Wednesday, October 28, 2009

Faça a coisa certa

Sofro da Síndrome da Helena do Manoel Carlos: tenho a mania de querer fazer tudo bem certinho. De ser correta e ética em todos os momentos da minha vida. De trazer o bem, de fazer crescer, de ser uma pessoa quase iluminada. Mas acontece que tenho comigo uma certa dose de maldade que não me abandona.

Não é tão fácil nem tão óbvio assim fazer a coisa certa. Às vezes a gente sabe o que é certo, mas finge que não tá entendendo e acaba caindo pro errado só pela diversão.

Eu sofro com isso. Eu me culpo por escolher a diversão e não a perfeição. Até porque correr atrás da perfeição, além de inútil, é frustrante. Mas eu me culpo. E carrego uma grande cruz por ser somente mais um ser humano no mundo. Nasci pra ser milionária, mas me fizeram jornalista. Nasci pra ser Joana D'Arc, mas me fizeram Bruna Paixão. Um ser pequeno e mesquinho como qualquer outro ali da esquina. Um ser demasiadamente humano que não veio agradeciado com aquela estrela dos homens incríveis.

Saturday, October 24, 2009

Dostoiévski

Redescobri meu escritor preferido. Foi um dia em que eu andava pela Avenida Paulista, e vi vendendo em uma banca de jornal alguns dos livros do melhor escritor de todos os tempos. Eu já tinha comprado dois livros no aeroporto do Rio, mas não resisti e acabei embolsando mais um. Dost é Dost. Não há comparação.

Comprei Notas do Submundo, um livro de contos que deu origem à Crime e Castigo, o mais maravilhoso (e perigoso) romance já escrito. É um livro bem fininho, pequenininho, mas intenso. A cada frase lida, dá vontade de reler, só pra fixar melhor o que o cara quis dizer. Dá vontade de decorar o livro pra ver se eu me torno uma pessoa menos medíocre. E, quando você termina uma página, tem a sensação de que ele levou um ano pra escrevê-la, tamanha a profundidade que o pensamento do Dost alcança. Dostoiévski é um tesão.

Com tanta coisa a dizer e tanto sendo pensado, eu juro que fiquei imaginando como era a vida dele com a mulher. Como é sentar com Dostoiévski no café da manhã, discutir para onde vão no fim de semana, preparar um jantar para os amigos. Como é trepar com Dostoiévski, pelo amor de deus? Será que ele era sempre assim, incrivelmente intenso? Será que ele tinha sempre algo indefinivelmente necessário a ser dito?

Como todos os outros gênios, ele devia sofrer. Eu admiro que escolhe o caminho do sofrimento em nome da arte. Eu não conseguiria. Nem ninguém que eu conheço. Todos os que me rodeiam, até os mais inteligentes, parecem filhotes de subpensadores quando comparados aos grandes nomes. Houve um tempo em que eu queria ser assim, grande também. Em que eu lia Clarice Lispector aos montes, e sofria, e achava que sorrir era para palhaços ou para ocasiões extremamente necessárias. Mas depois vi que não dava pra viver assim: mesmo que eu me tornasse a pessoa que menos sorria no mundo, nunca seria Clarice Lispector. Muito menos Dost. Quem sabe, forçando uma barra, eu chegava num Paulo Freire...

Mas também não importa. Eu estou aqui pra ler todos eles, sem acreditar como alguém pode ter ecsrito aquilo. Estou aqui pra perguntar na rua onde as pessoas gostam de fazer sexo. E pra tomar chopes e fazer viagens no fim do ano, que continuo pagando ano adentro.
E você acha que tá ruim assim?
Não. Tá ótimo!

Wednesday, October 21, 2009

Não há admiração mais deliciosa que a do inimigo

Mais um texto em que o título não é meu. Dessa vez, a frase é de Nelson Rodrigues. Essa frase tem uma certa verdade maldade irresistível. Porque todos nós somos um pouco maus. Não importa o quanto a gente lute contra isso.

