Wednesday, April 30, 2008

Parabéns pra você

Ontem foi aniversário do Haldoleta, e por isso eu resolvi escrever sobre ele.
Eu costumo chamá-lo de Ladrão de Oxigênio porque ele tem um nariz grande. Em contrapartida, ele me chama de Sembrunda, por razões óbvias demais para serem especificadas aqui.
Quando estamos só um poquinho alterados, nos fechamos em piadas que só nós dois entendemos, deixando o resto da roda de fora. Mas eu juro que é mais ou menos sem querer que a gente faz isso.
Deposi de anos dizendo pra todo o Rio de Janeiro que não gostava de mim, ele pagou pela língua e virou um amigo do peito (bem feito).
Eu também costumo chamá-lo de Pentel.
Ele já segurou minha onda em uma bad inacreditável. A primeira e única, pelo menos.
Ele já me pediu conselhos sobre mulher quando era solteiro (agora ele tá bem namorandinho).
Quando ele era solteiro, todas as minhas amigas ficavam suspirantes quando a gente saía junto.
Ah, sim. Alguns dos meus amigos também.
A gente fica meses sem se ver, dpeois se encontra e faz as mesmas piadas de sempre.
Ele ganhou o troféu de "homem do ano da minha vida" em 2005 (empate técnico) e 2006 (ganhador absoluto).
Ele fez 33 anos, parou de fumar e começou a correr. Emagreceu um monte. Essas coisas que acontecem com as pessoas depois dos trinta.
Eu tenho o maior orgulho, porque ele é psiquiatra e vai ganhar muito dinheiro e vai levar o meu filho pra passear.
Ele é praticamente uma mulher com peru, sentimentalmente falando.

Tuesday, April 29, 2008

Cada dia, mais um adeus

Todos os dias ando pela praça do meu bairro como se fosse uma despedida. Essa sensação de adeus surgiu depois das minhas idas regulares a São Paulo. Comecei a encarar a possibilidade de não estar mais no mesmo endereço no ano que vem e, desde então, meus passeios pela pracinha têm um gosto um pouco mais melancólico que o habitual.

Conheço de cor todos os personagens daquela praça: os mendigos que ficam matando o tempo por lá durante o dia, os adolescentes que cabulam aula 4 vezes por semana e bebem vinho barato embaixo do coreto, as babás com criancinhas onde há brinquedos para bebês, a turma da cervejinha de garrafa que chega à noite, os músicos do chorinho do domingo. São identificáveis os tipos que habitam minha rua e a minha praça, e eu me despeço deles mais um pouquinho a cada dia, quando caminho em direção ao estacionamento.

A praça São Salvador habita os meus sonhos há anos, muito antes de eu me mudar pra lá, quando frequentava a casa de um ex-namorado que morava por ali. Eu acordava cedo e ia tomar café na padaria, e depois comprava jornal e sentava em um banquinho no sol. Ficava vendo as crianças jogando bola e reparando no brilho da água do chafariz francês. Nessa época, eu pensava que ali era um dos melhores lugares do Rio para se morar, e pedia ao ex-namorado que procurasse um apartamento para alugar por aquelas bandas. Mas o namoro acabou e quem foi morar perto da pracinha fui eu. Graças a Deus, a vida tem dessas ironias.

O fato de estar todos os dias me despedindo mais um pouquinho não é de todo mau. A melancolia existe, mas, em compensação, eu aproveito cada fresta daquela paisagem ao máximo, tento caminhar devagar mesmo quando estou com pressa, penso em sentar pra ler o jornal no banco como fazia quando ainda não morava ali, frequento os bares durante a noite e o chorinho do fim de semana.
Aproveito enquanto está ao meu alcance. E tem sido saboroso.

Monday, April 28, 2008

Me leva que a gente vai

- Bora passear na Liberdade e gastar dinheiro com um monte de quinquilharias?
- Bora.

- E se a gente chamasse todos os amigos pra beber no meio da Virada Cultural?
- Já to ligando pra Fernanda.

- Ai, não sei... Deu uma perguiça de sair...
- To ligando pra cancelar com a Fê.

- To a fim de fazer uma fritada de camarão.
- Eu faço o arroz com furikake.

- Não abre a cortina que tá muito sol lá fora e eu queria ver dois filmes direto.
- "Darjeeling Limited" e "Paranoid Park".

