Saturday, December 29, 2007

Três mulheres e um banheiro

Dividir o apartamento com duas amigas é como viver em uma colônia de férias. A pia da cozinha nunca está limpa. O banheiro tem uma infinidade de calcinhas de cores e tamanhos diferentes secando. A maior coleção de shampoos e condicionadores já encontrada fora das farmácias. Todos os tipos de bebida. Sala sempre com amigas das amigas. Confissões trocadas enquanto assistimos Seinfeld. Compras em conjunto. Telefone que nunca para de tocar. Banhos interrompidos para alguém fazer xixi. Fila pra se arrumar para o trabalho. Risadas, muitas risadas. Coincidências inexplicáveis.

Quando eu fico cansada de tanto agito, fecho a porta do quarto e ligo o som. Me dedico aos meus cinco livros não lidos, ansiosa por terminar o que estou lendo pra já começar a ler o outro. Uma vida de ansiedades, essa de leitora de livros.

Vem 2008, to esperando...

Sunday, December 16, 2007

Teto das Paineiras

Outro poema que eu levo comigo

Alguém me mandou de natal, há muitos anos, um poema da Cecília Meireles. Eu gostei e copiei em um pedaço de papel com um recado anotado no verso, com a letra do meu pai. Desde então, o poema anda na minha carteira. De vez em quando eu leio, só para me sentir bem.
Não gosto de poemas em sua maioria, mas quando gosto, eles me fazem feliz.

Não fazes de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz,
sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
sem te falarem.
Sem lhes falares.

Brincadeira dos copos

A brincadeira é assim: entre em um bar com amigos que estão tão ou mais de ressaca que você. Comece bebendo iced tea de limão para depois descobrir que uma Devassa Ruiva cai muito melhor com a sua ressaca. No terceiro chope, parta para os drinks destilados. A cada rodada, uma pessoa da mesa pede o drink que todos os outros deverão beber. Atenção: não vale repetir a bebida de antes. Passeie pela vodca, pelo rum e pela tequila. Encerre com um chope garotinho, se quiser. Roube o copo do Devassa e leve pra casa, pra entulhar o armário da sua cozinha. Depois, decida que está com fome e vá comer uma pizza extremamente oleosa no botequim mais próximo. Utilize o papel que cobre a mesa do boteco para fazer um barquinho de papel tamanho gigante. Tenha a brilhante idéia de colocar o barquinho pra flutuar no chafariz da sua rua. Resolva dar uma volta de carro pelo Aterro do Flamengo só porque a noite está agradável. Volte pra casa bem tarde, querendo acordar cedo pra ir à praia.
Ganha a brincadeira aquele que não se arrepender de nada da noite anterior.

Scrap para a Mayra depois de um sábado destruidor

nunca mais beber, nunca mais sair à noite, nunca mais conversar com desconhecidos, nunca mais ver o dinheiro ir embora magicamente, nunca mais perder o domingo, nunca mais descumprir promessas feitas antes da meia-noite, nunca mais ligar ou passar mensagens por celular de pilequinho, nunca mais fazer um barco de papel gigante e colocar ele pra passear no chafariz da praça, nunca mais roubar copo de bar só pra ficar rindo depois, nunca mais, nunca mais, nunca mais.
E nem adianta insistir.

LCD Soundsystem sabe das verdades da vida

"And it keeps coming till the day it stops"
- Someone Great

Monday, December 10, 2007

Férias Coccoon

Estou de férias, ou o que poderia ser chamado disso. Não são férias de verdade porque eu não recebi adiantamento de salário nem a garantia de que tenho trabalho no ano que vem, mas mesmo assim gastei o que tinha e o que não tinha redecorando a casa. Ou decorando, apenas, porque o meu apartamento, até mês passado, era conhecido pela ausência total de decoração. Uma coisa assim minimalista, entende.

E agora eu tenho dias livres e consciência pesada para sair e me divertir gastando dinheiro. Então inaugurei um novo estilo de férias: as férias Coccoon. Aquela em que eu passo o dia inteiro dentro de casa apenas navegando na internet, conversando no msn e baixando séries. Baixei Heroes todinho e assisti em dois dias. Agora me dedico a Lost.

Baixo, gravo, assisto, deleto. Da hora que eu acordo à hora que vou dormir. Pode parecer chato - às vezes é... - mas eu tenho me divertido com o meu momento casulo. Dando um tempo do resto da humanidade em um momento que não tenho paciência para a maioria dos humanos.
Às vezes faz bem ficar em casa.

Saturday, December 08, 2007

Passeio de helicóptero pelo Rio

A arte de amar - Manuel Bandeira

Durante muitos anos, esse foi o meu poema preferido.
Eu copiei em uma folha de papel e preguei na parede do meu quarto adolescente, em meio aos posters de hard rock dos anos 90.
Não satisfeita, pintei o primeiro verso atrás da porta, em letras tortas de quem não tem nenhum jeito para atividades manuais.
É esse aqui:

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Fazendo

Bebendo vodca sozinha. Preparando a maquiagem. Fumando muitos cigarros, nunca tantos. Esperando a campainha tocar. Admirando minhas novas cortinas. Pensando em mandar tomar no cu. Imaginando que a maioria é ignorante e não entende ironia. Segurando para não mandar neguinho tomar no cu. Repetindo "que se foda" como se fosse um mantra. Falando muitos palavrões. Sentindo saudade. Imaginando como seria se fosse. Sentindo saudade. Imaginando como será quando. Sentindo saudade. Testando o mau humor contra a humanidade. Buscando conversas quaisquer, em qualquer lugar. Ouvindo histórias. Sentindo saudade. Sentindo saudade. Sentindo saudade.

Thursday, November 29, 2007

Carmen, a Fêmea Alfa

Depois de uns cinco anos sem pisar no Theatro Municipal, 2007 foi um ano de muitos eventos culturais naquele local. Começou com o show da Madeleine Peyroux, depois teve o Bolshoi Brasil e, finalmente, o concerto da ópera Carmen.

De todas as óperas, talvez Carmen seja a mais pop. Mesmo quem não conhece nada de música erudita reconhece uma das árias da cigana. Já foram tantas as repetições em filmes e publicidades diversas que é difícil não cantarolar junto as melodias.

Eu, pessoalmente, acho Carmen fodíssima. Imagina uma mulher que, em pleno século XVIII, era livre, cobiçada e sensual. "As paixões de Carmen não duram mais que seis meses", avisa o toureiro ao mané D. José, que não se conforma com o pé na bunda que levou da protagonista, depois de ser expulso do exército e cair na clandestinidade - tudo por causa dela.

Carmen é o tipo de personagem que mantém discussões em mesas de bar, como se ela fosse uma pessoa de verdade. Quando o concerto terminou, um homem que estava ao meu lado lançou a observação que dá título a esse post: "Carmen é a fêmea alfa!" Achei incrível e anotei mentalmente, pra poder roubar e usar mais tarde (como estou fazendo agora). Esse mesmo homem disse que já viu mais de quinze versões cinematográficas da obra, com visões que vão desde Charles Chaplin a Goddard.

Saí do teatro com vontade de usar saia rodada e salto alto, mas logo tive que me conformar com a minha rotina jeans & tênis. Não adianta: quem nasce Billie Jean nunca será Carmenzita.

Wednesday, November 28, 2007

Sobre pessoas e livros em cinco minutos

Vou tentar disfarçar e dizer que quando entrei na sua casa não reparei que havia livros espalhados por todos os cantos: no banheiro, no quarto, na mesa de jantar e até na cozinha (e nem era um livro de culinária, o que me deixou muito intrigada. O que é que você lê na cozinha? Lê enquanto prepara o almoço?). Vou disfarçar e tentar convencer você de que não reparei que existia um livro aberto em cima do sofá, uma página marcada, que deve ter sido deixado de lado no exato momento em que toquei a campainha e interrompi a sua leitura. Mas como não consigo disfarçar porcaria nenhuma, como sou absolutamente transparente - e ainda não descobri se isso é bom ou ruim - acabei perguntando: "que livro é esse?". E você respondeu: "... blá blá blá Satre", e eu só entendi que tinha Sartre no título, mas que não era um livro do Sartre. E aí não falei mais nada, porque nunca tinha ouvido falar do tal livro, mas achei que devia ser interessante, porque a capa era legal. E eu julgo livros pela capa.

E tem mais: eu percebi que nenhum daqueles volumes estavam em português. Tinham uns em inglês, outros em francês e outros em espanhol, e eu secretamente fiquei orgulhosa. Não tem nada mais turn on pra mim do que inteligência.

E então você abriu a geladeira pra pegar alguma coisa pra gente beber e eu espiei lá dentro e vi que não era uma geladeira típica de casa de homem, com cerveja, água e ketchup e nada mais. Ao contrário, era uma geladeira muito mais preparada pra vida que a minha: tinha temperos e frutas e alguns ingredientes já cortados do que comporia o jantar de mais tarde que, na verdade, nunca aconteceu. E eu pedi a receita e você disse que não dava, depois disse que não tinha receita e que você cozinhava com o que tinha em casa, esquecendo que antes tinha me dito que havia saído pra comprar os ingredientes do prato, em uma contradição deliciosa em busca da valorização de qualidades.

Depois observei que as fotos do seu computador eram, na maioria, auto-retratos, e achei engraçada essa vaidade adolescente em meio a tantas qualidades maduras. Nada melhor do que acabar de conhecer uma pessoa e considerar engraçados os potenciais defeitos dela. Mas antes que eu desse continuidade à essa lógica, você me mostrou a sua coleção de mp3, e disse que pensava em redecorar o apartamento, e me convidou pra sentar e nem reclamou quando eu, espaçosa, tirei os sapatos.

Isso é que dá abrir as portas da sua casa pra uma virginiana.

Friday, November 23, 2007

Brincadeira do Copo

Eu sempre tive medo de histórias de fantasmas e almas e possessões. Fui ver a nova versão do Exorcista no cinema e quase morri do coração. Depois, foi a vez de amarelar ao assistir um trecho de "O exorcismo de Emily Rose" na TV: na hora em que o namorado acorda e encontra a Emily toda retorcida no chão, eu tive que mudar de canal. Era isso ou não conseguir dormir à noite.

Se agora que eu sou velha eu ainda tenho medo do sobrenatural, imagina quando era mais nova. Não tinha a mínima possibilidade de participar daquelas brincadeiras com copos e tesouras que todo mundo fazia - ou falava que fazia. E, pra falar a verdade, eu nunca soube se aquilo tudo que me contavam era real ou não. Devia ser uma grande mentira que eu, menina inocente, acreditava e morria de medo.

Tinha o caso do copo que saui voando do tabuleiro e bateu na parede, depois que um espírito brincalhão ficou irritado com as perguntas da roda. Os meus amigos me explicavam que espíritos brincalhões são os mais perigosos, e que sempre devemos perguntar primeiro se a entidade quer estava ali era séria ou não. Outra pergunta necessária era saber se a brincadeira poderia parar em determinado momento, já que os espíritos não gostavam dessa história de serem entrevistados e depois dispensados sem maiores explicações. Tudo deveria ser feito com grande respeito.

Uma vez, eu e minhas amigas estávamos na casa de uma delas, em Miguel Pereira, e resolvemos conversar com um espírito através do pêndulo. O lance era parecido com a brincadeira do copo: a gente fazia uma roda e falava: "espírito, mostre o seu sim", e aí o pêndulo balançava pra um lado. Depois, só pra confirmar, a gente falava: "espírito, mostre seu não", e o pêndulo deveria balançar para o lado oposto. Enfim, nesse dia a gente perguntou se aquela era uma alma brincalhona e o pêndulo disse que sim, e imediatamente todas as meninas ficaram morrendo de medo. Pedimos então para parar com a brincadeira e tivemos a nossa vontade concedida, para alívio geral.
Pelo visto o espírito brincalhão tava sem o mínimo saco de brincar com a gente.

