Saturday, April 28, 2007

Texto reciclado

É muito feio reciclar um texto antigo?

Encontrei esse aí em um dos meus blogs antigos, e fiquei com vontade de postar de novo.
Só não lembro quem eu estava amando na época.

Quinta-feira, Setembro 23, 2004

Mais um texto sobre o amor

Sobre o tédio
Quase tudo já foi dito sobre o amor, quase tudo já foi escrito e pensado da pior e da melhor maneira. Este não é um tema novo. Mesmo assim, insisto no erro e no lugar comum quando sento em frente à máquina de escrever com tela: cigarro em um canto da mesa, telefone sem fio, milhões de papéis e eu amando. Nada poderia, mesmo que eu tentasse, soar mais piegas que isso. ‘Eu estou amando’. Taí uma frase que não deveria ser dita em voz alta uma única vez da vida de uma pessoa sensata – e mesmo assim é dita.

Me enrosco no edredom com muita preguiça de levantar. Da última vez que saí assim, bati em um táxi e deixei um rastro de tinta amarela no meu pára-choque pretíssimo, sinalizando para todo o mundo que eu sou uma péssima motorista. A vida deveria ser mais leve para aqueles que estão amando, para aqueles que carregam a cruz da breguice nas costas com incomensurável alegria. Mesmo assim, tenho que levantar e trabalhar e soar muito séria e muito centrada, mesmo quando preferia estar deitada na piscina admirando nuvens cor de rosa. A vida é muito, muito dura para quem está amando. Todas as pessoas parecem amargas e mal comidas perto de mim, sinto uma pena altiva dos seres humanos ao meu redor. Eles não sabem o que eu sei, eles não sentem o que eu sinto. Pobres, pobres deles.

Hoje me peguei desenhando corações enquanto falava ao telefone com o revendedor de tacos. Falando sobre preço de obras e reformas e em quanto tempo a minha casa será habitável de novo. Quando me dei conta, rasguei o papel e escondi dentro da bolsa. Ninguém deve desconfiar que estou amando, ou se sentirão ainda mais amargos e mais mal comidos do que nunca.

De todas as últimas vezes que amei, gastei o que não podia para presentear o meu amor. Aprendi minha lição: nunca parcelar presentes para amores no cartão de crédito. O romance pode acabar antes de a conta ser paga. Pois é, sim, sim, a vida é muito dura para quem esta amando de novo e de verdade.

Pessoas que passam

Às 11h da noite de ontem, eu me despedia de uma senhora de cabelos curtos que tinha lágrimas nos olhos. Ela já começava a sentir as saudades que teria das nossas gravaçoes, depois de cinco dias de convivência intensa. Eu sei que nunca mais verei essa senhorinha e, mesmo assim, embalada por latas e latas de cerveja, ela me abraçou e me deu um beijo no rosto. E convidou para voltar à Goanésia, GO, no carnaval do ano que vem.

O mais certo é que eu nunca mais volte à Goianésia. Ou a Silvânia. Ou a Pão de Açúcar. Ou até a Fernando de Noronha (que lugar absurdamente caro! Prefiro ir à Espanha e gastar a mesma quantia). Mas em todos estes lugares deixei pra trás novos amigos, de idades variadas, que acolherem à mim e à equipe como membros de uma grande família.

Uma vez, quando estava em Jericoacoara, CE (dessa vez eu fui a passeio), um israelense que havia conhecido toda a América Latina me ensinou que, para quem viva na estrada, o lance é estar desapegado das pessoas. Uma coisa assim meio budista, de deixar que o outro parta, que conclua a participação que teve na nossa vida, sem sofrer por saudades. O israelense, cujo nome já nem me lembro mais, disse que esta foi a maior lição que ele aprendeu nas suas andanças de um ano e meia pela América do Sul. E ele disse isso, é claro, quando estávamos nos despedindo.

Mas eu nunca fui muito boa em deixar as pessoas passarem. Tenho essa mania de segurar por perto quem eu considero de bem, talvez porque eu esteja de saco cheíssimo de gente chata. Esse povo que eu conheci pelo Brasil é sempre gente que tem estima por humildade e que abre as portas de sua casa com alegria e sem ressalvas. Uma situação muito difícil de acontecer no Rio.

