Tuesday, November 01, 2011

Salão de traumas

Pra mim, a vida dos cupons de desconto se revelou o portal para um universo paralelo antes ignorado: o dos salões de beleza mequetrefes. Aquele tipo que, em geral, é todo de vidro e voltado pra rua, exibindo aos passantes as pobres das clientes de cabelos desgrenhados, ou pés arregaçados, ou sobrancelhas dilaceradas. Como usuária assumida de muitas das escovas inventadas por aí (progressiva, inteligente, london, marroquina e, a última, de clorofila), fico sempre de olho grande em promoções de beleza de sites de comprar coletivas. Invariavelmente, quando chego no endereço do cupom, me deparo com um desses coiffeurs de clientela exposta. É como se fosse caro demais bancar uma parede fosca, ou como se a falta privacidade das moças que querem ficar mais belas fosse o preço a ser pago por elas terem se atrevido a pensar mais barato. Consumo consciente não se aplica a salão de beleza: a gente tem que pagar caro pra preservar o processo, mesmo que o resultado final seja incrível com ou sem parede de vidro.

De uma maneira geral, salões de beleza são ambientes irritantes. Com tantas conquistas tecnológicas, a que eu mais desejo ainda não foi inventada. Saca aquela máquina dos Jetsons em que as mulheres entram horrorosas e saem princesas? Queria uma dessas em casa. Por que ninguém inventou ainda? Desconfio que seja um complô da indústria de cosméticos. Porque não dá pra contabilizar a quantidade de vezes que eu saí de casa com uma roupa completamente maluca porque estava com muito sono pra pensar em ter estilo. E, obviamente, ao passar por uma mulher com roupas melhores que as minhas, sentia um impulso quase incontrolável de entrar no primeiro salão de beleza que passasse na frente. Tudo pensado pela Wella, pela Redken e pela Loreal Profissionel. Uma teoria da conspiração da beleza.

E também tem as nossas semelhantes. Mulheres têm um scanner  no olhar quando se encontram com outra que elas consideram competição. Pode ser casada, pode ter mil anos, pode ter só 15: se uma mulher encontra outra que considera rival, ela dá aquela filmada dos pés à cabeça. É mais forte que nós. Mesmo que não seja pela competição propriamente dita, que seja pela admiração. E pela inveja. Mulheres são invejosas com outras mulheres. Principalmente as mais magras e mais bem vestidas que elas.

O que torna o salão de beleza um ambiente tenso. Em que clientes se posicionam uma em frente das outras, com papel laminado na cabeça e algodão entre os dedos. O único ambiente de beleza em que o constrangimento supera o scanner do mal feminino é o instituto de depilação. Porque ninguém ali deseja que outra pessoa saiba quais são os lugares cabeludos que vai ter que resolver naquele momento.

Uma vez, num desses centros de depilação express, vi um homem. Era o técnico do bebedouro, fazendo seu serviço completamente constrangido. Mesmo totalmente sem graça, ele não conseguiu deixar de olhar pra cada cliente que entrava e fazia o seu pedido na recepção. Ele estava associando o corte à dona, estava claro. E mesmo sofrendo de uma vergonha sem limites por estar na hora errada, no lugar errado, ele não conseguia deixar de lado a curiosidade de checar quem estava pedindo o quê.

Mais um motivo para que seja inventada a máquina dos Jetsons. Quantos técnicos de bebedouros, eletricistas e carpinteiros não vão se beneficiar com esse projeto? É a salvação da humanidade. E o fim das insuportáveis revistas de celebridades.

Wednesday, October 26, 2011

A benfeitora de Copacabana

Sou fascinada pelas janelas de Copacabana. Sendo criada na chamada "zona rural do Rio" (a tal da zona  oeste), tudo o que via da janela do meu quarto eram tediosas árvores, um pedacinho do mar da Barra, alguns mico estrelas enxeridos (alguém aí sabia que eles foram trazidos do nordeste pra cá, e são uma das razões da extinção do mico-leão dourado?), vários pássaros, de vários tamanhos e cores, algumas joaninhas - que depois sumiram de vez faz uns dez anos - e muitos camaleões. Eu tinha uma vida bucólica, mas tudo o que queria era atravessar a rua e comprar pão, desejo impossível na minha antiga casa, distante de qualquer comércio. Mas as janelas de Copacabana, essas são cheias de vida, cheias de gente passando por detrás delas, cheias de móveis e decorações que eu quero tanto bisbilhotar, cheias de redes de segurança e gatos que se encostam a elas buscando sol, cheias de toalhas e roupas manchadas quarando na luz. São janelas de gente que eu não conheço e que vive há menos de dez metros de mim. 

Se eu pudesse, se fosse invisível ou pelo mais cara de pau, eu me apoiava nos parapeitos como aquelas velhinhas da avenida Nossa Senhora, e ficava vendo o mundo se mover na rua e nos apartamentos da frente. Nas centenas de casas espremidas, com famílias de dois, três, quatro ou mais pessoas. Eu ficava assistindo anônima ao teatro anônimo desse bairro cheio de tanta gente sozinha. E acho que devo mesmo ter cara de quem que quer participar, porque as velhinhas de Copa, esse sindicato não organizado, elas sempre me param para pedir informação ou ajudar a atravessar a rua. E sendo eu eternamente carente de boas ações, ajudo cheia de vontade e prontidão as senhorinhas, inclusive estendendo meu braço amigo não até a outra calçada, mas até a entrada do edifício buscado. Eu sou a benfeitora de Copacabana.

Deve ser porque tenho medo de que São Jorge venha me cobrar a juros a promessa que fiz a ele e não paguei. Prometi que ia dar uma certa quantia todos os meses a alguma instituição de caridade se por acaso conseguisse alcançar a tão sonhada promoção. A promoção foi alcaçada, embora o aumento não tenha sido tanto assim, a ponto da minha contribuição voluntários ser dada sem esforço. Ou seja: to sempre devendo na praça; como é que eu vou dar aos pobres, então? Se bem que, pensando a respeito, dá pra concluir que se promessa fosse fácil, não seria nunca dívida. Faz parte da premissa da promessa (incrível essas duas palavras juntas) que ela seja suada. Se não, que graça tem pro Santo? Como é que eles vão se divertir vendo a gente prometendo coisas tão fáceis? Isso ser mais tedioso que casal feliz em novela. A gente vê a novela pra ver os outros sofrendo e só conquistando a felicidade no final, certo? Pois é, desconfio que é o mesmo com o santos. Nós, terráqueos e terrenos, somos a novela dos deuses.

Talvez da próxima vez que uma velhinha em Copacabana me pedir ajuda pra atravessar a rua, eu deva pedir em troca um pequeno auxílio em espécie, pra poder cumprir a minha meta e não desagradar São Jorge. talvez as mais carolas se apeguem à minha causa e contribuam com a promessa nunca paga.

Ou talvez seja o fim da Benfeitora de Copa. Morta a bengaladas na esquina da Bolívar com Barata Ribeiro.  

Monday, October 24, 2011

Claque Mental

Uma das coisas que demorei a aprender, mas finalmente entendi: toda comédia é uma tragédia, a diferença está na claque. Aquele risinho eletrônico que marca as piadas de sitcoms e esquetes de humor, sabe qual? Tire as claques de um episódio de Seinfeld e você só vai ver constrangimento, desgraça, deslealdade e alguns dos sete pecados capitais. Mas, graças à claque, no final é só diversão.

É por isso que ando tentando desenvolver a claque mental. Eu, que já usei o mantra mental, a música-tema mental, agora estou partindo pra esse novo modo cognitivo comportamental de ver o mundo. Uma risadinha muda tudo, mesmo que seja na forma de humor negro.

A claque mental é a salva de palmas pra quem está se sentindo um palhaço. Se a vida te dá uma piada ruim, faça uma pirueta, coloque a dentes postiços e assuma a sua posição de diversão alheia. Alguém deve estar rindo, em algum lugar do universo. Projete a sua performance pra esse espectador misterioso - Deus, seu anjo da guarda, Chico Xavier - e tente ouvir a claque. Ela está lá, é só procurar.

Claro que sempre existe a possibilidade de se levar a sério. Confesso que já tentei isso também, mas foi tão ridículo que desisti rápido. Pelo menos a claque mental dá mais dignidade. 
A gente é palhaço, mas é limpinho.

Friday, October 21, 2011

Rivotrilling the day

Cada vez mais conheço gente normal que toma tarja preta. E, na mesma proporção, conheço gente histérica que não toma nada controlado. O que me fez pensar que os remédios proibidos são muito menos aterrorizantes do que eu imaginava tempos atrás.

É claro que se o bicho é controlado, ele deve fazer um efeito forte. Não to falando pra todo mundo sair por aí se enchendo de rivotril e prozac! To dizendo que de repente é bom a gente abrir um pouco a mente pra esse tipo de medicamento. Quem sabe se todo mundo tomasse rivotril direitinho, como manda a prescrição, mais gente ia dar abraços grátis no centro do Rio? Ou ajudar a salvar as baleias? Ou simplesmente não ia ficar atazanando a vida alheia só porque acordou mais uma vez cheio de azedume no coração?

Hoje, aqui em Copa, faz um dia lindo. Daqueles de céu azul com poucas nuvens, e ainda um friozinho desse resquício de inverno (inverno? não é primavera? pois é, mas faz frio no Rio). Pensei em fazer um cartaz de Free Hughs e circular pela Nossa Senhora de Copacabana. Mas é que eu não gosto muito de contato humano com gente que não conheço.

(Parênteses inúteis: quando estava em Madri, tinha uma galera do Free Hughs na Plaza del Sol. Fiquei louca de vontade de ir lá e dar um abraço naqueles caras, mas a vergonha me segurou. Me arrependo mortalmente de não ter ido. Afinal, viagem serve pra isso, né? Pra fazer coisas que você nunca toparia na sua terra natal. Maria Arrependida mode on).

O dia em Copa está na categoria Rivotril. Pra mim, parece que todo mundo topou o remedinho. Ta todo mundo feliz. Ta todo mundo dando passagem pras velhinhas de bengala. Uma coisa bonita de se ver.

Então, se você é neurótico, histérico, azedo, se você é daqueles (daquelas, né? São sempre mulheres...) que entram nesse blog só pra deixar um comentário amargo, vai por mim: toma um rivotril. Prometo que você vai terminar esse dia dando um abraço no seu porteiro.

