Wednesday, April 27, 2011

Feliz Ano Novo

Tem vezes que a vida dá uma virada que exige tanto um recomeço que é como se fosse dia 31 de dezembro. Só que sem os fogos. E sem aquela alegria e todas aquelas pessoas de branco em Copacabana. Só que sem os amigos abraçando você, e a música alta de alguma festa, ou o beijo compartilhado com a única pessoa que você gostaria que estivesse ao seu lado naquele momento.

O reveillon fora de época vem acompanhado de tristeza - apesar da certeza de que melhores dias virão. Você faz a virada sozinho, e se tranca por mais umas semanas, até que os dias do seu novo ano não machuquem tanto quanto antes. Você não faz pedidos pro futuro, porque no reveillon fora de época você decide viver um dia de cada vez. Como um ex-alcóolatra, sem pensar muito na frente. Porque quando você pensa lá na frente, você fica sem ar de tanta angústia de nunca masi ter o que você não queria mais.

Sem rosas pra Iemanjá, sem sete pulinhos no mar. Sem calcinha rosa e sutiã amarelo. Prefiro o fim de ano tradicional, mas não tem virada fora de época que não traga onda de novas situações que um dia serão bem vindas.
Ainda não são. Mas serão.

Monday, April 25, 2011

Coragem

É fácil viver ignorando o que o coração manda. Porque muitas vezes o que a gente sabe que é certo é também o caminho mais difícil. E mais doloroso, a princípio. E foi por essas e outras que eu me descobri uma covarde. Coisa que nunca tinha visto em mim antes, carcaterística que eu considerava de gente fraca e de caráter duvidoso.

Pois é, eu faço parte deles também.

E quando você se dá conta de que é covarde, você procurar imediatamente reverter esse quadro. Tentar provar pra você mesmo que sabe o que é melhor, optar pelo caminho certo e não pelo fácil.
Até porque... nada é fácil mesmo.

Hoje eu coloquei um recado pra mim mesma no Gtalk. Eu escrevi "Força", bem embaixo do meu login. Que é pra encarar a grande onda de mudanças que eu vou ter que atravessar.
Por favor, me desejem sorte. Toda ela é bem vinda.

Sunday, April 24, 2011

1 tonelada

Vez ou outra eu e pego pensando em como seria a Clarice Lispector. Será que ela, que era tão densa nos textos, usava a literatura pra tirar o peso do mundo e assim caminhar mais leve? Será que a Clarice descobriu a fórmula pra tornar os dias mais vivíveis e toleráveis?

Não é que eu não goste do mundo. É que às vezes ele fica pesado demais.

É fácil ser uma pessoa alegre, mais fácil do que ser triste. Mas pra ser alguém alegre, divertido, risonho, a gente tem que ter, em primeiro lugar, a liberdade de fazer o que gosta. E eu, por mil razões que não preciso explicar, poucas vezes faço o que gosto de verdade. Tenho horários, obrigações, deveres que me impedem de seguir o primeiro impulso, o impulso do prazer.

Houve uma época em que eu tentei viver assim, seguida pelo impulso. Obviamente, não deu certo. Mas na época foi uma experiência interessante. Em primeiro lugar, totalmente influenciada pelo professor de Antropologia, parei de usar relógio. E comia quando tinha fome, dormia quando tinha sono, e ia embora quando estava chato.
Consegui manter esse ritmo por uma semana. Depois, sempre ansiosa, voltei aos meus ponteiros e à eterna sensação de esperar o próximo minuto. Sempre esperando o futuro.

Será que era pela impossibilidade de seguir o impulso do prazer que as donas de casa dos anos 60 se enchiam de tarja preta?

Às vezes também é difícil definir o que eu quero de verdade.
Por exemplo, agora. Um clássico fim de domingo deprê: chovendo na rua, eu trancada no quarto, meio que gostando da solidão mas, na verdade, angustiada. O que eu queria fazer agora? Encontrar os amigos. Ir ao cinema, talvez. Mas não é nada disso. Eu não quero absolutamente nada.
Eu só quero dormir e esperar que o desassossego passe sozinho.
Uma hora ele sempre passa.

Monday, April 11, 2011

A arte de ouvir pessoas

Eu, que sempre carrego o livro na bolsa, descobri que um livro deve ficar em casa, em cima da mesinha de cabeceira, esperando pela sua vez de ser lido. Ou então deve, no máximo, seguir viagem para a sala de espera mais próxima, e assim me livrar das leituras das caras-quem-contigos da vida. Mas que eu, por ironias de profissão, acabei tendo que dar uma olhada vez ou outra. Fora essas situações, um livro deve ficar aguardando que seja lido em local claro, fresco, quieto e recluso. E todos os outros lugares do mundo são feitos para que a gente ouça as pessoas.