As pessoas que me odeiam me deixam muito intrigada. Porque eu acho que ter um inimigo é o mesmo que ter um admirador. Como Nelson Rodrigues disse, é uma admiração raivosa da parte do outro. É acreditar que seu desafeto é mais que você. E que merece a sua atenção. É lisonjeiro ter inimigos.

Eu não odeio ninguém. No máximo, classifico um desafeto como "chato". Mas querer mal, querer ver sofrer, isso eu não desejo pra ninguém. A não ser, é claro, que alguém faça mal a uma pessoa que eu ame. Aí viro um bicho cheio de garras e dentes arreganhados.

Mas é claro que tenho inimigos. Uns velados, outros de cara limpa, e esses eu respeito mais. O que eu não entendo é por que a minha vida pode despertar inveja, raiva, violência. Não sou rica, não sou famosa, não sou magra como gostaria de ser. Os meus cabelos são esticados e pintados, ganho menos do que eu acho que merecia ganhar. Tenho um namorado inteligente e com quem me divirto bastante, muitos amigos e uma família legal, é verdade. Mas isso é suficiente para incomodar alguém?

Não gosto de algumas pessoas. Não sou obrigada a gostar de todo mundo; ninguém é. Mas pra esses eu só dirijo um leve desprezo. E não deixo que participem da minha vida. Pra mim, basta uma vez pra que eu risque alguém do meu caderninho. Continuo me surpreendendo com gente que gasta tempo pensando em como me atingir. Fico assustada e... vaidosa.

Sunday, October 11, 2009

Vestido de noiva

Hoje sonhei que ganhava um vestido de noiva de uma grande amiga que não vejo há muito tempo. Ela mora na Austrália, mas no meu sonho vinha visitar o Brasil e trazia na mala vários vestidos de noiva para presentear as amigas. Fiquei feliz ao ganhar o meu vestido, mas achei estranho ser presenteada com um tipo de roupa tão específico. "Que que eu vou fazer com isso?" - eu pensei. Mas vesti o presente mesmo assim.

Pra minha surpresa, o vestido já era usado. E, mais do que isso, ele já estava todo rasgado e remendado, velho demais pra mim. A noiva que tinha usado o vestido antes havia casado grávida, e por isso sobrava um bom pedaço de tecido na minha barriga. Enfim, o vestido era um desastre, e no sonho eu só pude me lamentar e guardar o presente sabendo que ele nunca seria usado.

Só à noite fui me dar conta do que significava esse sonho. Até o fato de a minha amiga ter aparecido acompanhada de um homem lindo e louro, e não o pai de seu filho, fez-se claro pra mim. Achei engraçado entender tudo de uma só vez, como uma pancada na cabeça. Mas o significado vai ficar só pra mim. Os curiosos que tirem as suas conclusões.

Saturday, October 10, 2009

São Paulo

Que delícia que é voltar à terra da garoa. Eu adoro São Paulo. Eu gasto muito dinheiro em São Paulo. Eu invariavelmente engordo em São paulo, porque aqui come-se bem e barato (e caríssimo também, se você preferir) todos o tipos de comida.

Hoje foi um dia de comilanças. Mal cheguei e fui me empanturrar de hambúrguer no Fifities, daqueles que a gente mal consegue segurar de tão grande. Depois fui dar uma volta no shopping, mas sem gastar um centavo - ainda pago as contas da minha última visita a essa cidade (inclusive o celular, que apareceu com uma fatura tão alta que eu tive que parcelar, que vergonha!).

Pela próxima semana esse hotel da Consolação vai ser a minha casa. Mas eu estou em casa mesmo: viveria facilmente em um hotel quatro estrelas, principalmente em um bairro como esse, cercada de amigos que revejo em momentos bissextos.

Thursday, October 08, 2009

Hamster Hamlet

Se eu tivesse um hamster, ele se chamaria Hamlet. Eu o colacaria numa daquelas gaiola de roedores com água, comida e uma roda pra ele se exercitar E se exercitando, o meu hamster ficaria filosofando: correndo no mesmo lugar e pensando sobre temas subprofundos - Ser ou não ser, heis a questão.
Não há nada que me defina melhor do que um roedor que corre no mesmo lugar e pensa sobre as dores do mundo.