Thursday, October 20, 2011

Maria Arrependida

Cansei de gente que não se arrepende. Já viu aquele povo que responde em entrevistas que não faria nada de diferente se pudesse voltar ao passado? Ou que diz que só se arrepende do que não fez? Pois é, não confio nessas pessoas. Eu sou do tipo que mudaria uns dez itens desde a hora que acorda até o almoço. Se não pelo erro, pelo menos que fosse pela possibilidade de experimentar diferente. Sou do tipo que sai de uma discussão pensando: "naquela hora deveria ter dito isso ou aquilo". As frases mais espirituosas vêm mais tarde, com delay. Eu sou um andróide com movimentos retardados.

Só que se arrepender dá um trabalho danado. Porque quando a gente percebe o arrependimento, tem que fazer alguma coisa em relação a isso. Tem que corrigir, de alguma maneira. E aí que começa a parte cansativa.

Hoje eu já fumei dois cigarros. Arrependimento. Prometo não fumar mais nenhum até o final do dia (essa é uma mentira, mas vamos lá: autoengano, às vezes, dá resultado). Não fui à academia de manhã, mas ainda posso ir à tarde. Não comecei a escrever o meu livro genial, que está prometido a mim mesma há uns dez anos. Bebi demais outro dia e falei o que não devia. A lista é longa, se a gente correr de hoje até o minuto em que comecei a ter consciência de que posso me arrepender. Faz o quê, uns trinta anos? Talvez mais.

Tem também o pseudo arrependimento. Aquele que parece um arrependimento, mas que depois revela que tentar mudar vai fazer a emenda sair pior que o soneto. No pseudo arrependimento, a gente tá ferrado de vez, porque virando à esquerda ou à direita, vem merda pela frente.

E tem também o arrependimento de micro segundos. Aquele que nasce logo após a gente dizer ou fazer algo que se revela instantaneamente errado - quase tão rápido quanto o cara que buzina quando o sinal abre. Nesse tipo, meus amigos, eu sou medalhista de ouro.

Mas voltando a gente que não se arrepende: tenha medo desses. Esses se consideram perfeitos. Esses não se dão as chibatadas existenciais necessárias pra qualquer crescimento pessoal. E lidar com gente que não se chicoteia dá um arrependimento enorme de não ser surdo.

Tuesday, October 18, 2011

A Louca das Calorias

Parar de fumar depois dos trinta significa parar também (por um tempo, vá lá) com quase todos os outros prazeres da vida: chocolates, álcool, massas, etc etc etc. Quem para de fumar depois dos trinta tem que começar a fazer dieta e a correr imediatamente depois de largar o cigarro. É claro que eu não fiz isso, engordei uns 3 quilos, e aí a sirene da vaidade começou a gritar.

Foi quando eu decidi baixar um contador de calorias no meu iPhone, pra poder monitorar de perto tudo que estava entrando nesse corpinho que a terra há de comer (e que seja bem comível antes disso). Sendo uma virginiana de primeiro decanado que, traduzindo os jargões astrológicos, quer dizer que nasci neuroticamente metódica, a ideia de anotar tudo o que como me pareceu viável. Anotaria também os gastos calóricos com exercícios e outras atividades menos úteis, tipo ficar sentada vendo televisão.

Em pouco tempo eu me tornei a Louca das Calorias. Conferia cada embalagem de comida que me passava nas mãos, e fazia perguntas pro meu marido do tipo: "Quantos gramas de bolo de carne você acha que eu comi no jantar?". Eu fui me tornando, pouco a pouco, uma pessoas mais magra e mais maluca.

Confesso que ainda hoje vivo dias de obsessão. É que meu plano de perder peso deu certo (perdi um quilo em duas semanas, e ele nunca mais voltou!), e mesmo que de vez em quando eu vire uma psicopata das quantias energéticas, eu guardo a maluquice pra mim e não fico atazanando os outros com isso.

No fim das contas, tudo é culpa da TV de LCD. Porque ela achata a silhueta dos atores que não estão em canais com transmissão HD, o que faz com que os pobrezinhos, que já não são bons de cabeça - afinal, são atores - fiquem esqueléticos, o que gera a busca de um ideal de beleza de anoréxicos. Todo um padrão estético baseado em um erro tecnológico.
O mundo tá mesmo uma zona.

Monday, October 17, 2011

Promessas não cumpridas

Depois de dois meses e um dia sem escrever, resolvi que está na hora de dar as caras pelo meu quase esquecido blog. Mas esquecido só pra mim: durante a minha ausência, mais de dez pessoas passaram a seguir o Poça D'água, o que caracteriza um fenômeno que eu nunca entendi muito bem. De todos os seguidores, apenas um é meu amigo. Os outros me acharam na internet por acaso, talvez através da pesquisa sobre Rivotril. O fato é que chegaram e ficaram e, pra esses e pra todos, obrigada.

Tem também os que passam aqui pra me xingar, e isso eu acho bem engraçado. Coisa de gente que quer pesquisar a minha vida - e esse povo eu conheço muito bem. É o lado ruim de ter um blog: você conta um pouco ao mundo sobre como enxerga o cotidiano, e automaticamente torna-se alvo de um milhão de julgamentos, pro bem e pro mal. Faz parte.

Bem, em dois meses dá tempo de fazer muitas promessas e descumprir quase todas. Dá tempo de ler uns três ou quatro livros e sonhar com uma nova carreira, e perceber que depois dos trinta, se a gente quer uma carreira nova, tem que sair correndo atrás do preju. Me sinto como se tivesse 24 e não 34, mas nem isso muda a minha data de nascimento.

E agora eu tenho tempo suficiente pra escrever mais, e pra ler mais e pra ver mais filmes. Aliás, agora tudo isso faz parte da minha profissão, olha que maravilha. Mas não tenho tento tempo pra escrever no blog, o que é realmente uma pena, mas é algo real.

Mas como eu sou a campeã de fazer promessas que eu nunca vou cumprir, prometo aqui voltar a escrever. Pelo menos uma notinha todos os dias - que que custa, né
Vamos ver se pelo menos essa eu cumpro...

Tuesday, August 16, 2011

Nem todos os amores são horríveis

Nem todos os homens são traidores em potencial, nem todas as paixões são destinadas às lágrimas, nem todos as luas cheias deixam as mulheres loucas, nem todas as crianças são fofas e gentis (mas todos os pais têm culpa), nem todos os salários são essa bosta, nem todo emprego é trabalho, nenhuma família é de comercial de margarina, nem todo parente é de confiança, mas toda melhor amiga é melhor que parente ruim, nem todo mundo briga por dinheiro, nem todo céu é paraíso pra todo mundo.

Hoje me deu uma vontade de escrever que nem tudo é o que a gente acha que sempre foi. Passei anos e anos acreditando que amar era sofrer, até que um dia um amigo leu a minha mão (será que ele lembra disso?) e disse que a minha vida amorosa seria de tristeza. Eu me recusei a acreditar nisso, mas acreditei. Na verdade, eu já acreditava. Eu já desconfiava de todo mundo, já deixava meu lado de ascendente em escorpião ficar de guarda, à espera de um possível bote que eu no final não deixaria chegar. Mas sabe o que acontece: o bote sempre chega, a gente sempre leva a ferroada, mesmo estando de guarda. E aí eu aprendi que o melhor é relaxar e esquecer que existe a possibilidade de ser sacaneado.

Segundo o meu amigo, a minha linha do amor é cheia de falhas, que seriam interpretadas numa leitura de mão como os percalsos de uma vida amorosa. Agora mesmo eu parei e tentei achar a linha do amor; mas na palma da mão eu só conheço a linha da vida, e essa parece bem longa e desenhada, obrigada. E, afinal, eu nem sei se a mão a ser lida deve ser a esquerda ou a direita, porque parece que uma tem as linhas mais certinhas que a outra - ou será que é porque a minha palma direita está suja?

E aquela história de fechar a mão e ver quantos filhos você vai ter? Eu fazia isso quando era criança, via as dobras na lateral dos dedos e dizia pras minhas amigas: você vai ter tantos filhos. Na minha mão parece que eu vou ter quatro, mas será que eu já conto nesses os meus enteados, a situação mais próxima de maternidade que eu conheço? O que me lembra o sonho que eu tive e levei ao consultório do terapeuta: sonhei que tive quatrigêmeos, e que como já tínhamos duas crianças do primeiro casamento do meu marido, não teríamos como ficar com seis bebês em casa. Então eu tive que dar dois dos meus filhos. Imagina o horror. Eu acordei bem triste de ter tomado essa decisão, de ter que dar dois dos bebês que eu não tive.

Mas nem todos os sonhos são realidade - ainda bem - e no final as crianças que sobraram na minha casa são as mesmas, que não são meus filhos mas eu considero como se fossem, embora obviamente eles não em consideram como mãe. E eu entendo. Mas lamento. E fico levemente enciumada.
Porque nem todas as madrastas são más.

Thursday, August 11, 2011

Drama Queen. Cortem-lhe a cabeça!

Uma vez vi passeando pelo calçadão de Copacabana uma menininha gringa de uns 10 anos, que usava uma camisa onde se lia "Drama Queen". Achei que eu poderia perfeitamente estar usando aquela blusa do alto dos meus 33-quase-34 anos; eu e uma menina de dez, unidas pelo gosto ao drama.

E eu sempre fui assim. Lembro de ter uns 8 anos e me sentir, assim, meio melancólica. Eu brincava com crianças na piscina de casa e de repente me cansava de tudo aquilo. Saía da água, me secava e sentava na sala com um livro ou uma revista em quadrinhos, deixando do lado de fora os gritinhos e o sol quente do verão.

Nunca descobri porque nasci com a tendência ao drama, mas hoje em dia, quando estou no auge do meu show dramático - na TPM, vocês podem imaginar o que isso significa - eu penso que eu sou uma farsa, e que todas aquelas lágrimas são de crocodilo. Melhor dizendo: lá dentro eu sei que estou manipulando a minha ida através das minhas lágrimas. Uma drama queen bem espertinha.

Mas dá trabalho viver do lado dramático da lua. Tem que haver uma esforço descomunal pra achar sempre o lado melancólico da vida. E que as pessoas ao redor tenham muita paciência! Porque, como se sabe, a Drama Queen gosta de arrancar umas cabeças por aí. Quando não é a dela própria.

Wednesday, August 10, 2011

127 horas

Demorei tanto pra ver esse filme que nem sei se vale a pena falar sobre ele. Na verdade, dei uma certa amarelada quando li que pessoas em cinemas do mundo inteiro saíam das salas de exibição na cena em que o alpinista corta o braço. Por causa da minha covardia cinematográfica, já deixei de ver alguns grandes filmes, como Irreversível (pela cena do estupro). Eu tenho problemas com salas escuras de cinema: elas ampliam as minhas sensações de uma maneira que até quando assisti ao último Batman eu fiquei com um certo medinho.