Thursday, November 22, 2007

Top 5 dos Melhores e Piores de 2007

(sob a minha visão altamente influenciável)

Melhores Shows:
1 - LCDSoundsystem no Circo
2 - Bjork no Tim Festival
3 - Nouvelle Vague no Circo
4 - Devo no Planeta Terra
5 - Los Hermanos na Fundição Progresso

Planos não realizados:
1 - Parar de fumar
2 - Entrar para uma academia
3 - Guardar dinheiro
4 - Mobiliar o apartamento novo
5 - Aproveitar mais o dia

Programa de fim de semana (dia):
1 - Paineiras
2 - Segundo Coqueirão de Ipanema (estacionando no Leblon e andando pelo calçadão até o posto 9)
3 - Café da manhã à uma da tarde no Leblon
4 - Almoço às cinco da tarde em Santa Teresa
5 - Cerveja na muretinha do Bar Urca

Programa de fim de semana (noite):
1 - Fix
2 - Cerveja na muretinha da São Salvador
3 - Festa de música black
4 - Aniversários de amigos e amigos dos amigos
5 - Festa na casa do Marinho

Viagens incríveis (trabalho e/ou lazer):
1 - Paris
2 - Fernando de Noronha
3 - Despedida de Vera Cruz
4 - Búzios com chuva
5 - Fim de semana gastação em sp

Wednesday, November 14, 2007

Falling in love for an android with delayed reaction

Eu me apaixonei por um robô com reações retardadas. Aliás, eu venho me apaixonando por tipos assim nos últimos cinco anos, o que me faz pensar sobre os padrões que a gente escolhe nessa vida. Eles não sabem que são robôs com defeito, e eu não sei que são do mesmo jeito de sempre quando me apaixono por eles. Só depois de um tempo é que a falha vem à tona - como todos os outros defeitos de fabricação - e aí já é tarde demais para se escapar das garras do amor. No fim das contas, amar é só a capacidade de aturar, com mais paciência do que o usual, os defeitos alheios.

Porque ele era um andróide incrivelmente lindo, com grandes e tímidos olhos azuis e um sotaque característico de sua condição de máquina, à princípio o delay das reações era só mais um de seus charmes. Eu mandava emails apaixonados que nunca recebiam respostas. Eu ligava e não era atendida e, nas raras ocasiões em que recebia uma resposta imediata no aparelhinho de celular, eram sempre evasivas e esquivas. Mas a única saída para quem se apaixona por um robô com reações retardadas é esperar que seus circuitos finalmente se consertem. Sozinhos.

Eu criava ferramentas imaginárias para tentar consertar meu irresistível cyborg de olhos azuis. Explicava a mesma coisa repetidas vezes pra ver se ele entendia bem. Mas, coitado, devido à sua condição de mal fabricado, de nada adiantavam as minhas soluções inventadas. Em questão de tempo - muito tempo - o charme do andróide perdeu a graça e as minhas ferramentas se amontoaram inúteis em um canto da garagem.

Agora ele entende tudo. Mas agora não dá mais tempo.
É esse o resultado de se apaixonar por andróides com reações retardadas.

Tuesday, November 13, 2007

Android with delayed reaction

Às vezes tenho uns ímpetos incontroláveis de dizer a verdade, mesmo que o outro lado não queira ouvir. E digo sem ser convidada, mesmo que a verdade seja apenas temporária - minhas verdades são mutáveis, assim como as minhas paixões: leviandade, teu nome é mulher.

E quando ouvem verdades, os que não querem ouvir se fazem de surdos, de desentendidos e de burros. Eu mesma já apliquei tantas vezes essa tática, meu bem. A grande diferença está na parte do saber: eu sei que quando eles não ouvem é mentira, enquanto que eu, quando não me faço ouvir, estou plenamente consciente de que aquilo é uma farsa. Deu pra sacar?

São todos uns robôs com mecanismo retardado. Todos eles programados para não responderem na hora, sofrendo um tremendo de um timing errado, entendendo a regra quando o jogo já acabou. Cyborgs com defeito, todos eles.

A grande merda é que eu sou obrigada a conviver com isso.

Sunday, November 04, 2007

Taxi Driver

- Boa noite. Lapa, por favor.

Pega o celular e disca pra qualquer número, porque não suporta silêncio de táxi, nem conversa com o taxista. Se bem que tem uns que são legais. Vontade de fumar um cigarro, vontade de comer uma bala, e o primeiro número não atende. Olha pela janela todas as luzes e todas as faunas e o taxista avisa:

- Não vai esquecer o celular em cima do banco, hein, boneca.

Diz que não, pode deixar, já tá na bolsa - mas, na verdade, estava ligando pra outro número e pensando: "só tenho uma nota de cinquenta, será que esse cara tem troco?"
Toca o alerta da mensagem dizendo que já chegaram, o cigarro está ali, luminoso, falta só mais um sinal e depois um pouquinho de engarrafamento, pela janela vai vendo televisão, quase chegando, o celular já tá guardado, o dinheiro tá na mão.

- Boa noite, bom divertimento pra você, princesa.

- Boa noite pro senhor.

E fecha a porta.

Paineiras

Enquanto sinto o ar mais fresco nas minhas bochechas, vou suando morro acima. No caminho, um muro de pedra para fazer rapel, o Cristo bem pertinho, bicicleta e skate, vai mais devagar que você anda muito rápido, assim as minhas coxas ficam doídas o resto da semana, aqui tem uma vista boa da Lagoa, repara só como essa árvore caiu mas ainda está viva (vai viver assim ainda por muitos e muitos anos), fila pra entrar embaixo do cano, água gelada que aperta o peito e tira o fôlego, não quis sair ontem porque queria ouvir Nouvelle Vague aqui em cima, as mulheres contam para as amigas sua vida sexual com detalhes, tá falando sério?, suas bochechas são musculosas, deve ser porque eu vivo rindo que nem boba, vocês vão subir pro Cristo?, vocês querem uma van?, do you want a car?, vontade de comer arroz com brócolis e lula, eu prefiro mesa de ferro e cerveja de garrafa e piadas masculinas a mesa de restaurante japonês cheio de mulheres, tá falando sério?, se quiser eu dirijo pra você curtir a vista, você tem cara de alemã, tenho?, por que você não me chamou antes?, não conheço mais ninguém que goste de passear aqui, meus amigos só saem à noite, to virando eremita - mas pelo menos o iPod tá sempre comigo, já viu que louco esse bicho aqui?, tomara que ele não venha pousar em mim, acho que to virando hippie, mas hoje à noite tem festa de eletrônico, né? Tem... Sempre tem.

Céu de Santa Teresa


Quase mar.

Wednesday, October 31, 2007

Domingo de sol

Eu adoro São Paulo. Gosto de passar fim de semanas insanos, de quase não dormir em 48h de noites paulistanas, de visitar a Liberdade e comprar sapatos totalmente dispensáveis na Galeria Ouro Fino. Mas não troco, por nada nesse mundo, o Rio de Janeiro. Nem por NY, nem por Paris. Sou viciada demais nas situações da minha cidade.

Domingo acordei com a voz rouca de incontáveis cigarros da noite anterior. Ainda com a voz cavernosa, telefonei para o número certo, que iria me proporcionar programas divertidos e baratos. E aí, peguei o carro e me mandei pra Santa Teresa, pra almoçar frutos do mar em um restaurante cheio de artesanato do nordeste.

Próxima parada: Paineiras. Meu guia me avisou que a boa não é aquele cano grudado na pedra que nego chama de cachoeira, e sim uma trilhazinha no meio do mato, subindo pedras e passando por teias de aranha. Mesmo chiliquenta e totalmente urbana, decidi inovar e aceitei o desafio de me embrenhar mata adentro, e o resultado foi um banho revigorante em águas totalmente geladas. Diz a lenda que a cachoeira tem um código secreto em que dois grupos desconhecidos nunca se encontram: quando sobe uma primeira galera, os outros ferquentadores só aparecem no momento da descida. Toda a organização é feita metafisicamente, através da mística das águas do Parque Nacional Floresta da Tijuca. Quando eu voltava ao asfalto das Paineiras, não deu outra: encontrei um casal subindo, pronto para pegar o nosso posto. Achei incrível.

Depois dei um pulo no Parque das Ruínas pra ver uma exposição moderninha, e aproveitei pra tirar fotos do céu de Santa e ainda comer um salgadinho natureba. E mesmo com toda a intensidade da programação, ainda estava sol. Fiquei com muita vontade de aproveitar mais os dias que as noites nos fins de semana - mas a verdade é que sempre me rendo ao primeiro telefonema nortuno, e acabo acordando muito tarde no dia seguinte.

Mas fala sério, é ou não é uma cidade incrível o Rio de Janeiro?
Deixa eu pegar o crachá aqui na bolsa.

Tuesday, October 30, 2007

State of Emergency

Hoje eu estava lendo o blog da Kamille quando me deparei com esse texto maravilhoso sobre o show da Bjork. E fiquei com vontade de escrever sobre música e sobre como a minha vida é toda baseada em sons, e até o meu tempo é dividido por canções: com essa eu vou arrumar a cama, com essa eu vou preparar o meu sanduíche/jantar e com essa eu vou ficar lendo, deitada na cama.

(Agora estou ouvindo She's leaving home, dos Beatles.)

Eu fui no show da Bjork. Numa puta má vontade, é verdade, mas fui. Já vi a cantora outras duas vezes - minha estréia no FreeJazz, inclusive, foi na apresentação dela, em longínquos 1996, quando eu ainda era jovem. Dessa vez eu achei que o show não ia ser nada demais, porque nem gostei tanto assim do disco Volta, e comprei só porque uma amiga estava na fila e se ofereceu pra comprar pra mim.

(Agora estou ouvindo The warning, do Nine Inch Nails.)

Ainda bem que eu fui, ainda bem. Acho que não existe situação mais específica em que eu sinto a alma satisfeita que depois de assistir a um bom show. Exceto, talvez, algumas vezes em que leio uma certa passagem realmente incrível de um livro (acontecia toda hora com Incrivelmente Perto...), mas aí a história toda é muito solitária, muito você e o papel, sabe? Em um show a coisa é diferente, é como se fosse uma satisfação coletiva, com todas aquelas pessoas fazendo coro e gritando de prazer, literalmente.

(Ouvindo Glória, do Tom Zé.)

No caso da Bjork, as músicas foram repletas de lembranças de casos passados, de eventos e de historinhas inesquecíveis dos meus twenty somethings. Saudosista até o último fio de cabelo, eu cantava o refrão de Joga, o tal do state of emergency, how beautiful to be, versos que sempre entendi muito bem e sempre achei incríveis, e que durante anos figuraram na mensagem de abertura do meu celular tijolão, só pra me lembrar que eu não devo ficar encostada no muro vendo o povo passar - a menos, é claro, que eu esteja saboreando infinitamente esse momento.

(Ever Fallen in Love, do Nouvelle Vague)

Depois do show, o que mais tem pra fazer? Eu estava morrendo de sono e feliz e satisfeita, e havia uma chuva que empurrava todo mundo pra baixo das poucas coberturas do local, e era uma guerra pra conseguir uma cerveja.
Fui pra casa. Quando a coisa ta no auge eu me retiro, que é pra não perder tempo com a decadência.

(Próxima: Essa passou, Chico Buarque)

Vida sonora

Durante toda a minha vida eu fui viciada em música. Lembro de pegar uns disquinhos da Rita Lee que eram da minha mãe e colocar pra tocar naquelas vitrolas infantis que já vêm com caixa de som, e quando você dobra elas viram uma maleta. E depois, um pouco mais velha, comecei a fuçar a coleção de vinis de jazz do meu pai, e assim descobri Janis Joplin, Ella Fitzgerald e Chet Baker. E ainda teve as fases college rock e guitar band, uma curta passagem pelo heavy metal e pelo punk rock, até chegar ao injustificável e polêmico bate-estaca. Hoje em dia eu misturo tudo isso e ainda acrescento samba e MPB. Imagino que o povo do SoulSeek que vasculha a minha pasta de mp3 deve me achar uma louca, considerando que bem ao lado do Daft Punk existe uma lista extensa de Chico Buarques de todos os tempos.

Durante todos esses anos, o walkman (com todas as suas variações) virou o meu melhor amigo. Outro dia roubaram o rádio do meu carro e eu entrei em desespero, porque sabia que não aguentaria uma horinha de engarrafamento sem ter com que distrair meus ouvidos e a minha cabeça, sempre pronta a pensar um monte de besteiras. Mas aí, a solução foi dirigir de fone, burlando qualquer tipo de lei de trânsito que me prive de ter prazer. Saquei o iPod que mora na minha bolsa e me mandei para os meus 35km diários a caminho do trabalho.

O problema é que, desde então, não consigo mais tirar os fones do ouvido. Sabe como é, a vida fica muito mais interessante. Hoje mesmo, depois do trabalho, tive que passar no insuportável supermercado estreito e mega cheio que existe na minha rua. Não tive a menor dúvida: aumentei o volume do LCDSoundSystem que reinava no mp3 player a ponto de cobrir aqueles ordinários sons externos da vida cotidiana, sabe como é? E fui procurar margarina, requeijão, leite, etc, morrendo de vontade de dançar pelos corredores estreitos do Zona Sul, transformando todos os movimentos da menina do caixa em coreografia de videoclipe, fechando os olhos de vez em quando para me transportar pra fora daquela fila de no máximo 15 ítens (mas que todo mundo engana) e pensando que, não tem jeito, a minha sina é pagar duzentos reais no ingresso do show dos caras no Circo.
Essa necessidade de ter a alma beijada nunca vai me permitir virar milionária.