Minha monografa foi sobre Hamlet. Eu descobri Shakespeare na segunda metade da faculdade, e passei a consumir avidamente todos aqueles livros de bolso que são vendidos em bancas de jornal. E me apaixonei por Hamlet. Atormentado, sombrio, triste, vingativo, rancoroso, belicoso príncipe da Dinamarca. E que odiava as mulheres. Acho que Hamlet era gay.

Minha primeira idéia foi falar sobre a visão das mulheres nas obras de Shakespeare. Depois mudei: resolvi escrever sobre as versões cinematográfias da história de Hamlet - tema que, além de pomposo, tinha tudo pra dar errado. E deu. Tirei uma nota bem aquém da que gostaria de ter tirado (queria dez, é claro), e me frustei com meu professor orientador, que mais me desonrientava que ajudava.

Mas não dá pra culpar o professor. Eu quis dar um passo maior do que as pernas, talvez, e o resultado foi medíocre. O lado bom é que conheci intimimante um dos mais importantes clássicos da humanidade.

Agora, gosto de imaginar o meu hamster atormentado. Querendo se livrar da stuação que ele mesmo criou, mas sem conseguir sair do lugar. Se eu tivesse um roedor de estimação, ele seria assim. Mas não tenho paciência para animais que não me dão carinho.

Wednesday, October 07, 2009

Trens

Hoje sonhei que estava indo de trem para o Alasca. Era um trem bala e eu viajava com uma família que mal conhecia. Nesse trem encontrei meu ex-namorado, mas ele não ia para o mesmo lugar que eu. Na verdade, ele falava ao telefone com a namorada nova, e por isso o nosso encontro foi rápido e meio tenso. Mas não fiquei triste: quando me dei conta já estava no Alasca, observando a paisagem que parecida editada diretamente do filme Na Natureza Selvagem.

Eu sei por que sonhei com esse trem. No livro que estou lendo há uma cena de desencontro que acontece no Eurostar. Acho que fiquei com essa cena na cabeça, porque é tão triste e tão "quase dá certo, mas na verdade dá errado", que me fez pensar sobre pequenos desencontros que podem acabar com sentimentos verdadeiros.

E também me lembrei da viagem que fiz de Barcelona e Granada. Foram 11 horas de trajeto cruzando a Espanha em um trem convencional, com curtas paradas para fumantes inveterados (como eu), e paisagens inesquecíveis. Foi um dos momentos mais especiais na minha viagem de fim de ano, um oásis no meio da loucura daqueles dias.

Da janela do trem, eu vi La Mancha. Vi os três moinhos em cima da colina, o chão verdinho apesar do inverno rigoroso, as hélices girando. Passei por inúmeras cidades minúsculas guardadas por um castelo medieval pousado em cima do morro. Passei por neve, neve e mais neve, e quando o trem parou, peguei um montinho e comi como se fosse sorvete.

Alguma coisa diferente acontece com a paisagem quando a gente a observa de dentro de um trem. Não sei se é a suavidade da viagem que deixa tudo mais poético, ou se passamos no meio de campos por onde carros nunca passariam. Mas é apaziguador e belo. E me faz bem até em sonhos.

Tuesday, October 06, 2009

Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.

A frase é da Clarice Lispector. Outro dia eu li e fiquei pensando sobre isso. Que a gente é livre pra fazer o que quer, mas na verdade somos prisioneiros de nós mesmos. Eu me senti prisioneira de mim por um longo tempo, até entender que eu era a única responsável por fazer as coisas darem certo. Cada um é seu próprio deus, e tem controle absoluto sobre o que acontece nos seus dias. Parece óbvio, mas na prática é difícil se livrar de padrões. Eu estou lutando pra isso.

Hoje gravei um povo fala sobre traição. E fiquei surpresa de ver o quanto as pessoas estão dispostas a perdoar. Inclusive os homens. Isso porque a grande maioria acredita que a traição é inevitável. Ela faz parte do amor. O perdão não está lá porque as pessoas estão se tornando melhores e mais compreensivas umas com as outras. Ele existe porque a maioria acredita que sem ele o amor se torna impossível. Vai haver traição. E, para o amor poder continuar, deve haver perdão.

