Monday, January 28, 2008

Liberdade, Liberdade

Talvez o lugar que eu mais goste em São Paulo seja o bairro da Liberdade. Nem sempre consigo passear por lá, mas quando vou, é satisfação garantida. Como boa turista, adoro as luminárias japonesas na rua. Me encanto com aqueles restaurantes que se escondem em portinhas despretenciosas. Gasto todo o meu suado salário em quinquilharias e balas da terra do sol nascente. Como sushi. Como tempura. Como shiitake. Como muito.

E bebo saquê, é claro.

Dessa vez, fui com o Japanimation me guiando pelas ruas orientais. Era festa de ano novo chinês, e as pessoas usavam aquele chapéu que parece uma casinha de madeira (que, que eu saiba, é do Vietnã, mas tudo bem). Enquanto almoçava muitos suhis e sashimis variados, vi um leão chinês passando pela rua, carregando aquela cabeçorra da fantasia debaixo do braço. O Japanimation me mostrava vários tipos de temperos orientais, e explicava qual era o nome deles e pra que eles serviam. E eu fotografava as embalagens coloridas e carregava a minha sacola cheia de compras absolutamente desnecessárias mas que, como sempre, me divertiram.

"Sábado foi um dia colorido", ele disse pra mim, mais tarde.
Até mesmo as tardes cinzentas de São Paulo ficam mais alegres quando se passeia pela Liberdade.

Thursday, January 24, 2008

10 lições sobre namoro à distância

1 - Comece a considerar a distância um mero detalhe no seu relacionamento, e repita como um mantra: "Imagina, São Paulo é logo ali".
2 - Engula todas as vezes em que você discursou sobre a impossibilidade de manter um namoro em cidades diferentes.
3 - Skype e internet banda larga passam a ser os seus melhores amigos.
4 - Passe a considerar sexo virtual como uma alternativa saudável da vida a dois.
5 - Exercite o desprendimento com a conta de celular.
6 - Fique esperta em relação a passagens da ponte aérea que estejam em promoção. Faça contas completamente insdanas sobre a possibilidade de parcelar uma passagem: "se esse finde eu voar de Tam, nos outros eu recupero as minhas finanças viajando de ônibus".
7 - Planeje o sábado e o domingo como quem sai de férias pra Europa.
8 - Produza a bagagem de modo a só viajar de mochila (o que, convenhamos, é uma dificuldade para qualquer mulher).
9 - Tente não focar na sexta-feira, dia da viagem, para não encher a cara de cigarros de tanta ansiedade.
10 - Empurre com a barriga planos para a vida a dois. Viva o agora e depois a gente vê no que dá.

Wednesday, January 23, 2008

'I hope you die with cancer'

Um dia uma pessoa disse isso pra mim. Eu estava em pé em frente a um restaurante de NY, esperando que o gerente chegasse para me entrevistar para a vaga de hostess. Cheguei muito cedo - mega cedo, lá pelas 7h - e fiquei na porta do estabelecimento fazendo hora, enquanto alguns homens descarregavam verduras e legumes que seriam cozinhados durante o dia.

Como toda fumante que se preza, acendi um cigarro para passar o tempo. E, entre uma tragada e outra, veio uma velhinha de uns 110 anos, parou na minha frente e soltou a praga: "Espero que você morra de câncer".

A princípio, não etendi o que ela quis dizer. Eu tenho esse bloqueio de entender inglês de velhinhos e crianças. Eles falam em uma entonação diferente, eu acho. Olhei com cara de quem boiou no assunto, e o cara que descarregava os legumes (e que também estava fumando), respondeu por mim: "That's very nice of you, ma'am". E então me explicou o que ela tinha dito.

Eu fiquei pensando o que leva alguém a dizer uma frase desse naipe a outra pessoa. Será que ela perdeu um ente querido por causa de câncer de pulmão? Será que ela mesma estava morrendo disso? Ou então, será que ela era totalmente e absolutamente antitabagista, a ponto de ser terrorista, de querer colocar bombas nas indústrias de tabaco? Quanto mais eu buscava uma explicação, mais eu ficava sem justificativas para uma frase tão cruel. É crueldade desejar a morte de alguém, quanto mais de câncer de pulmão.

De vez em quando eu lembro da velhinha me rogando a praga de morte. E, ainda hoje, busco a razão de ela ter me escolhido para fazer jorrar toda a sua raiva. Não se trata de ter medo de que a frase dela um dia irá se concretizar. O que acontece é que o ser humano consegue despertar em mim os diversos sentimentos. No caso da velha, uma mistura de pena e de surpresa.

