Thursday, December 07, 2006

Quase lá

Estou apenas a três semanas das férias. Vinte míseros dias me separam de 2007 e de uma viagem incrível. Mal consigo dormir, mal consigo esquecer que ano que vem todas as coisas serão diferentes. Hoje mesmo dormi pessimamente; Ziggyberg, o gato, querendo um espaço na cama, me empurrando e deixando as minhas costas em forma de oito. Quando me mexia, Ziggyberg me agraciava com uma mordida de insatisfação. Mordida de amor, é verdade - mas, ainda assim, incômoda. E quando finalmente consegui cochilar aqui e ali, sonhei com trabalho. Essa fuckin' vida de workaholic.

Agora estou com um puta sono. Com uma vontade louca de ir embora, deitar em frente à TV e não pensar em nada, esquecer da viagem, esquecer de 2007, esquecer de comprar tantas coisas de natal, esquecer que ainda faltam três semanas que se arrastam indefinidamente.

Monday, December 04, 2006

Fonte da Vida

Vai embora. Tira a bunda dessa cadeira pra colocar delicadamente suas nádegas sobre outra. Feche-se numa sala escura, sozinho, desligue o celular e mande calar a boca quem tiver a ousadia de se comunicar com o mundo exterior. Leve um casaco, mesmo estando quente. Ou então assuma o gelado e agüente firme até o final. Mas sai daqui. Agora. É obrigação. Ler blogs, que porra é essa, quem é essa gente que entra aqui? Quem é essa gente que procura meu nome no Google, ou que vasculha o meu perfil ridiculamente construído no Orkut e fica tão interessado no que lê que segue o link pra cá. E ainda há piores, aqueles que sabem de cor o endereço da página e acertam em direct hit todas essas linhas que, não, não são nada, nada demais. Vai embora, vai procurar o que fazer, vai saber a verdade da morte, a morte como criação da vida, vai ouvir a música que casa tão bem com imagem, aquela que você fecha os olhos e entende tudo. A música sem letra que vale mais que mil palavras. Quem é que sabe e que segura a onda de acordar um dia depois do outro sem se isolar por duas horas do resto? Quem é que consegue passar segunda terça quarta quinta sexta, de 9 às 7, olhando o relógio com vontade de ir embora? Todos nós deveríamos ser animais nesse ponto: deu vontade, come, some, dorme, não importa aonde, não importa com quem.
Mas, que isso, somos todos muito civilizados. Eu dou bom dia e boa noite e faço questão de olhar nos olhos e sorrir pros outros, faço questão de ser simpática e agradável, faço uma questão enorme de ser aceita e aceitar os outros. Tão ridiculamente básico, essa necessidade de aceitação, tão sonolentamente previsível que eu rio por dentro.
Se existe alguém que, agora, esteja lendo todos os blogs do mundo e tenha vergonha disso; saia. Vai arrumar alguma coisa melhor pra fazer.

Friday, December 01, 2006

Meu primeiro rivotril

Eu não tomo remédios. Ou melhor, eu tomo remédios quando estou morrendo de dor, sem conseguir pensar direito, quando não há mais saída. Eu simplesmente não penso nos remédios, não sei qual é bom para o quê e não tenho na minha casa nem uma aspirina. E quando fico com dor de cabeça, deito e espero que ela passe sozinha. E, acreditem, uma hora ela vai embora.
É que não sei direito qual é a linha limite da dor que merece remédio daquela que não merece. Tem gente que não liga, que nos primeiros sintomas manda a cápsula pra dentro, mas, sei lá, eu não fui criada assim, e portanto não sou assim. No final, tudo é culpa das mães mesmo.

Mas esse ano ganhei de um amigo uma caixa de rivotril. Um amigo psquiatra. Eu é que pedi pra ele, porque achei - erroneamente - que rivotril era um remédio pra dormir. E às vezes, quando estou putíssima, ou tristíssima, ou ansiosíssima, eu tenho problemas com o sono. E aí, quando ele me deu a caixa, eu guardei para a ocasião certa.

Passaram-se semanas, meses. A caixa lá, dentro do meu armário, fechada. Mas à minha espera. E aí ontem eu decidi que este era um bom momento para chegar em casa, tomar um banho e deitar na cama, sem me relacionar com o mundo exterior. Foi uma semana de ligações de mega chefes no meu celular - e quando mega chefes ligam para o seu celular, ou eles te dão aumento, ou eles te dão esporro. Pelo rivotril da noite passada, dá pra se concluir que mais rica eu não estou. Alguém deve estar, mas não eu. Mas foram ligações curtas e grossas, somadas à ansiedade de que chegue logo o ano que vem, quando todos os meus problemas estarão resolvidos, e a viagem de reveillon que deve ser inesquecível, e o celular do Ninja sem bateria. Soma-se tudo isso e, tchan- nan, tem alguém que precisa se acalmar.

Tomei dois. Um pra dar soninho e outro pra dormir. E deitei, assistindo A Grande Família. Tudo o que não me fizesse pensar. Comecei a sentir uma molezinha, uma dormência na língua e na ponta dos dedos que era bem legal. Mas nada de sono. E daí eu liguei para um amigo, que é outro psiquiatra, perguntando se a dosagem estava certa.

Batemos um longo papo sobre todas as coisas da vida. Sobre planos e passado e presente. Mas falamos pouco do rivotril. De repente eu estava de bom humor, rindo ao telefone. Na paz, entende? Na paz interior. Que medo desse troço. Dá uma calma boa, uma coisa assim de que tudo está bem. Ou melhor: de que nada é tão sério assim. É bom... E que medo que dá.

Depois, no meio da conversa, o Ninja ligou. Ele, ao contrário de mim, adora um remédio. Sabe marcas e estilos e efeitos e dosagens. E não acha nada demais eu tomar um rivs (todo mundo que toma rivotril chama o remédio de rivs, sabiam?). Ai, se eu vou na dele... Se eu vou na dele, talvez dê certo, porque ele sabe de tanta coisa e, sei lá, vai que ele acerta nessa também. Mas dá medo. É muita paz interior pra uma pessoa só.

Hoje eu estou ótima. Bem humorada. Com a marcha um número a menos da que costumo estar. E a caixinha, ainda com muitos comprimidos, continua no meu armário. Duro vai ser esquecer por um tempo da existência dela.