- Vamos ver um episódio de Friends pra dar soninho?
- Vamos beber saquê?
- Vamos beber cerveja?
- Vamos tentar dormir cedo pra aproveitar melhor o dia amanhã?
- Vamos fazer uma sauna?
- Vamos fazer uma esteira?
- Vamos guardar dinheiro pra ir pro Japão?
- Vamos comprar um apartamento no Jardim Paulista?

- Vamos desligar o celular.

Friday, April 25, 2008

A última das otimistas

Sou uma otimista. Meus amigos dizem isso, sempre disseram, e eu, durante muito tempo, combati a definição. Afinal de contas, costumava ler Fernando Pessoa e me vestir de preto, quando tinha 16 anos. E aos 20 anos, acreditava que só eu e os meus amigos sabíamos a real dor do mundo. O resto dos mortais, coitados, eram ovelhas guiadas em direção ao caminho que seus pais já haviam trilhado. Bunch of conformists.

Só que depois eu percebi que as mesmas pessoas que cruzavam os braços e se encostavam ao meu lado nos pilotis da minha faculdade, deixaram de olhar o resto do mundo sob esse ângulo, digamos, incorfomista, e passaram a ter um bom trabalho, família, filhos, casa & carro. E, como os outros, eu me tornei parte desse grupo.

Toda a questão do otimismo é: não dá pra ser de outro jeito? Vambora dessa maneira mesmo, então. Tipo: tá no inferno, abraça o capeta. E, se é pra entrar no jogo, bora entrar de braços abertos, sorriso nos lábios, matando no peito e correndo pro gol. Se é pra entrar, que seja com o campeonato ganho, nos dez minutos finais, só pra fazer aquele pontinho que alegra a galera. Alegria desnecessária ainda é alegria.

E eu sou otimista do tipo burrinha, que acredita em todo mundo, até que leva a bordoada na cabeça. E além de burrinha, eu sou meio esquecida, porque mesmo levando nos cornos, to lá eu acreditando em nenguinho de novo. Quer dizer, arrumo outros pra acreditar. Mas corro o risco sempre.

Lembrei do lance do otimismo porque é uma característica quase inocente, e eu tenho visto muitos casos gente inocente enganada por aí. Quer dizer, por mais que eu tente não julgar, é muito difícil não achar ridícula a história daquela senhora da Barra da Tijuca que comprou um bilhete da Sena "premiado" por módicos R$240 mil.

Acho que cheguei a uma conclusão sobre o assunto: tudo bem que os otimistas sejam inocentes. Mas nem todo inocente é otimista...

Thursday, April 24, 2008

Amizade na vida adulta

No último ano, fiz muitos novos amigos. Normal, certo? A gente termina um namoro, começa outro, muda de posição no trabalho, e vai aumentando o círculo de convivência. O que eu acho engraçado são aquelas situações em que a gente conhece a pessoa apenas uma vez ao vivo, e depois mantém contato apenas através da internet. Em alguns casos extremos, nem o contato ao vivo existe: os amigos cyber de amigos do mundo real vão se apresentando e estabelecendo uma conexão. O Zander é o maior exemplo desse tipo de amizade cyber: visitamos muito um o blog do outro até finalmente nos conhecermos ao vivo.

O Twitter me mostrou um outro tipo de novos amigos. Os que eu só conheço por nick, e que me lembram um pouquinho minha época de twenty-something, quando todos os blogueiros do Rio se conheciam e visitavam as páginas uns dos outros. E quando finalmente nos encontrávamos ao vivo, era engraçado: todos comentando de posts alheios, no maior estilo nerd de ser.

Acho legal também quando algumas amizades superam términos de namoro e continuam firmes e fortes. Tenho uns três amigos que conheci através do meu ex, com quem hoje converso mais do que ele próprio. Tenho também alguns amigos do peito que foram ex-casinhos, mas que terminaram na mais pura amizade, com direito a double date: nós e nossos respectivos saindo pra jantar.

Houve um tempo em que acreditei que fazer novas amizades depois da fase adulta era praticamente impossível. Aos poucos, minha teoria foi caindo pro terra. Talvez isso realmente aconteça com aquelas pessoas que se casam e têm filhos e vêem sua vida social um pouco engessada nos programas com outros casados e pais (sem que isso seja uma crítica). Mas como ainda não cheguei a essa fase, e sou realmente uma pessoa pilhável com programas absurdos, acabou que o último ano me fez conhecer gente legal, que eu vou levar comigo pra sempre.
Japanimation é uma delas.