Tuesday, October 23, 2007

Pseudo malandragem

Tenho uma grande amiga que está de malas prontas pra morar em Madri. O plano é fazer um doutorado - 4 anos, minha gente... - e voltar com a tese debaixo do braço. Se bem que eu acho que ela vai terminar o doutorado e arrumar um trabalho em alguma universidade madrilenha, e conhecer um espanhol bem gato e se casar e ter dois filhos lindinhos e espanhoizinhos, que irão chamá-la de madrecita. E acho também que ela vai ser bem feliz lá, e de vez em quando ela virá pro Rio no carnaval, enquanto eu vou ter que ficar um tempão juntando dinheiro pro poder visitá-la, porque vou continuar ganhando míseros reais que nada valem no Velho Continente.

Tenho uma outra grande amiga, a única que conheço precisamente desde que nasci (ela nasceu dia 29 de abril e eu 29 de agosto, olha que simpático) que resolveu morar na Austrália, e já avisou que de lá ela não volta nunca mais. Lá vou eu juntar mais e mais ridículos reais para comprar essa passagem de avião mega cara que é a Rio - Sidney - Rio só para poder rever a minha amiga do coração.
Deve ser por isso que tenho problemas de abandono.

Eu e essas duas meninas costumávamos passar juntas todas as tardes depois do colégio. Fazíamos vários tipos de merdas, tipo roubar o carro do pai de uma delas pra ficar dando voltas pelo bairro, ter a cara de pau de pegar um filme de sacanagem pra ver como é que era e ficar com nojinho das cenas (porque o filme era feito de várias situações, mas todas terminavam com uma mulher sendo comida por cinco caras ao mesmo tempo), ou fumar os primeiros baseados de uma série, hábito que se estendeu por alguns anos.

Existe também a história clássica do arrombamento do armário. Uma das minhas amigas ficava o dia inteiro sozinha em casa, sem família e sem empregada, e por isso aquele lugar foi escolhido como a base do nosso pequeno clube. E a gente passava o dia inteiro comendo leite condensado com nescau e vendo televisão e ouvindo música, ou qualquer outro tipo de eventos não produtivos do dia-a-dia. Estudar, só se fosse na véspera da prova, ou nas provas finais. O que a gente queria era falar bastante besteira e andar de carro por aí.

Mas aí, a madrasta dessa amiga percebeu que os víveres do mês estavam acabando cada vez mais rápido. Mal sabia ela que alimentava duas bocas extras. E a madrasta passou a trancar o armário da despensa.
Nós três achamos um absurdo. Mas logo descobrimos um jeito de arrombar o armário sem que ninguém percebesse. E continuamos enchendo nossas barrigas de brigadeiros e biscoitos recheados de chocolate. Não sei como não ficamos obesas.

Anos depois, descobrimos que o pai da amiga de quem roubávamos o carro sempre soube do nosso truque. Perecebeu por causa da quilometragem. E a madrasta também sabia dos nossos assaltos à despensa. Provavelmente também sabiam dos baseados, mas isso a gente deixa quieto, né?
A gente se considerava tão malandra! Bons tempos esses de adolescentes de subúrbio. Pelo menos a pseudo-malandragem ficou pra trás...
E adolescência serve pra isso mesmo. Pra fazer coisas que ficariam ridículas se a gente fizesse quando adultos.

Monday, October 22, 2007

Grupos que vão crescendo

Um dia desses eu estava conversando com um parisiense e ele me revelou a mais estranha mania dos franceses: a de não fazer novos amigos. A declaração se deu em meio a uma conversa sobre como ele chegou ao Rio de Janeiro conhecendo apenas uma menina, e saiu de lá com uma lista de novas amizades. E toda essa conversa aconteceu no apartamento dele em Paris, quando um grupo de brasileiros comemorava o ano novo com uma moqueca de peixe mega improvisada (imagina tentar achar os ingredientes corretos pra fazer uma moqueca em plena Paris! Tem que rolar uma licença poética, né...)

Segundo nosso amigo, os franceses - principalmente os parisienses - conhecem na infância o grupo com quem irão se relacionar o resto da vida. Muito raramente um ou outro membro é adicionado ao grupo original. E os programas de sábado à noite são jantares e noitadinhas básicas, mas nada de grandes festas de aniversário com amigos dos amigos convidados. É uma galera bem restrita, essa de Paris.

A história de David (o parisiense em questão) no Brasil foi a seguinte: ele chegou para trabalhar no Rio de Janeiro com apenas um contato na mão. Esse contato arrumou uma casa pra ele morar em Santa Teresa, onde moravam mais duas pessoas. Os dois roommates deram festas no apartamento do trio e apresentaram David para outros amigos. David arrumou uma namorada brasileira e se apaixonou por mais uma dezena de cariocas - embora continuasse fiel à sua namorada. Meses depois, quando ele já estava de volta à França, foi surpreendido com o email de uma das novas amizades do Rio, avisando que passaria o reveillon em Paris, e que ficaria hospedada na casa dele. Pois é, a nova amizade, no melhor estilo brasileiro de ser, avisou que se hospedaria lá - não esperou por nenhum convite. E foi com mais duas amigas. E recebeu visitas de mais um casal de brasileiros que estava hospedado em um hotel ali perto. E na noite de 31 de setembro, David se viu cercado de uma mesa com pessoas que ele havia conhecido há menos de um ano.

E ele ficou maravilhado. Porque isso não existe lá.

Os meus amigos são exatamente o contrário dos amigos do David. O povo que eu conheço há uns 15 anos gosta de agregar cada vez mais gente - embora, de vez em quando, exista uma certa má vontade em relação a alguns namorados e namoradas dos membros do grupo. Mas acho que isso é normal, né? Em determinadas situações, a preguiça social com os acompanhantes dos amigos é altamente justificável. Mas, de uma maneira geral, o meu grupo não é assim. Aliás, ele cresceu tanto que acabou englobando outros grupos, e tudo virou uma gigantesca bolha da amizade, sabe como é?
Tipo a Bolha Assassina. Só que trabalhando para o bem.

Wednesday, October 17, 2007

Recebendo gente em casa

Uma das situações mais legais de ter uma casa só sua é que você pode encher o lugar de gente. No último feriado fui surpreendida com a presença de um paulista e um argentino, amigos de uma amiga, que chegaram no Rio para passar o fim de semana e encontraram todos os albergues da cidade lotados. Chamei as figuras pra ficarem lá em casa, mesmo não tendo a mínima idéia de quem se tratavam. Poderiam ser duas malas, mas eu dei sorte: os dois eram bem bacanas e me fizeram passar dias mega divertidos.

O lance de receber convidados é que o ritmo fica acelerado. Em se tratando de paulistas (ou sub-paulistas, como é o caso do argentino que mora em SP), a coisa fica mais complicada, porque de repente eu tive que levá-los pra um milhão de eventos que tinham a cara da cidade maravilhosa. Não conseguimos ir à praia, mas fizemos noitadas memoráveis. E o resultado disso tudo é que eu fiquei doente na segunda-feira.

Quando a poeira baixa, o corpo pede arrego.

Na sexta à noite fomos para a casa de um amigo em Ipanema, e depois paramos em uma boate recém reformada, que eu há muito já tinha riscado da minha lista de lugares visitáveis. No sábado, fomos tomar café da manhã no Leblon, almoço em Santa Teresa e caímos na gandaia em Botafogo. Domingo ainda deu tempo de um passeio rápido pela Urca, e depois uma merecida soneca à tarde, antes que meus novos amigos encarassem a estrada. Depois que eles acordaram e foram embora, a casa ficou tão vazia e silenciosa que me deixou um pouquinho deprimida.

Mas não tem nada não. Dá próxima vez que eu for a Sampa, já tenho muitos lugares pra ficar. E, melhor do que isso, tenho novos amigos que já moram no meu coração. E que eles me esperem no próximo mês! To chegando de mala e cuia.

Monday, October 15, 2007

Muretinhas

Alguém pode explicar qual é a atração irresistível que os cariocas sentem por uma muretinha? Basta que exista um muro baixo, daqueles que ficam no nível certo pra gente sentar, que logo surge um grupo de amigos, uma cerveja de garrafa e uns copinhos de vidro estilo botequim. E o papo começa ali mesmo, e vai se estendendo noite adentro, e se você não tomar cuidado pode ver seu sábado à noite ir por água abaixo porque você passou o dia bebendo na mureta. É um problema sem solução. Uma vez que se chega à muretinha, ninguém mais sai.

A maldição da muretinha me pegou na quinta passada. Como era véspera de feriado, já tinha traçado uma programação incrível que incluía lançamentos de livros, festas com gente interessante, noite com destilados e pouca ressaca no dia seguinte. Só que, chegando do trabalho, me deparei com um amigo que bebia cerveja na mureta da praça da minha rua. Resultado: parei por ali, com bolsa mega cheia de material de produção a tiracolo, e me deliciei com um copinho do que os paulistas chamam de breja.

E o copinho chamou mais um, que chamou outro, que chamou uma nova garrafa. Eu esperava uma amiga chegar de São Paulo, e ficava me repetindo que, quando ela chegasse, eu ia pra casa tomar um banho, jantar, fazer uma maquiagem legal - todas essas coisas que as pessoas normais fazem antes de cair na noite.

Mas a minha amiga chegou e eu continuei lá. E daí que a gente foi parar em Santa Teresa, e depois em um bar de Laranjeiras, e eu dei adeus ao meu programa de destilados e festas de lançamento de obras literárias.

A minha mureta preferida é a que fica em frente ao Bar Urca. Esse ano descobri que existe um verdadeiro séquito do muro da Urca, gente que passa o fim de semana inteiro comendo pastel e curtindo uma das vistas mais bonitas do Rio de Janeiro. Tem gente que leva cadeira de praia e fica ali na calçada, mas eu, tradicionalíssima, prefiro descansar o bumbum na base de pedra. Não é muito confortável, mas é mega carioca.

Nesse feriado, recebi em casa dois paulistas e um argentino. Passei três dias tentando levá-los na muretinha da Urca, mas ninguém me deu ouvidos. No último dia, tentamos almoçar no Bar Urca que, obviamente, estava lotado. Fomos embora sem aproveitar a tarde totalmente decepcionados. Mas os paulistas já avisaram: na próxima viagem ao Rio, aquele murinho será prioridade.

A mureta do Bar Urca também já foi responsável pelo fim de um sábado à noite - mas dessa vez eu nem reclamo, porque foi realmente uma tarde bem legal. Quer dizer, eu reclamei um pouquinho na hora, mas agora já nem me lamento tanto. Às vezes é uma opção sábia trocar a luz do estrobo pela luz do sol.

Saturday, September 29, 2007

Frenética

Não parei de fumar. Mas tenho uma explicação perfeitamente lógica pra isso, que vou dar uma outra hora. A vida tem estado frenética, corrida, e eu preciso confessar que adoro isso. Todas essas coisas acontecendo e eu com a sensação muito nítida de que tudo tá indo bem.

Outro dia ganhei um convite pra assistir Madeleine Peyroux no Teatro Municipal. Tive dois aniversários na semana, recebi um convite inusitado de trabalho, disse adeus a um menino bonitinho mas ordinário, ganhei uma audiência contra uma operadora de telefonia celular, penso no meu reveillon no Machu Pichu. Não sei como vai ser o ano que vem, mas também não quero concluir nada agora. 2007, com todos os seus altos e baixos, tem sido um ano que vai ficar pra história.

Às vezes paro para contar os meses desde que terminei um namoro que acreditava ser eterno, mudei pro apartamento novo e fiz uma dezena de novos amigos. Fico surpresa em descobrir que não faz tanto tempo assim. Tenho a impressão de que já se passaram anos, décadas, porque claramente não sou a mesma pessoa do começo do ano.

A Baxt estava falando de epifania outro dia. E só agora eu saquei o que é. Entendi (quase) tudo.

Wednesday, September 19, 2007

Ex-fumante com data marcada

Paro de fumar no dia 23 de setembro. Toda vez que falo isso, meus amigos me olham de lado e soltam aquele risinho zombateiro, de descrença, sabe como é? Nós, os fumantes que planejam parar de fumar, somos alvos de todo tipo de dúvida da sociedade. Somos uma categoria que sofre com o preconceito geral: o dos fumantes que não pensam em largar seu vício, o dos fumantes que tentaram inúmeras vezes ficar longe da nicotina e desistiram da empreitada (por hora) e o dos antitabagistas convictos. Ou seja: todos estão contra nós, e nós estamos contra nós. Porque dentro do nosso grupo, ninguém leva fé nos outros. Uma eterna guerra, contra tudo e contra todos.

