Monday, August 30, 2010

Senhora é o caralho

Fiz 33 anos. Não que isso seja grande coisa, porque na minha cabeça eu ainda tenho 25. Com um pouquinho mais de dinheiro no banco, mas com muito menos juízo que eu achava que teria depois dos 30. Pelo menos ninguém veio me dizer que eu estava completando a idade de Cristo, porque isso significaria um risco alto de agressão física. Ainda bem que eu estou cercada por trintões que, como eu, ainda se enxergam com vinte e poucos.

O problema é que, fora os meus amigos, todas as outras pessoas do mundo sabem que eu sou uma trintona. E algumas arriscam seus pescoços me chamando de senhora. Sempre que isso acontece eu tenho vontade de responder "senhora é o caralho", mas sou impedida pela culpa católica de longos anos de educação em colégio de freira. Geralmente eu finjo que não ouvi e deixo pra lá. Mas quando o contato passa a acontecer com mais freqüência, treino o meu melhor sorriso e peço: senhora não, ne.

Lá em casa eu ainda sou apenas Bruna, enquanto meu marido é Seu fulano. Mas acho que isso tudo vai mudar quando eu passar praquele círculo de mulheres que deram cria.

Eu quero dar cria, mas morro de medo de dar cria. Eu preciso de no mínimo dois a três anos e um salário duas vezes melhor do que recebo pra pensar em um rebento. E, principalmente, eu preciso me habituar a ser chamada de senhora. Porque uma mãe é uma senhora por definição. E é por respeito, o que torna tudo mais bonito.
Só falta agora eu acreditar em tudo isso.

Wednesday, August 18, 2010

Cada um tem seu canto



Não me canso de olhar a pedra do Arpoador. É impressionante como a gente passa a vida de cara pro mesmo cenário, e mesmo assim consegue, vez ou outra, se maravilhar com aquela paisagem conhecida.


Nunca fumei maconha na pedra do Arpoador (mas também, eu sempre fui uma maconheira de quinta categoria, maconheira de faculdade e que, aos trinta, prefere não fumar pra evitar a larica e a tentação de perder a noção caindo no chocolate...).
Nunca beijei na pedra do Arpoador.Foi só outro dia que subi lá no topo da pedra, pra ver a ressaca melhor.
Mas já vi o sol nascer na base da pedra do Arpoador, no reveillon de 2007-2008. Isso serve?

Depois de muitos anos sem conseguir frequentar aquele canto, finalmente descobri como se faz pra aproveitar o Arpoador. E como ninguém lê esse blog mesmo (a não ser uns 5 ou 6 leitores fiéis - vocês acham que eu não sei da sua existência?), estou disposta a revelar aqui o segredo da melhor praia do Rio.

Pimeiro, esqueça o Arpoador nos fins de semana do verão. É impossível. Considere exclusivamente os sábados e domingos do inverno carioca, aquele que os ingleses dariam um braço pra ter igual. Posto isso, acorde cedo para chegar na praia antes das 10h da manhã. E fique só até 1h da tarde. Você nunca mais vai se esquecer do paraíso que é essa cidade.

A minha última praia ali foi no meio da Copa. A televisão exibia algum jogo obscuro e inútil, tipo Japão e Coréia do Norte. Fui sozinha pro Arpex. Aluguei uma cadeira, coloquei os fones no ouvido, e fiquei assistindo a vida de camarote.

A água estava naquele azul transparente que vez ou outra somos presenteados. Eu coloquei Radiohead pra ouvir, e embora a voz do Thom York seja para dias nublados, fiquei emotiva. Ainda fico, quando me lembro daquele dia. Eu precisava de um tempo assim, olhando o mar, ouvindo música e vendo criancinhas correndo pra lá e pra cá. Foi foda.

E me rendeu essa foto.