Mas um dia aluguei 127 horas. Em blue-ray. Pra ver na minha casa, de noite, com tudo apagado. Pra fingir que estava vendo no cinema. E eu que sou bem fã do Danny Boyle: desde o primeiro filme que assisti (acho que foi Transpotting), percebi que estava diante de um cara que merecia toda a minha atenção por, no mínimo, duas horas. Passei a procurar outros exemplos da filmnografia dele, e assim cheguei a Cova Rasa, A Praia e... amarelei de novo no Extermínio. É um saco ser covarde.

Voltando a 127 horas, é óbvio que o mais comovente nesse filme é saber que se trata de uma história verídica. O Aron Ralston é o verdadeiro super herói americano - só que, no caso, ele não usa os seus poderes pra salvar a humanidade, e sim ele mesmo. Se eu estivesse em um canyon do meio de Utah, eu não durava nem 24 horas, pode ter certeza. Se bem que eu sempre me pergunto qual seria a minha atitude numa situação como essa, em que a gente lembra que é bicho, e que o instinto de sobrevivência se sobrepõe à qualquer outra sensação.

Isso me faz lembrar de um outro filme, O Pianista. Lembro de uma das cenas mais lindas que eu já vi, de quando finalmente o pianista judeu é descoberto pelos aliados, quando a guerra termina. O fugitivo está usando um casaco do exército alemão, e por isso quase leva um tiro dos aliados. Quando ele se identifica como judeu, o soldado americano pergunta: por que você está usando esse casado? E o pianista responde: porque tenho frio.
Foda-se que é um casaco nazista. Ele tinha frio.

Mas o cara do 127 horas, esse é um homem que merece admiração. Durante o período que ficou preso no canyon, ele gravou com sua câmera alguns depoimentos. Pedidos de desculpas, frases de adeus de quem acha que daquela enroscada não vai conseguir passar. Mas o tom não é de desespero, é de calma, o que é mais que surpreendente, considerando que o cara já estava há alguns dias sem comer quando começou as gravações. Muitos desses depoimentos estão no Youtube e são fáceis de encontrar.

A parte mais linda pra mim é a cena final. Tentei achar no Youtube, mas nao consegui, talvez porque o final seja um ponto importante do filme, certo? (TOM IRÔNICO). Eu até chorei vendo o cara se safar, vendo que ele perdeu um braço, mas não perdeu totalmente pra natureza.
Na seleção natural, esse cara é o primeiro da fila.

Monday, July 25, 2011

Um Dia






De tanto ouvir falar no livro, no filme e em tudo o mais que cercava o lançamento desse romance por terras brasileiras, eu não me contive e acabei dando o braço a torcer. Comprei o livro e li tudinho em menos de um mês, completamente apaixonada pelos personagens principais, Dexter e Emma. Quando percebi que o livro chegava ao fim, naquelas páginas ralinhas antes da contracapa, me bateu uma síndrome de abstinência dos personagens. Me apeguei aos dois. Poderia ser amiga deles: tinha chance da gente sair pra tomar uma cerveja por aí, os três, conversando sobre as banalidades da vida.



Fiquei meio maluca mesmo. Como o livro conta a história de uma amizade de vinte anos que começa em 15 de julho de 1988, eu me vi procurando nesse blog os textos que tinha postado nos 15 de julhos de 2005 em diante. Claro que não calhou de eu excrever um textinho sequer nessa data; mas aí eu me conformava com o mês. E no dia 15 de julho de 2011, perguntei no Facebook pra quem quisesse responder: Onde estão agora Dex e Em?



É uma história de desencontros. Uma amizade colorida que chega a dar nervoso de tanto "quase". Dá um medo em quem, como eu, tem um rabo preso (e quem não tem?): a gente fica se perguntando se está no caminho certo da vida, ou se distanciou demais do destino e depois vai ter que correr atrás do preju. E aí pode ser tarde demais.



Mas também é um daqueles casos que fazem a gente chorar pelo amor dos dois, pelos quase e pelos plenos encontros, porque de alguma maneira todo mundo se reconhece na história dos dois.



Fora isso, tem que o David Nicholls é realmente incrível. Nenhuma frase em um livro de 300 e tantas páginas é desperdiçada: o autor escolhe as palavras, dá o ritmo certo. É um mestre, e você logo no começo sente o saborzinho de best seller. Não aquele tipo de best seller piegas, de gente morrendo de câncer ou crianças na Alemanha nazista. O tipo que vende muito porque é bom sem ser meramente comercial. Ou, melhor falando: tem romance comercial que também fala à alma.



Agora é esperar o filme em novembro.

Friday, July 22, 2011

Home Alone

Estou acostuamada com casa cheia. Cresci com duas irmãs, meu pai e minha madrasta e, agora que já sou grandinha e tenho a minha própria família, moro com meu marido e meus dois enteados. Isso quer dizer o seguinte: nunca o apartamento está vazio. Nunca. O que deixa as minhas chegadas em casa depois do trabalho bem animadas. Sempre a luz da sala está ligada, e o meu enteado mais novo me recebe com um milhão de novidades que ele quer contar naquele momento. Enquanto eu sigo pelo corredo em direção ao quarto ele vem atrás com suas histórias; eu largo a bolsa em cima da cama e dou um beijinho no meu marido, entro no banheiro pra lavar as mãos (meu enteado fica na porta ainda contando coisas) e sigo pra cozinha pra comer alguma besteira. Durante todo o percurso, o ar se enche com as palavras do meu enteado, da televisão ligada no meu quarto e do meu marido falando ao telefone. É uma sinfonia muito familiar e muito aconchegante, que faz com que eu desligue completamente do mundo lá fora e me dedique à vida dentro de casa.

Tem vezes que eu sou recebida com uma taça de vinho e uma fatia de camembert. Ou com uma dessas bebidas Ice de vodca, que eu mando ver de barriga vazia, e em menos de uma garrafa já sinto aquela dormência deliciosa que é ficar de pileque em casa. Passei a beber muito mais depois que casei, essa é a verdade. Mas descobri que nasci pra viver a dois. Ou a três e a quatro.

Mas ontem eu cheguei em casa e a luz da sala estava apagada. O silêncio era meio opressor, e eu tratei logo de ligar a TV da sala pra fazer algum ruído. Ouvi de uma amiga no trabalho que eu deveria aproveitar enquanto estava sozinha , e foi o que fiz: praticamente terminei de ler meu livro do momento, liguei o Skype esperando ligações de longe que nunca vieram, assisti ao programa onde eu trabalho. Mas nada disso me deu uma super satisfação, e eu fui dormir entre a entediada e a saudosa de todos os meus barulhos diários. A gente só aprende o que é silêncio depois que se casa.

Thursday, July 21, 2011

O quanto dura uma realização

As minhas duram uns cinco minutos. Quando eu ouço a notícia e sinto aquele bem estar de missão cumprida e aprovada, aquele leve formigamento interno gerado pelo orgulho de si mesmo, por ser essa pessoa especial e única, que veio ao mundo para encher a Terra de soluções geniais. Eu tenho exatos cinco minutos de paraíso, e depois a conquista perde a graça e eu já passo pro próximo objetivo. Eu sou que nem esfomeado em churrascaria: não nego nehnuma carne e em pouco tempo estou empanturrado, sem conseguir comer mais nada, pensando no sushi do próximo sábado.

Por quanto tempo a gente pode viver uma glória? Concordo que os meus cinco meteóricos minutos de satisfação são muito pouco pra quem ralou por anos pra conseguir atingir sua meta. E eu não me dou descanso, não me dou um relax de pernas pro ar, eu quero mais e mais e mais, eternamente. Infernal, não é mesmo?
Mas também acho que viver pra sempre festejando as conquistas do passado é coisa de quem não entendeu que a fila anda e a caravana passa.

Só sei de uma coisa: enquanto eu faço tudo, enquanto eu dirijo e levanto peso na academia, e estou em reuniões supostamente prestando a maior atenção, ou vendo Seinfeld e fingindo pra mim mesma que eu estou ligada na estrutura da narrativa, enquanto eu faço tudo isso eu penso: tenho que escrever, tenho que escrever, tenho que escrever. Como uma obsessão. Mas não sento e escrevo porcaria nenhuma, eu só me cobro, de olho no próximo estágio da minha lenta e complicada jornada.

Hoje à noite eu vou chegar em casa e vou encontrar o apartamento incomumente vazio. Sem marido, sem enteados, sem empregada. Todinho pra mim. Desconfio que vou ficar entre o deprê e o conforto que só a solidão proporciona. Mas a ordem que martela há dias na minha cabeça estará lá, e eu não sei se vou dar ouvidos a ela.

Tem vezes que dá vontade de virar hippe e jogar pro alto essa obrigação de "dar certo".
Mas logo depois eu volto ao normal, deitada na minha cama queen size de lençóis lavadinhos.

Thursday, July 14, 2011

Maçãzinha

No meu trabalho, todo mundo tem Iphone. TODO MUNDO. As reuniões podem ser descritas como pessoas ao redor de seus Iphones, todos pseudo displicentemente colocados em cima da mesa, todos pretos, mas com uma coleção de capas de padronagens diferentes. Na época em que comecei a perceber tudo isso, eu carregava na bolsa um daqueles modelos de celular que as pessoas ganham no supermercado, que não tirava fotos, não entrava na internet e não tinha absolutamente glamour algum. E nas reuniões de trabalho, meu aparelho ficava bem escondido no bolso da minha calça, eu sem ter a coragem de colocar o pobrezinho lado a lado com aqueles monumentos de design da Apple. Era uma época tensa.

Passados alguns meses e muitos emails lidos horas depois do que todo mundo já tinha lido, eu me dobrei aos Iphones. Não que fosse preciso uma grande lista de razões para me convencer, mas o fato é que eu achava sempre que não tinha dinheiro pra nada, e que não poderia fazer parte do seleto e moderno grupo do I alguma coisa. Chutando um certo balde das minhas finanças, me dirigi à loja da minha operadora e pedi pro vendedor fazer todos os cálculos do que seriam, pelo menos, umas dez prestações.

Comprei um 3 GS de 16 giga, branquinho, a coisa mais fofa. Em dez vezes. Mas foda-se: agora, nas reuniões, o meu celular também estava em cima da mesa. Com personalidade, porque era o único branco e sem capa, e ninguém poderia ver que ele só tinha 16 giga, enquanto todos ali sustentavam os 32 gb. Rapidamente, eu me tornei uma usuária ainda pior de Facebook, Twitter, Gmail e o que mais fosse inventado. Baixava os aplicativos mais bombados e mandava emails assinados com "Enviado pelo meu Iphone" (depois eu apaguei essa assinatura porque fiquei com uma vergoinha).

