Monday, August 30, 2010

Senhora é o caralho

Fiz 33 anos. Não que isso seja grande coisa, porque na minha cabeça eu ainda tenho 25. Com um pouquinho mais de dinheiro no banco, mas com muito menos juízo que eu achava que teria depois dos 30. Pelo menos ninguém veio me dizer que eu estava completando a idade de Cristo, porque isso significaria um risco alto de agressão física. Ainda bem que eu estou cercada por trintões que, como eu, ainda se enxergam com vinte e poucos.

O problema é que, fora os meus amigos, todas as outras pessoas do mundo sabem que eu sou uma trintona. E algumas arriscam seus pescoços me chamando de senhora. Sempre que isso acontece eu tenho vontade de responder "senhora é o caralho", mas sou impedida pela culpa católica de longos anos de educação em colégio de freira. Geralmente eu finjo que não ouvi e deixo pra lá. Mas quando o contato passa a acontecer com mais freqüência, treino o meu melhor sorriso e peço: senhora não, ne.

Lá em casa eu ainda sou apenas Bruna, enquanto meu marido é Seu fulano. Mas acho que isso tudo vai mudar quando eu passar praquele círculo de mulheres que deram cria.

Eu quero dar cria, mas morro de medo de dar cria. Eu preciso de no mínimo dois a três anos e um salário duas vezes melhor do que recebo pra pensar em um rebento. E, principalmente, eu preciso me habituar a ser chamada de senhora. Porque uma mãe é uma senhora por definição. E é por respeito, o que torna tudo mais bonito.
Só falta agora eu acreditar em tudo isso.

Wednesday, August 18, 2010

Cada um tem seu canto



Não me canso de olhar a pedra do Arpoador. É impressionante como a gente passa a vida de cara pro mesmo cenário, e mesmo assim consegue, vez ou outra, se maravilhar com aquela paisagem conhecida.


Nunca fumei maconha na pedra do Arpoador (mas também, eu sempre fui uma maconheira de quinta categoria, maconheira de faculdade e que, aos trinta, prefere não fumar pra evitar a larica e a tentação de perder a noção caindo no chocolate...).
Nunca beijei na pedra do Arpoador.Foi só outro dia que subi lá no topo da pedra, pra ver a ressaca melhor.
Mas já vi o sol nascer na base da pedra do Arpoador, no reveillon de 2007-2008. Isso serve?

Depois de muitos anos sem conseguir frequentar aquele canto, finalmente descobri como se faz pra aproveitar o Arpoador. E como ninguém lê esse blog mesmo (a não ser uns 5 ou 6 leitores fiéis - vocês acham que eu não sei da sua existência?), estou disposta a revelar aqui o segredo da melhor praia do Rio.

Pimeiro, esqueça o Arpoador nos fins de semana do verão. É impossível. Considere exclusivamente os sábados e domingos do inverno carioca, aquele que os ingleses dariam um braço pra ter igual. Posto isso, acorde cedo para chegar na praia antes das 10h da manhã. E fique só até 1h da tarde. Você nunca mais vai se esquecer do paraíso que é essa cidade.

A minha última praia ali foi no meio da Copa. A televisão exibia algum jogo obscuro e inútil, tipo Japão e Coréia do Norte. Fui sozinha pro Arpex. Aluguei uma cadeira, coloquei os fones no ouvido, e fiquei assistindo a vida de camarote.

A água estava naquele azul transparente que vez ou outra somos presenteados. Eu coloquei Radiohead pra ouvir, e embora a voz do Thom York seja para dias nublados, fiquei emotiva. Ainda fico, quando me lembro daquele dia. Eu precisava de um tempo assim, olhando o mar, ouvindo música e vendo criancinhas correndo pra lá e pra cá. Foi foda.

E me rendeu essa foto.

Thursday, August 12, 2010

Conversando com estranhos

Carrego sempre na bolsa um livro emergencial pra momentos de espera. Não suporto ficar vendo as horas passando sem conseguir ocupar essa cabeça tão cheia de conversa mole que é a minha. Até em fila de banco to eu lá em pé e de volume aberto nas mãos. É uma maneira de não me irritar com pessoas que ficam muito coladas em você, ou que demoram a dar aquele passinho a mais quando a fila anda.

Os livros de bolsa também servem para evitar a conversa com estranhos ávidos por trocar experiências. Acho que fiquei traumatizada anos atrás, quando voltava da faculdade no 750 lotado das 7h da noite. Sentei ao lado de uma senhora que me contou tudo, com detalhes, sobre suas doenças ginecológicas: miomas, úteros arrancados, sangramentos. Nunca foi tão longa a volta pra casa.