Tirei tantas fotos de meus amigos goianenses, mas sei que daqui a um mês não me lembrarei mais do nome de ninguém. Só vai ficar na memória a imagem da senhorinha emocionada, e dos copos de vodka com coca-cola na beira da piscina depois da gravação, e do churrasco mal passado especialmente pra mim.

Thursday, April 26, 2007

Algumas imagens das minhas viagens

Mochileira na Bolívia - Cágados fazendo amor no Espírito Santo - Felino selvagem em Jundiaí - Leoes marinhos no Rio Grande do Sul - Casas em Ouro Preto, MG



Terra de arco-íris

Desde que cheguei a Goiás, já vi pelo menos três arco-íris, em situações diferentes. A razão disso, segundo a minha teoria absolutamente sem base nenhuma, é que devido às planícies do estado, a gente consegue ver a chuva lá longe, chegando, refletindo no sol que ainda está sobre o nosso carro (é que geralmente vejo esses arco-íris da estrada). Outro dia (também na estrada), consegui ver o começo e o fim de um arco-íris, um fato inédito para quem, como eu, mora em uma cidade grande, cercada de edifícios. Fiquei tirando fotos loucamente, e em breve elas estarão neste blog, quando eu recuperar o meu cabo e conseguir baixar as fotos da máquina.

Sempre gostei de presenciar arco-íris. Lembro de uma vez, quando tinha passado o reveillon fora do Rio, e tinha acabado de voltar para a cidade, que fui recebida com um lindo exemplar. Era dia 3 de janeiro de 2004, e eu achei que aquele era um sinal de que o ano ia ser muito bom.

Foi um bom ano. Como são todos eles. Não são?

Wednesday, April 25, 2007

Algumas verdades sobre a humanidade que precisam ser aprendidas

1 - Ser rotulada por um erro é fácil e rápido. Apagar a impressão que o erro causou nas outras pessoas demora meses, ou anos... Se você nunca mais errar. Se errar de novo, o julgamento virá mais forte que nunca.

2- Tentar agradar às pessoas é inútil, porque geralmente elas nunca estão satisfeitas.

3 - As fofocas servem para entreter gente que não consegue outros passatempos (e eu acho que é porque elas têm horizontes estreitos)

4 - quase ninguém olha para seu umbigo e é cruel consigo mesmo. A maioria costuma achar que está sempre certa.

5 - Pouca gente pede desculpas sinceras. E praticamente ninguém deixa de subir no salto ao ouvir desculpas pedidas com humildade.

6 - Subir um degrau na existência da espécie é gratificante, porém solitário.

Queria conhecer gente que:

- aceitasse um pedido de desculpas com um sorriso.
- fosse mais severa consigo mesmo, no sentido de fazer autocríticas.
- segurasse sua onda na hora de julgar os outros.
- reconhecesse o esforço de alguém para mudar.
- gostaria de subir um degrau na existência também.

Será que estou sendo utópica demais? Estou mais para ingenuidade que utopia.
Mas, no final, não é tudo a mesma coisa?

Tuesday, April 24, 2007

On the road

Tenho viajado pelas estradas de Goiás. Viajando e lendo o diário de Jack Kerouac, mas muito longe de ser como ele. Um dia, quem sabe... quando eu deixar de ser adolescente. Enquanto isso, admiro o céu do Centro-oeste do Brasil, um dos céus mais bonitos do mundo. Vou ouvindo Air, ou Chemical Brothers, ou a linda voz do Jim Morrison, amplificada nos meus headfones. My headphones... they've saved my life.

Passando por cidades mínimas, com uma praça, uma igreja desativada e uma em funcionamento. Jantando em casa de gente simples da cidade, mas que gosta de receber convidados. Aprendendo a andar a pé. Conversando com muitas crianças que ainda têm vontade de virar policiais quando crescerem. Outra vida, outro ritmo, e eu aqui aprendendo.

Mas com saudades do Rio.

Não tem jeito, sou amarrada a essa cidade. até quando morei em Nova York eu sentia falta, e volte achando a Lagoa Rodrigo de Freitas linda. Meus amigos todos reclamando que no Rio nao tem nada pra fazer, e eu toda babona.