Mas, meses depois, veio o Iphone 4. E agora, todos os celulares na mesa de reunião são quadrados nas bordas, enquanto o meu ainda é flat. Tenho certeza de que isso foi uma maneira da Apple me colocar no meu devido lugar. Pra me lembrar que que, não importa em quantas prestações eu pague, sempre vou estar um modelo atrás do último lançamento.

É o que eu sempre digo: tem gente que tem alma de Iphone 4, e conta de Iphone 3.

Meia noite em Paris

Sou do tipo fã boboca do Woody Allen: tudo que ele faz, eu nem i e já acho genial, e na verdade não chego a me decepcionar nem com os filmes que todo mundo decepciona. Eu sou fã, e fã é sempre um bobo. Só que esse último filme fez WA virar unanimidade de novo.

Todo mundo viu antes de mim, é claro, e todo mundo disse que é incrível. Eu estava louca pra assistir porque passei o fim do ano em Paris e percebi a mágica da cidade (era a minha segunda visita, mas talvez eu tenha sentido os efeitos parisienses mais fortes dessa vez), até que alguém me avisou: a Paris do filme é uma cidade diferente de todas as outras.

Pra quem não viu o filme fica difícil de falar sem estragar a surpresa, mas eu fiquei muito tempo pensando sobre a nossa inserção nos dias atuais: o que achamos da época que vivemos, como nos relacionamos com o presente e com o passado.

Quando eu tinha 15 anos, tudo o que mais queria na vida era ter nascido em 1969. Eu me vestia, ouvia as músicas, devorava os livros daquela época. Chegava ao meu colégio mega burguês de subúrbio vestindo longas saias indianas, como uma hippie. Mas me sentia muito sozinha ao encontrar meninas que se vestiam igual ao mim, porque reparava que elas (aparentemente) só tinham em comum comigo as saias indianas. Elas ouviam Geraldo Azevedo (ui!) e liam Sem Tesão Não há Solução, ou She e He, o que me dava um certo medo.

Só que um ano depois tudo isso já tinha mudado: eu estava totalmente inserida no final dos anos 90.

Essa historinha só serve pra ilustrar um pouco do que o filme fala, de que nunca estamos satisfeitos com a época que vivemos, e estamos sempre achando que décadas passadas foram as melhores épocas da História. A gente sempre vai achar isso, porque todo mundo tende a romantizar o que passou; o passado é realmente perfeito, e até o que foi dor a gente vê como aprendizado, já reparou?

Mas, sinceramente, depois que passei da fase 1969, eu parei com essa mania de querer viver em outra época. Na verdade, eu tenho uma super admiração pela geração mais nova que eu: o pessoal que tem vinte e poucos, e que tem um acesso irrestrito a todo tipo de informação e aprendizagem. E esse povo sabe usar direitinho essas ferramentas! Eu acho a geração que tem dez anos a menos que eu muito mais interessante do que a que tem dez anos a mais.
Uma pena que ninguém nunca tenha me ensinado o caminho à Terra do Nunca...

Tuesday, July 12, 2011

Autoimagem

Hoje comentei com uma amiga que acabou de completar os 29 anos que ando preocupada com a chegada dos meus 35: agora tenho 33, faço 34 em dois meses, e isso me coloca a apenas um ano de distância daquele idade tão terrível para as mulheres. A idade em que se deve optar pela pílula ou pelo cigarro, em que as mamografias passam a ser exames obrigatórios e anuais, em que deixamos pra trás definitivamente os 30 e poucos para entrar na contagem regressiva dos 40. Tenho medo dos 35, assim como já tive medo dos 25 e dos 30 (e depois descobri que são duas idades ótimas, cada uma por um motivo).

Mas o pior de se ter à frente um ano e dois meses prestes a completar 35 primaveras é não ter a noção de que já cheguei a essa idade. Não posso ver um pessoal de 20 e poucos que logo quero me enturmar, como uma tia Sukita precoce (e a galera dessa idade nem conhece a referência dos tios Sukita!). O fato é: converso mais com a filha da minha vizinha do que com a minha vizinha. Isso é muito triste, ou só um pouco triste?

É que assim como as pessoas que fizeram operação de redução de estômago e ainda se vêem gordas, eu ainda me vejo com vinte e poucos. E olha que eu já melhorei bastante, mas ainda insisto no vício de redes sociais da última semana (já faço parte do Google +, você faz?) e nas bandas de rock que acabaram de tocar no Coachela. Uma trintona Sukita.

Por outro lado, morro de medo de virar uma daquelas mães que só conhecem musiquinhas de creches, ou casas de festas, e que se esquecem de consumir qualquer outro tipo de leitura que não seja informação materna. Não, deus me livre guarde de virar uma dessas mulheres que se fecham no mundo as suas casas e esquecem o resto lá fora. Será que existe maneira de não pensar só em fraldas e gracinhas do seu filho e, mesmo assim, ser uma boa mãe? Será que há possibilidade de cuidar e brincar com seu rebento e continuar consumindo música boa e romances legais?

Tenho algumas referências de mães que não viraram amamentadoras profissionais, mas essas são uma pequena ilha diante de um oceano de casos opostos. Acho que só quem viver, verá - e, enquanto isso, eu bato papo com a minha vizinha pós adolescente sobre bandas e redes sociais do momento.

Monday, July 11, 2011

Silêncio de ouro

Andei pensando sobre o que falar e o que manter calado, e cheguei à conclusão de que, na maioria dos casos, a gente deve ficar quieto e deixar que os outros se enforquem nas próprias palavras. Esperto é aquele que fica tranquilinho no seu canto, só observando e fazendo cara de paisagem.

Pena que eu nunca consegui ser assim. Tanto que criei um blog pra contar melhor e worldwide as minhas peripécias de garota ligada na tomada. Gosto de ler os textos antigos pra ver o quanto eu já aprontei nessa vida: 33 anos bem vividos e agora dedicados à realização de planos. Então, na fase atual, eu vou tentar levar em frente a máxima de que o silêncio vale ouro.

Mas deixa eu só contar que eu ando feliz da vida, com um carrinho novo que comprei à prestação, e a possibilidade de finalmente conseguir uma promoção. Eu sei que não se deve contar uma coisa boa que está pra acontecer antes dela realmente acontecer - mas, what the hell, se fosse por isso só tinha mudo milionário no mundo.

E deixa eu falar também que todos os dias eu sonho em escrever contos geniais e colocar pra competir em concursos literários, mas nunca faço isso de verdade, porque sempre perco o prazo da inscrição.

E deixa eu falar que eu to morrendo de medo do fim do ano, quando vou chutar o meu trabalho atual pra tentar coisas novas e arriscadas, mas que por isso mesmo são as coisas que me parecem mais legais nos últimos cinco anos.

E só mais uma coisinha: estou pensando seriamente em entrar pro time de mães de família no próximo ano.

Ok, agora a gente pode ficar em silêncio. Antes que eu diga que to sentindo um mega frio na barriga de tudo que me deixa tão feliz.

Friday, July 08, 2011

Caderninho

Queria tanto ter um moleskini com desenhos incríveis. Só que não sei desenhar, e não tenho um moleskini, mas carrego na bolsa o caderno que ganhei da Paulinha quando a gente fez aquele trabalho prum escritório de design. Eu escrevendo e ela desenhando, é claro. O trabalho acabou - rendeu bons frutos, inclusive - mas o caderno resistiu e hoje mora na minha bolsa, todo sujinho e cheio de orelhas causadas pelo dia-a-dia de turbulência do meu saco de coisas. São anotações de trabalho, de lazer e de pura viagem mental: eu sento por muitos minutos e fico vendo a vida passar, e escrevo pra ver se consigo entender alguma coisa do mundo.

Durante um tempo eu achei que as respostas pras grandes questões da vida eu conseguiria em livros e filmes. Depois eu vi que não é bem assim, não é a resposta da pergunta que está ali nos filmes e nos livros, é a pergunta que mora naquelas páginas. Por isso agora quando eu não sei o que perguntar, eu compro um livro novo: eu queria fazer uma pergunta sobre amor, mas não sabia qual, e aí comprei o "Um Dia". Pra sonhar com um casal como aquele, e pra depois voltar a escrever sobre tudo isso no meu caderninho que não tem nada de moleskini.

Minha loucura com os cadernos é tão arraigada que não consigo fazer uma viagem sem comprar um caderno pra mim. Depois fico com pena de usar, e os blocos vão se acumulando na minha parte do armário. Outro dia finalmente abri o bloco que comprei no Museu do Prado (uma capa linda, com detalhes do quadro Jardim das Delícias). Fiquei um tempão sem coragem de macular a primeira página, achando que nada do que eu escreveria seria digno daquele exemplar lindo de caderno.

Tuesday, June 14, 2011

A única história de amor





Eu não esperava que o livro da Patti Smith "Só garotos" fosse me ensinar o que é amar de verdade. Eu achava que simplesmente ia ler uma puta biografia, de uma das maiores poetas e cantoras de rock de todos os tempos. E eu achava que o nome original era "Only boys", e pensava que ela queria dizer que estava sempre cercada por muitos homens, no começo da era punk, em meados de 1970.


Só que não é "Only Boys". É "Just Kids". E o punk me deu uma lição de amor.


O livro conta a história de Patti com o fotógrafo Robert Mapplethorpe. Dois artistas mortos de fome morando na Nova York da década de 60. O lindo é que os dois fizeram um pacto de proteção mútua que não foi dissolvido nem com o fato do cara ser muito e absolutamente gay.


Quanto mais eu lia a história dos dois, de luta e de apoio, e de carinho... Mais eu tive medo de nunca me aproximar de um amor desse tipo. Amor que só dá e quase não pede de volta. Amor que fecha com aquela pessoa, que confia, que sabe que nada de ruim vai acontecer vindo dela.


A minha geração aprendeu a amar desconfiando sempre. Quer dizer, as minhas amigas, o meu círculo social, todos os que estão ao meu redor pisam com calma e bem devagar quando se trata de relacionamento. Ninguém se joga. E eu, a mais desconfiada dos desconfiados, a ascendente em escorpião que não admite levar ferroada de ninguém, me previno tanto do problema que acabo me esquecendo de fechar os olhos e pular.


Viver meu amor passou a ser a minha intenção. Dou a mão a Patti e pulo.

