Tuesday, February 26, 2008

Tudo muda depois dos 30

Não fumo há cinco dias. Todo manhã acordo e faço um X no calendário referente ao dia anterior. Para quem nunca fumou, a conquista de 24h sem nicotina é risível; para quem é ex-fumante, ou ainda se delicia com o bastãozinho, essa marca é digna de nota. Afinal, passei por um sábado à noite com vodca e festinhas sem me deixar levar pela tentação do traguinho noturno. Aquele traguinho que estraga o trabalho de uma semana, sabe como é?

Pois então, agora que estou tentando entrar pro time dos não-fumantes, tenho muito medo de engordar. Muito mesmo. Me encho de litros e litros de água, mas a vontade é cair no chocolate. Que substituição bizarra essa, de nicotina por doce. Queria muito saber se só eu tenho essa loucura, ou se é uma mania conhecida de gente que está deixando de lado os cigarros. E aí, na mesma proporção em que me preocupo com o peso, engordo. Ou melhor: em sinto mais gorda.

O lance é que as coisas definitivamente não são como antes. Quando era mais nova, eu comia doces à vontade. Tudo bem, nunca fui daquelas que tinham corpinho de modelo, ou que eram saradas. Mas também nunca tive muitos quilos extras. Era uma extensão aturável, digamos assim.

De uns tempos pra cá, perder peso tornou-se uma odisséia. Eu tento fechar a boca, mas nada de ver resultado... Só emagreço mesmo quando estou trabalhando loucamente, ou quando estou triste. Aí é incrível: perco a fome totalmente, e só de olhar pra comida já fico enjoada. Tenho algumas amigas que passam pelo mesmo sintoma, e é de uma delas a melhor frase de emagrecimento que eu já ouvi: "Eu gosto de ter o peso de quando estou deprimida."

Pra completar, outro dia fui a uma entrevista de emprego e estava cara a cara com a mocinha do RH. Digo mocinha do RH porque ela era bem novinha, mas devia ter seus trinta e poucos. Mas tinha cara de menina - as roupas é que diziam em que casa decimal sua idade se encontrava. Anyway, ela disse que eu estava diferente da foto do currículo. É que o meu CV tem uma foto que tirei em Jericoacoara, ainda de cabelo comprido, sorriso de quem está de férias no Ceará e, claro, vinte e seis aninhos de praia.

Expliquei pra mocinha do RH o contexto em que aquela foto havia sido tirada e concluí com: "... e eu tinha uns 26 anos na época, agora tenho 30".
Ela me olhou com uma expressão de quem sabe do que eu estou falando. E completou, entre suspiros: "Tudo muda depois dos 30, minha filha".

Até para balzaquianas que são praticamente adolescentes, imagino...

Friday, February 22, 2008

Mergulho no mar em pleno expediente

Às dez da manhã minha irmã me liga para falar de amenidades. Ela me liga na manhã de um dia de semana, enquanto eu estou me preparando para sair para o trabalho, habitualmente atrasada, calçando o tênis e engolindo os últimos goles do suco, enquanto ouço os planos de fim de semana, as fofocas do namorado novo, etc. Até que ela revela que naquele momento estava no Leblon, aproveitando um pouquinho de praia entre horários de pacientes que ela tinha que visitar (minha irmã é fiosoterapeuta). Nota: estava um dia maravilhoso, e eu fiquei instantaneamente com inveja da praia da minha irmã.

E aí me lembrei de um outro dia, quando fui encontrar o Japanimatrix na praia pra pegar qualquer coisa com ele, e fui direto do trabalho, vestida de gente séria, e mesmo assim, quando cheguei em Ipanema, tirei os sapatos e fui andando até ele pela areia. Quando cheguei perto ele disse: "Que coisa de paulista, andando vestida na praia!" E eu respondi: "Engano seu, não há nada mais carioca que sair do trabalho e dar uma caminhada na areia, tolinho".

Em tempos de horário de verão, por volta das 18h, 19h, o calçadão fica cheio de transeuntes, quando os mortais estão deixando seu 'sirvicinho' e querem aquela merecida cerveja da hora alegre. Sabe como é que é, né: tá todo mundo cansado, ninguém está de biquini ou calção de banho, e mesmo assim quem pode dá um passadinha na orla - e quem não pode, não fica desesperado, porque sabe que ela está bem ali, ao alcance.