Sou a carioca da gema menos bronzeada do universo.

Monday, April 23, 2007

Subindo um degrau na existência

Nunca na minha vida eu tinha sentido com tanta intensidade a subida de um degrau rumo à aprimoração da espécie. Posso falar com toda certeza de que, dados os eventos dos últimos três meses, eu não sou mais a mesma pessoa. Em um certo momento, isso foi muito ruim. Mas agora está sendo bom demais.

A questão que sempre me persegue é: por que a gente tem que passar o diabo pra aprender alguma coisa? Ou melhor: existe alguém no mundo que aprende sem sofrer?

Tive um namorado que achava que sim, que ele aprendia simplesmente observando seu erros. Eu acho que ele estava muito enganado quanto isso... E que, na verdade, ele não aprendia era nada. Mas, vamos ser honestos, quem sou eu para julgar se alguém está evoluindo ou não?

Eu só sei avaliar a minha passagem de fase. A dos outros, eu não tenho nada com isso.

O lance é que eu to orgulhosa da minha passagem. Passar de fase de maneira merecida, por esforço próprio e sem a ajuda de ninguém é uma recompensa como nenhuma outra. Não importa o quanto você se colocou na chibata, o quanto você teve que ouvir verdades de você mesma. No final, o que sobra é uma consciência tranqüila... e uma certa certeza de que, por um tempo, você será uma pessoa um pouco mais solitária. É o preço que se paga.

Mês que vem tudo é possível pra mim. Tudo pode acontecer. Eu não aguentava mais tanta estagnação na vida.
Me desejem sorte. Mas eu já sei que eu terei.

Wednesday, April 18, 2007

A membrana do presente

Ontem encontrei uma amiga que é, de longe, a pessoa mais entusiasmada que eu conheço. Ela conta histórias com tanta paixão que é impossível não prestar atenção ao que ela fala, e geralmente nossas conversas são regadas a drinks rosas em copos com design especial. É que essa minha amiga é boa em bebidinhas, e investe no assunto. Ela é o meu bar preferido.

Mas enfim, estávamos juntas ontem quando ela me contou de um curso filosófico/de desenho que ela fez no mês passado. E me ensinou a maior verdade dos últimos tempos.

Segundo o professor de desenho/filósofo da minha amiga, o tempo presente é uma membrana muito fina, na qual tentamos nos equilibrar. Só que, bobeou, estamos pendendo ou pro passado, ou pro futuro, e deixamos de viver o agora.

Fiquei completamente de cara. Mas essa é a resposta de todos os meus problemas! Viver o que está acontecendo no momento, e não ficar tantas horas, tanto tempo, pensando no que foi e em como vai ser...

Nas minhas viagens, muitas vezes fico ansiosa para voltar pra casa. Lá pelo meio do percurso morro de saudades da minha caminha, do meu travesseiro. E aí a temporada fora do Rio se transforma em algo insuportável, e qualquer dia parece se arrastar indefinidamente, como em um episódio de Além da Imaginação. Chego a ficar sem ar de tanta ansiedade, e acabo mergulhando em cigarros, noites mal dormidas e pratos rasos.

Mas a solução é poética. Ponha a sua alma no presente. Ponha você inteiro na ação que está fazendo agora, que aí você nunca mais briga com o Tempo, e você e o Tempo virarão grandes amigos. A membrana existe, mas ela é sustentável. Tem é que se ligar no equilíbrio - inclusive porque, não tem jeito, a vida é malabarismo mesmo, não é isso?

Friday, April 13, 2007

À procura de um apartamento

E, finalmente, às portas dos trinta, eu estou procurando um lugar pra morar. Já havia resolvido há algum tempo que era hora de me mudar, mas os últimos acontecimentos fizeram com que a decisão se tornasse urgente. E de repente eu me vi tomando cafés com potenciais roommates em bares do Leblon. Aliás, morar no Leblon foi quase uma opção, apesar de eu já ter escrito aqui que nesse bairro o custo-benefício não compensa. Como eu não canso de avisar, falo de novo: sou uma fraude.