Trabalho de mulher

Eu sei o que é trabalho de homem. Matar barata, trocar pneu de carro, consertar encanamento = trabalho de homem. Só que um dia me pediram pra definir o que é "trabalho de mulher". E tudo o que eu pensava soava muito machista. Cuidar da casa? Fazer compras? Cozinhar? Essas parecem as funções de uma mulher dos anos 1950.

Parece que a mulher da década de 2010 não tem bem um trabalho definido...
A gente ainda ganha bem menos do que os homens. Mas temos a cobrança igual. E trabalhar fora acabou por afastar as mulheres dos assuntos de casa. Do que fazer pro jantar, repor mantimentos ou finalmente mandar pendurar aqueles quadros que estão há três semanas no chão da sala.

Tem um bando de homem que reclama. Uma vez, o Leo Jaime me falou que as mulheres se acham cheias de direitos, mas que na hora do aperto levantam o cartão de café com leite. E o pior é que é verdade. Quantas vezes eu já não usei meu passe café com leite, mesmo me achando totalmente independente e dona do meu nariz? Usando sempre o argumento de que isso ou aquilo é "coisa de homem". E que por isso eu não precisaria me mexer.

Mas tem horas que eu acho que a validade do cartão de café com leite vai expirar. Quando eu não for mais novinha (ops, nem sou tão novinha assim...), e o meu sorriso não amolecer muitos marmanjos por aí, será que vai ser mole encontrar alguém pra trocar o pneu do carro? Tudo bem que eu sempre dei uns dez real de agradecimento, mas o fato é que, uma vez acionado, não costumo esperar muito pro meu cartão café com leite fazer efeito. Até quando?

Voltando às vacas frias: eu não sei fazer trabalho de mulher, e também não sei fazer trabalho de homem. O que me torna, automaticamente, uma imprestável social. Eu sou muito melhor no meu trabalho do que nas tarefas domésticas. Mas o lance é que meu salário não é lá essas coisas, e nem assumir o papel de provedora da família eu posso.

E sabe o qu é pior? Tenho zero vontade de aprender qualquer tipo de trabalho doméstico.
Que tenha prazo longo o meu cartão café com leite!

Monday, May 16, 2011

Crônicas Visuais do Cotidiano













Estou absolutamente viciada e apaixonada por Instagram. Aquele aplicativo pro Iphone que permite que os usuários compartilhem fotos em formato quadrado, tipo Polaroid, com vários tipos de filtros que deixam as fotos charmosinhas. Graças a esse aplicativo, adquiri a mania de contar a minha vida em imagens e postar para que os meus amigos vejam como anda o meu olhar pro mundo. É como fazer um diário visual.



Quando eu era mais nova, muito antes da era dos celulares com câmeras digitais (quem eu quero enganar? Isso foi muito antes DAS câmeras digitais...), meu sonho era andar com uma câmera na bolsa clicando coisas e pessoas por aí. Até que eu ganhei uma Pentax K1000 - que eu ainda tenho, mas que não funciona - e passei a carregar na bolsa aquela mega pesada máquina fotográfica.



Mas naquela época eu fotografava o mundo. Eu gostava disso. De ficar procurando o melhor ângulo e o melhor enquadramento, e de ficar abrindo ao máximo o diafragma pro fundo ficar desfocado. tenho muitos registros da minha época de faculdade, quando as fotos digitais tinham péssima qualidade e ainda valia a pena fotografar com filmes.



Só que eu não tenho a mínima saudade dessa época. Porque com o meu telefone eu não só fotografo o que eu quero, como compartilho com quem quer ver. E eu gosto de fotografar o Rio. Tem sempre alguma coisa legal pra mostrar, alguma paisagem absurdamente incrível, ou alguma mania, alguma piada interna dos cariocas. O Rio é uma cidade cronicamente viável.



E aí que outro dia eu fui na Feira de São Cristovão, que é um lugar realmente incrível. E lá eu tirei uma foto Instagram, e postei no Facebook, e recebi os comentários por email que eu acessei do celular. A coisa começa e termina pelo meu telefone e é por isso, e por milhões de outras razões que não, eu não tenho a mínima saudade dos meus vinte e poucos anos.


Thursday, May 05, 2011

Um brinde

Copos de vinho me acompanham muito bem quando eu não tenho companhia nenhuma. Muito antigamente, quando eu era jovem e fumava muitos cigarros saborosos, os vinhos eram o combustível que mais combinavam com o jazz que tocava no meu computador. Mas agora que sou uma ex-fumante, bebo vinhos no silêncio. Talvez assim eu ouça melhor o que eu mesma tenha a dizer.

Estou sempre frente a frente com a solidão. Quem acha que casar é derrubar de uma vez por todas a solidão, se engana redondamente. Amar alguém talvez seja o mais solitário dos sentimentos. A questão não é ser ou não ser amado de volta. A questão é o tipo de amor que está sendo construído. E este, eu garanto, nunca vai ser igual ao do outro.

Vinhos solitários enobrecem a alma. E, mesmo assim, eu apostaria todas as minhas garrafas de merlot francês que beber com os amigos é bem mais divertido. Na última vez que entornei um vinho bem mais ou menos com amigas em um boteco de Botafogo, terminamos a noite assistindo ao vídeo da Luisa Marilac e caindo na gargalhada. E hoje eu estou bebendo sozinha e escrevendo no blog.
Deu pra sacar a diferença?

Tuesday, May 03, 2011

1o. de janeiro

Estou vivendo em desacordo com o tempo oficial. Pra mim, outro dia foi 31 de dezembro, e hoje é 1o. de janeiro. Dia da Paz Universal. Porque eu estou em paz universal desde o momento em que decidi que era hora de ter um reveillon fora de época. Eu tive, e feliz ano novo pra você também.

A gente precisa da renovação de vez em quanto. De se matar filosoficamente pra renascer moralmente. Sou absolutamente adepta do suicídio filosófico. E desejo que morram (pra mim, não pra vida) todos aqueles que se apegam a dogmas. Verdades absolutas são inimigas da liberdade, e eu já expliquei aqui que não há nada mais precioso que a sua própria liberdade.

Mas no meu 1o. de janeiro, as renovações estão de pé, e novos contratos são assinados. Carimbados, sacramentados e batizados. Pra mim, agora, começa tudo de novo. Pode ser ingenuidade, mas é assim que eu sou. Uma trintona ingênua.

Wednesday, April 27, 2011

Feliz Ano Novo

Tem vezes que a vida dá uma virada que exige tanto um recomeço que é como se fosse dia 31 de dezembro. Só que sem os fogos. E sem aquela alegria e todas aquelas pessoas de branco em Copacabana. Só que sem os amigos abraçando você, e a música alta de alguma festa, ou o beijo compartilhado com a única pessoa que você gostaria que estivesse ao seu lado naquele momento.

O reveillon fora de época vem acompanhado de tristeza - apesar da certeza de que melhores dias virão. Você faz a virada sozinho, e se tranca por mais umas semanas, até que os dias do seu novo ano não machuquem tanto quanto antes. Você não faz pedidos pro futuro, porque no reveillon fora de época você decide viver um dia de cada vez. Como um ex-alcóolatra, sem pensar muito na frente. Porque quando você pensa lá na frente, você fica sem ar de tanta angústia de nunca masi ter o que você não queria mais.

Sem rosas pra Iemanjá, sem sete pulinhos no mar. Sem calcinha rosa e sutiã amarelo. Prefiro o fim de ano tradicional, mas não tem virada fora de época que não traga onda de novas situações que um dia serão bem vindas.
Ainda não são. Mas serão.

Monday, April 25, 2011

Coragem

É fácil viver ignorando o que o coração manda. Porque muitas vezes o que a gente sabe que é certo é também o caminho mais difícil. E mais doloroso, a princípio. E foi por essas e outras que eu me descobri uma covarde. Coisa que nunca tinha visto em mim antes, carcaterística que eu considerava de gente fraca e de caráter duvidoso.

Pois é, eu faço parte deles também.

E quando você se dá conta de que é covarde, você procurar imediatamente reverter esse quadro. Tentar provar pra você mesmo que sabe o que é melhor, optar pelo caminho certo e não pelo fácil.
Até porque... nada é fácil mesmo.

Hoje eu coloquei um recado pra mim mesma no Gtalk. Eu escrevi "Força", bem embaixo do meu login. Que é pra encarar a grande onda de mudanças que eu vou ter que atravessar.
Por favor, me desejem sorte. Toda ela é bem vinda.

Sunday, April 24, 2011

1 tonelada

Vez ou outra eu e pego pensando em como seria a Clarice Lispector. Será que ela, que era tão densa nos textos, usava a literatura pra tirar o peso do mundo e assim caminhar mais leve? Será que a Clarice descobriu a fórmula pra tornar os dias mais vivíveis e toleráveis?

Não é que eu não goste do mundo. É que às vezes ele fica pesado demais.

É fácil ser uma pessoa alegre, mais fácil do que ser triste. Mas pra ser alguém alegre, divertido, risonho, a gente tem que ter, em primeiro lugar, a liberdade de fazer o que gosta. E eu, por mil razões que não preciso explicar, poucas vezes faço o que gosto de verdade. Tenho horários, obrigações, deveres que me impedem de seguir o primeiro impulso, o impulso do prazer.

Houve uma época em que eu tentei viver assim, seguida pelo impulso. Obviamente, não deu certo. Mas na época foi uma experiência interessante. Em primeiro lugar, totalmente influenciada pelo professor de Antropologia, parei de usar relógio. E comia quando tinha fome, dormia quando tinha sono, e ia embora quando estava chato.
Consegui manter esse ritmo por uma semana. Depois, sempre ansiosa, voltei aos meus ponteiros e à eterna sensação de esperar o próximo minuto. Sempre esperando o futuro.

Será que era pela impossibilidade de seguir o impulso do prazer que as donas de casa dos anos 60 se enchiam de tarja preta?

Às vezes também é difícil definir o que eu quero de verdade.
Por exemplo, agora. Um clássico fim de domingo deprê: chovendo na rua, eu trancada no quarto, meio que gostando da solidão mas, na verdade, angustiada. O que eu queria fazer agora? Encontrar os amigos. Ir ao cinema, talvez. Mas não é nada disso. Eu não quero absolutamente nada.
Eu só quero dormir e esperar que o desassossego passe sozinho.
Uma hora ele sempre passa.