Eu nunca estive disposta a perdoar uma traição. Não sou o tipo que pensa que as outras são menos importantes que eu, porque eu sou a oficial. Eu busco a fidelidade porque eu dou fidelidade e lealdade. Quero o mesmo respeito de volta. Eu mereço isso.

Aí entra essa história da liberdade. A liberdade pode ser dolorosa, porque nela existe a possibilidade de abandonar o amor que traiu. Quando não há liberdade, já está tudo resolvido: aceita-se a traição porque não há outro jeito, e aquela ferida fica ali por baixo ferindo sempre, até que a gente acostuma com ela.

Mas eu escolhi ser livre, e escolhi todos os caminhos tortuosos por onde ela me leva. A liberdade dói. Mas eu estou pronta pra essa dor.

Monday, October 05, 2009

A última noite

Assim decidiram que seria a sua última noite. Deitaram abraçados, as pernas entrelaçadas, o mais apertado que conseguiram. Não fizeram amor, só se olharam calados por longuíssimos minutos. Depois se beijaram e disseram que se amavam, disseram que eram um do outro, sem lamentações. No meio da noite ele acordou tossindo; ela se levantou e preparou uma colher de mel com limão como a vó fazia pra ela quando era criança. "Não sei se adianta, mas o gosto é bom." E ele concordou. Acordaram várias vezes e se enroscaram mais, com medo de chegar o dia seguinte. Mas o dia seguinte chegou, inevitável. Ela se levantou cedo, escovou os dentes, penteou o cabelo, e deu um beijo no rosto dele. Ele continuou calado, e ela saiu do quarto deixando pra trás o amor que não deu certo.

Thursday, October 01, 2009

Entre muitos

Tem gente que veio ao mundo preparada pra casar, ter filhos, constituir família. Assim, tudo certinho, um depois do outro. Eu não. Houve uma época em que eu achei que era um desses seres humanos pré-destinados ao núcleo familiar. Com o passar do tempo ficou muito claro que o que funciona pra mim é ficar sozinha. É ter uns 3 ou 4 grupos de amigos diferentes. É sair do trabalho às 10 da noite muito satisfeita com o fato de ter trabalhado até tarde. É viajar no fim do ano. É morar em outra cidade quando estiver a fim de morar em outra cidade. É dividir o apartamento com duas amigas, apesar do único banheiro. É tomar vinho com essas mesmas amigas enquanto assitimos novela das oito. É ficar feliz em passar uma semana trabalhando em São Paulo porque tem um milhão de amigos lá que eu não vejo há quinhentos anos.
Eu tenho muito o que fazer sozinha. Aliás, eu adoro estar sozinha.

Só que eu também gosto de me apaixonar. Estou sempre apaixonada por alguém. No momento, estou apaixonada. Até no nome carrego a cruz da paixão. Seria um problema se não fosse tão bom. É um vício.

Mas nenhum dos namorados que tive entendeu direito esse frenesi da minha vida social. Uns foram mais adaptáveis, e toparam mesclar seus amigos com os meus. Outros foram durões e não admitiram essa orgia de grupos de lugares diferentes. É difícil de entender mesmo. Tenho os amigos do colégio, os amigos da faculdade, os amigos do trabalho, os amigos dos amigos que também viraram meus amigos. Pra quem não tem saco de conhecer gente nova, realmente é chato. Eu entendo. Mas continuo gostando de sair na rua e encontrar conhecidos em tudo quanto é canto.

Na minha profissão, conhecer muita gente é um plus. Os personagens que consigo pras matérias que produzo vêm de infindávies telefonemas e emails e mensagens no Facebook. E eu sempre acho o que procuro, não importa o quão estranho seja a encomenda. Tem gente de todo tipo no mundo.

Mas não é só isso. Eu enjôo das pessoas muito fácil. Preciso ter essa possibilidade de circular entre vários mundos, ou fico entediada. Por isso, faço um rodízio de chopes. E assim tem funcionado bem.