Friday, February 26, 2010

Foda-se o "como"

Sou absolutamente obcecada por Lost. Por isso, quando anunciaram que essa seria a última temporada, baixei ansiosa o primeiro e segundo episódios, esperando as respostas de todos os mistérios. Eu pensei: agora eles vão ter que explicar como a fumaça preta existe. Agora eles vão ter que arrumar explicações plausíveis de como as pessoas que não andam passam a andar na ilha, e de como os mortos voltam toda hora pra dar recados, e de onde vêm todos aqueles templos perdidos na mata. Quero ver como esses roteiristas vão sair dessa.

Já nos primeiros episódios deu pra sacar que nenhuma das minhas questões seria respondida. Ao menos, que não seriam respondidas com seriedade. A fumaça preta existe e pronto. Não importa o "como". Isso é menos importante no decorrer dos acontecimentos. Os mortos voltam porque eles voltam, e é assim que é. Acostume-se a isso.

No jornalismo, existem as cinco perguntas que toda reportagem deve responder: os famosos quem, quando, onde, como e por quê. Nas histórias de ficção, a regra deveria ser bem parecida, porque assim a coisa toda vez sentido, e quem assiste "acredita" naquilo que está vendo. Bem, parece que os roteiristas de Lost estão cagando para o fato de os espectadores estarem ou não comprando a história que eles estão contando. E o mais engraçado é que, quanto mais absurdo, mais a gente assiste. No True Blood é a mesma coisa. Em um mundo em que existem vampiros, lobisomens e bruxas, tudo é possível.

Então por que a gente continua vendo e baixando loucamente todas essas séries? Nem dá vontade de esperar chegar ao Brasil: é só ser exibido nos Estados Unidos que eu já to fazendo o download, em inglês mesmo. A gente compra o absurdo por mais absurdo que ele seja. Mas eu juro que queria saber como eles conseguem isso.

Tenho medo do final da série. Medo de eles chutarem o balde no final, cansados de tantos anos de mistério, e de repente arrumarem umas razões muito meia bomba pra tudo aquilo que aconteceu em cinco anos. Volta e meia a gente vê bons filmes com finais lamentáveis. Tomara que eles, os autores, não estejam tão chafurdados nos seus milhões que não tenham tempo pra pensar em como dar um fim digno à sua mina de ouro. Porque eles podem se foder pro "como", mas a gente não pode se fuder junto não.

Monday, February 22, 2010

Enquanto as horas passam

Deixa eu contar uma verdade sobre trabalhar em casa: a menos que você já faça isso há muitos anos e já esteja esquematizada pra que a coisa role devidamente, você simplesmente não trabalha. Hoje acordei, fiz compras, trabalhei um pouquinho, dobrei a roupa do varal (mas não passei por preguiça), fiz meu almoço, comi almoço assistindo TV, lavei a louça do almoço, bati papo com o filho do meu marido, guardei as compras quando o entregador do Pão de Açúcar chegou, tomei dois copos de suco, cozinhei batatas pro jantar e só então sentei de novo na frente do computador. E aí já eram 5h.

Enquanto fico em casa sozinha, fumo muitos cigarros e atualizo de quando em quando o meu twitter. Tudo para me enganar, para que eu não pegue na labuta. O Extremamente alto, Incrivelmente perto que eu peguei pra ler de novo - porque não há nada melhor pra ler na minha casa cheia de livros - ainda está jogado no sofá. Esqueci de dizer que assisti um episódio da primeira temporada de Barrados no Baile, e escrevi no meu blog de palpites.

Aaaaiii, como eu quero que chegue logo o momento de eu voltar a trabalhar loucamente. Não fui feita pra ficar esperando as horas passarem. Tenho sono. E pressa.

Sunday, February 14, 2010

Sobre a virada dos 30

Fico passada com gente na faixa dos 40 anos que demonstra insegurança adolescente. Eu achava que quando alguém chegasse a essa etapa, a vida já tinha tratado de ensinar algumas coisinhas - e uma delas seria como lidar com a baixa auto estima. Ou como organizar melhor a impulsividade. Ou como não fazer intriga. Então, toda vez que encontro alguém de 40 e poucos que me parece que ainda não aprendeu porra nenhuma do mundo, fico pedindo baixinho pra que eu, pelo menos, não chegue lá da mesma maneira. É a minha meta de vida, mais que ser promovida, ou comprar um apartamento. Que eu não vire uma quarentona adolescente!

Mas como eu disse, as coisas não são exatamente como eu imaginava. Quando tinha 20 e poucos, achava também que aos 30 eu seria uma pessoa completamente diferente. Bem resolvida, mais paciente - mais sábia, digamos assim. Que decepção foi perceber que, na verdade, a minha paciência diminuiu deveras dos 20 e poucos pra cá. Às vezes eu penso que devoluí.

Eu também vejo a falta de paciência nas minhas amigas de trinta e poucos. Talvez isso aconteça justamente porque a gente passa os 20 anos fazendo um monte de merda, e depois, quando chega aos 30, não quer repetir tudo de novo. Quantas vezes já ouvi por aí: "vacilou uma vez, então esquece", como se ninguém fosse inocente por errar uma vez! Sou adepta do sistema das 3 chances: um vacilo, ok; dois vacilos, humm; três vacilos, beijo e não me liga.
Mas as meninas balzacas não estão tão dispostas a deixar pra lá o primeiro erro.