Monday, April 11, 2011

A arte de ouvir pessoas

Eu, que sempre carrego o livro na bolsa, descobri que um livro deve ficar em casa, em cima da mesinha de cabeceira, esperando pela sua vez de ser lido. Ou então deve, no máximo, seguir viagem para a sala de espera mais próxima, e assim me livrar das leituras das caras-quem-contigos da vida. Mas que eu, por ironias de profissão, acabei tendo que dar uma olhada vez ou outra. Fora essas situações, um livro deve ficar aguardando que seja lido em local claro, fresco, quieto e recluso. E todos os outros lugares do mundo são feitos para que a gente ouça as pessoas.

Não sou boa em ouvir conversas alheias. Na verdade, há muitos anos atrás prestei total atenção ao bate papo de um grupo sentado ao meu lado em uma festa. E levei um fora de fazer gosto. Desde então, acostumei a me esconder atrás das páginas mais próximas, minding my own business. Um grande erro pra quem gosta de escrever.

Pessoas na rua têm vida, têm histórias e têm um livro preferido. Na minha arrogância sem medidas, acho logo que o livro preferido das pessoas nas ruas é do Paulo Coelho. Na maioria das vezes, realmente é. Mas outras vezes, não. Sempre tem unzinho pra ser do contra. E eu gosto exatamente desse.

Outro dia peguei uma fila no caixa de uma loja. Estava sem livro na bolsa, mas automaticamente peguei meu telefone para olhar emails, Facebook, Twitter e todo o resto. Foi quando me lembrei de uma dica do escritor que estou adorando no momento (Grant McCreacken, em Chief Culture Officer, que outro dia eu conto sobre o que é). Esse cara sugere que todo mundo tem que sentar em um café com um bloquinho e uma caneta, para ouvir - discretamente - as conversas dos outros. E fazer anotações. E saber do que elas gostam, do que procuram, do que reclamam... Ele diz que a gente tem que fazer isso pelo menos uma vez por semana. Estamos na segunda-feira, e eu ainda não fiz a minha investigação em cafés. Mas vou fazer, e postar um pouquinho da conversa alheia aqui.

Eu gosto de cultura. Não só da cultura erudita, mas também da cultura diária, daquela acessível a todos. Dos hits de funk, dos pagodes. Odeio muito sertanejo universitário, mas confesso que gostaria de ir um dia a uma dessas micaretas de cowboys, onde os sertanejos jovens estão se apresentando. Quem é essa galera que sai de chapéu de boiadeiro na cabeça? Pra mim, é gente de outro mundo. E eu adoro conhecer uns marcianos.

O engraçado é que durante anos frequentei boates em que todo mundo tinha tatuagens e piercings e cabelos roxos, e por isso não acho nem um pouco estranha a galera emo. Mas mostre uma foto de um emo e outra de um cantor sertanejo teen ao primeiro que passar na rua, e vamos ver quem é chamado de marciano.

As pessoas têm julgamentos, e eu quero saber sobre o que são.
De hoje a sexta eu prometo postar um diálogo de desconhecidos. Pra ver se querem dizer alguma coisa. Ou se significam apenas uma conversa, e mais nada.

Tuesday, April 05, 2011

A obrigação de aproveitar o tempo

Há uns dez meses, comprei um iPhone. É um brinquedinho lindo, pra quem gosta de brinquedinhos caros e com design incrível. Mas pra mim, mais do que um brinquedinho moderno, um smartphone era uma necessidade. E já que vamos gastar dinheiro, que seja um dinheiro bem gasto, certo?

Minha entrada no mundo dos smarts inaugurou uma nova categoria de estilo de vida: a de quem não pode perder um minuto do precioso tempo. Eu virei a neurótica do email. Acordo, abro os olhos e, antes de me levantar da cama, checo as minhas mensagens. E sempre tem uma mensagem importante. Isso porque o meu chefe é o rei dos neuróticos do email, e foi graças a ele que eu me convenci de que precisava estar conectada 24h/dia.

A partir daí, veio a contabilização do tempo. Se eu to de bobeira em casa, pego o jornal pra ler. A novela das 20h eu assito porque faz parte do meu trabalho (ainda bem). Mas não há possibilidade de eu ficar olhando pro teto. A não ser que seja pra assistir um episódio gravado de Seinfeld - o que também faz parte do meu trabalho. Resumindo: o tempo é curto e eu preciso me informar.

Graças a deus, eu tenho um trabalho ótimo, e que me diverte bastante. Buscar informação que me faça ficar mais ligada no meu mercado não é encarado como um dever de casa, mas como um divertimento. Eu adoro baixar bandas novas, filmes novos, séries novas. Eu adoro parar pra ver coisa nova. O que eu não gosto, em hipótese nenhuma, é me sentir entediada. Isso é mau humor na certa.

Mas quando eu conto que todo o eu tempo é usado para uma atividade, digamos, informativa, as pessoas me olham como uma louca. Deve ser porque, quando eu falo disso, eu vendo a pauta com o lead errado. Se tem que coisa que eu faço mal na minha vida, profissional ou pessoal, é vender pauta. Aliás, vendas em geral: na faculdade eu vendia bijouterias e sanduíches naturais pra ganhar um extra, e era simplesmente horrível nisso. Acabava eu mesma usando as bijous e comendo os sandubas.

Wednesday, March 30, 2011

Arena Rock

Eu lembro bem quando anunciaram a morte do Freddie Mercury no Jornal Nacional. Era 1991, eu tinha 14 anos e era uma fã incondicional dos movimentos de contra cultura dos anos 60. E aquela era uma época em que se falava em impeachment do Collor, e a TV inventada um movimento que nunca existiu: os caras pintadas. Cara pintada só se for de palhaço - hoje eu penso assim. Mas naquela época eu queria mesmo era estar no meio dos protestos contra a corrupção do governo, mas não podia ir a nenhuma passeata porque... er... meu pai não deixava. Que grande revolucionária!E no momento em que o Jornal Nacional notociou a morte do líder do Queen, eu assisti a matéria com lágrimas nos olhos, e deixei escapar algo do tipo: "Por que ele tem que morrer? Por que o Collor não morre?!" Ah, esse drama adolescente... Eu era uma adolescente dramática. Sou até hoje, né. E aí, diante da minha exclamação, minha madrasta riu um pouco e eu odiei demais aquela risada. E saí em disparada pro quarto, pra poder ouvir um pouco de Queen e chorar em paz a morte do pop star.

Eu acho que essa coisa toda que eu tinha com o Queen vinha de uma lembrança da infância, uma daquelas lembranças que você não tem certeza se sonhou ou se elas aconteceram realmente. Eu lembro de assistir à apresentação do Queen no Rock in Rio 1 pela televisão, eu e a minha mãe animadas com a multidão. A banda tocava Radio Gaga, e todas aquelas milhares de pessoas respondiam com as palminhas ao ritmo da música. Lembro da minha mãe falando "olha só, que legal, todo mundo junto!" E eu acho que foi naquele momento que eu virei uma apaixonada por Queen e por shows de rock em geral. Mas agora eu nem sei por que lembrei disso tudo,. Talvez seja por causa do novo RiR, que eu obviamente não vou. Ou porque os shows são ainda a forma de lazer que mais me lava a alma. Ou porque ouvi Love of My Life outro dia.

Anyway, consegui resgatar no Youtube o vídeo que assisti com a minha mãe há quase trinta anos. E era exatamente como eu me lembrava da cena. Então, pelo menos dessa vez, eu não devo ter sonhado nenhuma memória.

Tuesday, March 29, 2011

Sonhos Estranhos

Uma das reações adversas do meu remédio para parar de fumar era ter sonhos estranhos. A bula exibia o aviso exatamente assim, chamando de "estranho" o que, por definição, é de se estranhar. Eu, pelo menos, nunca conheci quem não fosse contar um sonho e começasse a frase com "Ontem à noite tive um sonho muito estranho..." Alguém já sonhou normal na vida?

E bem que eu comecei a ter realmente muitos sonhos. Mais do que costumava ter. Não eram sonhos ruins, na verdade eles eram muito legais, e parecia que surgiam assim que eu fechava os olhos, e só desligavam quando o despertador tocava na manhã seguinte. Várias vezes pensei em anotar essas histórias pra poder me lembrar mais tarde. Mas obviamente, nunca anotei nada, e hoje só lembro de uma das minha aventuras inconscientes. Eu estava em um mega aquário, que exibia peixes de vários lugares do planeta. O visitante passava por um túnel por dentro do aquário, e conseguia ver os peixes nas paredes, no teto e no chão do lugar. À medida que eu ia caminhando, ia encontrando conhecidos. Parava um pouquinho pra conversar, dava umas risadas, e continuava a visita. Até que, num certo momento, os visitantes podiam entrar no aquário pra nadar com uns peixes fosforecentes e coloridos. Eram uns peixes que pareciam feitos de energia, e eu abraçava os bichos e saía nadando. Eu não precisava parar pra respirar, não sei porquê. Olhava pro lado e via meus conhecidos e meus amigos embaixo d'água, abraçados com seus peixes energéticos e coloridos, nadando pelo aquário. Todos se divertindo.

Contei o sonho pra algumas pessoas, e ouvi sempre a mesma piada: "Onde tem desse remédio pra vender?" Ha ha. Gente engraçada assim não merece uma volta com os meus peixes energéticos.

Notícias Umbiguistas

Lá vou eu no meu blog bissexto, de novo tentar alguma periodicidade. É que nem sempre eu tenho coragem de abrir a página do Blogger no meio da redação, para gastar o meu tempo remunerado com uma atividade que nada tem a ver com trabalho. Aliás, meu blog é o contrário de qualquer obrigatoriedade, regra, dever. Escrevo quanto to a fim, sobre o que quero. E lê quem quer, certo? E comenta quem tem vontade. Mesmo que seja pra falar mal (o que eu acho bizarro, porque o trabalho que dá entrar no blog de uma pessoa que você não gosta, ler um texto inteirinho pra depois deixar um blá blá blá anônimo... Isso é amor, só pode ser!)

É que a urgência de escrever acontece assim mesmo. Vai crescendo uns dias, eu vou ignorando, até que chega uma tarde em que não to fazendo nada de importante, em que não tenho com quem conversar, em que nenhuma ligação me satisfaz. E aí, nasce um post novo. Que não vai falar absolutamente sobre Big Brother, José Alencar recém morto, Maria Bethânia. UFRJ que pegou fogo... No meu blog, a manchete é sobre o mês e pouco que eu já estou sem fumar. E sobre como eu estou psicótica e neurótica em relação ao meu peso, e em como conto calorias e vou à academia todos os dias, e em como continuo achando o meu corpo uma bela porcaria que precisa de uma lipoescultura, mas não tenho coragem nem de encarar a faca nem de optar pela mesa de cirurgia ao invés de, suponhamos, uma viagem a Paris. No meu blog, o umbiguismo da autora é o editorial.