Mas eu já estou convencida de que tenho que parar de fumar. Há muitos e muitos anos, quando eu comecei com o cigarrinho malvado na minha vida, dizia a todos que aos 30 seria dado o adeus a este delicioso e fedorento troço. Só que, naquela época, os 30 anos eram uma época distante, mítica, em que eu supostamente já estaria casada, grávida do primeiro filho e ganhando o triplo do que ganho atualmente.
Ah, que delícia é ser adolescente e imaginar a vida aos 30...

Nada do que se supunha foi configurado. No entanto, mantenho a minha promessa, a única que depende única e exclusivamente da minha força de vontade direta. É só eu querer que pronto, parei. Como em um passe de mágica. Então, vambora, né. Chega de empurrar com a barriga.

Enquanto isso, fico me deliciando com as últimas doses do bastãozinho do prazer (soou erótico, ou foi impressão minha?). Fumo cigarros dirigindo, com a janela aberta, curtindo o ventinho. Fumo em frente ao computador, enquanto converso na internet. Fumo na hora de esticar as pernas para o cafezinho de 9h às 18h. Fumo quando assisto Seinfeld. E, claro, fumo quando encontro os amigos pra um chopinho.
Ai, como é bom fumar.

Mas pra mim, já deu. Por isso eu digo tchau. Se ninguém acredita, só lamento.
E acendo mais um cigarro brindando a isso.

Tuesday, September 18, 2007

I go out on Sunday night and I come home on Monday morning

Existe um determinado momento da noite que a gente sabe que não deve ir além. Um instante em que a nossa consciência avisa: mais um drink vai ser exagero, amanhã é dia de trabalho, não converse com malas em potencial, etc etc. Essa parte da decisão noturna eu já entendi. O que eu ainda não sei como acontece é exatemente quando e por que a gente opta pelo errado. Qual é a hora da definição do fracasso do dia seguinte? Não dá pra saber...

Outro dia fui encontrar amigas para um singelo drink e um inocente bate-papo. Pelas minhas contas, à meia-noite eu estaria em casa, com a alma intacta e o dia de trabalho de segunda-feira cheio de produtividade. Mas o que parecia ser uma noite calma se transformou em uma festa longa... e que acabou tarde.

No dia seguinte, eu catava os milhos em cima do meu teclado. A cabeça pesava e cada cigarro parecia a morte. Eu só queria, desesperadamente, dormir. Mas como a gente paga pelas escolhas que faz - mesmo que elas tenham sido feitas na base do mojito - meu dia só acabou 10h30 da noite, com direito a geladeira sem comida e quarto completamente desarrumado.

E tem mais: demorei a dormir. Inacreditável.

O problema é que se alguém me perguntar se rolou um arrependimento, eu vou confessar que... não. Nenhum. Nem dos telefonemas insanos de madrugada, direcionados a pessoas improváveis (quando a gente acha que ninguém vai atender, aí mesmo que nego atende, né? Esse mundo tá todo do avesso).

Vai ver a minha consciência, de tanto ser ignorada tarde da noite, optou por se calar de vez.
É o preço que se paga.

Friday, September 14, 2007

I go out on Friday night and I come home on Saturday Morning

Quem foi que disse mesmo que com 30 anos acabou o tempo de fazer loucurinhas? Comigo não rolou isso não. Na verdade, tenho 30 anos e 15 dias, e por isso não me libertei ainda do ranço dos twenty-something. Mas a impressão que eu tenho é de que justamente agora é que tá ficando bom! E só lamento o tempo inacreditávelmente enorme que eu perdi com cabelos esquisitos e reclamações pseudo-existencialistas.

Outro dia um amigo me escreveu perguntando como é que eu estava me sentindo agora que tinha chegado aos 30. Respondi que estava ótima, que me achava muito mais bonita agora do que aos 25, e que a independência financeira era um presente dos deuses. No email de resposta, ele escreveu: "Caramba, você está soando como uma autêntica balzaquiana".
Vale ressaltar que esse meu amigo é mais velho, tem dois filhos, etc, e me conheceu com vinte e poucos, no auge dos meus questionamentos pós-adolescentes, que ele provavelmente encarava entre o tédio e a diversão de homem mais velho. Talvez a constatação do meu amigo de que agora eu tenho 30 tenha feito com com que ele se sinta meio coroa. Afinal de contas, eu era o seu contato com o mundo "jovem", solteiro e sem amarras sociais.

Apesar da minha rotina continuar basicamente a mesma, há alguns aspectos que eu não posso negar que mudaram sensivelmente. Na maioria das vezes eu sei exatamente o que falar e quando falar, e são cada vez mais raras as pessoas que conseguem me impressionar de alguma maneira. Sei que é um papo blasé e meio pentelho, mas alguma coisa tem que mudar na gente depois de certa experiência de vida, né? E, pra falar a verdade, nem sei se é tão bom assim não ser surpreendida pela humanidade.

Eu sinto um pouquinho de falta de ficar desconcertada diante de uma situação e de sentir frio na barriga. Mas é só um pouquinho mesmo. De resto, to bem melhor agora.
Quem viver até os 30, verá.

Wednesday, September 12, 2007

Coisas legais que fiz nos últimos dias

- Pedi uma pessoa em casamento e ouvi um sim (provavelmente ele nem se lembra, mas isso não vem ao caso agora).
- Vi o sol nascer na Praia de Botafogo e tirei milhões de fotos com o celular.
- Dei uma estrela no canteiro central do Aterro do Flamengo, no exato momento que um ônibus passava.
- Apresentei dois amigos que se tornaram grandes companheiros naquela noita.
- Coloquei meus amigos de graça pra dentro de uma festa.
- Fiz uma macarronada pra duas amigas.
- Encontrei ao vivo um amigo virtual.
- Dei de presente pra uma amiga que tinha arrancado os cisos um pote (pequeno) de Haagen-Dasz.

Monday, September 10, 2007

O filme do momento

Outro dia fui fazer compras e ouvi um empacotador comentando com outro: "...agora vai sair a segunda versão pirata, dizem que é diferente da primeira, e que tem a versão proibida também. Lá no Centro eu comprei um DVD e já emprestei pra um camarada..."

Mesmo sem ouvir o nome do filme, eu sabia que eles estavam falando de Tropa de Elite.

Essa foi a terceira ou quarta vez na semana que ouvi alguém comentar sobre a obra não lançada de José Padilha. Até a minha manicure assistiu ao filme, e o meu professor de direção cinematográfica mencionou na aula o caso de pirataria da obra. Esse é o assunto do momento, e vai das classes A a D: do governador do Rio aos empacotadores do Zona Sul.

Depois de prestar atenção na conversa dos meninos do mercado, resolvi que era hora de saber que negócio é esse que todo mundo está falando. Procurei no Youtube um trecho do filme e, pra minha surpresa, encontrei a tal cena de invasão do morro, em que o policial pega um estudante pra cristo e põe a culpa da situação em que vivemos em "maconheiros como ele".

Eu fiquei impressionada, achei a seqüência bem feitinha e tal. Mas uma amiga me disse que viu o filme e achou tudo muito lugar comum: as cenas de violência, a truculência dos policiais, o ambiente das bocas de fumo. Só que eu não sei se é tão lugar comum assim, porque eu imagino que invasão de morro seja exatamente daquela maneira. Quer dizer, eu, enquanto classe média alta do asfalto, não faço a mínima idéia do que acontece nas favelas com boca de fumo. Não subo morro pra comprar nada, então todas as vezes em que estive em uma favela eu passei bem longe dos cara. Nunca levei uma dura, nunca fui presa, nunca fui a baile funk. Então, pra mim, tudo o que rola na seqüência do filme pode ser o mais puro retrato da realidade.

E isso tudo me deprime horrores. Tenho amigos que plantam maconha em casa porque gostam de fumar um baseado mas não concordam em comprar de traficantes. Além disso, dizem eles, a qualidade da cannabis caseira é muito melhor que a de atacado.
Admiro quem faz isso, mas a grande maioria compra no morro mesmo, ou então consegue com intermediários que são os buchas que vão lidar com os donos da boca. De qualquer forma, a menos que você passe a produzir seu próprio barato, você está diretamente ligado a toda essa merda. É simples e cruel.

Ao mesmo tempo que eu chego a essa conclusão, eu penso em Nova York. Todo mundo fuma maconha em NY. E usa cocaína. E, mesmo assim, não existe esse duplo controle de estado - o oficial e o oficioso. Então é muito fácil colocar toda a culpa no usuário, mas o buraco é muito mais embaixo.

Tropa de Elite vai estrear no Festival BR, que deve ser em outubro. Eu não vou assistir à cópia pirata, vou esperar pra ver no cinema, em tela grande e, de preferência, com ar condiocionado. Mas vou asssitir e comentar com quem puxar esse papo comigo. Acho que esses temas têm mais é que ser debatidos à exaustão mesmo.

Update (copiando Baxt): Depois de escrever o texto, cheguei na casa do meu pai e enocntrei uma cópia pirata do filme. Aí me sentir na obrigação de assistir, né? Já que eu tava ali... Resumindo, o filme é bom mesmo. E eu vou ver no cinema também. Provavelmente não na primeira semana, mas vou ver.
É isso.

Thursday, September 06, 2007

Nova Mania

Meu mais novo hobby é filmar os amigos quando eles estão no auge da bebedeira. Funciona assim: em certo momento da festa, quando todas as conversas não fazem mais o mínimo sentido, eu ligo a câmera a começo a captar a conversa. Nesse momento, ninguém mais se importa se eu estou filmando ou não. Na verdae, quando se encontram em estado avançado de álcool, todos são grandes atores e pensadores.

Minha primeira experiência foi na viagem pra Teresópolis. O grupo estava sentado na mesa da cozinha - onde, invariavelmente, as festas acabam - quando saquei a minha Sony Cybershot e iniciei a filmagem. Capitei uma amiga imitando o som do ronco dela quando ela bebia, e um dos meninos, que é estudante de cinema, explicando que quando terminar a faculdade vai fazer filmes pornôs e ganhar muito dinheiro. Diz ele que é melhor que fazer filme publicitário.

A segunda experiência foi no dia do meu aniversario, quando eu e dois amigos decidimos terminar a noite no Diagonal, o bar mais deprimente do Rio de Janeiro. Bebemos apenas um chope e o garçom anunciou que o bar estava fechando. Pedimos a saideira e fomos negados! O meu filme consiste no discurso que uma amiga fez sobre o direito de obter o último do chope da noite quando se chega aos trinta anos.

No fim de semana passado ffilmei a minha última obra incrível. Um amigo que já havia consumido váááárias doses de vodca com qualquer coisa sem álcool começou uma manifestação sobre as pessoas que estavam na festa. Corri para a sala, peguei a minha câmera e gravei toda a lógica sem sentido dele. No dia seguinte assistimos ao vídeo e demos boas gargalhadas.

É ótimo eternizar estes momento que não deveriam ser eternizados.

Tuesday, September 04, 2007

Revelações automobilísticas

É dirigindo que tenho as maiores revelações existencialistas. E também idéias para textos. Não sei se isso acontece porque estou relaxada, ouvindo música, fumando um cigarro, ou se é porque este é o momento que me reservo para pensar na vida. O fato é que outro dia tive uma revelação que mudou a minha existência imediata (no sentido de ser existência que está acontecendo no momento, sabe): descobri que se mudo de A pra B e de B pra A o tempo todo, é porque não quero nem uma coisa nem outra.


Foi como tirar um piano das costas. Foi realmente incrível. De repente eu estava admirando o brilho do sol nos carros, cantando Beatles no máximo da minha curta afinação e dirigindo um pouquinho mais devagar que o habitual.

Dirigir é a maior diversão. Às vezes invento de viajar só pra poder ficar trancada no meu Palio 2002 com o som nas alturas e as janelas fechadas. Lembro de uma vez que peguei a serra de Teresópolis depois de ter brigado com um namoradinho tra-lá-lá. Coloquei aquele disco vocal da Björk e fui admirando toda a mata Atlântica intocada da região. O celular estava fora de área, o meu tanque estava cheio e o meu cartão de crédito andava a pleno vapor. O que mais eu posso pedir da vida, meu deus?

Uma pena a gasolina ser tão cara.

Thursday, August 30, 2007

E agora?