Thursday, August 12, 2010

Conversando com estranhos

Carrego sempre na bolsa um livro emergencial pra momentos de espera. Não suporto ficar vendo as horas passando sem conseguir ocupar essa cabeça tão cheia de conversa mole que é a minha. Até em fila de banco to eu lá em pé e de volume aberto nas mãos. É uma maneira de não me irritar com pessoas que ficam muito coladas em você, ou que demoram a dar aquele passinho a mais quando a fila anda.

Os livros de bolsa também servem para evitar a conversa com estranhos ávidos por trocar experiências. Acho que fiquei traumatizada anos atrás, quando voltava da faculdade no 750 lotado das 7h da noite. Sentei ao lado de uma senhora que me contou tudo, com detalhes, sobre suas doenças ginecológicas: miomas, úteros arrancados, sangramentos. Nunca foi tão longa a volta pra casa.

Mas recentemente andei pensando que até que as pessoas têm boas histórias pra contar. E que, se eu queria contar casos, deveria começar também a ouvir. E aí um dia me dei essa chance, enquanto esperava o carro voltar da revisão da concessionária.

Eu estava com o famoso livro de bolsa nas mãos quando um senhor nos seus 60 e poucos puxou conversa. Fechei o livro e escutei o homem falando do carro, da casa em Búzios, do síndico do condomínio em Búzios, e da filha dele que morava em Portugal e com quem ele não encontrava há 5 anos. (Aliás, ele puxou papo comigo porque me achou parecida com ela).

Argumentei que ele deveria fazer uma visita a ela, e aproveitar para passear por Lisboa. Ele me disse que em 2009 chegou a comprar a passagem, mas teve um problema no embarque e depois disso nunca mais tentou viajar de novo.

Ele parecia triste com isso, e acabou me confidenciando por que nunca mais tinha viajado para a Europa. Acontece que ele chegaria em Lisboa por um vôo Rio - Paris, com escala em Portugal. Mas no momento do embarque, os policiais encrencaram com o passaporte argentino dele, dizendo que ele deveria ter um brasileiro, já que tinha dupla cidadania. Não o deixaram embarcar.

O homem voltou pra casa arrasado, comeu alguma coisa e foi dormir. No dia seguinte, ligou a TV e sentiu o coração fraquejar. Seu aviaão Rio - Paris havia caído quando saía do Brasil. Era o vôo 447 da Air France.

No momento em que ele me contou isso, joguei o livro dentro da bolsa. Apenas três pessoas haviam sobrevivido ao desastre - três passageiros que não tinham embarcado - e eu estava diante de uma delas. O homem disse que nunca contou para a filha porque não foi a Portugal, e confessou que desde então não teve coragem de encarar um avião.

Ainda penso nessa conversa e tento imaginar qual é a sensação que existe quando se descobre que não morreu. Alívio imediato, provavelmente. Crença em Deus ou em um poder supremo que governaria o mundo. Medo da morte.

Contei para duas pessoas a história do homem da concessionária. Meus ouvintes se surpreenderam, mas nem de perto sentiram o mesmo que eu senti no momento em que ouvi a história. Talvez eu não tenha feito a mesma expressão ou não tenha usado as mesmas palavras que o homem. Mas com certeza a falta foi minha.

Thursday, August 05, 2010

Previsibilidades Imprevisíveis

As pessoas são previsíveis. E uma das características das pessoas é achar que outras pessoas podem nos surpreender. Vez ou outra isso acontece, é verdade. Mas na maioria das vezes nós já sabemos o final da história, e só cabe à gente acreditar no prólogo ou não.

Repetimos sempre os mesmos comportamentos, as mesmas mancadas cíclicas. Dá uma raiva danada quando eu vejo que estou passando pela mesma situação que passei no mês passado por culpa exclusivamente minha. Admiro quem aprende com os erros, mas eu mesmo nunca conheci ninguém com essa capacidade. Só errando muito e várias vezes seguidas é que a gente se convence de que errou de verdade.