Monday, January 21, 2008

Googled her

Ele procurou meu nome no Google. E disse isso pra mim, sorrindo (como sempre), comentando dos meus blogs mais antigos. Eu perguntei: quer dizer que você andou me pesquisando na internet? Ele disse que é claro, e devolveu a pergunta: você nunca me colocou no Google? Eu tive que confessar que sim.

Os olhos dele continuam sorrindo mesmo quando ele fica sério. É aquele tipo de pessoa que parece deslizar pelos dias como quem surfa na Indonésia. Vai descendo pela onda de águas claras, sem grande esforço aparente, sentindo o vento e os respingos do mar, acariciando a parte interna do tubo, experimentando, ao mesmo tempo, a maciez e a força do oceano.

Quando ele acha que eu não estou olhando, filma todos os meus movimentos e decora todos os meus gestos, pra depois, em outro momento, comentar o que viu. Ouve as histórias dos amigos e emite opiniões desinteressadas de quem busca uma solução pela consideração de ouvinte. Ouve mais do que fala. De vez em quando, cisma com uma entonação errada e se fecha no casulo. Eu falo: como você é magoável!, e aí ele desarma e volta ao normal. E admite: eu to melhorando isso.

No primeiro dia, bebemos muito saquê e ele disse que estava com saudades. Acostumada com todo o tipo de histórias da carochinha, não levei muito a sério mas, ainda assim, sorri. No segundo dia, ele falou: ainda bem que você está aqui. No terceiro dia eu disse que queria ele pra mim. Ele disse: tudo bem, me deu um beijo e comentou que já estava com saudades.
E hoje eu estou aqui.

Friday, January 11, 2008

Caso de amor do momento

Essa música: Beautiful life - Gui Boratto

O clip é caidinho, mas a música é muito boa.

Tocou na Moo do dia 29, no reveillon e no meu iPod durante todos os dias desse ano de 2008.
Se eu fosse você, baixava agora.

Thursday, January 10, 2008

Fashion Rio, o evento que me faz sentir gorda

Eu tenho dessas mulherzices. É só chegar na Marina da Glória em tempos de Fashion Rio que eu automaticamente me sinto com uns quilinhos a mais e muito mal vestida. E despentada, sempre despenteada. Porque não são só as modelos magérrimas e maquiadas que estarão na passarela que demonstram toda a minha falta de graça, mas toda aquela fauna dos corredores das tendas. Tá todo mundo ali pra ver e ser visto. Mais até de quem está nas passarelas.

O mundo da moda sempre foi, ao mesmo tempo, irritante e fascinante pra mim. Considero todo aquele glamour, as roupas, a música, etc, muito interessantes. Mas quando começam a usar os termos em inglês... me dá vontade de sair correndo e pegar pelo braço aquele senador (ou deputado?) que está lutando por uma lei contra os estrangeirismos na língua portuguesa.

Ontem foi dia de gravação no maior evento de moda do Rio. No meio de tanta gente chique, estava eu de jeans, camiseta e tênis, o roteiro dobrado dentro de um bolso da calça, o celular no outro, o rádio preso na cintura, uma mochila nas costas e duas sacolas, uma em cada braço, correndo de um lado para o outro, pedindo peloamordedeus posso gravar nesse stand? (e ouvindo sim quando pronunciava o mágico nome do programa), encontrando amiguinhos da noite que perguntavam 'vai ver o desfile da Fulana de Tal?', enquanto que eu respondia: não..., pegando um bronze não intensionado no pátio, comendo um cone entre uma entrevista e outra, falando com milhões de pessoas ao mesmo tempo, trocando telefones, ganhando brindes...

E o pior é que eu gosto de tudo isso, acredita? Vai entender a cabeça do ser humano...
Ah, sim, e tem o Fashion Week agora. Vou ver se me privo de algumas manhãs de leite com nescau até lá.

Thursday, January 03, 2008

O primeiro cocô de pombo do ano

Eu me pergunto se é só do brasileiro essa coisa de transformar o infortúnio em amuleto de sorte. Hoje cheguei fresquinha (na medida do possível nesse calor bombante do Rio de Janeiro) no centro da cidade e, em menos de dez minutos, fui coroada com uma bela cagada de pombo na franja. Uma pausa na história: simplesmente odeio a palavra "cagada", acho feio e desnecessário, mas, nesse caso, nada se ajusta melhor que o termo. Não foi só o dejeto do pombo que me acertou os cabelos, mas toda a situação de constrangimento frente aos passantes e aos colegas de trabalho. Foi, enfim, uma merda completa.