Mas recentemente andei pensando que até que as pessoas têm boas histórias pra contar. E que, se eu queria contar casos, deveria começar também a ouvir. E aí um dia me dei essa chance, enquanto esperava o carro voltar da revisão da concessionária.

Eu estava com o famoso livro de bolsa nas mãos quando um senhor nos seus 60 e poucos puxou conversa. Fechei o livro e escutei o homem falando do carro, da casa em Búzios, do síndico do condomínio em Búzios, e da filha dele que morava em Portugal e com quem ele não encontrava há 5 anos. (Aliás, ele puxou papo comigo porque me achou parecida com ela).

Argumentei que ele deveria fazer uma visita a ela, e aproveitar para passear por Lisboa. Ele me disse que em 2009 chegou a comprar a passagem, mas teve um problema no embarque e depois disso nunca mais tentou viajar de novo.

Ele parecia triste com isso, e acabou me confidenciando por que nunca mais tinha viajado para a Europa. Acontece que ele chegaria em Lisboa por um vôo Rio - Paris, com escala em Portugal. Mas no momento do embarque, os policiais encrencaram com o passaporte argentino dele, dizendo que ele deveria ter um brasileiro, já que tinha dupla cidadania. Não o deixaram embarcar.

O homem voltou pra casa arrasado, comeu alguma coisa e foi dormir. No dia seguinte, ligou a TV e sentiu o coração fraquejar. Seu aviaão Rio - Paris havia caído quando saía do Brasil. Era o vôo 447 da Air France.

No momento em que ele me contou isso, joguei o livro dentro da bolsa. Apenas três pessoas haviam sobrevivido ao desastre - três passageiros que não tinham embarcado - e eu estava diante de uma delas. O homem disse que nunca contou para a filha porque não foi a Portugal, e confessou que desde então não teve coragem de encarar um avião.

Ainda penso nessa conversa e tento imaginar qual é a sensação que existe quando se descobre que não morreu. Alívio imediato, provavelmente. Crença em Deus ou em um poder supremo que governaria o mundo. Medo da morte.

Contei para duas pessoas a história do homem da concessionária. Meus ouvintes se surpreenderam, mas nem de perto sentiram o mesmo que eu senti no momento em que ouvi a história. Talvez eu não tenha feito a mesma expressão ou não tenha usado as mesmas palavras que o homem. Mas com certeza a falta foi minha.

Thursday, August 05, 2010

Previsibilidades Imprevisíveis

As pessoas são previsíveis. E uma das características das pessoas é achar que outras pessoas podem nos surpreender. Vez ou outra isso acontece, é verdade. Mas na maioria das vezes nós já sabemos o final da história, e só cabe à gente acreditar no prólogo ou não.

Repetimos sempre os mesmos comportamentos, as mesmas mancadas cíclicas. Dá uma raiva danada quando eu vejo que estou passando pela mesma situação que passei no mês passado por culpa exclusivamente minha. Admiro quem aprende com os erros, mas eu mesmo nunca conheci ninguém com essa capacidade. Só errando muito e várias vezes seguidas é que a gente se convence de que errou de verdade.

Eu adoro quando sou surpreendida com atitudes imprevistas - boas, é claro. Mas elas são tão raras. Eu acho uma pena. Queria uma surpresinha só de vez em quando, peloamordedeus. Alguém?

Wednesday, August 04, 2010

Olhos bem abertos

Quem sofre de insônia sabe: existe aquele micro momento em que estamos quase adormecendo e pensamos: vou conseguir dormir. Aí a gente acorda. E demora mais uma horinha looonga pra conseguir entrar no clima de novo, dessa vez tentando esvaziar a mente - o que por si só já dá um trabalho filho da puta. Insônias são contraprocentes, irritantes e angustiantes. E sempre chega a hora em que eu desisto de lutar e ligo a TV.

Não sofro de insônia. Mas, vez ou outra, por conta de ansiedade/putisse/preocupação eu acabo fritando bolinhos na cama. Aí levanto, acendo um cigarro, circulo pela casa. Mas aí é o problema, porque quando faço isso tudo estou contribuindo para que o sono não volte a se apresentar tão cedo. E quando ele chega de verdade é sempre uma hora antes do despertador tocar. É só comigo que é assim?

Daí hoje eu estou com olheiras até o umbigo, e me matei pra não dormir na aula sobre Proust. Ele também tinha insônia. E ele também acordava e achava que estava em outro lugar, às vezes. E às vezes ficava feliz, outras ficava triste por não estar onde achava que estava.

Depois de pensar "dormi" e acabar acordando, achei que estava no meu quarto de infância, na casa do meu pai. Fui abrindo os olhos e reconhecendo o fundo barulhento de Copacabana onde, não importa a hora, tem sempre um ônibus passando embaixo da minha janela. Não, eu não estava na casa do meu pai, aquele lugar tão silencioso e quieto que me dava tédio na adolescência.