Eu adoro quando sou surpreendida com atitudes imprevistas - boas, é claro. Mas elas são tão raras. Eu acho uma pena. Queria uma surpresinha só de vez em quando, peloamordedeus. Alguém?

Wednesday, August 04, 2010

Olhos bem abertos

Quem sofre de insônia sabe: existe aquele micro momento em que estamos quase adormecendo e pensamos: vou conseguir dormir. Aí a gente acorda. E demora mais uma horinha looonga pra conseguir entrar no clima de novo, dessa vez tentando esvaziar a mente - o que por si só já dá um trabalho filho da puta. Insônias são contraprocentes, irritantes e angustiantes. E sempre chega a hora em que eu desisto de lutar e ligo a TV.

Não sofro de insônia. Mas, vez ou outra, por conta de ansiedade/putisse/preocupação eu acabo fritando bolinhos na cama. Aí levanto, acendo um cigarro, circulo pela casa. Mas aí é o problema, porque quando faço isso tudo estou contribuindo para que o sono não volte a se apresentar tão cedo. E quando ele chega de verdade é sempre uma hora antes do despertador tocar. É só comigo que é assim?

Daí hoje eu estou com olheiras até o umbigo, e me matei pra não dormir na aula sobre Proust. Ele também tinha insônia. E ele também acordava e achava que estava em outro lugar, às vezes. E às vezes ficava feliz, outras ficava triste por não estar onde achava que estava.

Depois de pensar "dormi" e acabar acordando, achei que estava no meu quarto de infância, na casa do meu pai. Fui abrindo os olhos e reconhecendo o fundo barulhento de Copacabana onde, não importa a hora, tem sempre um ônibus passando embaixo da minha janela. Não, eu não estava na casa do meu pai, aquele lugar tão silencioso e quieto que me dava tédio na adolescência.

E dessa vez, quando percebi que não estava lá, eu fiquei triste.

Tuesday, August 03, 2010

Sunday Morning

Eu devo estar a caminho do Nirvana, porque o impensável aconteceu: dispensei uma festa no sábado à noite para aproveitar a manhã de domingo. E o pior (ou melhor) é que no dia seguinte acordei sem remorço de ter perdido a festa - o que também é novo pra mim - e fui pra praia com o meu aparato de corredora-fumante. Sinto que um novo ciclo se inicia.

A manhã é a minha parte favorita do domingo. O calçadão de Copa está fechado, e parece que todas as pessoas do Rio vão pra lá pra aproveitar o sol. Eu gosto disso. Porque não sou bairrista, porque não me considero um exemplo de moradora de Copacabana (ao contrário, ta escrito na minha testa que eu sou uma outsider) e porque eu gosto de ver a vida das pessoas passando por mim.

Como antes eu tinha o chorinho da praça, agora eu tenho só pra mim aquela paisagem conhecida mundialmente. Ajeito o boné com filtro solar 60 no rosto, e vou pela ciclovia recebendo um olhar de reconhecimento de semelhante por aqueles que, como eu, decidiram que suar um pouquinho por dia faz bem. Depois, paro na casa de suco mais próxima e peço um copo de suco de uvas roxas, e me recomponho antes de voltar ao apartamento. Reluto demais em me enclausurar de novo, porque a vida de domingo no Rio é muito pulsante e muito arrebatadora, e dá até vontade de andar de patins, mesmo que você seja péssima nisso. cair na frente de todo mundo não é um problema.

Tem domingos que não acabam nunca. No último, saímos meio tarde de casa, e eu corri pra lá e pra cá enquanto ele ficou no skate. Depois, andamos alguns quilômetros até o restaurante de frutos do mar e comemos uma paella com amigos. E eles foram lá pra casa ver futebol. E só às 9h da noite eu pude tirar a minha roupa de praia e encerrar o expediente da carioca com mais cara de paulista da história de Copacabana.