Tenho pensado muito na questão Rio x São Paulo. Quando estava na faculdade, lembro de um professor comentar em sala de aula: se preparem porque vocês vão lidar muito com a questão de mudar ou não pra sampa. E aí, é verdade, de vez em quando eu considero essa possibilidade, por conta de salários e oportunidades ligadas à minha área, e agora que eu tenho o Japanimatrix na vida, São Paulo se tornou ainda mais atraente.

Mas, por outro lado, e depois, faço o quê? Caso e crio um filho em São Paulo? Mas o que as crianças fazem em SP? No Rio eu sei que as crianças vão à praia, e que andam de bicicleta na Lagoa, e que passeiam no Jardim Botânico, e que andam de charretinha na praça São Francisco Xavier, na Tijuca. Eu sei o que fazem as crianças do Rio porque eu fui uma delas, mas em São Paulo eu não sei o que fazem as crianças, ou os adultos, ou os idosos. O que tem pra fazer nessa cidade? Durante o dia e ao ar livre, quero dizer.

Quem falar em Ibirapuera perde a brincadeira.

Wednesday, February 20, 2008

Surfe de sofá

O sofá lá de casa bomba. Volta e meia tem alguém dormindo no meio da sala, sem se preocupar com gente que chega de madrugada, ou que sai muito cedo pra trabalhar, ou com a luz do sol que entra com força total pela janela do Cantinho da Leitura (siiiim, lá em casa tem um lugar que eu decorei como cantinho da leitura: lanterna japonesa no teto, poltrona azul, tapete vermelho, almofada indiana, estante baixinha com livros variados. O melhor espaço da casa, definitivamente). São pessoas que passam uma noite ou duas semanas lá em casa, e todos são amigos da roommate mais popular do mundo. Muito mais do que eu, inclusive.

Do reveillon até hoje já passaram pelo sofá um suíço, uma mineira que mora em São Paulo, outra mineira que mora em BH, dois canadenses, uma brasileira e uma sueca e, de vez em quando, um niteroense.

Os amigos nacionais são parceiros das andanças da roommate popular pelo Brasil. Mas os internacionais são amigos virtuais que ela conheceu através do CouchSurfing, uma espécie de orkut de mochileiros. Deu pra sacar?

O CounchSurfing existe como forma de estabelecer um contato entre aqueles que desejam viajar pelo mundo sem entrar no esquema turistão endinheirado. Você não é obrigado a dispor a sua casa para gringos desconhecidos, mas pode se oferecer para dar dicas de programas legais na cidade, ou para acompanhar os visitantes em passeios genuinamente nativos. É claro que sempre rola aquela visitinha ao Pão de Açúcar e ao Cristo Redentor, mas os canadenses que até outro dia estavam lá em casa encontraram um carnaval bem diferente daquele da Sapucaí, amplamente divulgado em Quebec, a cidade natal das figuras.

Quem vacila no CouchSurfing tem o filme queimado no site. Se você recebeu alguém que foi a maior furada, pode deixar um depoimento avisando aos outros companheiros que o tal fulano se revelou um hóspede encrenqueiro. Pela experiência do amplamente usado sofá lá de casa, o perfil de viajantes do site é de gente com cerca de 30 anos, classe média gringa, curiosos por conhecer esse país tão exótico chamado Brasil.

Algumas curiosidades sobre os gringos:
- Todos dormem de cueca e acham muito normal. Mas não ficam sem camisa de jeito nenhum.
- Os canadenses se referiam às passistas das escolas de samba como "mulheres peladas".
- Todos tentam arranhar um pouquinho de português.
- A grande maioria é desejada pelo sexo oposto nacional. E a recíproca é verdadeira.

Como forma de agradecimento à temporada passada lá em casa, ganhamos dos canadenses um vale presente da Casa e Vídeo, e uma linda orquídea da sueca. Ah, claro, e ganhamos novas amizades também - essas, priceless.

Tuesday, February 19, 2008

4 Estilos para escrever em um blog

1 - Marginal
Referência: Qualquer livro do Bukowski
Ex:
Sigo pelas ruas iluminadas de Copacabana, tropeçando em mendigos e nos buracos do calçamento inacabado, quando enxergo uma pequena porta escondida na Galeria Alaska. Escondo o cantil de metal recheado de vodca dentro do bolso da calça e me dirijo ao local. Entro. Trata-se de uma mistura de bar e puteiro decadente, remanescente da década de 50, onde cabeças brancas fazem sentar em seus colos meninas muito novas. No balcão, uma puta, velha demais para a sua profissão, procura um modo de acender o cigarro caído no canto da boca. Pego meu maço e o zippo, acendo o cigarro da puta e depois o meu próprio. Ela rosna um "obrigada", e percebo que falta um dente em sua boca escura. Nos beijamos.