E dessa vez, quando percebi que não estava lá, eu fiquei triste.

Tuesday, August 03, 2010

Sunday Morning

Eu devo estar a caminho do Nirvana, porque o impensável aconteceu: dispensei uma festa no sábado à noite para aproveitar a manhã de domingo. E o pior (ou melhor) é que no dia seguinte acordei sem remorço de ter perdido a festa - o que também é novo pra mim - e fui pra praia com o meu aparato de corredora-fumante. Sinto que um novo ciclo se inicia.

A manhã é a minha parte favorita do domingo. O calçadão de Copa está fechado, e parece que todas as pessoas do Rio vão pra lá pra aproveitar o sol. Eu gosto disso. Porque não sou bairrista, porque não me considero um exemplo de moradora de Copacabana (ao contrário, ta escrito na minha testa que eu sou uma outsider) e porque eu gosto de ver a vida das pessoas passando por mim.

Como antes eu tinha o chorinho da praça, agora eu tenho só pra mim aquela paisagem conhecida mundialmente. Ajeito o boné com filtro solar 60 no rosto, e vou pela ciclovia recebendo um olhar de reconhecimento de semelhante por aqueles que, como eu, decidiram que suar um pouquinho por dia faz bem. Depois, paro na casa de suco mais próxima e peço um copo de suco de uvas roxas, e me recomponho antes de voltar ao apartamento. Reluto demais em me enclausurar de novo, porque a vida de domingo no Rio é muito pulsante e muito arrebatadora, e dá até vontade de andar de patins, mesmo que você seja péssima nisso. cair na frente de todo mundo não é um problema.

Tem domingos que não acabam nunca. No último, saímos meio tarde de casa, e eu corri pra lá e pra cá enquanto ele ficou no skate. Depois, andamos alguns quilômetros até o restaurante de frutos do mar e comemos uma paella com amigos. E eles foram lá pra casa ver futebol. E só às 9h da noite eu pude tirar a minha roupa de praia e encerrar o expediente da carioca com mais cara de paulista da história de Copacabana.

Thursday, July 29, 2010

E finalmente a caixas se vão

Faz oito meses que me mudei. Há nove meses eu era uma pessoa que dividia o apartamento com amigas, fazia festas de tendência duvidosa no fim de semana (que rendiam vídeos no Youtube e quase términos de amizade) e jantava, todos os dias, salsicha e ovo mexido. Agora eu faço compras de cinco quilos de arroz e já me acostumei a não pedir a pizza de champignon, porque lá em casa ninguém prefere esse sabor. E acabei descobrindo que nem sinto tanta falta assim dos cogumelos.

Mas as caixas da minha mudança, durante todo esse tempo, estavam encostadas em um canto da casa. Aquilo me fazia um mal que não dá pra descrever. Meus livros mal empilhados. Minha coleção do Peanuts misturada com a minha coleção do Sandman. Um caos de HQ completo.

Só que um milagre aconteceu: um dia, eu e o namorido viajamos para Itaipava, e voltamos pro Rio com um tapete para a sala. Experimentamos e o tapete pediu uma mesa de centro. Eu trouxe uma da casa do meu pai, arrumei bem no meio do tapete, e fiquei olhando praquele móvel vazio. E descobri que a minha coleção so Sandman ficaria luxuosa ali naquela mesa. E aí, finalmente, comecei a sentir que aquele apartamento estava ficando com cara de minha casa.

Outro dia, fomos comprar tecido para estofar a minha poltrona que a Catarina (a gatinha do meu antigo apartamento) tinha transformado em arranhador. Eu perguntei pro meu querido cônjuge o que vamos fazer depois que a fase da decoração acabar, e ele respondeu: vamos dar uma festa, claro. Achei a resposta muito digna de uma solução Bruna e, mais uma vez, entendi que ali é o meu lar.

Agora falta pendurar os posteres que compramos na Allposters.com. E vamos reformar a mesa anos 80 que foi presente da tia dele. Entre uma música e outra do Guitar Hero Rock Legends eu procuro enfeitinhos e coisinhas de casa que antes passavam batidas no meu passeio pelo shopping. Então é assim que se faz, né?

Achei que eu não ia aprender nunca.

Wednesday, July 28, 2010

Um ídolo não pop

De tantas imagens fortes que a cobertura jornalística mundial já exibiu, a que mais me impressionou foi o Peter Jennings, âncora da ABC, em mangas de camisa e nitidamente exausto, apresentando as últimas notícias sobre os ataques de 11 de setembro. Foi depois da queda das Torres Gêmeas que Peter Jennings não quis mais sair do ar, queria ele mesmo transmitir todas as notícias do início dessa guerra, e chegou a quebrar o record de pessoa que ficou mais tempo no ar na TV.

