Friday, May 20, 2005

Afliçãozinha de sexta-feira

A grande questão das minhas sextas-feiras é: "hoje à noite vou de salto alto ou tênis?" É que a resposta desta pergunta é também o que se espera da noitada que vem a seguir. Se a festa promete ser bagaceira, destruidora e sujeita a ressacas, a resposta é tênis. Se os eventos das próximas oito horas forem mais comportados, a resposta é salto alto. A escollha do sapato é muito mais que uma opção de vestiário, é como assumir uma postura de vida - nem que essa postura dure apenas uma noite.

Quando chega quinta, eu já estou inquieta com a proximidade do fim de semana. Na verdade, ao contrário da maioria dos mortais, quinta-feira é meu dia de mau-humor. O problema é esse quase fim de semana, esse quase descanso, essa contagem regressiva para o pé na jaca. As quinta-feiras são sempre angustiantes para mim, que já acordo pensando: "que saco, ainda não é sexta".

Mas a sexta, essa é dia de festa. Geralmente chego ao trabalho mais tarde e saio mais cedo, me virando do avesso para conseguir menos horas de labuta. Na sexta, a contagem regressiva cessa porque rapidinho eu estou na rua, fones nos ouvidos, me dirigindo ao QG da zona sul onde provavelmente passarei todo o final de semana.

O grande problema da sexta é que, apesar dos meus esforços, ela ainda é um dia útil. Geralmente tenho assuntos sérios a tratar, e no final do dia estou esgotada. Sair na sexta requer uma dose extra de vontade. Mas a comunidade jaqueira me ensinou: pra pegar pesado, é melhor pegar hoje. Afinal, a jaca da sexta reserva dois dias - sábado e domingo - para a recuperação absoluta.

Thursday, May 19, 2005

Preparando a noite

Tudo era mais fácil quando eu tinha vinte e poucos anos. No sábado à noite, praticamente me mudava para a casa de uma amiga com metade do meu guarda-roupa dentro de uma mochila: gel para cabelos, maquiagem, glitter, acessórios em bijouteria, botas pretas de cano alto e salto, ou baixas e de cano médio, casacos de pelúcia, grampos e presilhas, saias plissadas ou lisas (mas sempre saias), blusas com brilhos, ou pretas, ou decotadas, ou de alcinhas e, quando eu estava muito inspirada, um boá de plumas pretas.

Eu e minha amiga roubávamos um pouco do whisky do pai dela e colocávamos Nina Simone aos berros às 11h da noite enquanto nos arrumávamos para a Factoria. Aquilo era mais como um ritual: o gel nos cabelos, o penteado, a maquiagem que às vezes ficava uma merda e precisava ser refeita. Tudo demorava horas, eu e ela meio bebinhas e comentando quem estaria e quem não estaria, que merecia e quem não merecia a nossa atenção e quem, definitivamente, era uma pessoa necessária para a festa.

E então a gente ligava para quase todas as pessoas do Rio de Janeiro, marcava a hora de encontro na porta, com direito a chope no boteco mais próximo. E saíamos no meu Uno Mille vinho, com caixa de som estourada, ouvindo o CD da trilha sonora de Trainspoiting, rumo a Ipanema.

Hoje em dia a gente sai de jeans, tênis e uma blusinha mais arrumada, sem maquiagem, com o cabelo solto ou preso em rabo de cavalo, com menos bijus que antes e completamente esquecidas do meu boá de plumas pretas.
Será que isso quer dizer que estamos virando adultas?
Ai, que medo.

Wednesday, May 18, 2005

Chill Out

Às 6h da manhã, é possível notar uma movimentação estranhamente animada na pista da Fosfobox. Pessoas cochicham aqui e ali, números de celulares são trocados e começa a se formar uma fila para pagar o consumo da noite. A razão da inquietação dos freqüentadores da Fosfobox (e do Dama, e de qualquer outra boate carioca que toque música eletrônica - se é que existe mais alguma) é a pergunta: "Onde vai ser o chill out?"

Quando o tema 'chill out' entra na roda, surge a questão mais importante de todas: quem será e quem não será chamado. Não é todo mundo que está na festa que vai estender a noite dia adentro, mas apenas aqueles que se encaixam em certos papéis determinados. Para que o Chill out sobreviva, é preciso que os participantes encarnem com fineza a tarefa que lhes é dada. Se não, o que seria uma festa pós-noite acaba se transformando em um enterro de vampiros.

Para que seu Chill Out seja um sucesso, certifique-se que compareça:

1) O Mestre de Cerimônias.
É o cara que vai dar as coordenadas da festa, que vai levantar tópicos quando o assunto morrer, que vai sugerir as piadas e a duração do chill out.

2) O piadista.
É a pessoa engraçada que vai fazer todo mundo rir, até que ninguém queira mais rir, e sim ficar vegetando e pensando no universo.

3) O DJ.
É o cara que se preocupa com que música está rolando. Importantíssimo.

4) O fornecedor de drogas.
Essencial para que a festa continue.

5) Os coadjuvantes/figurantes.
Esses são os que seguem as tarefas do Mestre de Cerimônias, riem das graças do piadista, dançam qualquer música que o DJ colocar e consomem a droga que estiver à mão. E, se você bobear, consomem a droga que não está à mão também.
Se você já foi a um chill out, conhece pessoas assim.

Thursday, May 12, 2005

Rasa como uma poça

A melhor descrição de certa personagem que freqüenta a noite eletronica carioca foi: "Essa aí é mais rasa que uma poça d'água". Achei a comparção maravilhosa, e imediatamente a adicionei a meu vasto vocabulário. Desde então, usei e reusei a expressão inúmeras vezes, mas nem sempre para falar da mesma pessoa. A noite carioca tem memória muito curta, sabe como é.

A verdade é que estamos o tempo inteiro cercados de pessoas rasas. No trabalho, na noite, em filas de banco onde a gente consegue ouvir a conversa de celular alheia. A humanidade não passa de uma grande poça de enchente, de uma imensa lagoa de São Pedro d'Aldeia, e por mais que a gente caminhe, não conseguimos passar da água nos joelhos. Impossível de se afogar.

Pois é isso o que aconteceu: eu cansei de tentar ser profunda, de tentar em vão enxergar o que está por baixo de tanto glitter e sombra rosa. Decidi ser rasinha, dá licença? Não tem gente que toma drogas só para ter pauta para assuntos noturnos? Não tem gente que sabe de cor todas as roupas e sapatos dos amigos? Não tem gente que identifica os outros pelos carros que eles usam? Então qual é o problema de eu ser superficial?

Bem-vindos ao site que mostra diálogos inventados e nomes fictícios, mas fala de comportamentos reais.