Eu costumo dizer que, pra toda profissão, existe uma certa postura que denuncia a amargura daquela atividade. Os jornalistas são todos encurvados, pode ver. É o peso da cruz nos ombros. Os roteiristas são barrigudos, porque dentro das barrigas mora um reizinho de genialidade que está pra ser parido a qualquer momento. Os diretores são estrábicos de tanto enxergar o mundo pela ponta do nariz. Mas os blogueiros... Eles são o quê? No começo, eles eram uns nerds que gostavam de escrever textos malditos sobre vidas que não conheciam de perto. Mas agora a coisa se popularizou e todo mundo tem um blog. Todo mundo. Os mais espertos definiram um assunto central e seguiram em frente, informando. Eu não tenho vontade de informar ninguém. Só tenho vontade de vomitar. Vai ver, se blogueiro fosse profissão, seriam todos bulímicos.

Thursday, February 03, 2011

Parei de Fumar (ou quase...)

Quem lê esse blog há algum tempo sabe que volta e meia eu estou de mal com o cigarro. Desde os meus vinte e muitos ando nesse vai e vem em relação à nicotina. E, todos os anos, escrevo na minha listinha de ano novo (sim, eu faço uma lista de ano novo de coisas que quero realizar) entra o "parar de fumar"como um dos primeiros tópicos.
E nada de eu conseguir me livrar do cigarro. Eu adoro fumar. É foda isso.

Mas ai, hoje eu fui ao médico pra conseguir um atestado de academia. Ele, obviamente, me perguntou se eu não queria parar. E dessa vez eu disse que... sim. Só pra variar um pouco. Aí ele ficou todo feliz e me receitou um remedinho chamado Champix. E eu, também feliz, me encaminhei à farmácia mais próxima.

A porra do remédio custa R$850!!!! Juro por deus. Não sabia que um remédio podia custar tão caro, e fiquei com aquela cara de idiota na frente do balconista da farmácia. Ele ficou me olhando, esperando a minha reposta, e me dando várias opções de pagamento. Aí eu pensei "ah, foda-se", e comprei logo a deliciosa caixinha, dividida em dez vezes.

Agora é questão de honra e de bolso doído. Esse vício vai ter que acabar. Liguei pro meu pai e pro meu marido pra contar a novidade, porque quero mesmo que os outros me policiem na decisão. E agora to contando pra vocês.
Fiquem de olho.

Monday, January 31, 2011

Parei de beber

Na minha geladeira descansa, semi esquecida, uma garrafa de brut de qualidade duvidosa. Comprei pro natal, mas acabei não abrindo, e hoje ela olha pra mim cada vez que vou pegar qualquer tipo de bebida que seja menos... comemorativa. Já pensei tantas vezes na garrafa gelada à minha espera, mas nenhuma ocasião parece grandiosa o suficiente. As minhas conquistas nunca são vitórias à altura das minhas expectativa.

Tem ideia do que é viver assim? Alguém tem ideia do que é esperar pra realizar algo que, quando chega, você já não dá tanto valor? Eu passo dias, anos, imaginando como seria se... E, de repente, é. E a garrafa de brut continua intocada.

Bruts, espumantes, proseccos e champagnes. Bebidas que são feitas pra gente brindar com amigos, pra abraçar e, quem sabe, usar um vestido longo. O vinho tinto é diferente: dá pra sentar na poltrona da sala, ouvindo Nina Simone, na penumbra. Sem ninguém por perto. Esperando que venha aquela sensação de álcool subindo, aquele formigamento que deixa as partes do corpo indefinidas. Uma técnica sfumato, só que de dentro da fora. Acabei de descobrir: Monalisa estava bebinha quando foi pintada, e Da Vinci era tão genial que conseguiu perceber isso e colocar no retrato dela. Nos cantinhos da boca da Mona.

Vodka é para pistas de dança. Para som alto e estrobo que quase dá convulsões, um desenho do Pikachu proibido para menores. A menos que a vodka esteja misturada com suco de limão. Nesse caso, ela combina com areias brancas e águas claras. Com ostras colhidas na hora e espreguiçadeiras.

Whisky é pra quem não gosta de cerveja. E eu odeio cerveja e chope, mas aceito mesmo assim, quando vou aos Baixos da minha nunca terminada adolescência.

Não sou de bebida, nunca fui. Mas basta que alguém me diga pra dar um tempo, que aquilo se torna a razão da minha vida.
Odeio essa minha nunca terminada adolescência. Às vezes cansa, e me juraram que ela ia acabar um dia. To esperando essa data chegar, junto com a minha garrafa de brut gelada.

Thursday, January 27, 2011

O preço do bom gosto

Deu no Globo on Line: João Gilberto não quer sair do apartamento que aluga no Leblon há 15 anos. Ele paga oito paus por mês pra uma condessa que mora em Paris, e que por alguma razão está sentindo falta do seu cafofo na General Urquiza. E aí o nosso ídolo mandou avisar (notem aqui um toque de desprezo digno de Odete Roitman) que não vai sair de lá. E pronto.
Resultado: recebeu uma intimação fofa pra deixar o imóvel em 15 dias.

Agora, o que me chamou a atenção em tudo isso foi: se o joao Gilberto não tem apartamento próprio no Rio de Janeiro, quando é que eu vou ter o meu?

Pra quem não entendeu ainda, é bom explicar direito: preço de imóvel no Rio é preço de Manhattan, Paris e outros lugares que a gente sempre ouviu falar que são impossíveis de se morar. E não só os preços dos apê são inacreditáveis. Os jantarzinhos, os teatros, os chopes, as roupas, e tudo o mais que faz a nossa existência pós yuppie aturável estão pela hora da morte pra quem, como eu, tem bom gosto mas não tem uma conta bancária que acompanha such a good taste.

Sim, eu to em crise. Porque com o meu salário não dá pra bancar um conjugado fedorento em Copacabana, e eu nem ganho tão mal assim. Não ganho bem, mas ganhar mal, no Brasil, significa ganhar mal-pra-caralho-a-beça. E eu já não me enquadro neste grupo.

Quando eu fui pra Paris, descobri que os franceses vivem muito melhor do que eu... pagando menos. Eles têm melhores restaurentes, melhores opções de mercado, melhores grifes, são magros e têm cabelos lindos. Tenho uma inveja negra das mulheres francesas. Dava pra elas serem menos chiques? Eu me sentia um patinho feito com várias camadas de roupa no meio daqueles sobretudos parisienses.
E, se juntasse o preço das minhas roupas ali, não ficava muito atrás dos sobretudos classudos delas.

Friday, January 14, 2011

À procura de um bom livro

Essa semana fiquei sozinha em casa, na tal solidão que eu reclamei há uns dias que não tinha mais. Pois adivinha só: ao invés de colocar uma música bem alta, ou ler enlouquecidamente, ou finalmente fazer aquela adaptação de um conto meu pra HQ, eu fiquei lamentando que estava sozinha em casa, asssitindo a todos os episódios do Seinfeld que eu conseguia, entendiada e com saudade da casa cheia.

Mas até que eu li um pouquinho. Umas cinco míseras páginas, de um capítulo que eu não consigo terminar, de um livro que não em empolgou (mas o título é ótimo: Trem Noturno para Lisboa).
Depois de me crucificar e achar que eu perdi totalmente o gosto pela leitura, cheguei à conclusão de que o problema não sou eu, é o romance que eu etsou lendo (e que continuo tentando).

Preciso de indicações para um bom livro. Ou de várias indicações. Mas tem que ser leitura soco no estômago, tem que ser pra enlouquecer, pra devorar a história. Pra dar vontade de escrever. Se tem uma coisa que e faz gastar dinheiro é livraria. Eu piro. Não consigo entrar em uma sem sair com uma sacolinha. Mas faz tempo que não acerto na compra, então etsou bem necessidade de uma voz guia, digamos assim.

A vida fica muito chata quando a gente não tem umas páginas pra ler de vez em quando. Algo que não fale de tromba d'água e contagem de corpos.

Thursday, January 13, 2011

E a vida continua

Quase 400 mortos nos alagamentos da região serrana do Rio de Janeiro e eu continuo com vontade de falar de Paris. A vida continua para aqueles que estão longe da tragédia: a gente chora quando vê a imagem da senhora que teve que largar o cachorro na enxurrada para poder se salvar, mas depois sai pra tomar um café e fumar um cigarro e beber um chope com amigos. É o pesar fast food: a gente assiste, chora, desliga a tv e volta a sorrir.

Isso me lembra muito setembro de 2001 em Nova York. Quando eu morava lá e testemunhei o ataque ao World Trade Center, e todos os meus amigos me viram na TV e telefonaram pro meu pai (que estava calmíssimo, sob a justificativa: "se ela está dando entrevistas na TV, ela tá bem". Faz sentido.) Durante uma semana não se falou em outra coisa no mundo; depois o assunto foi esfriando e ganhando menos destaque no Jornal Nacional.

Mas pra mim, o mês seguinte ainda era de muita tristeza, com as ruas tomadas de cartazes de pessoas desaparecidas, de carros abandonados cobertos pela poeira que cobriu NY na destruição das Torres Gêmeas, de flores e velas acesas nas praças em homenagem aos mortos. Nova York era um poço de tristeza, e eu vivi isso intensamente, enquanto o resto do mundo se preparava para a próxima tragédias mundial.

Mas depois que voltei ao Brasil, eu também parei de pensar no 11 de setembro. Até porque nunca consegui contar pra alguém como foi exatamente o dia do ataque.

Hoje não dá pra falar de Paris: são 400 mortos no estado. Mas amanhã, quem sabe, a gente já não amenizou a imagem da senhora que joga o cachorrinho fora?

Tuesday, January 11, 2011

Percorrendo os cafés em Montparnasse

Na minha semana e meia parisiense, desenvolvi uma rotina cara, engordartiva e... deliciosa. Ao final de um dia de passeios turísticos e comprinhas desnecessariamente necessárias (uma forma que faz gelos nos moldes das naves do Space Invaders é imprescindível pra minha vida, digam o que quiserem), eu passava no hotel, deixava as minhas bolsas, e corria pra rua pra comer alguma coisa. Ou algumas coisas. Geralmente, eram umas 7h da noite e eu ainda não havia almoçado. Geralmente, eu estava gelada da cabeça aos pés e precisava de um bom copo de vinho francês. Eu e o namorido avaliávamos as dezenas de cafés nos arredores do nosso hotel e sentávamos naquele que mais tinha cara de... francês. E aí, começava a nossa noite.