Peter Jennings já era meu âncora favorito antes. Porque eu acabei desenvolvendo um carinho especial por ele quando, por volta de 20h, eu tinha que ouvir e transcrever o jornal de rede da ABC, nos meus tempos de estagiária de jornalismo em NY. Foi ali que descobri que existe uma forma diferente de apresentar um telejornal. Uma coisa além de Willian Bonner e muito, muito mais próxima que Cid Moreira. O estilo de Jennings de ancorar aquelas notícias era todo pessoal. Por isso que eu gostava dele.

Agora olha só, o cara era ex fumante, e depois dos ataques ao World Trade Center, voltou ao vício. Isso resultou em sua morte por câncer no pulmão, em 2005. De algum modo, eu considero o meu ídolo um mártir do jornalismo. Pelo tanto que ele se envolveu com a história do seu país. Por ele se livrar do paletó e perder a postura rígida dos apresentadores de TV, enquanto passava das 12 horas na bancada do telejornal. E a imagem que eu carrego dele é o rosto cansado na TV, os cotovelos apoiados na bancada como se ele estivesse conversando na minha casa, me contando as últimas informações que recebeu.

Diante de Peter Jennings, somos todos eternas focas.

Tuesday, July 27, 2010

Onde você estava no começo dessa década?

Eu estava em Nova York, servindo mesas, ganhando míseros dólares de gorjeta e, mesmo assim, me divertindo bastante. Falando inglês com sotaque de moradora do Brooklin, porque o dono do restaurante que eu trabalhava era de lá. Vendo as torres do World Trade Center caindo. Passeando no Central Park nos meus days off - um programa barato e aconchegante. Cozinhando arroz com micro camarões e algas japonesas. Brincando de casinha com meu então namorado.

Felipe Hirsch, o único diretor de teatro que eu respeito, me perguntou isso ontem na sua coluna do jornal O Globo. Ele queria falar de bandas que despontaram a partir de 2000: Arcade Fire, LCD Soundsystem, Artict Monkeys. Bandas que eu ouço e recomendo, porque acredito que os anos 00 tiveram uma boa contribuição artística pro mundo. Eu não queria viver em outro lugar nem em outra época: acredito que estamos passando por um ápice tecnológico, que o Brasil está cada vez melhor posicionado no cenário mundial e que as descobertas da ciência fazem com que soframos menos com as mazelas do corpo.

Houve um tempo em que eu acreditava que a melhor época da história já havia passado. Quis viver nos anos 60, depois nos 70. Cresci nos 80 ouvindo rock brasileiro e nos 90 me preparei para cair nas pistas de dança. Observei tudo isso, e agora digo com certeza: não há nada como 2010.

Monday, July 26, 2010

Viva a melancolia

Quando eu era uma jovem universitária, era uma pessoa muito ávida por cultura. Lia pra cacete, via filmes em sessões vazias do Estação Botafogo e encarava meus colegas de período com aquele ar blasé fake de quem acha que já viu muito mais do que os outros. Pobre de mim.

Mas toda essa busca por cultura tinha uma razão de ser: a minha melancolia. Ela estava sempre lá. Não sei por quê inventei de ser melancólica (eu não tinha razão pra isso), mas o fato é que lia tanto e via tantos filmes pra conseguir algumas respostas sobre a vida.

Tinha vezes que dava certo. Foi quando assisti "O Sétimo Selo" e simplesmente pirei com o Bergman. Pensei: "Agora estou entendendo tudo!" Mas a real é que eu não estava entendendo nada. Mesmo continuando a ver filmes suecos lentíssimos.

Aí o tempo vai passando e a gente começa a trabalhar muito mais. E tem pouco tempo. E então, quando percebemos, quase não temos ido ao cinema, nem lido nada relevante, nada que nos dê um sentido. Aliás, passamos a não buscar mais esse sentido. Quando nos damos conta, estamos apenas vivendo.

E foi assim que, um dia, eu vi que estava indo pelo caminho errado. O caminho de deixar a correnteza levar, o que pode acabar fazendo com que eu bata nas pedras. Corri pra livraria e gastei uma grana considerável em três livros imprescindíveis. Era o recomeço da busca.

A minha melancolia ainda existe, mas dessa vez eu não a vejo mais como inimiga. É ela que me faz evitar a todo custo a vida no modo piloto automático. É ela que me obriga a gastar dinheiro que não tenho com coisas que vão me fazer bem. A minha melancolia é a minha melhor parte. Ainda bem que eu sempre trago comigo.

Friday, July 23, 2010

Runners High

Quem corre direito, e não faz esse passeio medíocre que são as minhas manhãs na orla de Copa, diz que depois de 15 minutos passa a se sentir em um estado de êxtase corpóreo. É o que os corredores chamam de runners high: uma sensação de relaxamento e bem estar que se compara ao que sentimos quando usamos certos tipos de droga.

