Tuesday, May 30, 2006

Lá vem a noiva, toda de branco


Igrejinha Kill Bill na serra de Miguel Pereira: para o dia em que eu quiser me casar sem convidar ninguém (ou seja, nunca).

Deve ser coisa da idade essa minha vontade de vestir véu, grinalda e vestido branco longuíssimo. Durante toda a minha adolescência repudiei o traje quero-ser-Cinderela das noivas, e jurava de pé junto que por nada desse mundo iria me colocar diante de um altar, conduzida pelo meu pai até o meu marido. Sentiu o simbolismo da coisa? Um chefe entregando a minha pessoa a outro chefe; o que zela por mim entregando nas mãos outro que me zelará pelo resto dos meus dias.

Só que agora está se dando o que uns chamam de instinto feminino, e eu chamo de resultado de uma vida inteira de mensagem subliminar dos filmes da Disney. Eu quero casar de branco, em frenta a um altar, à tarde, em um gramado verde, ao pôr do sol. Sem padre. Sem igreja. E, principalmente, sem missa.

Não é medo de ficar pra titia. Eu sei muito bem que desse mal não sofro, essa falta de possibilidades sentimentais. A minha questão é ser Amélia 2000: adoro cozinhar pro namorado comidas intragáveis de tanto alho, dou longos passeios pelo Rio Design observando móveis muito além do meu orçamento e sonho com um apezinho simpático no Bairro Peixoto. Ou seja: tudo muito bucólico e romântico.

Se houvesse uma máquina do tempo e a Bruna adolescente viesse encontrar a Bruna adulta, tenho certeza de que a minha versão teen ficaria decepcionada. Naquele tempo, minhas idéias sobre uma vida a dois eram beeeem diferentes. Mas, por outro lado, quem é que consegue ser fiel aos seus idealismos adolescentes? Se existem, são pessoas com quem eu não teria paciência de conversar. Mais um tipo pra lista.

Thursday, May 25, 2006

O Código Da Vinci

Sinceramente, não entendi por que os críticos soltaram uma gargalhada debochada depois da exibição em Cannes de Código Da Vinci. O que exatamente eles esperavam do filme? Será que ninguém ali leu o livro? Porque quem leu sabe muito bem que o filme não iria passar de mais um blockbuster hollywoodiano do naipe de tantos outros que já vimos por aí. Cinema e pipoca: isso é Código Da Vinci.

Fui ontem a uma sessão lotada do Unibanco Artplex. Ainda me pergunto por que é que não esperei mais uma mísera semaninha para que a bola do filme baixasse e as filas diminuíssem. Cheguei ao local e ali estava uma fila que saía pela porta e se estendia Praia de Botafogo afora - e essa era a fila para entrar no cinema, e não para comprar o ingresso! Eu e Ninja assistimos no limite da torcicolo.

Como eu já havia lido o romance, o filme foi entediante. Eu já sabia o final, e todo o suspense em torno de quem seria o Mestre para mim não tinha sentido. Mas gostei de ver as inúmeras cenas internas no Louvre, mais um lugar da lista dos que eu tenho que ver antes de ter um filho. Aliás, ultimamente minha grande diversão no cinema tem sido admirar as locações dos filmes - como em Missão Impossível III, que foi rodado no Vaticano. Meu deus, como tenho visto besteira nos últimos tempos...

Voltando ao Da Vinci, o resto do público não parecia acompanhar o meu tédio. Ninja, que esperatemente não pegou o Código pra ler, acompanhava todas as viradas surpresas da trama. E nem se importou quando eu cochilei no ombro dele. Taí uma boa razão para ver esse filme acompanhada.

Wednesday, May 24, 2006

A única celebridade com quem tiraria uma foto

O dia-a-dia do meu trabalho é encontrar gente famosa. Eu nunca fui muito de cutucar as amigas quando via um global no shopping e, depois que assumi meu atual posto, o gosto pelas celebridades murchou mais ainda. É que atores, salvo exceções interessantíssimas, têm umbigos do tamanho de um quarteirão, e eu sinceramente não tenho paciência para lidar com umbigos tão grandes. Portanto, encontrar com gente famosa é tão excitante para mim quanto ler o Caderno Ela.

