quando a vida dá uns finais felizes assim.

Monday, August 07, 2006

O ano mais foda da minha vida

Uma vez fiz um mapa numerológico que falou que o melhor ano da minha vida seria nos meus 32 anos. Na verdade, não lembro bem se era nos 32 ou nos 34, mas com certeza era na casa dos 30. Naquela época eu era uma jovem de vinte e poucos, e achava que a casa dos trinta estava longe da minha realidade. Agora, como uma jovem de vinte e muitos, acho que o melhor ano da minha vida se aproxima perigosamente rápido.

Quer dizer, o que eu vou fazer depois que o melhor ano da minha vida passar? Vou pensar: "Ok, agora já foi, aproveitei enquanto durou. Agora vou relaxar porque nada vai bater esse ano"? Mas aí é meio chato, né, achar que você vai viver até os noventa, até os cem, que é o quanto eu quero viver - na verdade, imagino que ninguém ache que viveu o suficiente, mesmo que tenha batido a marca dos cem - e ter seu ano mais brilhante lá pelas trinta. E todos os outros anos, como é que ficam?

Por outro lado, eu meio que imagino o meu ano mais foda. Com certeza eu vou receber uma promoção ou conseguir um trabalho que pague muito melhor do que o meu do ano anterior. A julgar pela idade, estarei grávida da primeira ou segunda menina (na minha família só dá mulher, fazer o quê). A conta bancária vai bem e o casamento também, já que a gravidez é fruto direto do amor, entende?

Nossa, acabei de descobrir que o meu ano mais foda é o último capítulo de uma novela do Manoel Carlos. Bem que já disseram, e infelizmente não fui eu, que Deus é Janete Clair.

Tuesday, August 01, 2006

Texto Kerouaquiano falso traduzido pelo cara que escrevia na Bizz Letras Traduzidas

Ei, garota, você tem que acreditar que vai dar certo. Você tem que olhar em volta e vupt, apostar no que aparece. É sim, você tem. Ei, garota, você precisa se concentrar nos seus planos e não esperar que eles se realizem pelas mãos dos outros. As mãos são suas, garota! O mundo é seu. Ouça bem o que eu lhe digo, menina, e se jogue pelo mundo conhecendo pessoas tão diferentes que vão fazer você pensar melhor. A diversidade é a salvação do mundo. Sim, sim, com certeza. Garota, você precisa perceber que não está sozinha, mas que tudo depende de você. Você é que sabe o que é bom e o que é ruim, você pode salvar o universo da catástrofe de planetas perdidos colidindo, você tem a chave que abre as portas para um mundo melhor. Um mundo novinho em folha. Fique ligada, garota, que dessa vez é com você.