Mas a minha pergunta é: se isso só acontece após os 15 minutos iniciais de corrida, como é que ficam os pseudo atletas fumantes que não conseguem correr direto nem dez minutos? Eu tava precisando tanto de uma high dessas, só pra variar um pouquinho. Mas parece que, diferente do mundo das drogas sintéticas, essa aí a gente tem que fazer por merecer. E por enquanto eu não estou merecendo não.

Matei minha corrida de hoje. Ainda tenho a esprança de chegar em casa meia noite e dar uma volta no calçadão, só pra não fazer cair a minha meta. Porque dessa meta dependem outras metas, tipo manter o humor aturável e parar de fumar ainda esse ano.

Putz, a vida era bem mais fácil quando dava pra comprar satisfação com o playboyzinho da festa.

Thursday, July 22, 2010

Live and let live

Os psicólogos que trabalham com dependentes químicos avisam para a família dos seus pacientes: quando se trata de vício, o melhor é adotar o lema do Live and Let Live. Ou seja: deixa o outro se fuder um pouquinho que isso só vai ser bom pra ele, no final das contas. E, principalmente, siga com a sua própria vida.

Eu resolvi adotar esse lema pra tudo. Mesmo que eu não tenha pela frente um dependente químico, mesmo que eu não seja nem de perto uma viciada, resolvi seguir a linha do let live. É que fiquei muito tempo no estilo live and let die, o que pode parecer a mesma coisa, mas se você olhar bem de perto vê que não é. O live and let live é mais... pacifista. E eu to muito pacífica no momento.

Viver no estilo let live tira um grande peso das minhas costas. Todas vez que me vejo preocupada com outros que nem deveriam ser tão preocupantes assim, percebo que na verdade eles é que deveriam se fuder um pouquinho, como os viciados. Todo mundo que se fode aprende alguma coisa na vida. Eu já tive uma grande parcela de fodimento. Agora tá na hora de deixar os outros seguirem seu caminho.

Tuesday, July 20, 2010

Dia 1

Minha vida só funciona com metas. Me formei em jornalismo, mas seria uma ótima bibliotecária: adoro arquivar, fazer tabelas, organizar e... propor metas. A da vez é correr todos os dias, chovendo ou fazendo sol, de ressaca ou descansada, de mau humor ou bem humorada. A verdade é que correr na praia é receita pra bom humor: mesmo nos dias em que estou latindo pelo mundo, a música do Ipod e o ventinho do litoral me ajudam a virar o disco. Ainda bem.

Comecei hoje. Acordei cedo, coloquei a roupa e corri míseros 20 minutos, colocando os bofes pra fora. Fuma, vai, garota. Dá nisso. Mas aí, quando cheguei em casa e me arrumei pro trabalho, comecei a sentir os benefícios da endorfina: fui berrando Rufus Wainwright dentro do carro, os versos que eu amo de 14th street: "don´t ever change, don't ever worry, 'cause I'm comming back home tomorrow"

Correr na praia é como assistir televisão: a gente fica vendo a vida passando, fica olhando bebezinhos e animais de estimação fofos, e finge que não percebe os vovôs de Copacabana virando a cabeça pra olhar a nossa bunda. Aliás, descobri que se minha meta fosse a terceira idade, estava feita: os homens de 70 são absolutamente meus fãs. Vai ver é porque aos 32 sou para eles o que uma garota de 17 é para os quarentões.

Monday, April 05, 2010

Entre o teclado e eu

Houve uma época em que eu tinha certeza absoluta de que seria uma escritora. Não faz tanto tempo assim: eu ainda não havia virado o cabo da boa esperança dos 30 anos, e achava que tempo era o que não faltava para escrever meu livro. Enquanto isso, meus companheiros de outros blogs foram lançando livros, ganhando fama e pouco dinheiro, e hoje estão quase todos muito bem. E sobre o meu primeiro romance, nem uma linha. Virei a eterna promessa de mim mesma.

É que eu tinha (e tenho) medo de fazer algo medíocre. Sou muito boa em criticar a mediocridade, e não aguentaria o tranco de ser criticada de volta. Mas a vida vai passando e você percebe que não fez nada de relevante por você mesmo, e aí os medos começam a se transformar em outros. Foi isso o que aconteceu comigo.

Eu acho que preciso de solidão. De ficar um fim de semana isolada do mundo, de jogar meu celular no mar (como naquela cena de abertura do roteiro que eu comecei a escrever e não terminei), de ser forçada a pensar sobre a vida, mesmo que ela seja ficção.
Tá na hora de sair dessa comodidade ridícula.