Não sou boa em ouvir conversas alheias. Na verdade, há muitos anos atrás prestei total atenção ao bate papo de um grupo sentado ao meu lado em uma festa. E levei um fora de fazer gosto. Desde então, acostumei a me esconder atrás das páginas mais próximas, minding my own business. Um grande erro pra quem gosta de escrever.

Pessoas na rua têm vida, têm histórias e têm um livro preferido. Na minha arrogância sem medidas, acho logo que o livro preferido das pessoas nas ruas é do Paulo Coelho. Na maioria das vezes, realmente é. Mas outras vezes, não. Sempre tem unzinho pra ser do contra. E eu gosto exatamente desse.

Outro dia peguei uma fila no caixa de uma loja. Estava sem livro na bolsa, mas automaticamente peguei meu telefone para olhar emails, Facebook, Twitter e todo o resto. Foi quando me lembrei de uma dica do escritor que estou adorando no momento (Grant McCreacken, em Chief Culture Officer, que outro dia eu conto sobre o que é). Esse cara sugere que todo mundo tem que sentar em um café com um bloquinho e uma caneta, para ouvir - discretamente - as conversas dos outros. E fazer anotações. E saber do que elas gostam, do que procuram, do que reclamam... Ele diz que a gente tem que fazer isso pelo menos uma vez por semana. Estamos na segunda-feira, e eu ainda não fiz a minha investigação em cafés. Mas vou fazer, e postar um pouquinho da conversa alheia aqui.

Eu gosto de cultura. Não só da cultura erudita, mas também da cultura diária, daquela acessível a todos. Dos hits de funk, dos pagodes. Odeio muito sertanejo universitário, mas confesso que gostaria de ir um dia a uma dessas micaretas de cowboys, onde os sertanejos jovens estão se apresentando. Quem é essa galera que sai de chapéu de boiadeiro na cabeça? Pra mim, é gente de outro mundo. E eu adoro conhecer uns marcianos.

O engraçado é que durante anos frequentei boates em que todo mundo tinha tatuagens e piercings e cabelos roxos, e por isso não acho nem um pouco estranha a galera emo. Mas mostre uma foto de um emo e outra de um cantor sertanejo teen ao primeiro que passar na rua, e vamos ver quem é chamado de marciano.

As pessoas têm julgamentos, e eu quero saber sobre o que são.
De hoje a sexta eu prometo postar um diálogo de desconhecidos. Pra ver se querem dizer alguma coisa. Ou se significam apenas uma conversa, e mais nada.

Tuesday, April 05, 2011

A obrigação de aproveitar o tempo

Há uns dez meses, comprei um iPhone. É um brinquedinho lindo, pra quem gosta de brinquedinhos caros e com design incrível. Mas pra mim, mais do que um brinquedinho moderno, um smartphone era uma necessidade. E já que vamos gastar dinheiro, que seja um dinheiro bem gasto, certo?

Minha entrada no mundo dos smarts inaugurou uma nova categoria de estilo de vida: a de quem não pode perder um minuto do precioso tempo. Eu virei a neurótica do email. Acordo, abro os olhos e, antes de me levantar da cama, checo as minhas mensagens. E sempre tem uma mensagem importante. Isso porque o meu chefe é o rei dos neuróticos do email, e foi graças a ele que eu me convenci de que precisava estar conectada 24h/dia.

A partir daí, veio a contabilização do tempo. Se eu to de bobeira em casa, pego o jornal pra ler. A novela das 20h eu assito porque faz parte do meu trabalho (ainda bem). Mas não há possibilidade de eu ficar olhando pro teto. A não ser que seja pra assistir um episódio gravado de Seinfeld - o que também faz parte do meu trabalho. Resumindo: o tempo é curto e eu preciso me informar.

Graças a deus, eu tenho um trabalho ótimo, e que me diverte bastante. Buscar informação que me faça ficar mais ligada no meu mercado não é encarado como um dever de casa, mas como um divertimento. Eu adoro baixar bandas novas, filmes novos, séries novas. Eu adoro parar pra ver coisa nova. O que eu não gosto, em hipótese nenhuma, é me sentir entediada. Isso é mau humor na certa.

Mas quando eu conto que todo o eu tempo é usado para uma atividade, digamos, informativa, as pessoas me olham como uma louca. Deve ser porque, quando eu falo disso, eu vendo a pauta com o lead errado. Se tem que coisa que eu faço mal na minha vida, profissional ou pessoal, é vender pauta. Aliás, vendas em geral: na faculdade eu vendia bijouterias e sanduíches naturais pra ganhar um extra, e era simplesmente horrível nisso. Acabava eu mesma usando as bijous e comendo os sandubas.