Friday, April 17, 2009

O cheiro do ralo

Essa semana passei por uma apendicite. Foi exatamente como a gente ouve falar que são as apendicites das outras pessoas: cheguei ao hospital morrendo de dor, achei que era gastrite, fui pra casa ainda com dor, voltei ao hospital e lá fiquei, dessa vez com o diagnóstico do apêndice inflamado, e com a proibição de deixar o prédio. E então me colocaram no soro, me vestiram aquela camisola aberta na bunda, me abriram e me fecharam, até que eu voltei pra casa.

Mas então acordei com um enjôo ao cheiro da água que me fazia vomitar em questao de segundos. E fiquei pensando que enjoar com o cheiro da água, que é um cheiro que nem existe, é uma espécie de maldição do apêndice retirado.

Durante meus dias de hospital, eu andava pelo corredor do meu andar carregando o suporte do soro, e me sentindo como uma figurante não do Grey's Anatomy, mas do Scrubs, principalmente quando dava a descarga no vaso ou ligava a torneira pra escovar os dentes e com isso vinha a ânsia de vômito.

Isso me fez lembrar de uma mulher que escreveu a um programa de TV pedindo ao apresentador ajuda para superar seu medo de água - a hidrofobia dos termos médicos - que a impediam de entrar em lugares absolutamente seguros, como uma bacia cheia de água. O apresentador de TV leu a carta na produção, achou genial a mulher ter procurado a sua ajuda (e não a de um, sei lá, psiquiatra), e propôs à espectadora que ela viesse ao estúdio superar seu medo em rede nacional.

A mulher recusou, é óbvio.
Quando o cheiro do ralo provoca ânsia de vômito nos outros fica tudo muito mais fácil.

Thursday, April 16, 2009

Eu já fui muito melhor do que isso

Eu já fui muito melhor do que isso. Já me joguei mais, já vi nevar e fazer sol, já chamei de escroto e depois de "meu amor" no espaço mínimo de um segundo. Todo mundo já leu isso aqui e já disse que me conhecia, e eu respondi: na na nao! Tem mais aonde o diabo se esconde. Eu já escrevi um texto de sangue por dia, já chorei e lambi, salgadinhas, as minhas próprias lágrimas. Já comprei coca-cola pra jogar na cara do gringo que passou a mão na minha bunda, e depois saí correndo pro meio da pista com medo de que ele me batesse. Já quis morrer de amor, já achei que iria morrer de amor - mas sempre sobrevivi, porque não amava droga nenhuma, era tudo uma grande viagem! Já fui xingada com razão e sem razão, mas nunca levei tapa de homem. E nao digo que nunca vou levar porque essas coisas a gente nào sabe mesmo. Já escrevi textos mulherzinhas e textos pseudo malditos que me envergonham hoje em dia. Já fui um monte de lugar comum, e outro dia me disseram que eu sou careta e covarde e eu fiquei putíssima mas, quer saber?, devo ser mesmo. E não etsou nem aí. Já fui um monte e agora não sou nada. Mas daqui a pouco volto a ser de novo.