O Leblon não rolou, é claro. Mas outros lugares podem ser possibilidades incríveis, e eu estou à caça de uma companhia para dividir despesas. Mas aí é que está o problema: como é que a gente sabe quem vai ser um bom roommate pra gente?

Não aguento mais ouvir conselhos, que chegam aos baldes, de todos os lados: "não more com quem você não conhece"; "morar com amigos íntimos é uma roubada"; "nunca divida o aluguel com um casal, eles unem forças contra você!"; "morar sozinho é solitário e caro, o melhor é ter uma companhia"... Enlouquecedor. Se pelo menos eu fosse o tipo de pessoa que decide tudo sozinha e foda-se o resto, estava tudo bem. Mas a verdade é que eu ouço tudo quanto é conselho, e me deixo convencer por todos eles, de modo que a minha opinião muda a cada cinco minutos.

O fato é que já arrumei um apezinho numa rua lindinha, arborizada, perto de vários cinemas, metrô, em frente à uma praça que tem um chafariz... Um lugar perfeito. Só falta mesmo conhecer o apartamento! Porque nele eu ainda não entrei - mas já etsou absolutamente convencida de que é ali que eu vou morar.

Queria muito definir tudo isso antes da minha próxima viagem. Mas que tolinha, na quarta to eu pegando a estrada de novo, rumo a Goiás e Brasília, bem no meio do Brasil. Vambora, né, minha gente. Anotei telefones de amigos que moram por aquelas bandas e avisei o proprietário do apartamento fofo: segura ele aí pra mim. E o cara vai segurar, porque é um cara legal e amigo da família e etc.

Se tudo der certo, em junho eu estou pintando uma parede de verde. E pendurando fotos na geladeira da minha cozinha.

Thursday, April 12, 2007

Retratos

Na última vez que voei de BH para o Rio, estava sentado ao meu lado um cara que segurava a foto da namorada. Ele havia baixado a mesinha e colocado o retrato em cima. Depois, fechou o tampo e pendurou a fotografia na trava da mesa, de modo que a moça da foto ficava olhando para ele. E foi nessa posição que eu pude espiar que imagem era essa que ele tanto admirava.

A foto era de uma menina sentada no banco do que parecia ser uma praça de cidade pequena. Ela sorria, com os cabelos ondulados chegando à cintura, um chapeuzinho de tricô na cabeça. O rapaz não sabia muito bem o que fazer com a foto: ele guardava no bolso esquerdo na camisa, depois tirava e ficava olhando um pouquinho, tornava a guardar, tornava a tirar e a prender na trava da mesa... Era uma dança que não tinha fim. Imagine que, a essa altura, eu já estava quase pulando em cima dele de tanta vontade de perguntar quem era a moça da foto, se ele ia ficar muito tempo longe dela, se ia encontrar com ela no Rio... Fiquei com uma baita curiosidade, mas não mexi um centímetro do rosto. Nosso único contato (fora o bom dia que eu sempre dou a quem voa ao meu lado), foi quando ele procurou, sem jeito, ajeitar o encosto da poltrona. Apontei para o botão e falei meio baixinho "tem que apertar aqui", e ele sorriu muito sem graça - e eu sorri de volta, retribuindo o acanhamento. E o retrato da moça lá, por perto.

Mas foi na hora da decolagem que eu entendi a função da fotografia. No momento em que o avião acelerou para começar a subir, o cara fez o sinal da cruz, e agarrou com força a imagem da menina sorridente. Sua respiração só voltou uns cinco minutos depois, com o avião já estável no ar.

Achei tudo tão lindo! Que manteiga derretida que eu sou. Nunca cheguei a conversar com meu vizinho de vôo e, pra falar a verdade, a lembrança dele sumiu da minha cabeça assim que pisamos na cidade maravilhosa, louca que eu estava para voltar para casa. Mas hoje, confesso que a história do homenzinho me veio à tona, meio sem razão aparente. Na verdade, eu sei bem porque esse homem ressurgiu: simplesmente hoje eu me vi como ele, olhando uma fotografia esquecida no fundo da carteira da mesma maneira que ele olhava para a foto da noiva (noiva?)

A grande diferença entre o homenzinho e eu é que ele recuperou o fôlego cinco minutos depois da decolagem.
E eu ainda estou sem ar.