Tuesday, June 17, 2008

A Flor da Inglaterra

Finalmente terminei de ler "A Flor da Inglaterra", o livro mais fraquinho do George Orwell que eu já li. Tudo bem que eu não sou expert em nenhum autor, mas até que já me rendi a vários dos títulos de Sir Orwell: o óbvio "A Revolta dos bichos", o clássico "1984", o autobiográfico "Na pior em Paris e Londres"... Aliás, "A Flor da Inglaterra" parece muito este último, com a diferença de que o "Na pior..." fala da época em que George Orwell ainda se chamava Eric Arthur Blair, e tentava ganhar a vida como escritor, enquanto que "A Flor" é total e absoluta ficção.

Bom, mas vamos aos fatos. "A Flor da Inglaterra" tem um personagem principal chatíssimo. Acho que, na verdade, eu gostei do livro; não gostei é do protagonista! Gordon Comstock é um cara que declara guerra ao dinheiro, mas vive tão obcecado pela falta do vil metal que acaba se tornando seu escravo. Ele repudia com todas as forças a burguesia inglesa (a burguesia fede... a burguesia vai ficar rica... sou só eu ou todo mundo que fala - ou escreve - a palavra 'burguesia' começa a cantar a música do Cazuza?), representada no livro pela aspidistra, uma planta que figura na sala de estar de toda a classe média da Inglaterra.

Pra piorar a chatice do Comstock, ele ainda é poeta, e mal sucedido (é claro). Então a amargura dele é financeira e profissional, porque a poesia dele é ignorada pelos literatos. O livro tem como pano de fundo pensões sem o mínimo conforto, plebe que lê livros de mistério, ricos que são socialistas e slogans publicitários lamentáveis. Pois é, Orwell sacou muito antes de todo mundo (o romance é de 1936) a grande porcaria que é a publicidade. Sorte dele não ter que aturar o meio da propaganda em plenos anos 00, com essa lista de prêmios, e de conceitos de que "publicidade é arte" que se vê por aí (e que só os publicitários acreditam, é claro).

Mas não foi horrível ler a "Flor da Inglaterra". Na verdade, todas as minhas reclamações a Gordon Comstock são, na verdade, elogios ao autor. Só quem é um gênio da literatura consegue fazer viver um ser que instiga tanta antipatia. Gordom é o verdadeiro anti-herói, o cara que você quer ver quebrar a cara, de tão tacanho que ele é. E o livro tem aquela escrita característica do nosso G.O., que faz as páginas serem viradas com facilidade, escorrendo palavras adentro.

Vale a pena, desde que você já tenha lido "A Revolução dos Bichos", "1984" e "Na pior em Paris e Londres".

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