No fim de semana passado, terminei o livro "Extremamente..." Na verdade, não sosseguei enquanto não finalizei a história, e fiquei até altas horas da sexta à noite me deliciando com a prosa daquele cara que tem a minha idade e já escreveu dois livros geniais. Desisti de sair e encontrar amigos pra ficar cara a cara com Oskar e todos aqueles pensamentos absurdamente sensíveis e tristes. Obviamente, também fiquei sensível e triste enquanto acompanhava a vidinha do moleque novaiorquino - basta reler os últimos textos desse blog pra concluir que alguma coisa o livro conseguiu mexer aqui dentro.

Depois de ler a última frase e de acompanhar as últimas fotos, fiquei tomada daquela sensação de dever cumprido. Sabe como é, quando você conclui uma atividade a que se propôs, e fica sentindo aquele gostinho de satisfação. Mas essa sensação durou cerca de cinco minutos, e logo depois se transformou em um grande vazio. Afinal, agora eu não tinha mais com o que beijar a minha alma diariamente.

Costumo dizer para as pessoas que elogiam alguns textos desse blog que eu sou uma fraude. Porque os melhores contos e crônicas e etc saem justamente quando eu estou lendo algo muito bom. É como se a chama-piloto de repente passasse pra carga máxima, e então eu tivesse que colocar pra fora todas as coisas que costumo pensar enquanto leio um livro ou vejo um filme. Mas, uma vez terminada a leitura ou o cinema, volto ao estado inicial de chama-piloto, volto aos relatos fáceis e engraçados e curiosos do cotidiano, que eu escrevo com o pé nas costas, ouvindo música e conversando com outras pessoas. Falar sobre o cotidiano não é nem um pouco complicado pra mim; falar de sentimentos pega mais fundo, sai mais difícil e quase nunca eu gosto de resultado final. Mas também, quando gosto, leio e releio do texto me deliciando com a qualidade. Fico orgulhosa. Não é todo dia que a gente realmente gosta do que produz.

Agora me dedico ao livro do século XIX, um calhamaço de quase 700 páginas que eu estou há meses saboreando. Mas não é alguma coisa. Estou morrendo de saudades do Oskar. E também não é todo dia que sinto falta de alguém que nem existiu de verdade.

Tuesday, August 28, 2007

O milagre da multiplicação das cangas

Outro dia eu estava na praia com Gilles e outros amigos. Gilles vem a ser um francês maquiador da Chanel de Paris que calhou de aparecer na minha casa em um sábado à noite. Resultado: passou o sábado maquiando a mulherada, que ficou enlouquecida com a técnica sfumatto do rapaz. A partir desse dia, eu fiquei absolutamente fã de Gilles, de modo que nós marcamos uma praia antes que ele voltasse para sua terra.

No começo, era só eu, o francês, a Mari e uma amiga dela. Dali a pouco, apareceu o Kito com duas amigas, que estenderam a canga junto às nossas. E, um pouquinho depois, amigos das amigas do Kito também deitaram-se do nosso lado.

Gilles ficou admiradíssimo. Perguntou pra Mari, dias mais tarde, se a prática da união de cangas era muito comum nas praias cariocas. Quando soube da pergunta do francês, foi a minha vez de ficar surpresa. Afinal, não é assim no mundo inteiro? Não é por isso, inclusive, que é uma delícia ir à praia?

Houve um dia em que as cangas se multiplicaram com intensidade sem igual. Fui encontrar com a Lui e o Pepeu em frente à barraca Sandália da Humildade (escolhi ali porque simplesmente adoro esse nome) e logo apareceu um amigo do Pepeu que trouxe outro amigo, que trouxe uma canga gigante (talvez a maior que eu já vi na vida), que trouxe um monte de meninos que faziam malabares e acrobacias. Confesso que dessa vez fiquei meio incomodada, porque em poucos minutos eu não conhecia mais ninguém que estava ao meu redor, e me irrita em certo nível todas essas atividades circenses.

Mas aí, como Deus é brasileiro e, ainda por cima, carioca, logo se formou um subgrupo dentro do grupo do cangão, e todos foram felizes para sempre. E essas amizades de dias ensolarados vão se encontrar novamente no próximo fim de semana, em frente à Sandália da Humildade, ali pelo coqueirão.
Me encontra lá. E leva a sua canga.

Monday, August 27, 2007

Conexão 24h

A minha rotina tem sido mais ou menos assim: chego em casa do trabalho, ligo o computador, conecto na internet (com MSN, Skype e GTalk funcionando), preparo o meu sanduíche fromage au grill e meu copo de sucos variados e me sento em frente à tela. E ali fico por pelo menos uma hora, conversando com amigos que estão a um quarteirão da minha casa ou em outro país, assistindo a vídeos no Youtube, checando recados no Orkut, passando links e fotos para o mundo.

Até esse fim de semana, achei que só eu e alguns poucos estavam engajados em tamanha nerdice. Mas um papo na praia me mostrou que esse é um vício geral. A conversa surgiu depois que um dos amigos comentou que agora que tinha consertado a internet da sua casa, se sentia de volta à realidade. E confessou que a primeira coisa que faz quando chega em casa é ligar o computador, colocar um MP3 pra tocar e entrar na internet.

Nesse mesmo dia, encontrei com outro grupo de amigos e comentei sobre o papo da praia. Os meus amigos da noite disseram que eles também levavam a vida on line, e uma das meninas falou que o computador dela está 24h ligado, porque ela estava sempre baixando músicas no SoulSeek.

O curioso é que toda essa galera está, como eu, na faixa dos 30. Eu já sabia que os adolescentes gostavam de um bate-papo on line, mas não imaginava que os balzaquianos também levavam essa vida. Adolescentes já nasceram com a internet bombando, conexão banda larga e vários programas para baixar músicas e filmes. Os balzaquianos, ao contrário, viram essa história toda nascer e crescer - e, mesmo assim, se renderam às facilidades da vidinha do computador.

Eu acho tudo ótimo. Não vejo problema nenhum em não encontrar com os amigos ao vivo para ficar conversando via internet. Se não rolasse essa conexão, provavelmente eu ficaria isolada em casa, vendo TV. Mas, por outro lado, ando lendo muito menos do que gostaria, e isso tem muito a ver com o tempo que gasto em frente à telinha do meu querido laptop. Mas aí em nem coloco a culpa na internet.... A culpa é minha mesmo, compulsiva que sou em novidades comportamentais.

Friday, August 24, 2007

Se joga II

Não é possível proteger-se da tristeza sem antes proteger-se da felicidade.

Do livro Extremamente Alto, Incrivelmente Perto


Abro o livro do século XXI e, em meio a um texto sobre amor e abandono, encontro essa frase. Quando leio uma passagem que me chama a atenção, tenho essa necessidade urgente de anotar pra nunca mais esquecer. Meu primeiro impulso ao bater os olhos naquelas linhas foi copiar a frase e mandar uma mensagem para alguém que iria entender. Depois pensei que não adiantaria nada, porque só entende aquele que quer entender, e ao invés de anotar os dizeres para terceiros, anotei pra mim mesma, no caderninho que mora na minha bolsa. Para que eu pudesse usar a frase mais tarde. Ou para não enterrá-la em meio a outras frases muito menos importantes e eficientes.

Não é possível proteger-se da tristeza...

Foi meio que um soco no estômago. Estava me sentindo tão sabida, tão madura, totalmente segura dos meus sentimentos, tateando o chão antes de dar o próximo passo. E aí, não saía do lugar, ficava parada sentindo com as pontas dos dedos do pé a terra ao meu redor. Uma ilha de segurança que criei.

... sem antes proteger-se da felicidade.

E agora eu descobri que não é nada disso, e o que todas as minhas amigas falam sobre futuros e passados amantes é muito triste, porque a cada passo, a cada minuto, nos tornamos um pouquinho menos o que somos de verdade, porque escolhemos fazer o papel mais seguro, o que supostamente não nos magoa, porque acreditamos que estamos todos preparados para a vida e nada pode nos derrubar facilmente. E depois que eu descobri isso, eu fiquei com muita vergonha de toda a minha segurança, e gritei internamente: que se dane o que é certo, e passei a torcer por paixões impossíveis e avassaladoras, e passei a procurar pessoas que tivessem o mesmo sentimento que eu. Só não encontrei ninguém ainda que pense e que sinta como eu penso e sinto agora.

Mas não tem nada não. Tenho todo tempo do mundo.

Thursday, August 23, 2007

Comentário do Nic sobre "Que que eu quero mesmo?"

Ele me mandou por email, mas é tão bom que precisa ser publicado.
Eu faria tudo pra sonhar com Krishna me servindo em um restaurante.
O Nicholas é foda.

"um pouco antes de viajar pra NY, eu tive um desses sonhos-revelacao em que conversava com krishna (que atendia tables de varios customers, us, e tava pretty busy).

ele falou que sim, a realidade eh feita de nossos desejos. e temos problemas pq nossos desejos batem de frente um com outro, e fica dificil descrever o prato pro cozinheiro.

falou tb que a diferenca entre criancas e adultos, eh que pra criancas, os overlapping desires sao esquecidos, pra adultos nao. tipo, cafe-com-leite, coitados.

BTW, i wanna be invisible an do outrageous things. i wanna be an international freedom fighter.(so far)"

Se joga

Faz o seguinte: finge que você não viveu aquilo tudo e se joga. Fecha os olhos e se aproxima do parapeito, depois dá o passo em direção ao infinito e pronto, sente o vento empurrando as bochechas pra trás, sente o ar faltando aos pulmões. Alguém me contou uma vez que aqueles que se jogaram do topo do World Trade Center morreram antes de atingir o chão. Tinha alguma coisa a ver com isso, com ar e pulmões, mas eu não lembro bem o que era. O lance é que aquelas pessoas olhavam pra trás e viam fumaça e fogo, olhavam pra frente e viam o skyline de Nova York. Se eu estivesse lá, também me jogaria. Mas que coisa ruim de pensar, bem hoje que estou me referindo a outro tipo de salto. Me refiro ao salto que livra daquele medo que não serve pra nada a não ser estagnar a nossa vida. Aquele medo que nos faz pensar assim: "Isso aqui eu conheço, porque vou me meter onde nunca me meti antes?"

Houve uma época em que eu fazia tudo na base do instinto. Tava bom, eu ficava; não tava, pegava as coisas e ia embora. Geralmente, sem dar tchau. Comia quando tinha fome, dormia quando tinha sono. Essa fase durou umas duas semanas, mas depois tive que voltar ao normal porque a vida não segue assim, não é? E eu inventei de viver desse jeito porque tive um professor de Antropologia que não usava relógio. Eu achei isso o máximo. Eu sou uma escrava do relógio, do celular, do email, do msn, do carro, dos livros, dos amigos, dos bares de quinta, dos bares de primeira, de boa comida boa música bons lugares. Eu sou tiranizada pelas coisas boas da vida, dá pra imaginar? E eu não consigo me livrar das coisas boas, e me programo em função delas. E, por isso, não posso viver como um animal.

Mas agora que voltei ao modo ser humano racional, eu tenho saudades do tempo em que chutava o balde dos bons costumes. Não lembro se eu era mais feliz nessa época, mas é simplesmente insuportável pra mim ficar regulando intensidade. Acho que quanto mais velho a gente fica, mais medo a gente tem. Faz sentido, não faz? E é meio triste... E eu não quero isso pra mim. De repente é melhor se jogar e morrer intoxicada de ar do que ficar e morrer intoxicada com fumaça.
Olha eu falando de morte de novo. Fuck.

Wednesday, August 22, 2007

O vinho nosso de cada dia

Quando eu era pequena, lembro do meu pai chegando do trabalho e se servindo de uma dose de whisky. Ele se sentava no sofá da sala e ficava rodando as pedras de gelo. Eu achava aquilo o máximo, pedia pra rodar as pedras de gelo também, e depois chupava o dedo sujo de bebida. Vai ver vem daí o meu gosto por destilados.

Anos depois, ouvia dos meus amigos maconheiros a grande justificativa do beck diário: "não tem gente que gosta de tomar um whiskynho em casa pra desestressar? Pois então, eu gosto de fumar um". Eu achava que aquilo fazia todo sentido do mundo, apesar do meu gosto estar muito distante do baseado pós-escola/trabalho.

Na verdade, quando eu quero desestressar, ligo pra cerca de 30 amigos e marco um chope no bar mais próximo (no qual uns dois comparecem). Mas ontem eu estava com uma garrafa de vinho aberta na geladeira, e pensei: "se eu não beber esse vinho logo, ele vai estragar". Saquei a taça do armário e me servi do primeiro copo.