Wednesday, March 24, 2010

Clubbers das antigas

Outro dia fui à festa de aniversário da Giselle, uma amiga que não chega a ser amiga, mas que eu quero muito bem. Ela faz parte de um grupo de pessoas que eu conheci na específica situação de boates de música eletrônica. E o mais irônico é que você realmente pode conhecer pessoas com a música alta e enquanto dança um pouquinho e bebe um pouquinho. Depois de ser apresentada à Giselle, já fiz uns trabalhos de assessoria de imprensa pro salão que ela mantém em Ipanema. E, de vez em quando, deixo umas medeixas por lá.

Meu marido não entende muito bem essa história de amizades noturnas. Durante toda noite, cada vez que alguém me encontrava e me dispensava um daqueles abraços dignos de resgate de seqüestro ("Brunaaaaaa!!! Quanto tempo!!!!"), ele me perguntava: de onde você conhece? E eu sempre tinha a mesma resposta: da noite...

Mas deixa eu explicar melhor. No meio dos anos 90, os amantes de música eletrônica no Rio de Janeiro eram uns poucos gatos pingados, que se encontravam todo sábado na mesma boate - a única a se dedicar ao gênero no Rio - ouvindo os mesmos DJs. Não queríamos ser um clube, mas éramos. Sonhávamos com o dia em que o Brasil veria raves do tamanho das que eram feitas nos desertos norte-americanos, ou nas ruas de Berlim. As meninas usavam glitter e estrelinhas coladas na sobrancelha, e todo mundo saía de tênis porque assim era mais confortável pra dançar.

Sendo assim, depois de certo tempo reconhecendo os mesmo rostos desconhecidos, chega uma hora em que você simplesmente passa a falar com aquelas pessoas. Não sei bem como conheci o povo que estava na festa da Giselle, mas sei que foi bom reencontrar meus antigos companheiros de dancinhas. É um pessoal fácil, que fala sobre amenidades, sem maiores conseqüências. E, por isso mesmo, é bem divertido.
Tem vezes que a gente só precisa falar sobre o calor do ex-verão ou sobre se a música que está tocando é boa ou não.

Friday, February 26, 2010

Foda-se o "como"

Sou absolutamente obcecada por Lost. Por isso, quando anunciaram que essa seria a última temporada, baixei ansiosa o primeiro e segundo episódios, esperando as respostas de todos os mistérios. Eu pensei: agora eles vão ter que explicar como a fumaça preta existe. Agora eles vão ter que arrumar explicações plausíveis de como as pessoas que não andam passam a andar na ilha, e de como os mortos voltam toda hora pra dar recados, e de onde vêm todos aqueles templos perdidos na mata. Quero ver como esses roteiristas vão sair dessa.

Já nos primeiros episódios deu pra sacar que nenhuma das minhas questões seria respondida. Ao menos, que não seriam respondidas com seriedade. A fumaça preta existe e pronto. Não importa o "como". Isso é menos importante no decorrer dos acontecimentos. Os mortos voltam porque eles voltam, e é assim que é. Acostume-se a isso.

No jornalismo, existem as cinco perguntas que toda reportagem deve responder: os famosos quem, quando, onde, como e por quê. Nas histórias de ficção, a regra deveria ser bem parecida, porque assim a coisa toda vez sentido, e quem assiste "acredita" naquilo que está vendo. Bem, parece que os roteiristas de Lost estão cagando para o fato de os espectadores estarem ou não comprando a história que eles estão contando. E o mais engraçado é que, quanto mais absurdo, mais a gente assiste. No True Blood é a mesma coisa. Em um mundo em que existem vampiros, lobisomens e bruxas, tudo é possível.

Então por que a gente continua vendo e baixando loucamente todas essas séries? Nem dá vontade de esperar chegar ao Brasil: é só ser exibido nos Estados Unidos que eu já to fazendo o download, em inglês mesmo. A gente compra o absurdo por mais absurdo que ele seja. Mas eu juro que queria saber como eles conseguem isso.

Tenho medo do final da série. Medo de eles chutarem o balde no final, cansados de tantos anos de mistério, e de repente arrumarem umas razões muito meia bomba pra tudo aquilo que aconteceu em cinco anos. Volta e meia a gente vê bons filmes com finais lamentáveis. Tomara que eles, os autores, não estejam tão chafurdados nos seus milhões que não tenham tempo pra pensar em como dar um fim digno à sua mina de ouro. Porque eles podem se foder pro "como", mas a gente não pode se fuder junto não.

