Tuesday, January 15, 2013

Patroa em fase de experiência

Eu tenho babá. Em fase de experiência. E muitas vezes sou eu que me sinto avaliada, porque to sempre sentindo a possibilidade de ser demitida como patroa no término do mês de teste.

Ter babá muitas vezes me lembra a fábula do velho, o menino e o burro. Não importa o que você faça, vai ter sempre alguém te olhando como se você não quisesse cuidar do seu filho. Como se você preferisse passear sozinha, ir à academia ou olhar o Facebook, do que brincar com o moleque. Ter uma babá trabalhando pra você te eleva automaticamente ao status de perua. Mesmo que a sua unha não esteja feita, ou que as suas raízes brancas já estejam contemplando o mundo.

Aliás, o substantivo "babá" tem o poder de classificar qualquer atividade como altamente desnecessária. Por exemplo, na frase: "Fui pintar o cabelo enquanto meu bebê ficou com a babá", o sujeito, ou a sujeita, é oculta. Oculta porque não quer se mostrar e ser chamada de "insensível, como assim ela teve a coragem de deixar o filho em casa enquanto passava DUAS HORAS no salão?" Mesmo que suas raízes brancas já estejam socializando com as pessoas na fila do supermercado. 

Toda vez que ouço comentários pejorativos sobre babá, feitos por alguém que não tem babá, me encolho um pouquinho. Não encaro nem defendo a vida de patroa, porque tantas vezes eu mesma já esculachei as mães do Fashion Mall. Aquelas que vão na frente e são seguidas pelas suas funcionárias e pelos carrinhos de bebê. Como é fácil e cômoda a posição de quem não tem babá! Tantas questões que essas pessoas não têm que lidar. Do tipo: levo a babá pro pediatra? Entro com ela no consultório? Levo a babá na casa do meu pai? Levo a babá no almoço com as amigas?

Com exceção do pediatra, a minha resposta é "não" para todas as perguntas acima. Não, porque... sei lá, quero conversar em paz com as minhas amigas e com o meu pai. Pelo menos, por enquanto. Ainda acho estranha essa situação tão íntima entre eu e a babá. Mas ela, com mais de dez anos de experiência em cuidar de crianças (e de patroas), não se sente nem um pouco incomodada com a nossa proximidade. Vai ver foi por isso que ela me perguntou na lata: "Por que a senhora resolveu casar e ter filhos?"
Respondi, meio sem jeito, que a minha vida foi levando a isso, sem um planejamento prévio. E, a partir daquele dia, ficou no ar a impressão, cada vez mais forte, de que a avaliada era eu. E que pode ser que ela me demita.

Monday, January 07, 2013

Espelho, espelho meu: tem certeza de que essa trintona aí sou eu?

Hoje fiz uma experiência com a babá. Semana passada entrevistei a candidata, negociei salário, combinei de começar na segunda. Ela deve ter a minha idade (ou mais), e me chama de "senhora" e "Dona Bruna". E o pior é que eu deixo.

Não entendi muito bem como aconteceu essa história de ter que cuidar de uma casa. E olha que eu nem cuido muito da minha. Mas acho que a mudança foi inevitável no momento em que passei a morar com dois pré adolescentes, que insistem em achar que eu não tenho a idade deles. Só porque eu já passei dos trinta.

Quando a gente conversa sobre música, por exemplo. Outro dia estava passando na TV um show daquela bosta chamada Linkin' Park, e o meu enteado mais velho estava assistindo e dizendo que gostava. Não consegui segurar a minha língua e acabei falando que aqueles caras eram muito ruins, quase uma boy band travestida de guitarras pesadas. E aí, tive que ouvir de volta: "Você não gosta dessa banda porque as pessoas da sua idade não gostam, só os jovens."

Eu caí na pilha. E comecei uma ladainha sem sentido sobre como eu já conhecia Linkin' Park muito antes dele imaginar que a banda existia, e que ele só gostava porque não conhecia coisa boa de verdade, e yadda yadda yadda - como as pessoas fazem quando perdem a rédea da situação. Foi muito constrangedor, e eu percebi que estava fazendo um papel ridículo, mas não conseguia me safar dele.

É que o meu espelho interno, pessoal e intransferível, congelou a minha imagem aos 28 anos. O tempo pode passar o quanto for, mas eu ainda me vejo, imagino e... ok, ajo, como se ainda estivesse nos twenty something. Eu até admito os trinta, porque trinta é uma idade bem legal, com mais dinheiro no bolso, mais liberdade, mais segurança... Mas trinta e cinco é foda.

E isso é só o começo. Eu tenho um filho de seis meses que aos doze eu vou tentar convencer a ouvir coisa boa, de qualidade, seja Metallica, Air ou Nina Simone. E ele vai falar a mesma coisa que eu ouço hoje em dia "Tudo música de velho". Não importa se é bom, se é mais "moderno" do que várias bandas recém nascidas, ou se os caras das bandas recém nascidas tentam beber e copiar dessas fontes.

Agora senta que lá vem quarenta. Medo.

Thursday, January 03, 2013

Eu odeio o reveillon. Mentira, eu amo. Mentira, não amo mais. To em transição de sentimentos quanto ao reveillon.

Tenho uma amiga que há treze anos não comemora a passagem de ano. Já foi chamada pra festas incríveis, em lugares maravilhosos, com "gente bonita" e "DJs do momento", e mesmo assim, declinou. Eu achava que ela era doida de perder esses eventos (pros quais eu nunca fui convidada), mas hoje em dia eu entendo essa posição. E estou me preparando pra fazer parte do time que não está nem aí pro reveillon.

A culpa é da Copa. Do mundo. E de Copa. Cabana. E de todos os muitos turistas que fizeram desse o ano novo dos recordes. A culpa também é de São Pedro, ou seja lá quem mande nas questões do clima. Porque o calor também foi recorde, fazendo as bochechas do meu lindo bebê - de pele branca demais pros raios ultravioletas cariocas - ficarem vermelhas de calor.

No fim de semana que antecede a virada, eu não ponho o nariz pra fora de casa. É que moro no bairro mais movimentado do Brasil nesse período, e por isso a ideia de qualquer programa só vai agradar a quem gosta de programa de índio. Aliás, minha amiga que não comemora a passagem mora no mesmo bairro. Será que é por isso que ficamos em desespero?

Há dois anos passei o ano novo em Paris. Tinha uma turma comemorando, mas os franceses mesmo, os poucos franceses autênticos ao meu redor, pareciam bastante entediados. Eu e meu marido conseguimos um lugar no único café que ainda tinha mesas disponíveis no Quartier Latin. Pedimos champagne e esperamos as doze badaladas, pra só então descobrir porque aquele era o único café com vagas na noite. Ali, com certeza, era o lugar mais deprimente do mundo. Na virada do ano, ninguém se olhou. Nem se abraçou. Nem sequer apertou as mãos. Na verdade, teve gente que até bocejou. Um desapego só.

Nessa hora, deu saudade no reveillon de Copacabana. Mas é pra isso que servem os reveillons em Paris: pra gente sentir falta de Copacabana e depois dar um gole num champagne francês e fazer a saudade passar totalmente. E verdade seja dita: o caminho oposto não existe. Não tem champagne brasileiro que cure a nostalgia da Cidade da Luz.

Bem fez a minha amiga, que virou o ano em casa, e no 1o. de janeiro foi passar um dia de rainha na piscina de um hotel cinco estrelas da Avenida Atlântica. Porque, como dizia o ditado: pra bom apreciador, meia piscina na cobertura da Atlântica basta.