Thursday, January 29, 2009

Soy madrileño y me cago en todo

Uma das expressões mais usadas pelos mardilenhos é o "me cago en...". Eles podem se cagar para el transito, ou para el frío, ou para los putos. Só não diga a um madrilenho que você se caga en sus muertos, que esse é o pior xingamento que alguém pode fazer pra outro alguém na Espanha. Isso e cuspir nos pés dos outros. Aí é praticamente chamar pra porrada.

O sentido do "me cago en" é bem diferente do nosso "caguei". Eles dizem isso quando estão realmente muito putos com alguma coisa ou alguém. Um taxista que pega um engarrafamento pode falar na frente de um passageiro que se caga en el transito. É algo do tipo: "que saco essa porcaria de trânsito." Não chega a ser um palavrão, mas tampouco é uma expressão bonita. Mas até os velhos gostam de dizer que se cagan en algo, só para reclamar da vida.

O madrilenho é um reclamão por natureza. Mesmo quando é simpático, é reclamão. Para nós, brasileños, acostumados em puxar papo com tudo quanto é gente por aí, a estranhesa é imediata. Depois de um tempo, a gente se acostuma, e acaba por dar muita trela pra carranquice deles.
Se uma pessoa é legal logo de cara em Madri, pode apostar: você está conversando com um latino.

Desnecessário dizer a quantidade de latinos que se bandeiam para a Espanha. Os argentinos estão por toda parte - assim como os brasileiros em Portugal - trabalhando em feiras, em lojinhas de souveniers e restaurantes. A Espanha se tornou o sonho dourado pra quem fala espanhol e quer ganhar em euros. Quer dizer, isso já não funciona desse jeito, porque agora o país atravessa a maior crise dos últimos anos, inclusive com recorde de desemprego.

Mesmo com tantas diferenças, imagino que os madrilenhos sejam como os parisienses: uma vez que se perfura o muro invisível que os separa do resto da humanidade e se penetra no restrito círculo social, eles se revelem pessoas bacanas e animadas. Mas isso só suponho porque, honestamente, não conversei com nenhum madrilenho quando estive em Madri.

Friday, January 16, 2009

Entre tapas e vinhos

Viajar para a Espanha e não voltar alguns quilos mais gordinha é tarefa quase impossível. Trata-se de uma viagem gastronômica, porque a comida espanhola é simplesmente delicisa - e barata, se comparada a outras partes da europa. Comi lula e polvo até ficar enjoada, e camarão do tipo grande também. Mas o que merece um capítulo à parte são as tapas.

Tapas são espécies de canapés gigantes, servidos com a bebida. Em lugares não turísticos, ou em cidades pequenas, basta você pedir uma copa de viño (mais barato que uma coca-cola!), que já recebe, à sua escolha, a tapa que vai acompanhar a bebida. Com isso bebe-se mais, e não se fica bêbado! Simplesmente genial.

As melhores tapas que comi foram a dos bares bascos. Não fui na parte basca, mas Madri reserva vários pedacinhos da Espanha pra quem não tem tempo (nem dinheiro) para conhecer cara a cara tantos estilos diferentes. O bar Tchilimilli, que significa garoa (será que se escreve assim mesmo? Malu, ajuda ae), ganhou o prêmio das melhores tapas: comi uma de carne de caranguejo enrolada no salmão defumado que me levou aos céus. Mas esse bar, que é bombado na capital espanhola, cobra todas as tapas.

Já em Granada a história foi diferente. Descobri um bar que tinha tapas incríveis, de graça, e que eram disputadíssimas entre os granadenses (?). A que me cativou foi uma com anchovas, alcachofra e aspargos. Aliás, como esse povo gosta de alcachofra. Vai ver foi por isso que me senti gastronomicamente em casa.

Thursday, January 15, 2009

A primeira vez que vi neve

Foi em uma viagem de trem atravessando a Espanha, quando saí de Barcelona e seguia para Granada. A duração do trajeto era de 11 horas, parando em estações a todo o momento, de cidades tão mínimas e desconhecidas que eu, obviamente, não lembro o nome.
Passei pro campos verdinhos e ensolarados, por moinhos de vento no alto do morro, por ruínas de castelos e igrejas. E por neve, muita neve. Planícies e mais planícies cobertas de branco, fazendo meu coraçãozinho tropical torcer por uma amostra daquele gelo, só por um pequeno momento.

E a oportunidade veio, quando o trem fez uma rápida parada na estação de uma cidadezinha quaquer. Tudo gelado. Os passageirs fumantes logo se aglomeraram na porta aberta do trem, segurando com mãos roxas de frio seus cigarros de tragos rápidos. Todos olhavam deliciados aquele tapete branco à sua frente - até os espanhóis, teoricamente mais acostumados com o espetáculo. Uma senhora espanhola disse que não via neve há muitos anos, e contou que quando era criança, gostava de fazer uma bolinha e comer o gelo. Alguém foi lá fora e troxe um pouco de neve pra mim. Eu fiz a bolinha e mordi, como a velha havia dito, e logo todos os fumantes pularam pra foram do vagão e pegaram suas pequenas porções de gelo.

Eu quis ir também. Meter a mão naquele congelador gigante, e depois voltar correndo pro trem com medo dele ir embora e me deixar no meio do tapete branco. E uma hora realmente ele se foi, mas comigo lá dentro, sem a possibilidade de tirar uma foto estirada no chão, ou de jogar neve no trem, ou de fazer um boneco com braços de graveto, que nem nos desenhos do Charlie Brown.
Mesmo assim, naqueles cinco minutos, eu gostei da neve. E ela entrou na lista das minhas "primeiras vezes" realizadas na viagem, junto com conhecer uma cidade medieval murada, andar de trem e entrar na Sagrada Família.

Wednesday, January 14, 2009

Vovó Maria

Chego de férias seriamente individadoras na Espanha e recebo a notícia de que a minha avó morreu enquanto eu estava lá. Que sensação estranha que é você sair do país com sua avó viva e voltar ao país com a sua avó morta. Parece que é mentira, e que daqui a pouco vou pra casa dela comer doce de abóbora, e empada de queijo, e macarronada com molho de tomate. E ela vai reclamar que eu não uso maquiagem nem cuido do cabelo.

Desde que soube, não derramei uma lágrima.

O cruelmente irônico da história é que coloquei o ítem "visitar a minha avó uma vez por mês" na lista de resoluções de ano novo. Eu faço listas de ano novo, com dez ítens, e no correr do ano eu dou algumas olhadinhas na lista e coloco OK nos objetivos alcançados. E é ótimo dar o OK dos objetivos alcançados, porque dá a impressão de que você está andando pra frente, quando na verdade o que acontece é que a gente sempre anda pra frente, mesmo quando não quer.

Mas a minha avó nem conseguiu esperar eu colocar em prática as resoluções de ano novo, e partiu bem rapidinho, a tempo de não se tornar uma velha apática e dependente, que era tudo o que ela não queria da vida.

E agora eu não tenho mais avós, mas não faço dramas: aproveitei bastante das minhas, comi muito doce de abóbora, ganhei muito presente e muito colo, vi muitas fotos em preto e branco, ouvi muitas histórias - tive uma vida completa de neta, com tudo o que ela pode reservar.