Monday, February 22, 2010

Enquanto as horas passam

Deixa eu contar uma verdade sobre trabalhar em casa: a menos que você já faça isso há muitos anos e já esteja esquematizada pra que a coisa role devidamente, você simplesmente não trabalha. Hoje acordei, fiz compras, trabalhei um pouquinho, dobrei a roupa do varal (mas não passei por preguiça), fiz meu almoço, comi almoço assistindo TV, lavei a louça do almoço, bati papo com o filho do meu marido, guardei as compras quando o entregador do Pão de Açúcar chegou, tomei dois copos de suco, cozinhei batatas pro jantar e só então sentei de novo na frente do computador. E aí já eram 5h.

Enquanto fico em casa sozinha, fumo muitos cigarros e atualizo de quando em quando o meu twitter. Tudo para me enganar, para que eu não pegue na labuta. O Extremamente alto, Incrivelmente perto que eu peguei pra ler de novo - porque não há nada melhor pra ler na minha casa cheia de livros - ainda está jogado no sofá. Esqueci de dizer que assisti um episódio da primeira temporada de Barrados no Baile, e escrevi no meu blog de palpites.

Aaaaiii, como eu quero que chegue logo o momento de eu voltar a trabalhar loucamente. Não fui feita pra ficar esperando as horas passarem. Tenho sono. E pressa.

Sunday, February 14, 2010

Sobre a virada dos 30

Fico passada com gente na faixa dos 40 anos que demonstra insegurança adolescente. Eu achava que quando alguém chegasse a essa etapa, a vida já tinha tratado de ensinar algumas coisinhas - e uma delas seria como lidar com a baixa auto estima. Ou como organizar melhor a impulsividade. Ou como não fazer intriga. Então, toda vez que encontro alguém de 40 e poucos que me parece que ainda não aprendeu porra nenhuma do mundo, fico pedindo baixinho pra que eu, pelo menos, não chegue lá da mesma maneira. É a minha meta de vida, mais que ser promovida, ou comprar um apartamento. Que eu não vire uma quarentona adolescente!

Mas como eu disse, as coisas não são exatamente como eu imaginava. Quando tinha 20 e poucos, achava também que aos 30 eu seria uma pessoa completamente diferente. Bem resolvida, mais paciente - mais sábia, digamos assim. Que decepção foi perceber que, na verdade, a minha paciência diminuiu deveras dos 20 e poucos pra cá. Às vezes eu penso que devoluí.

Eu também vejo a falta de paciência nas minhas amigas de trinta e poucos. Talvez isso aconteça justamente porque a gente passa os 20 anos fazendo um monte de merda, e depois, quando chega aos 30, não quer repetir tudo de novo. Quantas vezes já ouvi por aí: "vacilou uma vez, então esquece", como se ninguém fosse inocente por errar uma vez! Sou adepta do sistema das 3 chances: um vacilo, ok; dois vacilos, humm; três vacilos, beijo e não me liga.
Mas as meninas balzacas não estão tão dispostas a deixar pra lá o primeiro erro.

Pode ser que isso aconteça justamente porque a gente se acha mais malandra aos 30, mais vivida, e pronta a reconhecer comportamentos repetidos. O que nos torna umas verdadeiras biches, quando você olha mais de perto. Ou então é o relógio biológico mesmo, que fica gritando enfurecidamente que a gente não tem tempo pra besteira.

A verdade é que a sabedoria não vem de graça com a idade, como eu achava quando era mais nova. Essa coisa de amadurecer dói pra caralho, tem que dar um duro danado, e não é só porque a gente ganha uns pés de galinha e umas celulites que automaticamente passamos a entender melhor os outros. Ou a lidar melhor com os loucos.
Eu acho que o foda mesmo é perceber que nada vem de graça, e que agora é hora de correr atrás do seu próprio aprendizado, e fazer todos os esforços pra isso. Pelo menos eu já saquei como funciona a brincadeira. Agora tá na hora de começar a crescer.

Friday, February 12, 2010

Sabe quando?

Sabe quando você apaga e reescreve o começo de uma carta por que na verdade não tem coragem de dizer o que está dentro de você?
Sabe quando você percorre sozinha por mil caminhos conhecidos e se sente ainda mais sozinha quando está acompanhada?
Sabe quando você explica algo a alguém e o seu ouvinte parece não entender absolutamente nada do que você disse?
Pois é.

Essa mulher que eu vou contar a história chegou em uma festa e, olhando ao redor, descobriu que não tinha absolutamente ninguém com quem conversar.
Primeiro tentou ficar sozinha, mas parecia que todos os seus movimentos eram filmados pelos outros. Depois tentou puxar assunto, mas descobriu que tinha pouco interesse no que lhe diziam. E aí, sem muita alternativa, foi pegar um drink no bar.

Como é mágico o efeito do álcool. Ficamos fluentes em línguas que mal sabemos falar. Nos tornamos especialistas em assuntos que não dominamos e passamos a ter certeza absoluta de que somos indispensáveis para a festa.
Essa mulher de quem eu falo, em pouco tempo, circulava pelos grupos que antes ela tinha rejeitado.