2 - Sem ponto final (só permitido quando o texto acabar)
Referência: Um Copo de Cólera - Raduan Nassar
Ex:
Barco, vento no rosto, mar verde, música brega aos berros, sonhando em chegar logo, tomara que chege logo, ele me disse, eu respondi que sim, e ficamos parados olhando a água passando, a espuma, os outros tripulantes, imaginando que depois daquela linha tem uma curva, e depois daquela curva tem outra linha, e depois de tantas linhas pode ser que tenha a China, e como é que tanta gente viajava de navio antigamente, meses e meses vendo mar, espuma e sentindo o vendo no rosto, curtindo o silêncio das ondas, enquanto que nós temos que aturar o pior de todos os tempos em termos musicais, mas não tinha razão pra reclamar porque era sábado e eu estava a caminho da praia mais bonita do mundo, ou uma delas, e por isso mesmo eu engoli a música ruim e, sem dizer nada, sentei na proa do barco e mirei o horizonte.


3 - Prosa poética
Referência: qualquer jornalzinho alternativo de estudantes de Comunicação
Ex:
Divago. As horas pingam no ponteiro do relógio, zombateiras, rindo do meu tédio. Escorrego pelos minutos esperando que o fim do dia chegue, quando todas as respostas também chegarão e eu serei salva. Se ao menos todos nós soubéssemos o segredo do tempo, poderíamos moldá-lo à nossa própria vontade. Seria o poder supremo, o poder de todos os poderes, o de moldar o tempo. Mas as horas pingam, os minutos escorrem, e o fim do dia está longe. Espero. Antecipo. Divago.


4 - Onomatopéicos
Referência: On The Road, Jack Kerouac
Ex:
Fechei a porta. Blam. Acendi um cigarro. Zipp. Procurei um disco de jazz e coloquei um pra tocar. Bopblemtchuruboom. Trim. Tocava o telefone. Atendi. Não era pra mim. Sniff. Então beijei o fone. Smack.

Monday, February 18, 2008

Finalmente, Ilha Grande


É absurdo eu conhecer muito pouco dos paraísos que estão bem ao alcance das minhas mãos e bolsos furados. Mas a verdade é que justamente essa proximidade, passando a impressão de que a qualquer momento eu posso arrumar a minha mochila e me mandar, que me faz empurrar com a barriga o momento de viajar pra lugares legais no Rio. E então, depois de anos e anos de promessa, decidi parar de me enganar e pegar a primeira barca pra Ilha Grande.

A ilha é realmente maravilhosa, mas confesso que essa história de ter barco pra cima e pra baixo me deixou um pouco tensa. Porque os passeios lá funcionam assim: ou você vai a pé, por trilhas de 1h ou 2h, ou você pega um barquinho, junto com outros turistas, e vai curtindo o sol e o vento no rosto. Pelo meu histórico de preguiça e preparo físico, obviamente optei pelo segundo tipo. Como os barcos têm horários certos pra sair, eu ficava obcedaca pelo relógio, perguntando as horas de cinco em cinco minutos, quase um comportamento compulsivo. Passei o fim de semana com medo de perder algum barco e ver a grana do passeio se afogar no mar, ainda mais depois que eu e o Japanimatrix não conseguimos pegar a barca Mangaratiba - Ilha Grande, e tivemos que passar uma noite naquela cidadezinha bizarra. Mangaratiba só tem um hotel, o Mendonça, que cobra R$127 por pernoite, em uma cama com lençóis duvidosos e televisão sem controle remoto. Mas ok, vamos lá, a Ilha está logo ali na frente, não vai ser agora que eu vou desistir, né?

No dia seguinte, a primeira barca saía às 8h. Adivinha? Perdemos de novo. Mas ao contrário da noite anterior, dessa vez tínhamos várias opções de embarcações pra Vila do Abraão, onde passaríamos o sábado e o domingo. Escolhemos um saveiro grande, que nos cobrou R$20 cada pra fazer a travessia, e seguimos aturando Ivete Sangalo e outros axés nada agradáveis durante uma hora, mentalizando a praia de Lopes Mendes pra conseguir manter a sanidade.