O primeiro copo é ótimo. Realmente caiu bem junto com o meu jantar, um sanduíche feito no gril com queijo minas curado. Sentei no computador e fiquei papeando no MSN, falando abobrinhas pra passar a vida, a tempo de me servir do segundo copo.

Daí comecei a ficar de pilequinho. Bem de leve. Falando um monte de besteiras no messenger, fumando cigarros e cigarros e me achando muito, mas muito adulta. Tem coisa mais madura que beber um vinhozinho de noite, depois do trabalho? Aliás, tem coisa mais balzaquiana?

Quando deitei, dormi como um bebê. E hoje, penso no resto de vinho que ficou na geladeira. Provavelmente, duas taças vão me fazer a alegria novamente.
Cuidado se você me conhece e eu estiver no msn. Posso falar muita besteira com apenas duas taças de vinho tinto seco.

Tuesday, August 21, 2007

Que que eu quero mesmo?

Desde que aprendi sobre as Leis de Atração, muito antes de O Segredo se tornar filmografia básica para os que buscam o aperfeiçoamento através da auto-ajuda, venho tentando fazer com que o universo me dê de presente o que eu quero. E quanto mais eu leio sobre o assunto, mais eu tenho certeza absoluta de que vou alcançar os meu objetivos.

Só tem um probleminha: meus desejos mudam de cinco em cinco minutos.

Me dei conta disso outro dia, quando conversava com um amigo sobre possíveis caminhos que a minha vida seguiria no segundo semestre do ano. Ele disse: "Peraí, você já falou de tanta coisa que pode rolar, mas o que exatamente você quer?" Ah, pois é. O que eu quero. Sabe que eu não tinha parado pra pensar nisso até agora?

Daí lembrei de uma passagem de O Estrangeiro, quando o protagonista está no corredor da morte e o padre pergunta pra ele do que ele gosta. E ele responde: "Não sei do que gosto, mas tenho certeza do que não gosto". Comigo é mais ou menos assim também: tenho total segurança do que não quero pra mim. Eu acho.

Com tantas mudanças de planos em um tempo tão curto, fica difícil exigir do universo alguma coisa. Me dá até uma certa vergonha apontar a proa do barco pra outra direção pela enésima vez. Morro de inveja daquelas pessoas que têm seu objetivo traçado desde muito cedo porque, teoricamente, essas pessoas vão atingir algum objetivo muito mais rápido do que eu.

Como a cada microacontecimento do cotidiano eu cancelo a ordem anterior, acho que o universo já deve estar meio de saco cheio de mim. Talvez eu deva ordenar que quero saber exatamente o que quero. Mas será que eu quero isso?

Monday, August 20, 2007

Terê

No sábado eu tinha uma festa pra ir. Uma festa de aniversário, o que eu considero um evento sagrado, que deve ser cumprido. Mas ao invés de ir na festa que ficava a apenas alguns quilômetros da minha casa, resolvi dar uma passadinha em Teresópolis, onde uns amigos faziam (mais) festinhas e bebedeiras e tudo o que se pode fazer em uma casa na montanha. Então, às 5h da tarde, completei o tanque e caí na estrada, mesmo sem ter a mínima noção de qual era o endereço do meu destino.

Quando consegui chegar, já era noite. O grupo era dividido em duas partes: as pessoas que eu não conhecia e as que eu conhecia. E eu realmente adoro viajar pra um lugar onde não conheço todo mundo, porque, dessa forma, novas amizades são criadas no espaço de 48 horas.

Os que me conheciam me mimaram com um drink na hora da minha chegada. Fui recebida com vodca e coca-cola, iPods bombando e peixinho saindo da brasa. "Não podia ter feito uma escolha mais feliz", foi o que pensei naquele momento. E me preparei pra o que seria uma noite divertida e nada relax.

Digo que não foi relax porque não deu tempo. Levei o livro do século XXI pra ler e nem toquei no coitado, atazanada que estava por conhecer todas as histórias de todas as pessoas que estavam ali. Havia estudantes de cinema, advogados, microempresários e nerds de todas as categorias. E eu queria saber como é que as pessoas tinham ido parar ali, pra onde iam depois da festa, aonde gostavam de sair, qual era a banda preferida, qual foi o show mais maravilhoso que já viram, etc etc etc. Eu queria histórias.
Se tem uma coisa que eu gosto é chutar o balde e cair na estrada. Sem justificativa e sem amarras.

Friday, August 17, 2007

Coisas pra lembrar depois

1 - De vez em quando ser dois, mas nunca deixar de ser uma.
2 - Construir paciência pra poder usufruir da alheia.
3 - Deixar ir sabendo que vai voltar.
4 - Aprender que o egoísmo é o avesso do amor.

Histórias Incompletas

Um dia os dois se encontraram e ele ficou obcecado por aquela ruga no canto esquerdo da boca dela. Não existia a tal ruga na última vez que eles haviam se encontrado. Tudo bem que já fazia alguns anos, e ele mesmo havia desenvolvido involuntariamente uma barriguinha indesejável. Mesmo assim, a ruga no canto esquerdo da boca não encaixava com todas as imagens que ele guardava em algum canto escuro do cérebro. "Deve ser porque ela ri muito", concluiu. E se despediram sem marcar novos encontros.

Naquela mesma noite, ele sonhou com ela. Os dois se encontravam e se beijavam como se aquela fosse a situação mais natural do mundo. Ou melhor: como se aquilo nunca houvesse deixado de acontecer. Quando acordou, ele sentiu a frustração de deixar pra trás um sonho bom, do tipo que gostaria que fosse realidade. Foi assim que percebeu que ainda a amava.

Se o mundo fosse um episódio de enlatado americano, ele teria ligado pra ela e os dois teriam se encontrado e todos seriam felizes para sempre. Mas como o mundo é muito mais caótico e incompleto e irônico que a vida de fácil resolução dos seriados de TV, ele não a procurou, não buscou seu endereço ou seu telefone, não fez serenata em frente à sua janela, não jogou pedrinhas na sua varanda, não impediu o padre na hora que ela disse sim pra outro, não se jogou da ponte quando ela ficou grávida, não jurou amor eterno mesmo que ela estivesse nos braços de outro, não rolou na rua brigando com seu rival. Ao invés disso, seguiu a vida e também conheceu alguém pra casar e ter filhos e fazer todas aquelas atividades de fim de semana com a família.

Só que ele guarda um segredo - e, na verdade, ela também. É que debaixo de camadas e camadas de cotidiano, ela ainda existe dentro dele: um pedaço minúsculo do passado que insiste em se fazer ouvir de vez em quando.

Tuesday, August 14, 2007

Fotografias

Ando com a mania de fotografar o céu. Aponto a câmera pra cima de qualquer maneira e bato a foto, pra depois tentar descobrir formatos nas nuvens das minhas fotografias. Hoje mesmo bati mais uma, indo para o trabalho, naquele previsível engarrafamento a que já estou tão habituada. Quanto menos indefinidas estão as nuvens, mais eu gosto do resultado da fotografia. Acho que o que me atrai mesmo é a indefinição.

Essas imagens estão guardadas no meu celular. Nunca tive vontade de ter um celular com câmera e com vídeo, mas confesso que, agora que tenho um desses, tudo é motivo para gravar ou fotografar.

Percorro as imagens do meu celular e vejo o seguinte: duas fotos de céu azul com nuvens, o bar de uma gafieira, eu e duas amigas na mesma gafieira, a praia de Ipanema lotada, uma instalação de arte feita com fitas coloridas penduradas no teto e que iam até o chão (e que a gente podia andar por dentro), três fotos consecutivas da mesma pessoa (mas em lugares diferentes), um auto-retrato (logo eu, que sou tão avessa a auto-retratos...), um camelo babando em cima de uma câmera de TV, vasos de cerâmica de tamanhos variados, a minha boca (outro auto-retrato?) e muitas fotos de amigos.

Os vídeos: eu andando dentro da instalação de fitas, eu contando uma história e caindo na gargalhada (alguém gravou e eu só descobri agora, pra falar a verdade), pessoas no trabalho (sem a mínima vontade de trabalhar) cantando e conversando alto, eu fazendo a Marmota Dramática.

Alguém me explica o que tudo isso quer dizer. E por que, afinal, eu inventei essa história de fotografar o céu. Isso quer dizer alguma coisa?
A resposta é: eu sou uma pessoa que prefere nuvens indefinidas àquelas que formam animaizinhos imaginários. E só. Tá de bom tamanho já, né?

Monday, August 13, 2007

Assombração

Outro dia tive que ouvir a pergunta que não tem resposta: como é que se faz pra matar a saudade de uma pessoa que não existe mais? Eu olhei pra ela e fiquei calada, porque eu não sei matar saudades nem de quem está nesse mundo, quanto mais no outro. E lamentei pela minha amiga, a que tinha feito a pergunta sem resposta, enquanto ela vasculhava fotos antigas e chorava silenciosamente em frente ao computador.

Desde então a saudade tem pegado no meu pé, me perseguido sem trégua, traiçoeira. Quando o momento está divertido, ela aparece sorrateiramente, e me faz pensar em gente que não existe mais, nesse mundo ou no outro. E não importa aonde eu esteja, ou quem esteja ao meu lado, eu tenho vontade de ir embora e me trancar no quarto e abrir os meus meninos do século XIX e do século XXI nas páginas marcadas, pra ver se consigo me livrar dessa tormenta.

Mas só o que eu lembro são daqueles versos do Chico Buarque que, de tão verdadeiros, eu decorei:

A saudade é o pior tormento
É pior que o esquecimento
É pior que se entregar.
A saudade é o pior castigo
Eu é que não vou levar comigo
a mortalha do amor; adeus.

E os versos se sentam no meu ombro direito e ficam sussurando insistentemente no meu ouvido, enquanto eu rio e conto piadas e mostro pra todo mundo que eles não são tão fortes assim. Só eu sei que é uma luta constante, uma queda de braço interna, e que se eu der mole, eu perco. E tenho que pagar mais uma rodada de tequila pra todo o bar.

Como esses sentimentos são cíclicos, e como a vida realmente dá voltas, espero na santa paciência para que a saudade se canse de mim e vá embora. Que vá assombrar outra pessoa, alguém que goste de fantasmas.

Sunday, August 12, 2007

Necessariamente álcool

Existem duas ou três coisas que você precisa aprender sobre mim, e a primeira delas é: se eu pego o telefone, percorro a lista na agenda até chegar ao seu nome e então aperto o send e quando você atende, falo assim, bem devagar: "tá a fim de tomar um chope?" é porque eu já estou a muitos mil quilômetros de distância e to mesmo precisada de um rosto como o seu e de um papo como aqueles que já rolaram, e de histórias sobre gatos e lugares interessantes e baratos e ainda sobre pessoas que você conheceu e que são e não são legais. Se eu peguei o celular e liguei, acredite, o caso aqui está sério. E como a gente fez esse trato nunca falado claramente de que somos amigos, então eu acho que tenho todo o direito de, em casos extremos, exigir um pouco de atenção, você não acha? E não vale falar que eu exijo atenção demais, que eu sou mimada demais (você não faz idéia de como já ouvi isso!), não vale nada disso porque toda vez que você precisa de chopes milagrosos, eu to lá. A postos. Batendo continência. Mas isso nem é uma coisa que eu faço com dificuldade, porque na verdade adoro ouvir todas as suas histórias sobre todas as coisas que você gosta de contar e, aliás, descobri que gosto de ouvir as histórias da grande maioria das pessoas. Até aquelas que são meio malas eu gosto de ouvir também, e depois eu fico comparando com as minhas histórias e pensando: será que também pode acontecer comigo? No final, o que rola mesmo é que eu fico tentando aprender com o que aconteceu com os outros, mas isso é outra coisa, deixa pra outra vez.

É que tem vezes que eu fico assim meio em desespero, e o meu livro do século dezenove e o outro do século vinte e um já não conseguem mais resolver meus problemas, e aí eu procuro as pessoas. Só que bem na hora que eu procuro as pessoas, todas elas desaparecem e eu fico a ver navios, tendo que resolver tudo, eu comigo mesma, sem uma só história pra ouvir e tomar como aprendizado. Foi assim com você - não preciso nem dizer que você foi a minha primeira opção, porque você é uma das poucas pessoas bonitas que eu conheço que são ainda mais lindas por dentro, e eu acho a sua alma deslumbrante, e falo pra todo mundo isso. Sem citar nomes, é claro. Então no dia eu queria um chope exclusivo com você, porque eu andava no meio de um monte de idéias malucas e precisava clarear a minha cabeça. Mas aí... como todos os outros seres humanos, você não estava lá, não podia, não queria, pouco me importa, e eu tive que deitar no sofá e ligar a TV e ficar morrendo de tédio de todos os humorísticos enlatados que existem atualmente.