Tuesday, April 22, 2008

Arroz com Furikake

Impossível namorar com um japonês e não ficar familiarizada com os costumes orientais. É por isso que volta e meia eu e Japanimation vamos dar um pulo na Liberdade, onde compramos potinhos, temperinhos, balinhas e bebidinhas originais da terra do sol nascente, e corremos pra casa pra experimentar as novas aquisições. Aliás, descobri que esse bairro é o preferido dos cariocas que se mudaram pra Sampa, como no caso desse cara aqui.

O campeão no quesito 'melhores sabores orientais' é, definitivamente, o arroz com furikake. Quase ninguém conhece o tempero japonês que vai em cima do arroz, e que tem sabores variados de peixe, ovo, vegetais, mix, etc. Toda vez que vou pra casa do Japanimation, fazemos arroz naquelas panelas elétricas (aliás, aposto que muita gente aqui no Rio nem conhece as tais panelas!), e passamos o fim de semana beliscando a iguaria, fazendo montinhos entre as refeições, ganhando alguns deliciosos quilos a mais.

Volta e meia eu e o Japa inventamos de fazer um almoço oriental. No Japão, os pratos são separados por tigelinhas do tamanho de uma única porção. Comemos, então, com um monte de vasilhas em cima da mesa: uma pro arroz com furikake, outra com missoshiro, outra com bolinhos chineses... E comemos de hashi, e bebemos saquê em copos de cerâmica, e dispensamos os sushis. Deve ser por isso, por comer pequenas porções em diversos recipientes, que os japoneses são tão magros, imagino.

Eu não fazia idéia de que o arroz com furikake era o número um na preferência dos descendentes e simpatizantes de japoneses. Depois li uma matéria com nisseis famosos, e todos se derretem frente ao pozinho mágico. É amor à primeira vista.

Friday, April 18, 2008

Piadinha nerd muito legal


Os Estrangeiros

Como todos os outros brasileiros espalhados pelo planeta, tenho acompanhado diariamente o caso Isabella. Mas ao contrário da grande maioria, não tenho uma opinião formada: acho tudo um grande mistério, e considero que só o C.S.I da televisão conseguiria resolver essa história. E, mesmo assim, só se for a unidade de Las Vegas. A exepriência é muito importante nessas horas.

Para mim, o circo armado em torno da morte da menina lembra, em muito, 'O Estrangeiro', aquele livro do Camus que todo mundo leu aos vinte e poucos anos e ficou absurdamente influenciado. O anti-herói do livro é declarado culpado por matar um argelino (o cara é francês) e pega a pena mais alta depois que é julgado não pelo crime, mas pelas suas atitudes frente à sociedade. Vai uma pessoa lá e testemunha contando que o cara não chorou no funeral da mãe. Depois, vai uma ex-namorada e diz que o cara é frio, incapaz de demonstrar sentimentos. E quando a narrativa chega ao fim do julgamento, o anti-herói vira inimigo número um da nação, ganhando um castigo maior que o do parricida julgado na sessão anterior.

É óbvio que o pai e a madrasta da Isabella já estão condenados. O que me faz pensar que, se um dia olharem pra minha vida com a mega lupa que estão usando para esquadrinhar a vida do casal, tenho certeza de que a opinião pública será de que eu sou uma assassina. Mesmo que quem me conheça bem saiba que é impossível eu, um dia, matar alguém. Aliás, quem é que sobreviveria a uma lupa sobre a sua vida? Não acho que alguém atenda a todos os padrões de normalidade que as pessoas cobram uns dos outros.

Disseram que a madrasta deu chilique de ciúmes. E quem nunca deu? Disseram que ela reclama da presença da enteada no fim de semana. Já ouvi muitas amigas que são namoradas ou casadas com homens que já tem filhos reclamarem da mesma coisa. Já vi e já participei de brigas com namorados que eu preseumo que o resto da vizinhança tenha ouvido. Alguém aqui nunca berrou com o namorado? Ou nunca ouviu o namorado berrar com você?

Não tenho a pretensão de dizer que o pai e a madrasta da Isabella sejam inocentes e ótimas pessoas. Mas ver um taxista que fez uma corrida com a Ana Carolina há não sei quanto tempo ir testemunhar é demais, né não?

Qualquer um é estrangeiro quando todos viram as costas de uma vez só. É muito fácil se unir em grupinhos de iguais e apontar pro outro lado da rua. Difícil é apontar pra dentro do grupo.