Chegando na vila, fomos direto ao Albergue do Holandês, onde a gente tinha feito a reserva. Além dos quartos coletivos, o albergue tem uns chalés fofos com cama de casal e uma cama de solteiro, um banheiro limpinho e um ventilador que dá conta. O único vacilo (nosso) foi não levar Autan ou qualquer outro remédio contra mosquitos. Eu, que tenho sangue ruim, dormi que nem um anjo. Mas o Japa sofreu com o ataque dos mosquitos mutantes da Ilha Grande. Que fique anotado pra quem é alérgico: Ilha Grande sem Autan não rola!

Bom, mas isso só foi mais tarde. Naquela hora, só jogamos as coisas no nosso chalé e corremos pra praia pra tentar um barquinho pra Lopes Mendes. Conseguimos um lugar no último, que partia às 12h, e lá fomos nós pra uma das praias mais bonitas do mundo.
Só que aí tem uma coisa: ir de barco é mais confortável, mas também é mais caro. Pagamos R$15 por pessoa para chegar a Lopes Mendes, e R$30 para chegar à Lagoa Azul, no domingo.
Como chegamos tarde, muita gente estava indo embora da praia, e pudemos usufruir das poucas sombrinhas das árvores só pra gente. Milhões de argentinos passavam por nós, rumo à trilha que levava de volta ao barco. Eu estendi a minha canga, deitei virada pro mar de águas azuis e concluí que se eu fosse milionária, ia ser absolutamente insuportável de chata. Não dá pra ter um visual desses de bobeira, tem que rolar um certo perrengue, eu acho.

Friday, February 15, 2008

Todos dizem eu te amo

Não sei muito bem o que é o amor. Não imagino qual seja a diferença entre amar e estar apaixonada, nem entre estar apaixonada e adorar, nem entre adorar e ter inventado a adoração, só porque está legal assim. Já disse "eu te amo" sem amar realmente um milhão de vezes, porque tinha certeza absoluta de que um dia eu iria acabar amando mesmo. E já reneguei o amor do passado comparando com o relacionamento presente: "Agora sim eu estou com o amor da minha vida, antes eu achava que amava mas na verdade tudo não passava de uma construção da minha mente sempre pronta a ficar entediada". Já ouvi "eu te amo"s com uma semana de namoro, com um mês, ou só no término, depois de três anos de indas e vindas. Em todas, eu disse que amava também. Mesmo quando não amava (ainda).

E eu sei lá o que é o amor entre um homem e uma mulher. Sei lá se já amei de verdade alguém na vida, porque amor de verdade não deve ser esse estrangulamento absurdo que já senti no peito, esse medo desesperado de perder o objeto de desejo, esse frio na barriga e essa raiva porque eu queria mais e mais atenção. Isso não deve ser amor. Isso deve ser algum tipo de adoração quase religiosa, um culto que, obviamente, não pode ter final feliz.

Na real, nem sei se essa é uma reflexão que vale a pena. Porque o que conta é apenas o presente, certo? E no momento, eu amo. Infnito enquanto dure.

Thursday, February 14, 2008

Eliana

De vez em quando sou pega de surpresa por algum sentimento que eu achava que há muito tempo estava morto e enterrado debaixo do cotidiano. Acontece muito quando ouço uma certa música, algum disco que escutava todos os dias na época em questão, e que me fazem lembrar da seqüência dos acontecimentos que me fizeram ou muito feliz ou muito triste. Obviamente, essas épocas estão sempre associadas a alguém que não participa mais da minha vida: ou porque perdemos contato, ou porque brigamos (são raros os casos, mas existem), ou porque a pessoa morreu.

Ontem o Japanimation me perguntou como foi o dia da morte da minha mãe. Nunca ninguém havia me perguntado isso antes, e eu encarei a conversa da forma como sempre faço quando comento que fui criada pela minha avó: com mais preocupação em não constrager o ouvinte do que em relembrar o momento.

E aí comecei a narrar, com riqueza de detalhes, as mãos suadas do meu pai quando ele foi me pegar na casa de uma amiguinha onde eu havia passado a noite, toda a família reunida em casa e todos estranhos como eu nunca tinha visto antes, o telefone que não parava de tocar e a notícia que o meu pai teve que dar sozinho para minha irmã e eu, ela com 6 e eu com 8 anos, e de como eu não chorei no dia e achei isso esquizito, e de como a minha irmã chorou e disse que estava com uma dor no coração e que também deveria estar doente, e de como voltamos pra casa da minha amiga enquanto o resto da família foi para o enterro, e da mãe da minha amiga oferecendo colo e a gente brincando sem entender totalmente a situação.

