Wednesday, February 15, 2012

Nerds tardes

Meu lado nerd há tempos clamava por um dia no museu. Eu tenho essa necessidade de visitar exposições e galerias, acompanhadas de amigos tão nerds quanto eu. Não se trata de um hobby cool, ou cult. Trocar um sábado na praia por uma tarde no MAM só pode ser classificado como coisa de nerd. Ou de paulista. Mas eu sou assim, fazer o quê. De vez em quando me baixa.

Pois então, eu e três amigos fomos ver as fotos da Nan Goldin. Aquelas que foram censuradas porque tem gente chata demais no mundo, sabe como é? Fui preparada pra ver imagens chocantes e me deparei com lindas histórias de amor. Até chorei - e uma grávida que vê uma cena de sexo e chora é algo pra se pensar, não? Ah, tudo bem, tinham uns viciados se injetando aqui e ali, mas o grosso mesmo da obra da Nan Goldin (pelo menos dessa que aportou no Rio de Janeiro) fala de amor, de relacionamento, de amizade. De uma maneira soco no estômago, ta certo. Mas no final a mensagem é: amem-se! Chega a ser uma mensagem cristã, quase.

Eu lembro de ver, dessa vez sozinha, uma exposição da fotógrafa, há muitos anos. Não lembro quando, nem lembro onde, só lembro do auto retrato que ela fez depois de tomar porrada do namorado. Achei corajoso demais. Hoje em dia eu sei que essa é uma foto meio lugar comum, que um monte de gente já fez. Mas naquela época, as pessoas que apanhavam se escondiam. Nan Goldin não só se mostrou, como ampliou os hematomas e correu o mundo. Toda a minha admiração a ela.
Saí do MAM com aquela sensação de alma lavada que só uma bela tarde nerd no museu proporciona. Na saída, bicões de abertura de exposição bebiam prosecco em copos de plástico. Meus amigos beberam, mas eu não. To grávida, ne. Bebi água mesmo. E mesmo de cara limpa aturei com toda paciência do mundo o começo do bloco de ex estudantes de cinema da UFF, que concentrava nos jardins. Achei até engraçado quando fiquei na dúvida se uma menina estava fantasiada, ou se se vestia a sério. Definitivamente, a análise está dando certo, e eu sou uma pessoa melhor.

Meus incansáveis amigos, sedentos por me mostrar outras formas de arte, me levaram à Praça Tiradentes. Onde antes havia uma horrorosa grade, agora a praça se abre, enorme, redonda, e servindo de base pra estátua de Dom Pedro I. Realmente, lindo demais. Fiquei orgulhosa. E dessa vez eu não estou sendo sarcástica.

Na volta, passamos pelo ponto de turismo-catástrofe da vez: o prédio que caiu na Cinelândia. Fiquei olhando praquele buraco no meio dos prédios e me lembrei do Ground Zero, e do dia em que as Torres Gêmeas foram derrubadas. Memórias de guerra.

E no final das contas, voltamos de metrô pra Copacabana. Eu me despedi deles com abraços e beijos e saudades sem fim, lamentando que cada vez menos eu tenha sábados de sol nerds em tardes de museu. Valeu cada nanossegundo.


Wednesday, February 08, 2012

River of January

A gente sabe que o Rio está passando por uma fase ótima, com o turismo bombando, aluguéis e preços de imóvel na casa-do-caralho, Copa, Olimpíadas e Juventude Cristã, mas eu confesso: sou rasa e tenho sentimentos de posse em relação à minha cidade. Não gosto de ver tanta gente aqui escolhendo, na minha opinião, as piores músicas, os piores bares, os piores pontos da praia. Me irritam todos aqueles gringos que olhando pra todas as mulheres da praia - inclusive esta grávida barriguda que aqui vos escreve - como se todas elas fossem profissionais do sexo, ou pelo menos sempre prontas pra um rápido amasso com esses visitantes louros de olhos azuis. Me irritam, simplesmente isso, e eu fico imaginando como é que os parisienses fazem pra ignorar a presença de todos aqueles milhares de turistas que sujam a cidade ao longo do ano.