Thursday, April 17, 2008

Sem grana

Como eu contei outro dia, ando dura como há anos não era. Exagerei no cartão de crédito, entrei no curso de espanhol e na academia sem colocar no papel quanto sairia isso para o meu (parco) orçamento e, ainda por cima, me descabelo com as promoções quase-vantajosas da Gol Linhas aéreas. Resumindo, minha vida financeira está um caos.

E de repente eu me vejo fazendo contas para saber se posso ou não posso tomar um chope com os amigos. É verdade o que dizem, que depois que você se acostuma com um padrão de vida, descer desse patamar é quase impossível. Todo o problema é que meus gastos fixos aumentaram consideravelmente, mas meus hábitos insano-econômicos continuam os mesmos. Ainda é difícil resistir a uma liquidação mega power. Ou a uma balada que promete ser inacreditável. Ou a uma viagem no fim de semana. É muito, mas muito difícil mesmo, não cerder à minha alma de milionária.

Bom, com esse baita tombo financeiro que eu levei, estou reaprendendo a viver na base dos cálculos. Confesso que ainda dou algumas escorregadelas, que estão me custando minha queriada e suada poupança, mas já consegui fazer um pequeno manual para tempos de crise.
A saber:

1 - Economizar no almoço
Vou almoçar no bandeijão ao invés de dar pinta no restaurante onde os diretores da empresa se reúnem. Como sou metida a besta, adorava comer no meio dos ricos. Agora vou pra junto da plebe e garanto uns troquinhos a mais pro chope de fim de semana.

2 - Ir ao cinema às quartas
Como todo mundo sabe, quarta-feira é o dia mais barato para se ir ao cinema - pelo menos no Rio e em SP. Reservei essa noite pra me atualizar cinematograficamente. A preferência é por cinemas de rua, porque aí não tenho que pagar estacionamento de shopping.

3 - Chopes, só no fim de semana
Acabou essa história de encontrar os amigos de segunda a quinta. Até porque, com a minha atual escala da semana, eu nem tenho tempo pra isso mesmo...

4 - Fazer programas diurnos
Praia não gasta nada. Paineiras também não. Jardim Botânico até gasta um pouquinho, mas nada que se compare ao que eu costumo gastar no sábado à noite.

5 - Esquecer, por um tempo, mega baladas

6 - Esquecer, por um tempo, comprinhas deliciosas.

7 - Esquecer, por um tempo, passagens de "promoção" da Gol e encarar Rio-SP de ônibus mesmo.

8 - Tentar cozinhas receritas incríveis em casa
Eu juro que o processo é divertido, mesmo que o resultado final fique uma merda. Se ficar muito ruim mesmo, do tipo incomível, dá pra comprar uma pizza no Zona Sul, que é bem baratinha, e tem pertíssimo da minha casa. Mas, na boa, eu nunca fiz uma comida incomível. Mais ou menos, tudo bem. Incomível, jamais!

9 - Chamar a galera pra casa ao invés de ir pra rua.

10 - Sentar a bunda em casa e aproveitar para ler todos os livros que estão pendentes.
E olha que são muitos. Eu mal dou conta da Rolling Stone mensal!

Pelos meus cálculos, em junho eu to bem de novo. Mas aí começa a saga de juntar dinheiro pra viajar pra Tóquio.
Mas isso é outra história. E eu já cansei de chorar por ser pobre por hoje. Tá de bom tamanho já, né?

Wednesday, April 16, 2008

Mais um membro pro subclube

Da última vez que fui na casa da Clarissa, ela exibia uma barriguinha de uns cinco meses de gravidez, que contrastava bastante com seu corpo magérrimo de professora de pilates. Enquanto Guilherme, o filho da Bia, tocava de cinco em cinco minutos o boneco do Darth Vader que decorava o futuro quarto do bebê, eu e as outras não-mães da casa nos empanturrávamos de pizza e coca-cola. E vinho branco. E pão de queijo.

A Clarissa, a Bia e todas as outras pessoas que estavam no apartamento da Barra da Tijuca naquela noite, são amigas de colégio que o tempo insistiu em não separar. Ao contrário: depois de velha fiquei mais próxima a elas do que quando era estudante e andava preocupada demais em passar as madrugadas de sábado na Dr. Smith - programa que mais ninguém ali gostava de fazer - com execeção da Cris, que de vez em quando se aventurava pelos caminhos underground.