Enfim, eu precisava falar isso porque tem vezes que eu pareço uma coisa e na verdade sou outra, e o que eu queria mesmo era escrever uma carta pra te contar tudo isso, mas como sou covarde, a carta vai aqui mesmo. Você que nunca me lê. E, quando lê, pede pra mudar a construção das frases e trocar os adjetivos. E, já que você não vai ler mesmo, isso aqui virou um lugar seguro pra dizer todas essas coisas. E fique sabendo que todo mundo vai saber, menos você, o que é realmente lamentável da minha parte.

E tem outra coisa: depois me fala onde você comprou aquele poncho peruano que eu vi na sua casa. É que tem alguém que quis saber.

Enfim.

Thursday, August 09, 2007

Extremamente, incrivelmente

Sento à mesa da Argumento a apenas 21 dias do meu aniversário de 30 anos. Uma certa melancolia me acompanhou o dia inteiro - até quando eu comia, ou quando eu bebia café morno do escritório, ou quando eu fumava cigarros que não deveria estar fumando, porque tenho a garganta ruim e uma tosse seca constante. E, geralmente, quando certas melancolias me assolam sem razão, eu busco uma explicação. Deve haver uma explicação.

Descubro vários motivos, mas nenhum deles é o verdadeiro. Se eu acreditasse em infernos astrais, diria que esse pode ser um dos sintomas de hoje. Ou, olhando no calendário, poderia prever uma explosão de detestáveis hormônios femininos. Mas eu não acredito em nenhum tipo de inferno, muito menos os astrais, apesar de ler horóscopos no começo do mês e ficar levemente surpresa quando as previsões batem com alguns aspectos da minha vida. Se é pra acreditar, eu acredito na TPM, e acredito que ela não se manifesta apenas em determinado período do ciclo feminino, mas é mutável, de acordo com as circunstâncias e o grau de cansaço e de trabalho e de gente chata à minha volta.

Mas hoje, nenhuma dessas observações faz sentido.

E logo ontem eu comecei a ler Extremamente Alto, Incrivelmente Perto. Lia um pouquinho e parava para chorar um monte, soluçando que nem criança, gemendo um pouquinho alto demais para o meu gosto. Mais uma vez, fiquei me perguntando: por que esse choro? Dá pra explicar por quê?
Mas a razão não saiu. E hoje eu passei o dia inteiro pensando no livro.

Cheguei à conclusão de que eu gosto do personagem principal. Só pode ser isso. Oskar é um menino de uns dez que é sensível e inteligente e não passa um único segundo sem inventar algum objeto revolucionário e absolutamente sem utilidade. E não dá pra falar mais, porque esse é o tipo de livro que as pessoas devem comprar no escuro e se trancar no quarto para chorar e soluçar um pouquinho mais alto que os padrões aceitáveis. Dica de uma manteiga derretida.

Wednesday, August 08, 2007

Bares parasitas

É um fenômeno do Rio de Janeiro. Perto de onde há um bom bar, há um bar ruim que absorve o público de quem não sonseguiu sentar no bar bom. Dá pra entender? São aqueles lugares fadados à segunda opção, aqueles que estão sempre mega vazios enquanto que o vizinho está bombando.

Posso dar uma lista de bares que se relacionam dessa maneira: Plebeu e "aquele bar da frente", Pizzaria Guanabara e Diagonal, Braseiro e Hipódromo e, mais recentemente, Drinkeria Maldita e o boteco do outro lado da rua.

Tenho amigos que se recusam a sentar no bar da segunda opção. Consideram muito deprê passar pro lado vazio, com garçons com cara de sono e mesas insossas. Preferem incomparavelmente os atendentes atolados e às vezes rudes dos bares da moda, mesmo que o chope demore um pouquinho mais a chegar.
Aliás, nos bares da moda, o chope não demora nunca a chegar, pro incrível que pareça. Deve ser por isso que esses lugares estão sempre cheios.

Confesso que de tanto sair pra beber com gente que não se conforma com a segunda opção, acabei me tornando um deles. Fico terrivelmente decepcionada quando aterriso no Braseiro e dou de cara com as calçadas tomadas de mesas, sem cadeiras sobrando, sem espaço físico para mais uma galera. Fico me amaldiçoando internamente por não ter chegado mais cedo e, assim, garantido o meu lugar sentada. A noite, então, vira uma desgraça.

Nunca fui do tipo que conhece o garçon pelo nome. Deve ser porque no terceiro hope já etsou morrendo de sono e com vontade de ir pra casa, enquanto meus companheiros de mesa estão apenas começando. Na maioria das vezes é assim, pelo menos.
Mas, em alguns momentos, eu realmente gostaria de ser amiga do garçon. por exemplo, quando chego no Jobi. Esse é o bar que mais me deixa frustrada, e eu só conseguia um lugar ao sol quando namorava um habitué do local.

Acabou o namoro e, pro conseqüência, acabou o bar pra mim também.

Mas acho que ser dono de bares de segunda opção deve ser um bom negócio. Porque nenhum desses estabelecimentos fechou. Entra ano, sai ano, lá estão as mesas vagas, os garçons com cara de sono e o ambiente insosso.
No Rio de Janeiro, até bar de segunda categoria dá certo.

Tuesday, August 07, 2007

Passamos dos 10 mil acessos

Yupi.

To tão doente que não consigo nem celebrar muito.
Ok, nem tão doente assim. Mas o suficiente para me deixar de mau humor e torcer para que essa porcaria passe logo...
Eu sou do tipo que acredita que a dor vai embora sozinha. Que não toma remédio, que não sabe marca de nada, nem a diferença entre neosaldina e dipirona. Que nunca, mas nunca MESMO, fica doente.
Mas agora eu to doente. Fuck.
E comendo como uma louca. Porque meteram na minha cabeça que eu to doente porque eu não como.
Eu ando comendo como se isso fosse me deixar curada. Mas só tá me deixando gorda.

Ai, muito mau humor mesmo; sorry.

Friday, August 03, 2007

Penetra de Vernissage

Tenho um amigo que trabalha no MAM e volta e meia me convida para vernissages regadérrimas: comidinhas, bebidinhas e gente que teoricamente gosta de arte. Digo teoricamente porque, como eu, uma grande parcela do público que freqüenta aberturas de exposição está lá mais para os gelados do que para as obras. É freqüente me perguntarem de quem é a vernissage a que estou sendo convidada e eu não fazer a mínima idéia do que responder. Rola uma certa vergonha...

Ontem foi mais um dia de festinhas no MAM. Mas dessa vez eu tentei ver a exposição, uma instalação da Bia Lessa inspirada em "Grande Sertão: Veredas", que ficou quase um ano no Museu da Língua Portuguesa. Digo que tentei porque era muita gente pra pouco espaço, o que confirma a minha teoria de que abertura de exposição só serve mesmo pra beber umas e outras.

O problema dessas aberturas muito concorridas é que é difícil conseguir atenção dos garçons. Gente fina praticamente se estapeava por uma caipirinha, e muitas vezes o pobre do moço da bandeja não conseguia dar um passo sequer em seu caminho pelo salão. Por isso é sempre mais recomendado observar aquelas vernissages em que o cara nem é tão bãm bãm bãm, mas que tem um bom patrocinador. Me mostra uma festa bancada pela Petrobrás e eu te direi que já estou lá.

Meu amigo acabou se tornando um profissional na arte de convidar penetras para esses eventos artísticos. Tanto que ontem a grande maioria do público presente era composta por nossos amigos nada entendedores do assunto em questão. Pelo menos uma vez por mês saímos direto do trabalho em direção ao MAM, e repetimos a senha secreta na portaria. Uma senha que abre as portas de festas memoráveis e obras nem tão incríveis. Mas sempre, com certeza, diversão garantida.

Wednesday, August 01, 2007

Friozinho em Búzios

Se você é uma pessoa normal, você não leva em consideração um convite para um balneário em plena frente fria. Principalmente se esse convite surge na madrugada de quinta para sexta. E, mais principalmente ainda se você está sem carro no fim de semana.

Só que eu não sou normal.

Chutei o balde do trabalho às 3h da tarde e, armada de uma mochilinha de quinta categoria, rumei para aquele local aprazível do Rio de Janeiro chamado Rodoviária Novo Rio. Foram três horas de viagem de ônibus do meu trabalho até a rodô, mais um tempão na fila da passagem, até que, finalmente, tive o bilhetinho nas mãos: RJ - Cabo Frio às 19h.

Quase perco o ônibus de bobeira, porque fiquei dando pinta na deliciosa rodoviária: fumando um cigarrinho, comendo um chocolatezinho, apagando as mensagens do meu celular... Quando me dei conta, lá vai o MEU ônibus manobrando pela plataforma. Desesperei. Depois de tanto esforço, só me faltava perder o buzão! Pedi encarecidamente e aos berros que um funcionário me ajudasse. Não só ele se recusou como ficou rindo da minha cara. Não me dei por vencida e saí correndo no meio da plataforma, a mochila de quinta sacolejando nas costas, os cabelos completamente despenteados. Mas cheguei a tempo. O motorista - muuito mais simpático que o outro cara - abriu imediatamente a porta pra mim. Entrei no ônibus e lá estava a minha poltrona, único lugar vazio no meio de tantas cabecinhas e olhares curiosos em cima de mim.
E então começou a viagem.

Búzios é Búzios mesmo com chuva, não é mesmo, minha gente? Mas o que se faz na Armação em dia de tempestade é... beber.
Sábado fomos para a Rua das Pedras e compramos fogos em uma barraquinha de feira e duas garrafas de saquê. Depois de terminado o saquê, eles passaram para o chope e eu para a vodca + coca-cola. E, então, decidimos que era hora de soltar os fogos.

Resumidamente, não foi uma boa idéia. Secretamente eu pensava no meu pai, e em como ele sempre me censurou nas festas juninas, liberando que eu brincasse com fogos se fossem aquelas estrelinhas de bolo de aniversário - e olhe lá. Bombinha ele já pirava. Imagina então se ele descobrisse que, na era balzaquiana, eu me metia no meio de rojões e derivados.

Não posso negar, no entanto, de que foi engraçado.

Em menos de meia hora já conhecíamos todos os garçons do bar (inclusive, porque quase colocamos fogo no Conversa Fiada graças ao show pirotécnico), e nem percebemos que o ambiente foi enchendo, enchendo, até que a nossa mesa era, com toda certeza, a mais
barulhenta. Alguém falou em ir embora e nós fomos, sem perceber que a chuva tinha apertado.

Nem deu trabalho, a chuva. Eu e a Lina, há muito tempo libertas dos grilhões sociais, dançamos na rua para espantar os maus espíritos. (Na verdade a gente tentou entrar em um show de blues, mas fomos barrados. Daí gritamos: não precisamos disso! E fomos pagar um puta mico no meio da Rua das Pedras). E ainda ligamos para amigos que estavam no Rio, e pegamos endereços de emails para onde nunca enviaremos mensagens, e voltamos de carro pra casa tirando fotos malucas.

Depois disso tudo, me responde você: vale ou não a pena passar um friozinho em Búzios?
Eu e Brigite adoramos.

Monday, July 30, 2007

Convites

Quinta foi um dia estranho. Originalmente eu havia combinado de beber um vinho e comer um queijo lá em casa, porque estava dura como um coco e não queria gastar dinheiro. Mas acontece que uma das amigas com quem eu iria me encontrar estava enrolada no jornal (quem mandou ter amiga jornalista?) e avisou que só conseguiria chegar no Flamengo lá pelas 23h. A solução foi simples, dada pela segunda amiga da noite: vamos sair para tomar um chope enquanto seu lobo não vem.

E fomos nós para o Baixo. Há uns três anos eu não pisava no Hipódromo ou no Braseiro, por isso foi uma agradável surpresa perceber como tem meninos bonitos por lá. Quanto mais happy hour for o horário, melhores são os meninos. Depois das dez o clima vai ficando mais muvucado, mais adolescente, e aí já não tem graça. Bom mesmo é encontrar aqueles engravatados bebericando suas tulipas.

Mas só pra olhar mesmo, né, gente. É que adoro um colírio.

Quando eu achava que iria ficar no chopinho e nada mais, encontro a minha chefe sentada em uma mesa e cercada de amigos. Fui intimada a sentar e, como chefe é chefe, a gente obedece. Ela me apresentou rapidamente a toda a mesa, não guardei o nome de ninguém, e recebi um chope bem geladinho pra passar o tempo.
É que ainda esperava encontrar a tal amiga que estava no jornal.