Pode ser que isso aconteça justamente porque a gente se acha mais malandra aos 30, mais vivida, e pronta a reconhecer comportamentos repetidos. O que nos torna umas verdadeiras biches, quando você olha mais de perto. Ou então é o relógio biológico mesmo, que fica gritando enfurecidamente que a gente não tem tempo pra besteira.

A verdade é que a sabedoria não vem de graça com a idade, como eu achava quando era mais nova. Essa coisa de amadurecer dói pra caralho, tem que dar um duro danado, e não é só porque a gente ganha uns pés de galinha e umas celulites que automaticamente passamos a entender melhor os outros. Ou a lidar melhor com os loucos.
Eu acho que o foda mesmo é perceber que nada vem de graça, e que agora é hora de correr atrás do seu próprio aprendizado, e fazer todos os esforços pra isso. Pelo menos eu já saquei como funciona a brincadeira. Agora tá na hora de começar a crescer.

Friday, February 12, 2010

Sabe quando?

Sabe quando você apaga e reescreve o começo de uma carta por que na verdade não tem coragem de dizer o que está dentro de você?
Sabe quando você percorre sozinha por mil caminhos conhecidos e se sente ainda mais sozinha quando está acompanhada?
Sabe quando você explica algo a alguém e o seu ouvinte parece não entender absolutamente nada do que você disse?
Pois é.

Essa mulher que eu vou contar a história chegou em uma festa e, olhando ao redor, descobriu que não tinha absolutamente ninguém com quem conversar.
Primeiro tentou ficar sozinha, mas parecia que todos os seus movimentos eram filmados pelos outros. Depois tentou puxar assunto, mas descobriu que tinha pouco interesse no que lhe diziam. E aí, sem muita alternativa, foi pegar um drink no bar.

Como é mágico o efeito do álcool. Ficamos fluentes em línguas que mal sabemos falar. Nos tornamos especialistas em assuntos que não dominamos e passamos a ter certeza absoluta de que somos indispensáveis para a festa.
Essa mulher de quem eu falo, em pouco tempo, circulava pelos grupos que antes ela tinha rejeitado.

Sabe quando o mundo gira muito rápido, e de uma maneira muito irônica?

As doses vão aumentando, assim como o incômodo que ela tentava sufocar. O incômodo estava sempre lá. A raiva. Essa mulher de quem eu falo é um poço de ressentimento, e ela sabe disso. Ela pensava em ir embora, mas sabia que não conseguiria ir à francesa. Ela olhava pra porta, juntava suas coisas, mas não saía do lugar.

Sabe quando isso acontece?

Wednesday, February 03, 2010

Encaixotando Bruna

Meus 32 anos podem ser resumidos em sete caixas de papelão tamanho médio. Passei o dia juntando, arrumando e fechando com fita adesiva todo o meu tesouro, que basicamente se resume a livros, CDs e pequenos souvenirs de pessoas e lugares. Encontrei a carta que a minha avó escreveu quando me formei em jornalismo e tive vontade de chorar. E outra mega carta que escrevi aos 15 anos para a minha melhor amiga, uma colagem de slogans recortados da revista Capricho, que na época eu assinava. Anos depois, essa amiga me devolveu a carta para que eu relesse e guardasse as nossas histórias ingênuas de adolescentes. Guardei. Não tenho coragem de jogar fora tantos papéis inúteis que só servem pra contar a minha história.

Mas muita coisa foi pro lixo. Pilhas de VHS. Minha matéria de faculdade sobre as festas After Ours, que "começavam às 4h da manhã e iam até depois do sol raiar"- dizia o texto do off. Essa ficou. Também ficaram os filmes Super 8 do meu primeiro aniversário, e do casamento dos meus pais. E as cartas de amigos e parentes, e alguns presentinhos de ex namorados.

Cheguei a considerar jogar fora essas lembranças de amores passados. Um snowglobe com um ursinho segurando um coração onde se lê "Eu te amo" em alemão. Aquilo não faz mais o mínimo sentido: o menino que me deu isso de presente já casou, e eu também estou casando. Nossos ursinhos segurando corações são para outras pessoas agora. Mas... não tive coragem. Eu também sou esse ursinho esquecido. Então o snowglobe voltou para a caixa de lembranças de onde não sai há muitos anos. Pobrezinho, faz tempo que não vê a luz do sol.

E todas aquelas credenciais de imprensa. Por que todo jornalista gosta de guardar as credenciais de imprensa dos eventos que cobre? Parece uma espécie de prêmio, uma medalha. A minha mais importante é a do tapete vermelho da última turnê do Michael Jackson, quando eu morava em Nova York, em 2001. Mas também tem a do Rio Parede, que eu e Ana Paula conseguimos. Não estávamos trabalhando, é óbvio. Mas subimos nos trio elétricos ao lados de nossos amigos DJs e vimos o povo dançar pela Avenida Rio Branco abaixo. E também dançamos muito. Eu sempre soube me divertir como ninguém.

Agora tudo isso está guardado em sete caixas médias, esperando para se acomodarem no apartamento novo. Não sei onde vou arrumar espaço pra tudo isso. Mas vou arrumar. O meu tesouro precisa continuar comigo. Mesmo que esteja enterrado e semi esquecido.