Acontece que, ok, já tirei umas fotos por aí com personagens públicos. Tipo o Felipe Dylon. Foi mais por piada que por qualquer outra coisa, e eu publiquei no meu falecido fotolog a minha imagem ao lado do cantor sob a legenda: musa do verão. Para os atentos, estaria claro o teor da piada: eu não sou musa, muito menos do verão, e o único motivo de eu ter sido fotografada ao lado do teen mais queridinho do Brasil é a bizarrice do fato de eu estar na mesma sala que ele.

Depois disso, foram incontáveis as vezes que me encontrei com aquela galera que compõe a classe artística. E a cada contato com a tal da classe, mais claro fica de que só existe uma pessoa no mundo com quem eu gostaria de ser fotografada: Keith Richards.

Acho que é óbvio por que eu pediria a ele um clique qualquer. Mas se alguém precisa de justificativas, vamos lá:
1 - Ele parece o Moon-ha e está sempre com um cigarro no canto da boca.
2 - Ele é o Keith Richards.

E agora, toda hora vejo na internet notícias de que Richards tá ruinzinho. Também, pudera: nunca vi alguém pisar tanto na jaca por tantos anos consecutivos. Fico tranquila de saber que, se ele daqui a pouco cansar desse mundo, vai se mandar com incontáveis rugas de incontáveis festas. E então será o fim oficial das minhas fotos com celebridades.

Wednesday, May 17, 2006

Monstro do Lago Ness

Eu sou o monstro do lago Ness. Ele existe, e sou eu. Detentora de todos os sentimentos baixos e sujos e absurdos, eu sou o monstro que à noite aterroriza pobres e inocentes pescadores da pequena aldeia ali ao lado.

À primeira vista, pareço inofensiva: uma minhoquinha nadando pela água escura, nada mais que uma cobra d'água de quinta categoria. Mas me dê um tempo e a sua confiança que aí sim mostro a minha verdadeira face.

Não me orgulho do que faço, e por isso me escondo nas pronfudezas da água de Ness, para que ninguém me veja e me deixem em paz. Porém mesmo que eu fique quieto e esquecido, não pararia de praticar monstruosidaes. Faz parte da minha natureza de monstro... E não se pode lutar com a natureza.

Tuesday, May 16, 2006

Cruise descontrol

De repente, não mais que de repente, eis que me vejo demitindo a analista, começando uma dieta à base de shakes sabor baunilha e mandando currículos para remotas assessorias de imprensa. Decidi, não sei bem por quê, que estava na hora de mudar de vida. Até agora não perdi nenhuma vírgula de quilograma, e os cheques da terapia (intensiva) ainda batem na minha conta quase que completamente vermelha, mas eu já me sinto melhor por estar movimentando alguma parte da roda das horas.

Sempre senti um asco pelo estilo de vida 'cruise control': aquele que controla o limite de velocidade e direção para onde os acontecimentos estão te levando. De repente, não mais que de repente, me descobri absurdamente entediada, à espera de que o instante seguinte surgisse. Sou viciana no frio na barriga. Naquele nervozinho de se deparar com uma situação completamente nova. Quando fico muito tempo sem a tal sensação, o state of emergency que eu adorava cantar a plenos pulmões björkianos, me ataca o bicho carpinteiro e eu quero mudanças. Agora.

Tenho inveja das pessoas que desde sempre souberam os seus objetivos. Os meus mudam a cada quinze minutos.

Monday, May 15, 2006

O texto da menina mimada

Talvez você nunca entenda uma situação muito simples: que eu sou tão absolutamente sua que às vezes me comporto como uma marionete feliz e saltitante, governada pelas suas vontades. É verdade que isso você nunca pediu e nem nunca quis, e que mulheres-marionete estão fora da sua wishlist, mas eu não imaginava que fosse ser assim. Que mesmo quando tenho tudo o que sempre busquei nas mãos, eu me sentiria ainda tão incompleta. E, pior, cheia de questionamentos adolescentes e realidades irrealizáveis.