Os minutos foram passando, e depois as horas. A mesa foi crescendo, crescendo, e os planos mudaram. Minha outra amiga, a que chegou comigo no Baixo, resolveu que era hora de ir para o Plebeu. Graças a um pedido charmoso, desisti de ir embora do BG, e fiquei para o que desse e viesse. E o que apareceu foi o seguinte: vamos terminar a noite no Clube Democráticos.
Já era meia-noite.

O Democráticos estava lotado, uma mistura de malandragem carioca (em menor número), juventude dourada pós adolescente (a grande maioria) e eu. É claro que ninguém ali se parecia comigo.
Eu aceitei todos os convites pra dançar (é desfeita dizer não), avisando que com certeza eu pisaria no pé do meu acompanhante. Ninguém se importou, mesmo quando eu perdia o ritmo. Foi bem divertido, tanto que a minha abóbora demorou para avisar que estava na hora de ir embora.
Quando percebi, eram quase 4h.

Corri pra casa de táxi, com um tremendo peso na consciência de como seria meu dia de trabalho na sexta. Deixei pra trás a minha chefe e todo o seu séquito, louca pra tomar um banho e cair na caminha.

Foi só depois de entrar no meu apartamento que percebi a mensagem no celular, enviada 3 horas antes:
"Vem pra Búzios amanhã?"
Respondi na hora: "Reserva aí meu lugarzinho"

E fui dormir feliz e muito cansada.

Thursday, July 26, 2007

Entendimento

Pra que tentar entender o mundo? Muito melhor é deixar a coisa fluir, acreditando piamente que o universo conspira em seu favor. Ele passou a acreditar nessa história de universo e, por tabela, ela talmbém. Vai boiando sobre as águas, deixando a onda levar, mesmo que um dia a colisão com as pedras seja inevitável. Até lá, é só o sol esquentando o rosto, o silêncio do mundo submerso afogando os ouvidos, a misteriosa vida marinha vez ou outra roçando de leve nos seus braços. Assim é bem melhor: sem luta, sem cansaço, sem desespero.

Outro dia explicaram pra ele, que depois explicou pra ela: quando você quer atingir um objetivo, faça de conta que esse objetivo já é seu. Ao invés de bater a cabeça, vá ao cinema. Uma hora vai acontecer o que você deseja.

Mas ela não era assim, estava o tempo inteiro tentando explicar o por quê das coisas, esperando que os dias seguissem uma lógica. Gostava de colecionar casos dos outros para assim desenvolver uma teoria sobre a humanidade. Já fazem trinta anos que essa teoria está para ser construída. Outros teriam desistido; não ela. Ela acredita que a perseverança é o caminho da descoberta.

Mesmo vivendo em lados opostos, os dois conseguiam se encontrar. Melhor viver em oposto do que em paralelo, aí sim fica complicado o encontro. Na contradição, ninguém sabe ainda como, chega uma hora em que a língua é a mesma. E aí dá certo. Como no jogo do universo.

Wednesday, July 25, 2007

Domingo na praia

Domingo de sol na praia de Ipanema. Encontro com amigos no segundo coqueirão (o primeiro coqueirão datou, minha gente) para mais uma tarde de sol, água gelada e muito salgada, gringos diversos (entre eles, a delegação americana de natação), mate de garrafão feito com água suspeita, biscoito Globo, queijo coalho com orégano, canga, cadeira, Rolling Stone Brasil e jornal O Globo. Minha praia acabou às 19h30, e fazia bastante tempo que eu não chegava em casa de biquini em um horário que o sol havia há muito se posto.

O bom de uma praia domingueira no inverno é que ela não é tão cheia quanto no verão, e existe a certeza absoluta de que todos os componentes dos meses mais quentes do ano estarão presentes. Não é porque estamos em julho que não vai rolar aquele clima de calçadão carioca que eu tanto adoro. Estacionei o carro no Leblon, porque lá tem vaga, e fui andando calmamente até o 9 quase 10, assistindo a todos os acontecimentos ao meu redor. Gente de patins, de bicicleta, de skate, de cachorro em punho, de namorada de braço dado, de criança no colo, de cheiro de milho verde e churros, de água de côco.

Houve um tempo em que o fim de semana praieiro era obrigatório. Eu acordava com mensagens de texto chamando pra praia, e imediatamente me levantava, colocava o biquini, engolia alguma coisa e dirigia vinte quilômetros até o litoral da minha preferência. Ia ouvindo reggae, as únicas músicas de reggae que eu gosto, gravadas em uma fitinha K7 pela Karen, que sempre tentou me conduzir ao clã de Jah. Nessa época, eu gostava de ouvir reggae porque achava que tinha tudo a ver com o clima em questão. Ia de janela aberta, sentindo o ar quente do verão, e pouco me importava com ar condicionado e possíveis pivetes. Aqueles eram bons tempos.

Muita coisa mudou desde então. Troquei as manhãs na praia pelas noites que acabavam só no dia seguinte (na verdade, sempre tive essa tendência...) e fiquei longos meses sem sentir na pele o gosto do mar. Só quando viajava a trabalho fazia questão de dar um mergulho na cidade em que estava. Porque se piso pela primeira vez em uma cidade litorânea, me sinto na obrigação de mergulhar nas suas águas. Mas a verdade é que meus fins de semana mudaram drasticamente de uns tempos pra cá, apesar de nada disso ter sido imposto. Foi uma mudança minha.

Por isso achei tão engraçado quando ouvi de um amigo, outro dia: "Nossa, a gente é tão diferente, mas se diverte tanto". Esse amigo acha que só porque eu gosto de música eletrônica e ele se amarra em um bom boteco de Santa Teresa, nossa amizade é contra as leis da física. Ledo engano. A gente sempre se adapta ao que aparece, sempre molda um pouquinho os nossos gostos ao que é novo e, por isso mesmo, eu ignoro sua tendência de querer levar um Raul no violão para sentar no Mineiro e dar boas risadas com ele, noite adentro.

Bom, talvez isso não seja tão comum, essa versatilidade de programas que eu sei que tenho. Mas se isso é uma das coisas mais legais da vida! Acho uma pena se engessar em um determinado estado, em um grupo seguro de amigos, onde com certeza falarão a mesma língua que nós, entenderão a nossa piada e cantarão juntos a mesma música.

Faz tempo que não vejo o tal amigo hippie. Tenho quase certeza de que ele também estava na praia de Ipanema domingo passado. Não no mesmo ponto que eu, é verdade, mas em algum lugar daquela comprida faixa de areia.
Tem lugar pra todo mundo. Até pra pós-hippies e pós-clubbers.

Tuesday, July 24, 2007

Sobre gente legal

Tenho conhecido muita gente legal, ido a eventos legais, ouvido música legal. E por "legal" não quero dizer mediano, e sim absolutamente apaixonante, empolgante. Novidades que às vezes me fazem sentir que eu ainda tenho muito o que descobrir e o que aprender com os outros. Meu esporte favorito dos últimos meses é ouvir histórias alheias, e descobri que conversar com estranhos é muito mais fácil do que eu imaginava.

Sofro de amor à primeira vista a todo momento. Meu último caso de amor foi com a música Ceremony, do New Order, que eu baixei na trilha sonora de Marie Antoinette, e não consigo parar de ouvir. Coloco pra tocar todos os dias, e só no percurso trabalho - casa são duas execuções, uma quanto estou na zona sul e outra quando chego na zona oeste.

Sinto um prazer ainda maior ao me cercar dessas pessoas e eventos e músicas legais ao mesmo tempo em que risco da minha vida toda a espécie de chatices. Dá uma certa leveza a todos os movimentos se livrar dos pentelhos e péla sacos do mundo, e eu ando leve, leve demais, a ponto de dançar como se os meus pés tivessem vida própria, sem me importar com o que está ao meu redor, sem olhar pra trás ou pros lados, à procura de rostos conhecido.

Já fiz tanto disso, meu deus. Agora estou livre.

Mas falta mais. Falta dançar ainda mais, e ouvir ainda mais músicas e histórias legais, e depois copiar tudo nesse blog que, afinal, eu vivo buscando uma finalidade.
Porque agora eu escolho os temas. Não são mais os temas que me escolhem.

Thursday, July 19, 2007

Reconsiderando

O acidente da TAM me deixou muito mais angustiada que o da Gol. E não foi só comigo que ficou essa impressão, porque a amiga que vinha de SP me visitar desistiu do fim de semana carioca por conta da tragédia. Não se trata de medo de que seu avião caia (tudo bem, isso também está em jogo no momento), mas sim do clima macabro que se instalou em São Paulo.

Pela primeira vez na vida, me vi checando a lista de vítimas no Globo on line, para saber se não conhecia ninguém. Talvez a proximidade com São Paulo, ou o fato de que eu viaje muito de avião e já tenha feito Porto Alegre - SP milhões de vezes na vida, ou ainda talvez tudo isso junto, mais o medo da pista de Congonhas, e a crise dos controladores de vôo que ninguém mais agüenta comentar - talvez tudo isso tenha me deixado assim, chocada com a história, e um pouco mais deprê do que o habitual.

De qualquer forma, nessas horas a gente realmente considera ser um pouco menos hipócrita, um pouco menos egoísta, um pouco menos mesquinho. Tudo em nome do curtíssimo tempo que passamos aqui.
Pena que essa sensação de balanço interno acabe se esvaindo com o tempo.

Wednesday, July 18, 2007

Leve e esvoaçante

Fica assim não: a gente sabe que tudo isso aqui não passa de uma grande piada, que os sentimentos de agora não vão significar mais nada daqui a alguns dias, sejam eles raiva, amor, compaixão, afeto. Tudo se esvai pelo ralo, mesmo os mais sólidos acabam se desintegrando e se perdendo esgoto abaixo. Hoje em dia eu aprendi a rir de mim mesma e de todo mundo à minha volta. Não descobri nas últimas 24 horas um ser humano capaz de me tirar o sono. Já foi o tempo em que existiam outras prioridades. Agora é tudo risível, leve e esvoaçante. Todas as coisas no mundo ou caem esgoto abaixo ou saem planando pelos ares (o que é muito contraditório e, no entanto, não menos verdadeiro).

Mas tem vezes que eu perco a paciência. Parece que bem quando a gente precisa de um incentivo, de um empurrãozinho de outros humanos, aí mesmo que eles escondem as mãos atrás das costas, ou então abrem aquele espaço traiçoeiro na hora do mosh.

Mas essas são vezes que não contam, são as chamadas exceções que confirmam a regra, e, portanto, eu não me preocupo muito. Passo os meus dias como quem vai à feira: escolhendo muito bem o tomate menos pobre, a flor menos murcha.
Vai ver é esse o segredo pra você ficar bem: não buscar o perfeito, mas o menos pior da humanidade.

Tuesday, July 17, 2007

Todo dia um evento

Meu trabalho está calmo. A conseqüência disso é que todos os dias eu tenho um pequeno evento para comparecer: penetra de vernissage no MAM, jantarzinho com amigos que moram em SP, chopes intermináveis, festas de aniversário. É uma lista infindável de festividades as quais eu compareço diariamente, a ponto de quase não usufruir da minha nova casita. O engraçado é que chega o fim de semana e eu não tenho o que fazer. Todos os meus amigos já cumpriram suas obrigações sociais comigo de segunda a quinta.

Na primeira semana de festinhas, eu me joguei. Achei ótimo, dizia que essa era a vida que eu queria. Na segunda semana, o entusiasmo diminuiu um pouco, mas eu continuava uma participante ativa das combinações por email coletivos. E agora, na terceira semana, eu tenho sono, muito sono. E quero logo uma noite em casa, vendo novela das oito, para poder recuperar as minhas energias.

Amigos que moram sozinhos há mais tempo que eu avisaram que essa empolgação é normal nos primeiros dias de apartamento alugado. Disseram que com o passar dos dias a coisa toda vai esfriando e, de repente, nos pegamos novamente jantando em frente à TV. No meu caso, jantar não é exatamente a palavra que descreveria a minha útima refeição do dia. Faz um tempo que o que eu como quando chego em casa resume-se a fatias de queijo brie ou camembert, e suco de uva. Um primor da boa alimentação.

Bom, as francesas fazem isso. E elas são magras, não são?

De qualquer maneira, talvez estejam chegando ao fim as minhas obrigações sociais de dias úteis. Mas, ainda assim, na quinta-feira outra amiga de São Paulo estará no Rio, e já convocou a minha companhia para uma noitada que, com certeza, vai acabar tarde.

Mas não se enganem. Esse texto não é uma reclamação.
Os anos passam e os comportamentos continuam os mesmos.