Sabe quando o mundo gira muito rápido, e de uma maneira muito irônica?

As doses vão aumentando, assim como o incômodo que ela tentava sufocar. O incômodo estava sempre lá. A raiva. Essa mulher de quem eu falo é um poço de ressentimento, e ela sabe disso. Ela pensava em ir embora, mas sabia que não conseguiria ir à francesa. Ela olhava pra porta, juntava suas coisas, mas não saía do lugar.

Sabe quando isso acontece?

Wednesday, February 03, 2010

Encaixotando Bruna

Meus 32 anos podem ser resumidos em sete caixas de papelão tamanho médio. Passei o dia juntando, arrumando e fechando com fita adesiva todo o meu tesouro, que basicamente se resume a livros, CDs e pequenos souvenirs de pessoas e lugares. Encontrei a carta que a minha avó escreveu quando me formei em jornalismo e tive vontade de chorar. E outra mega carta que escrevi aos 15 anos para a minha melhor amiga, uma colagem de slogans recortados da revista Capricho, que na época eu assinava. Anos depois, essa amiga me devolveu a carta para que eu relesse e guardasse as nossas histórias ingênuas de adolescentes. Guardei. Não tenho coragem de jogar fora tantos papéis inúteis que só servem pra contar a minha história.

Mas muita coisa foi pro lixo. Pilhas de VHS. Minha matéria de faculdade sobre as festas After Ours, que "começavam às 4h da manhã e iam até depois do sol raiar"- dizia o texto do off. Essa ficou. Também ficaram os filmes Super 8 do meu primeiro aniversário, e do casamento dos meus pais. E as cartas de amigos e parentes, e alguns presentinhos de ex namorados.

Cheguei a considerar jogar fora essas lembranças de amores passados. Um snowglobe com um ursinho segurando um coração onde se lê "Eu te amo" em alemão. Aquilo não faz mais o mínimo sentido: o menino que me deu isso de presente já casou, e eu também estou casando. Nossos ursinhos segurando corações são para outras pessoas agora. Mas... não tive coragem. Eu também sou esse ursinho esquecido. Então o snowglobe voltou para a caixa de lembranças de onde não sai há muitos anos. Pobrezinho, faz tempo que não vê a luz do sol.

E todas aquelas credenciais de imprensa. Por que todo jornalista gosta de guardar as credenciais de imprensa dos eventos que cobre? Parece uma espécie de prêmio, uma medalha. A minha mais importante é a do tapete vermelho da última turnê do Michael Jackson, quando eu morava em Nova York, em 2001. Mas também tem a do Rio Parede, que eu e Ana Paula conseguimos. Não estávamos trabalhando, é óbvio. Mas subimos nos trio elétricos ao lados de nossos amigos DJs e vimos o povo dançar pela Avenida Rio Branco abaixo. E também dançamos muito. Eu sempre soube me divertir como ninguém.

Agora tudo isso está guardado em sete caixas médias, esperando para se acomodarem no apartamento novo. Não sei onde vou arrumar espaço pra tudo isso. Mas vou arrumar. O meu tesouro precisa continuar comigo. Mesmo que esteja enterrado e semi esquecido.

Thursday, January 14, 2010

Mais Palpite

Texto novo no www.palpiteria.blogspot.com

Feliz ano novo

Em 2010, casei e mudei. Não tem nada mais simbólico que começar o ano com endereço novo e estado civil alterado. agora eu faço listas de compras e não janto mais um queijo quente e um copo de suco. Agora eu finalmente aprendi como se lavam verduras e legumes, e não compro mais aquelas saladas lavadas do supermercado Zona Sul. E também não frequento mais o segundo coqueirão da praia de Ipanema - se bem que isso não tem a ver com o fato de, agora, eu ser uma mulher casada.

Minhas amigas, a maioria de solteiras, me perguntam toda hora como é a vida a dois. Pois eu digo: por enquanto é uma colônia de férias. Cozinhar juntos é legal. Fazer compras juntos é legal. Lavar as cuecas do meu marido (na máquina de lavar também conta, né) e depois dobrar tudo e deixar em cima da cama é legal. Descobri que sempre fui uma Amélia incompreendida. To adorando essa história de brincar de casinha.

Fora isso, são as férias e a quase impossível missão de abrir espaço pras minhas coisas em uma casa que já está montada. Consegui negociar colocar o poster que a Luiza trouxe pra mim de uma feira de design na Alemanha na parede do banheiro, e aluguei uma garagem na esquina de casa com manobrista tudo. E de vez em quando eu vou dar uma volta na praia. Mas ainda não parei de fumar nem conheci uma cidade da América do Sul.

Tem muita coisa ainda a relizar em 2010.