Na medida em que eu fui narrando, fui sentindo os olhos enchendo de água e fiquei surpresa por ainda restar alguma lágrima para chorar sobre o assunto que me acompanha há tantos anos, e que há muito deixou de ser tabu. Ele me abraçou e pediu desculpas e eu disse que tudo bem, que na verdade era até bom saber que esse amor ainda existia, mesmo depois de camadas e camadas de ausência.

Wednesday, February 13, 2008

Plano de carreira

Quando eu era garçonete em NY, costumava olhar com inveja branca as mesas de amigas na casa dos 30 que se reuniam na sexta à noite para beber vinho, comer bem e bater papo. Nos meus míseros twenty-something, me perguntava se algum dia teria dinheiro e amigas que me acompanhassem nesse tipo de programa.

Sete anos se passaram, e de repente eu me vejo bebendo saquê em um restaurante japonês do Leblon, em pleno carnaval carioca, acompanhada de duas amigas que, como eu, não se enaltecem com samba, suor e cerveja (se bem que uma delas até desfilou esse ano, e a outra encarou a Sapucaí em outros tempos). Mesmo sem a mínima fome, eu me dedicava com afinco ao sushi de ovas que sorria à minha frente, enquanto ouvia teorias bem construídas que faziam um paralelo entre o mercado de trabalho e relacionamentos amorosos. E uma delas explicava:

- O casamento é um contrato, todo mundo concorda com isso. Todos estão sendo avaliados, como em uma entrevista de emprego. O homem avalia se a mulher é apta a cuidar de seus filhos, e a mulher observa se o homem será capaz de lhe prover uma vida com o mínimo de conforto. É como se fosse um plano de carreira.

Daí eu lembrei que o meu primeiro namorado sério, por quem eu fui indescritivelmente apaixonada, tinha parado de estudar na 5a. série, enquanto que eu estava entrando na faculdade. Saca aí o abismo. Eu falava pra ele fazer cursos e se aperfeiçoar na sua área, não porque queria que ele ganhasse mais (até porque, naquele tempo, ele ganhava muuuito mais que eu, uma pobre escraviária de salário mínimo no ramo das comunicações), mas porque achava que assim ele seria mais feliz.
Não tenho mais a menor ilusão de que hoje em dia eu não teria a mínima paciência para um ser humano desse tipo.

Outra coisa que eu andei observando é que os ricos estão fadados a ficar com ricos, os da classe média e os pobres ídem, como um sistema de castas invisível e facilmente aceitado por todos - menos pelos tais alpinistas sociais, gente que eu nunca conheci pessoalmente, mas que eu sei que existe. Aliás, seguindo essa lógica, se eu conhecesse muitos alpinistas sociais, será que eu correria risco de me tornar uma?

Houve um tempo em que eu queria um maridinho assim também, que ganhasse muito mais e pagasse os empregados, enquanto que eu poderia ganhar pouco (mas, ainda assim, ter a minha carreira, sabe como é?) e dividisse o meu tempo entre o trabalho, os filhos e a decoração da casa (contanto que o meu marido bem provido pagasse os móveis que eu escolhesse). Mas aí eu fui vendo que todo mundo que eu conhecia ganhava a mesma coisa que eu - se não, menos - e aí vi que não adianta, só tem uma pessoa nesse mundo que pode me dar as coisas que eu quero ter: eu mesma.

Mas tudo bem, porque há muito tempo eu desisti de ter alguém pra cuidar de mim - inclusive descobri que não sou muito boa nisso, em deixar que me cuidem, porque fico bem mais orgulhosa de mim mesma quando eu faço tudo sozinha. Só peço ajuda pra trocar pneu de carro e usar a furadeira. De resto, pode deixar que eu me viro.

Tuesday, February 12, 2008

Brincando de casinha

Em fevereiro, as minhas olheiras andam um pouco mais profundas do que o habitual. Durmo tarde todos os dias, porque o Japanimatrix dorme tarde, e acordo cedo (antes das 11h é cedo, certo?) porque tenho que trabalhar. Entre a hora que acordo e a hora que vou dormir, faço compras no supermercado dos sucos que ele gosta, preparo cahorros-quente absolutamente sem graças no jantar, tento arrumar o quarto que insiste em permanecer uma zona completa e lavo louças e mais louças e mais louças.