Mas, voltando, logo alguém se apressou em dizer: isso significa sorte! Eu sorri amarelo, porque não acredito nisso, apesar de acreditar em uma série de absurdas mandingas inexplicáveis. O problema é que essa do cocô de pombo está descarada demais como se tratando de um artifício do alvo do pombo para ver o lado bom das coisas. Um jogo do contente místico.

E foi aí que me veio: será que isso é coisa do nosso país? Ou será uma tendência mundial essa de passar a mão na cabeça suja e dizer: eu to é bem, vocês é que estão mal!
Aliás, tem uma situação parecida com essa do pombo, que é o ditado: sorte no jogo, azar no amor. E esse eu sei que é universal. Mas o engraçado é que eu só gosto de aplicar o ditado quando estou perdendo, pra ver se humilho um pouquinho o meu oponente. No sentido inverso, quando estou ganhando, faço logo questão de espinafrar meu adversário, inventando musiquinhas, repentindo fases do tipo: "amigo, aqui você não tem vez", contando cada ponto conquistado. Acontece muito quando eu jogo sueca. Acho que sou uma boa perdedora, mas uma péssima ganhadora.

O episódio do cocô do pombo logo foi esquecido. Lavei meu cabelo com um copinho de água mineral que estava ao alcance, penteei a franja mal sorteada e deixei que o assunto morresse. Mas a verdade é que eu continuei apreensiva, eternamente olhando pra cima, cuidando para me safar da mira desses animais nojentos. E preferi ficar no sol impossível do centro do Rio ao alívio da sombra sob as copas das árvores.
Tudo é uma escolha nessa vida..

Wednesday, January 02, 2008

A dependência da mega comemoração de Ano Novo

Eu sofro da síndrome de mega comemoração de ano novo. Todos os anos eu preciso - necessito - de uma festa bombástica, amigos e amigos dos amigos reunidos, abraços à meia-noite, três pedidos, champagne, a primeira música do ano que entra, cores certas na roupa, lista de ítens a realizar nos próximos 12 meses, 12 uvas e, se possível (nem sempre dá...), banho de mar e oferendas a Iemanjá.
Meus reveillons são complicadas produções culturais.

Só que, esse ano, a coisa degringolou. Estava tudo certo para uma festa aparentemente incrível, em um hotel antigo de Santa Teresa. Consegui convencer cerca de 30 amigos de que aquele era o melhor lugar do mundo para brindar a chegada de 2008, e lá fomos nós pagar o preço (salgado) do convite. Até que, dois dias antes da virada, veio a notícia de que o evento tinha sido cancelado.

A minha sorte é que eu moro no Rio de Janeiro. Na pior das hipóteses, a gente vai pra praia de Copacabana e tá tudo certo (apesar de que foram seis baleados este ano, entre Copa e Ipanema, então talvez não seja uma jogada tão boa assim passar o reveillon no litoral da Zona Sul do Rio...). Anyway, os meus amigos, que são pessoas muito mais elevadas espiritualmente que eu, foram capazes de organizar uma ceia e uma festa com todos os tipos de drinks em apenas um dia. A idéia era virar na festinha e depois deixar a vida nos levar por aí, pulando sete ondas e conversando com desconhecidos.

Lá pelas 2h, eu e Mayra decidimos que o apartamendo da festa estava pequenos demais para nós. Arrastamos alguns amigos argentinos e um paulista desavisado para uma festa no Arpoador, popularmente conhecida como Festa do Ernesto Neto, o artista plástico, que há anos faz a animação daquele cantinho da praia. Segundo me explicaram, era só chegar ali, comprar cerveja com os ambulantes e curtir a música.
Três pessoas de três grupos completamente diferentes me avisaram que iriam na tal da festa, o que me deixou muito intrigada. Que tipo de música devia tocar lá? Rock gringo pseudo-conhecido? Hippismo tropicalista revisited? Black-music-da-juventude-dourada-carioca?

Pois é, tocou de tudo isso um pouco. E o pior é que deu certo. Ou então eu estava feliz demais na minha passagem de ano, tanto que esqueci de pular as sete ondas da sorte - e olha que eu estava bem ali, na beirinha da água! Só não foi um erro imperdoável porque, em compensação, meu primeiro banho de mar (com roupa e tudo - mas não de branco, diga-se de passagem!) foi realmente inesquecível, o que me faz pensar que, em matéria de good vibes, essa entrada no mar foi equivalente aos sete pulinhos, certo?

De manerira geral, meus reveillon são realmente incríveis. Mesmo que não sejam em mega comemorações.
Acho que já tá na hora de eu me livrar dessa síndrome.