O fato é que a Clarissa daqui a pouquíssimo vai ter um filho e vai entrar pro hall das mães do grupo. Esse subclube vem ganhando mais e mais adeptas, a cada ano que passa, apesar do ritmo lento. Parece que é mesmo um caminho sem volta.

Eu gosto de ver as amigas finalmente se tornando adultas. Eu gosto de acompanhar as ultras, ver as roupinhas de bebê e comprar presentes pro futuro rebento. Afinal de contas, meus hormônios também estão aí. Que atire a primeira pedra a mulher que nunca sentiu o peso da necessidade da procriação ao se deparar com um bebê fofíssimo pela frente.

Meu pequeno grupo de amigas se encontra de vez em quando, através de combinações por grupos de emails. Se não fossem os emails, não sei o que seria da minha vida social. Somos todas mega atarefadas, trabalhando muito e ganhando menos do que gostaríamos, cuidando da casa aos trancos e barrancos, bebendo um pouquinho mais no fim de semana, tendo que administrar amigos, namorados, ficantes e pais em um espaço de 48 horas, se jogando na academia na segunda-feira pra compensar o descompensamento do sábado e do domingo.
Tenho certeza de que o Yahoo pensou na gente quando inventou os egroups.

Tuesday, April 15, 2008

Síndrome do jogador de RPG

Quando eu era mais nova, jogava RPG. Faz parte da minha formação geek virar noites regadas a Coca-Cola e pizza, imaginando estar em um território de ambientação medieval, se metendo em encrencas a torto e a direito. (Aliás, "a torto e a direito" é uma expressão legal de se usar, hein? Nunca tinah usado antes...). Foi através do RPG que eu aprendi que, para ter história, é preciso meter o nariz onde não somos chamados. Se o mestre do jogo narra que ali naquela caverna tem um barulho estranho, é logico que o meu jogador vai ver o que é. É preciso criar enredo. E, principlamente, é preciso criar jogo.

Lembrei das noitadas de RPG quando assisti "Beijo Roubado" no último fim de semana. Trata-se de um road movie mulherzinha, bem fofinho e com final suspirante, mas continua sendo o Wong Kar Wai, de alguma maneira. Enfim, a Norah Jones, protagonista, sai pelos Estados Unidos, vivendo um pouquinho em cada cidade. Totalmente On The Road de esmalte. E durante o filme ela vai se metendo nas encrencas, metendo o bedelho na vida dos outros e, assim, vai criando seus acontecimentos.

Saí do cinema pensando que também tô precisando dar uma de jogador de RPG. De meter o nariz nas possibilidades que me aparecem pela frente, pra depois decidir se é isso ou não é. Ando decidindo as coisas antes de vivê-las, olha que merda. Como se eu já tivesse 75 anos e sofresse de dores de artrite. Só que eu tenho 30 e acabei de parar de fumar. Ou seja: lavou, tá novo.

Tem gente que passa a vida evitando entrar nas cavernas com barulhos estranhos. Sei lá, de repente eu vou ser assim também. Não me nego esse direito, de passar ao largo dos acontecimentos. Mas é melhor deixar isso pra quando eu tiver artrite, né? Ou pro momento em que barulhos em cavernas não pareçam tão perigosamente tentadores.

Monday, April 14, 2008

'What are you doing?'

Ando completamente viciada em Twitter. E olha que o Zander, há meses, me dizia que eu tinha que entrar, que era muito legal, que não sei mais o que... Eu dizia "ah, não, mais uma mania de pós adolescentes da web, vou ter que ficar fazendo social on line com neguinho, colocar uma foto no profile que revele meu ângulo mais bonito, ficar bolando frases inteligentes..." Ele dizia que não era nada disso, mas eu não fui. Depois o Nicholas colocou pilha também. E eu, nada.

Até que, um dia, recebi por email o link do Twitteratura. E pirei. Na mesma hora, entrei no Twitter e me inscrevi, e comecei a seguir alguns amigos que tinham contas... E agora passo o dia pensando: tenho que postar isso no Twitter, tenho que escrever sobre aquilo, qual será o primeiro post de hoje? E assim por diante.

Pra quem não conhece ainda, o Twitter é (mais um) site de relacionamentos, mais ou menos, em que podemos postar o que estamos fazendo ou pensando no momento. A pergunta "What are you doing?" encabeça a lista de comentários dos meus amigos e de pessoas que não conheço.
Sigo apenas os comentários que eu quero, posso bloquear quem eu acho péla e tenho a possibilidade de só mostrar minhas anotações pra quem for do meu gosto. Mas como sou exibida, deixo tudo público mesmo.
Um detalhe: tenho apenas 140 toques pra dizer o que quero.

