Friday, June 06, 2008

Sonhos coloridos

De vez em quando ela sonha, e o dia seguinte carrega sempre as cores do sonho da noite anterior. Tem vezes que as horas passam roxas de angústia, ou amarelas de canções saltitantes, ou ainda verdes de relaxamento, ou azuis, cinzas e violetas. As horas têm cores ditadas pelos sonhos, e isso ela nunca conseguiu explicar para ninguém, pois ninguém há de entender que o roxo é da angústia e o verde é que é da paz, e não o branco, que na verdade é uma cor muito confusa porque é, ao mesmo tempo, todos os espectros de cores juntos e a total ausência de pigmentos de cor. O branco é tudo e nada de uma só vez.

E por causa dos sonhos de cores muito intensas, ela acordou um pouco triste outro dia. Lembrava vagamente de por quê se sentia melancólica. Talvez fosse a saudade, que de vez em quando aparece inexplicável, aperta bem o peito e foge momentos depois, sem dar explicação. Ou então é a noção de que tem coisas guardadas bem fundo que só são remexidas à noite, contra a sua vontade, e a poeira das mágoas empacotadas ainda faz espirrar pela manhã.
Os sonhos são cruéis demais, e tinha dias que ela odiava sonhar.

Mas depois esquecia do ódio e sonhava em amarelo, e ficava tudo bem porque então ela colocava uma canção bem saltitante e assim, aos pulinhos, começava tudo de novo.

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