E penso que em março eu vou sentir muita falta dele me abraçando de manhã como se seus braços fossem de borracha, do ar condicionado exageradamente gelado, do laptop dele na cadeira e do meu na mesinha do quarto, da frustração de baixar filmes raros por dias e depois descobrir que eles estão dublados em francês, da negociação dos programas de fim de semana (eu, que tenho três festas pro mesmo dia e sempre quero ir em todas), dos almoços em que chutamos o balde e gastamos aos montes, das conversas intermináveis madrugada adentro ("olha só, tá amanhecendo") e de tantas outras baboseiras que não interessam a mais ninguém a não ser a nós dois.

Eu sei, é meloso demais. Já escrevi uns quatro testimonials pro Japanimatrix no orkut, e apaguei porque fiquei com vergonha de ser tão mela-cueda. Mas fazer o quê, né? A breguice faz parte disso tudo.

Thursday, February 07, 2008

Mixed Feelings em relação ao carnaval

Primeiro momento: Eu odeio carnaval

O Japanimation adora carnaval. Eu, por definição, odeio. Eis aí o primeiro impasse do namoro.
Como boa namorada, resolvi acompanhar um bloco pra ver como é, e para calar a boca de todos os meus amigos que não cansam de gritar: "Se não conhece, como é que sabe que não gosta?". Fui estrear o carnaval 2008 no Empolga às 9, bloco que sai em Botafogo e que é conhecido como "bloco família".
E eu protagonizei um faniquito. Estava um calor abafado, e os amigos do Japanimation estavam na frente do bloco, enquanto que nós estávamos atrás. A idéia de cruzar os músicos foi a pior de todos os tempos: ficamos parados, encurralados por uma multidão de folioes que pareciam não se importar com muita gente e muito calor. Tava todo mundo feliz à minha volta, menos eu. Cansada de tentar alcançar uma esquina que nunca, mas nunca mesmo, eu chegava, falei pro pobre do meu namorado: Eu quero sair daqui agora!
Eu estava a um milésimo de segundo de sair chutando velhos, crianças e demais seres humanos, e precisava de ar não carnavalesco para respirar. Chegamos ao final da rua, o bloco seguiu em frente e a gente virou à direita, no exato momento em que eu direcionava meu chute pras canelas alheias. Demos sorte.

Segundo momento: Eu adoro carnaval

No segundo dia, fui fantasiada de Borboleta Mal-humorada para o bloco que todos os meus amigos adoram, o Boi Tolo. E dessa vez eu gostei. Estava chovendo, como em todos os dias desse carnaval carioca, mas eu achei uma delícia ficar me aliviando do calor de fevereiro no meio das ruas do Rio antigo. Fiz filminhos alegres do povo cantando "Olha a cabeleira do Zezé", todo mundo muito fantasiado e colorido.
Quando o bloco chegou ao Palácio Tiradentes, ponto final da andança, encontrei os tais amigos que são carnavalescos, e um deles (o Mauro, que fique registrado), ao me ver, nem oi disse, partiu logo pro berro: "Admite que é muito bom! Vai, admite!"
E eu admiti.
De lá, seguimos para o Boitatá, e como eu estava de bom humor e levemente de pilequinho, dancei, cantei, sambei, pulei, e fiz todas essas coisas que fazem as pessoas que não se incomodam com o carnaval.

Terceiro momento: Eu adoro carnaval. Mas só o que rola no centro do Rio

Da Praça XV, onde rolava o Boitatá, seguimos para o Jardim Botânico, onde teria o Bangalafumenga. Here we go. No caminho, deixei em casa uma amiga que vomitava intermitentemente (quem pula carnaval não almoça, só bebe muitos tipos de bebidas diferentes, o que resulta em ressacas homéricas e, aqui e ali, Rauls pelos cantos da cidade).
Chegando no Jardim Botânico, ofereci minhas asas de borboleta ao deus do carnaval, desovando as companheiras em cima de um capô de carro, onde, com certeza, encontrariam um novo dono muito mais interessado nelas.
Depois, tudo começou a ficar muito confuso: não paravam de chegar pessoas e mais pessoas, o clima estava de muvuca e eu quis sair daquele lugar o mais rápido possível. Pedi peloamordedeus vambora, e a gente foi, mas eu já estava com a alma lavada de ter participado um pouco do carnaval do Rio. E ficava repetindo a musiquinha que os meus companheiros de folia entoaram na escadaria do Palácio Tiradentes: "O Rio é melhor que Salvador..."
Os baianos que me desculpem, mas é verdade.