É um vício nerd. Mas é divertido.

Tuesday, April 08, 2008

Semanas

Às terças e quintas estudo espanhol em uma sala de freqüência levemente bizarra. Meu professor é um tipo simpático, morador de Santa Teresa, que aprendeu espanhol praticamente sozinho, ouvindo Luis Miguel e conversando, entre cervejas, com um amigo mexicano. Ao meu lado está o adolescente espinhento natural de todas as salas do mundo onde se estuda outra língua que não a materna. E o "meu" adolescente é gente boa, muito mais simpático do que eu era quando tinha a idade dele, e muito mais compenetrado também. Depois, na parede oposta, três matronas se alternam no cargo de Aposentadas que Fazem Cursos. Tenho uma certa inveja do trio, porque eu adoraria me inscrever em aulas as mais variadas, de cursos de idiomas a pintura de porcelana.

Quarta-feira é o dia reservado ao cinema. Vou sozinha, apesar de sempre tentar rebocar amigos via e-mail. Mas isso não é exatamente ruim, porque na verdade eu até prefiro ir ao cinema sozinha, sentar no escuro e não falar com ninguém nas próximas duas horas. Sento na frente de todos os outros espectadores, em uma tentaiva de esquecer que tem gente viva ali. É que gente viva me distrai. Volta e meia me pego olhando pro lado, pra ver se as outras pessoas estão chorando, ou se estão me vendo chorar.

Segunda à noite eu vou à academia, ou lavo roupa, ou arrumo o quarto, ou desfaço a mala, ou posto novas fotos no Flickr, ou tento me concentrar no romance da vez, ou converso no Skype por uma hora, initerruptamente. Segunda é sempre uma noite com infinitas possibilidades e tempo curto para tudo o que se apresenta.

Sexta durmo cedo ou tarde pra esperar quem vem.
E sábado ele chega ou eu vou.
E domingo passamos o dia morrendo de preguiça, aqui ou lá.
E depois tem uma despedida. Mais uma.
E segunda volta de novo, nesse vai e vem que nem dá pra saber onde começa e onde termina.

Pouco tempo pra muita coisa. Por isso que eu tinha que viver mais de 100 anos.

Monday, April 07, 2008

Retorno do Jedi

Quem tem blog sabe que de vez em quando rola um bode de continuar escrevendo. Rola uma total falta de saco, um questionamento do tipo "pra que tudo isso", e aí você percebe que os seus últimos dez textos foram todos risíveis e alvos de comentários pseudo-terroristas da internet (ai, ai, ai, como é fácil ser terrorista na internet, a melhor arma dos covardes anônimos!). E aí você não escreve mais. E pronto. E de vez em quando vê uma coisa ali e outra aqui e pensa: eu poderia fazer um texto sobre isso - mas você não faz. E alguns amigos perguntam por que você não escreve mais, mas são realmente poucos os amigos que perguntam e então, quando você vê, há dois meses o seu blog não vê atualização. E foi assim que detonaram o meu querido Pequenas Observações sobre Coisas sem Importância II, que Deus o tenha. E só não lançaram esse aqui para as trevas cibernéticas porque o Blogger.com é infinitamente melhor que o Blogger.com.br, que, por sua vez, foi um mico de dar dó da Globo.com. Enfim.

Mas desde o último texto o que aconteceu foi que eu perdi o controle do meu cartão de crédito, pela primeira vez em trinta anos, e de repente me vi na maior pindaíba da vida e, mesmo assim, voando para São Paulo de 15 em 15 dias para encontrar o Samurai, antes que ele encontre outra pessoa mais acessível que eu, e ainda por cima me inscrevi em uma academia e comecei um curso de espanhol. Ah, sim, e nunca mais fumei. E quase não tenho tempo para arrumar meu quarto, e não vejo mais Seinfeld religiosamente todos os dias, e não consigo ler o primeiro livro do Jonathan Safran Foer, que eu comprei em inglês mas to boiando em várias partes. E, apesar de tudo e de todos, eu to na boa e achando que as coisas estao indo bem.

Tá tudo bem na Avenida Paulista e tudo bem na Praça São Salvador e eu espero realmente voltar a escrever aqui.