Ao longo dos anos me acostumei com a ausência, mas de vez em quando o medo volta. Eu me sinto sozinha e absolutamente incompreendida - afinal, é notório o quanto reclamo de barriga cheia. Eu sou feliz mas sou triste, entendeu? Tipo Vinícius de Moraes. Por isso a única coisa que pode me satisfazer neste exato segundo é que você coloque uma foto minha bem grande no meio da sua sala de jantar, e tome café e almoce e ceie e tudo o mais olhando para os meus olhos. Caso você não queira, pode esquecer: você não me ama, nunca me amou e não faz idéia do que seja ser uma marionete feliz, saltitante e, ao mesmo tempo, triste.

Agora, se você colocar a minha foto, vou precisar também de telefonemas carinhosos em quartos de hotéis cinco estrelas com camas kingsize vazias, ou de uma noite fria comendo fondue, ou de presentinhos fora de época e surpresas fofas e calóricas em caixas em formato de coração. E mesmo assim, pode ter certeza, eu continuarei triste.
A opção sempre foi sua, em qual dos caminhos seguir.

Thursday, May 04, 2006

Falta Fé

Sou uma pessoa sem fé. Alguém que há muitos anos declarou ser atéia, e desde então não consegue se apegar a nenhum tipo de crença. Sou um ser humano que não consegue acreditar em Deus e nem em Destino com D maiúsculo, ou Céu x Inferno. Faço minhas as palavras do Quintana: "O mistério está aqui".

Durante anos eu tinha a certeza de ter encontrado no ateísmo a maior verdade do mundo. Mas agora - que ironia - invejo todos aqueles que acreditam em uma força suprema. Descobri que sem uma crença em algo é muito difícil aturar o mundo e a vida como eles são, cheios de surpresas deliciosas e desagradáveis, prontos para provarem o inesperado.

Mas agora que vejo que não posso viver sem um sentido maior nisso tudo, cadê que eu consigo me interessar por alguma religião? Não consigo. Olho para tudo com certo desdém e com um cinismo que não consigo me livrar. Eu tento ver o lado bom de cada tipo de fé, mas acabo me deparando com dogmas absurdos que não consigo entender. E aí, volto para o lado dos que não acreditam em nada.

O problema é que toda essa secura tem me atingido no peito. Falta fé no trabalho, com os amigos, com a família. Falta fé em mim. Demoro a acreditar que alguma coisa vai melhorar, porque para mim não existe mudança em uma pessoa. E daí eu vejo o quão triste é uma existência sem uma crença. As pessoas são capazes de mudar, desde que por algo muito maior e mais belo do que as coisas que existem neste mundo.
Pena que eu não sei se esse algo existe.

Wednesday, May 03, 2006

Avalon


Para as vezes em que só o pôr do sol piegamente colorido resolve.

Olha só, basta um fim de semana fora do circuito mega conhecido e pronto: estou novamente com o humor na ponta da língua, ávida por assuntos e pessoas e lugares e animais novos e preparada para mais uma rodada daqueles que já viraram o cúmulo da repetição. Alguém entende que tem vezes que eu não agüento mais a mínima menção à passar outro fim de semana no Rio? nem a promessa de um passeio a dois na Lagoa, bebendo Cuba Libre e comendo salmão cru me convence do contrário. Nessas horas eu quero - eu preciso - de um tempo em Avalon, meu sítio brumático no interior do Rio.

Que seja Avalon ou a casa de alguém que tenha um lago e muitos patos e verde morro abaixo. Eu não me importo. O fato é que existem sábados e domingos em que preciso sair da imensidão de azul e concreto em que se transformou a minha cidade, sempre precisando de mais uma dose para que a noite não tenha fim.

Mas quando vou para Avalon o misticismo é outro, sabe? Lá a gente acende a lareira mesmo quando ainda não é frio o suficiente para todo esse fogo. E a gente faz pizza em forno a lenha, e toma um porre de vinho rosé, e tem certeza de que todos os amores são eternos.

Eu adoro Avalon, e este já deve ser o terceiro ou quarto texto sobre ele. Se a humanidade se comportar direitinho, um dia eu levo lá.