Obviamente, esse é um sentimento tupiniquim. Sentimento de quem não está acostumada com a admiração alheia pelo seu país, de quem cresceu vendo que aqui só quem vinha visitar era a classe Z estrangeira (e mesmo assim, quase que exclusivamente interessada em turismo sexual). E o mais louco é que, ao mesmo tempo que a turistada me incomoda, eu ficava estufada de orgulho quando alguém elogiava o Brasil nos meus tempos de residente e Nova York. Adorava chegar em qualquer loja de música e ver meia dúzia de prateleiras destinadas apenas à Bossa Nova, enquanto todo o resto da música latina se espremia misturada num único setor. Ou quando alguém me olhava em reprovação quando eu dizia que era carioca e queria morar um tempo nos Estados Unidos. "Mas o Rio é lindo!", me respondiam os americanos. Mas só os claramente letrados, os universitários e pessoas de classes mais altas. Os mais pobres não conseguiam entender como eu era ao mesmo tempo tão branca e tão latina.

De qualquer forma, apesar da minha insistência em me comportar como filha de um país pobre e desacostumado com cortesias estrangeiras, a verdade é que ainda tem muito gringo vindo pra cá pra comer puta. Copacabana é o lugar do Rio onde mais é possível sentir essa tensão que une sexo e negócios: é praticamente impossível para uma mulher relativamente jovem ir sozinha a um daqueles restaurantes da Avenida Atlântica - pelo menos durante a semana. Ou seja: não sou só eu que tenho que mudar, mas eles também tem que vir pra cá com alguma coisa a mais na cabeça que satisfazer a cabeça debaixo. OK, entender que a mulherada fica pelada no carnaval mas que elas passam o resto do ano vestidas é difícil até pra mim (nunca engoli essa pseudo libertinagem que só dura uma semana; na verdade nós somos mesmo um bando de conservadores e moralistas), mas talvez seja o momento da gente parar um minuto e dar umas aulas de cultura brasileira pra esses nossos novos amiguinhos. E aí, quem sabe, a gente não aprende alguma coisa sobre o nosso país também.

Tuesday, February 07, 2012

Feliz Novembro Novo

Eu tenho uma virada de ano pessoal que sempre acontece um pouco antes da oficial. Lá pro meio de novembro sempre acontece alguma coisa, boa ou ruim, que marca uma ruptura com o ano que passou. Deve ser alguma questão astrológica de um mapa que eu nunca tive paciência (leia-se "dinheiro") pra fazer. Ou então é porque em novembro a gente colhe frutos que plantou o ano inteiro - ou atura uma colheita fraca - em um mês que antecede a loucura comemorativa de dezembro. Dezembro me cansa. Mas novembro é bem legal.

Foi em novembro passado que eu descobri que estava grávida. Gravidez planejada, de gente adulta, o clássico bebê-depois-da-promoção. E então: silêncio no blog. Eu não conseguia pensar em mais nada que não fosse essa pequena semente de gergerlim dentro da minha barriga, feliz e assustada demais pro que viria a seguir, com uma fome monstra e um sono absurdo, com medo de que acontecesse alguma coisa com ele, o Gergerelim, antes mesmo dele passar de embrião pra feto.

Mas nada aconteceu, e cá estou eu três quilos mais gorda, com a certeza absoluta de que depois do nascimento vou ficar cadeiruda como era a minha avó. Larguei o cigarro e a musculação, e troquei por caminhadas na praia, trilha sonora calminha e leitura de gestante. Foi num desses informativos que eu descobri que ele, o bebê, já pode me ouvir desde agora. E por isso ando muito preocupada com a formação musical dele. Outro dia, levei o bebê pro show do Chico Buarque, e foi tão lindo que eu não aguentei e cai no choro durante "O Meu Amor". E quando eu acordo no domingo mais cedo que o resto da casa, eu coloco pra tocar Belle & Sebastian, ou Air, ou Nina Simone, e o que mais tiver de veludo pra ele escutar. 

Meu pequeno Gergelim de 15 centímetros, esticado e confortável na minha nova mega barriga, dá cambalhotas e estica as pernas enquanto ouve música boa. Se tudo der certo, ele vai gostar de dançar, como eu gosto. Ou vai querer jogar futebol, como o pai dele. Ou vai tentar aprender um instrumento, como os irmãos. Ou vai ser ele mesmo, Gergelim Paixão, com gostos novos que ele não puxou de ninguém, e aprendeu sabe-se lá aonde.