Percorríamos pelo menos 3 cafés por noite. Procurávamos não repetir os lugares por onde tínhamos passado na noite anterior - a menos que a fome fosse insuportável demais. E a ordem dos acontecimentos era a seguinte: no primeiro café, a gente pedia um vinho e uma entrada qualquer (queijos, frios, patés). No segundo café, pedíamos mais vinhos e um jantar legal (risotos, bifes, patos). No terceiro café, tomávamos o derradeiro copo, a saideira daquele dia. Às vezes eu optava por uma taça de champagne, mas na maioria das noites ficava com o vin rouge mesmo. E quando a gente voltava pro hotel, passávamos na mercearia em frente e comprávamos mais uma garrafinha, pra beber no quarto.

Toda vez começávamos a noite prometendo não dormir tarde. E toda vez quebrávamos a promessa.

É que eu nasci pra essa vida parisiense. Esse povo gosta de sair, de comer bem, de encontrar amigos pra conversar. Não teve um dia em que não encontrássemos os cafés cheios. É muito comum também que as pessoas saiam sozinhas pra tomar um café, ou um copo de vinho, e fumar um cigarro, sem que sejam encaradas como aberrações solitárias. É normal, só isso.

A rua do hotel era cheia de creperias, que é uma das minhas paixões gastronômicas. Eu queria sempre sentar em um daqueles lugares, mas o marido desanimava, porque queria comer pratos menos conhecidos, mais diversificados. Mas havia uma creperia que tinha sempre, a partir das 17h, uma longa fila de espera. Nessa fila, só tinha francês. Então alguma coisa boa devia estar ali.

Uma noite, depois do nosso percurso de cafés, passamos pela creperia. Ela estava aberta, mas sem fila (já era meia noite), e nós resolvemos entrar. E aí, a cena era a seguinte: apenas uma mesa vaga (a que sreia a nossa), uma velhinha cozinhando, dois rapazes atendendo, e um senhor no caixa. Você abre a porta e dá de cara com uma família francesa dona de uma tradicional creperia de Montparnasse!

Pedimos o crepe e ele veio diferente de qualquer outro crepe que você já deve ter comido. Era naquele estilo de crepe do Le Blé Noir, em Copacabana. Só que muito mais barato (em Paris, se come melhor e mais barato que no Rio, acredite).
Obviamente, eu não sei o nome da creperia. Mas o nome da rua era Rue du Montparnasse.

Se você for a Paris e entrar numa de só comer no Mac Donalds porque é mais barato, por favor, nunca mais dirija a palavra à minha pessoa. Mac Donald não é tão mais barato assim, e lá você consegue comer bem por 9 ou 10 euros. E comer, peloamordedeus, faz parte da viagem. Comer scargot é tipo subir na Torre Eiffel. Você pode nunca mais tocar naquelas conchinhas, mas um dia você tem que provar o prato de lesmas.

Monday, January 10, 2011

Show da Amy Winehouse x 3

Amy Winehouse toca hoje e amanhã no Rio, no HSBC Arena, bem ao lado do meu trabalho. E eu não vou. Acabo de chegar de uma viagem mega cara, to individada até a alma, e optei por não me complicar ainda mais. Mas doi um pouquinho no coração, até porque eu não sei até quando ela vai estar viva pra voltar aqui em outra época. Mas, tudo bem, eu sobrevivo ao trauma. O lance é que todo mundo, em um raio de 50 quilômetros, só fala sobre isso. E aí eu percebi que só eu deixo de ir a um show porque to dura. Tem uma grande parte da galera que dá um jeitinho.

Por exemplo: tenho um casal de amigos de uns 40 anos que vão ao show. Ela é doutoranda, mas ele já fez doutorado. Ela tem carteirinha de estudante, e fez uma hackeada pra ele. Quando comentei que não ia ao show por causa de grana, eles me ofereceram fazer uma carteirinha de estudante. Eu fiquei super sem graça e não topei. Faz tempo que não uso carteirinha falsa, anos mesmo, e sou totalmente contra essa festa da meia entrada. Acho, inclusive, que carteirinha tinha que ser só pra estudante de graduação. Mas obviamente não ia polemizar sobre isso com os meus amigos, porque essa decisão de não pagar meia é muito minha, e nada tem a ver com o resto do mundo.

Daí no mesmo dia, mais tarde, eu li no twitter do Tom Leão que ele só não paga o ingresso de um show quando vai cobrir ou quando é convidado. E que ele não ia cobrir o show da Amy, então ele teria que comprar, ou não iria, não lembro bem o desfecho. O lance é que aquilo me surpreendeu, porque se tem um cara que eu achava que não pagava pra nada, era ele. Primeiro porque ele escreve sobre música no Globo há anos, e aqui no Rio ele é um dos jornalistas musicais mais importantes. Segundo porque já é hábito dos jornalistas ligar pedindo um convitinho. Juro, todo mundo faz isso. Menos, é claro, eu. Não que eu seja melhor que ninguém. É porque fico com vergonha mesmo. Mas não se engane, porque se outra pessoa pede um convite e me oferece, eu aceito de bom grado. Ou seja: eu não faço o serviço sujo, mas mando fazer.

Essa história do Tom Leão me lembrou uma situação que presenciei no trabalho outro dia. Um repórter bem jovem do programa onde estou trabalhando temporariamente ligou pra assessora do HSBC pra pedir um ingresso. Isso me chamou atenção porque ele fez isso com tanta naturalidade, que eu fiquei me achando uma idiota por não fazer o mesmo. Será que é mesmo mal pedir pra entrar de graça? As assessorias já têm uma cota pros jornalistas - aliás, é assim que elas trocam favores com repórteres, produtores de reportagem, etc. Eles fazem um favorzinho de lá e a gente faz um favorzinho aqui. Mas é tudo muito... esquisito, não? Ou eu estou sendo puritana demais?

Não sei, mas o fato é que eu não vou ao show, e isso está ficando recorrente demais, essa coisa de perder eventos. Deve fazer parte da vida de casada. Mas, também, é tudo uma questão de prioridade. Troquei meu ingresso da Amy Winehouse por algumas taças de vinho em Paris. Por enquanto eu acho que estou ganhando na troca. Quando eu achar que to perdendo, eu mudo o jogo - mas pagando inteira.

Friday, January 07, 2011

O primeiro dia do ano

Onde você estava no dia 1/1/11? Nunca tinha escrito essa data, e agora que escrevi e visualizei todos esses números 1 reunidos parecem uma coisa, assim, da Cabala. Mas então, no dia 1o. eu estava no segundo andar da Torre Eiffel. E a primeira paisagem que vi no ano foi Paris de cima.

Um belo começo. Vou pular os detalhes mundanos de que subir na Torre Eiffel é um puta de um programa de índio, que você pega uma fila enorme e demorada, e que passa um frio tremendo (caso você, como eu, resolva visitar Paris no inverno mais frio da última década). Vou pular tudo isso e manter o glamour, porque a verdade é que se você nunca foi a Paris e pretende ir um dia, nesse dia você vai se sentir na obrigação de subir na Torre Eiffel. Faz parte da rotina de turista essa vida de corno.

Pra você que ainda não foi, uma dica: compre o passe no site da torre um dia antes e pegue uma fila muuuito menor. Eu não fiz isso, é claro. Mas acho esperto qualquer um que seja mais organizado do que eu.

Se você nunca foi à Paris, vá à Torre Eiffel, fiquei maravilhado com a vista e prometa a si mesmo nunca mais passar esse perrengue de novo.

Eu já tinha ido a Paris. Mas essa é uma cidade que a gente nunca cansa de voltar. Eu ainda carrego aquele clima de viagem pra Europa (e olha que eu passei dos 2 graus para os 30 graus em 10 horas de vôo). Dessa vez, a minha viagem foi totalmente gastronômica e boêmia: passei os dias (as noites) indo a cafés, bebendo vinhos incríveis e baratíssimos, comendo queijos e entradas e, óbvio, engordando. Liguei o foda-se e me joguei na comida francesa, comi mariscos, ostras, bifes, risotos, bombas de chocolate, pan au chocolat, chocolate quente, e tudo o mais que passava na minha frente e que paercida gostoso. E, acredite, em Paris, o que parece gostoso, é gostoso de verdade.

No primeiro dia do ano, depois da visita à torre e do frio, e de mais um chocolate quente, e de mais uma porção de castanhas na brasa (além de ser uma delícia dá uma quenturinha por dentro), andei por todo o meu bairro - Montparnasse - fotografando os cafés que mais frequentei nos últimos 9 dias, fotografando a avenida, a estação do metrô e me despedindo (temporariamente) daquela vida.

O primeiro dia do ano foi o meu último dia de viagem. Mas de alguma maneira foi um outro começo também.

Thursday, January 06, 2011

Feliz ano totalmente e absolutamente novo

Andei bastante tempo sumida desse blog, até que no mês passado aconteceu uma coisa engraçada: comecei a receber comentários elogiando o blog e pedindo que ele voltasse à ativa. Alguns desses comentários foram de amigos, outros foram de estranhos. E eu adoro quando estranhos comentam e elogiam o blog. Eu sou vaidosa, egotripeira e, enfim, agradeço os elogios sem constrangimentos algum!

(Parênteses filosófico: isso de aceitar elogios com naturalidade só acontece na web. Na vida real, fico totalmente sem graça com qualquer palavra benéfica vinda de outrem. Menos no trabalho, porque aí eu acho que o elogio é merecido, porque eu ralo pra caramba mesmo).

Mas sumi porque casei´. É a mais pura verdade. Quando a gente é solteira, chega em casa e fica sozinha. Eu costumava tomar um copo de vinho comendo meu luxuoso jantar de queijo quente, e me sentava ao computador. No segundo copo, já me sentia mais levinha, e no terceiro os textos saíam sensacionais. Produção em massa. Mas quando você vai morar com alguém, você conversa, dá atenção, quer contar o que rolou, quer saber o que rolou com ele. Tem um milhão de coisas pra falar naquele espaço de tempo entre a chegada do trabalho e a hora de dormir.

E aí... não leio como antes, não escrevo como antes. Essas são atividades que necessitam de solidão. E quando eu me vejo sozinha eu nao aproveito, porque fico perdida com o excesso de tempo só meu. Muito louco isso?

Mas o importante é que o ano chegou, e eu to botando muita fé em 2011. Com vontade de fazer acontecer mil coisas. Fico louca quando não etsou fazendo nada, quero sempre aproveitar cada minutinho, pensar sobre o que escrever e o que fazer, pensar em projetos, me tornar uma pessoa audiovisual (daquelas que eu tanto falava mal na faculdade).