Monday, January 31, 2011

Parei de beber

Na minha geladeira descansa, semi esquecida, uma garrafa de brut de qualidade duvidosa. Comprei pro natal, mas acabei não abrindo, e hoje ela olha pra mim cada vez que vou pegar qualquer tipo de bebida que seja menos... comemorativa. Já pensei tantas vezes na garrafa gelada à minha espera, mas nenhuma ocasião parece grandiosa o suficiente. As minhas conquistas nunca são vitórias à altura das minhas expectativa.

Tem ideia do que é viver assim? Alguém tem ideia do que é esperar pra realizar algo que, quando chega, você já não dá tanto valor? Eu passo dias, anos, imaginando como seria se... E, de repente, é. E a garrafa de brut continua intocada.

Bruts, espumantes, proseccos e champagnes. Bebidas que são feitas pra gente brindar com amigos, pra abraçar e, quem sabe, usar um vestido longo. O vinho tinto é diferente: dá pra sentar na poltrona da sala, ouvindo Nina Simone, na penumbra. Sem ninguém por perto. Esperando que venha aquela sensação de álcool subindo, aquele formigamento que deixa as partes do corpo indefinidas. Uma técnica sfumato, só que de dentro da fora. Acabei de descobrir: Monalisa estava bebinha quando foi pintada, e Da Vinci era tão genial que conseguiu perceber isso e colocar no retrato dela. Nos cantinhos da boca da Mona.

Vodka é para pistas de dança. Para som alto e estrobo que quase dá convulsões, um desenho do Pikachu proibido para menores. A menos que a vodka esteja misturada com suco de limão. Nesse caso, ela combina com areias brancas e águas claras. Com ostras colhidas na hora e espreguiçadeiras.

Whisky é pra quem não gosta de cerveja. E eu odeio cerveja e chope, mas aceito mesmo assim, quando vou aos Baixos da minha nunca terminada adolescência.

Não sou de bebida, nunca fui. Mas basta que alguém me diga pra dar um tempo, que aquilo se torna a razão da minha vida.
Odeio essa minha nunca terminada adolescência. Às vezes cansa, e me juraram que ela ia acabar um dia. To esperando essa data chegar, junto com a minha garrafa de brut gelada.

Thursday, January 27, 2011

O preço do bom gosto

Deu no Globo on Line: João Gilberto não quer sair do apartamento que aluga no Leblon há 15 anos. Ele paga oito paus por mês pra uma condessa que mora em Paris, e que por alguma razão está sentindo falta do seu cafofo na General Urquiza. E aí o nosso ídolo mandou avisar (notem aqui um toque de desprezo digno de Odete Roitman) que não vai sair de lá. E pronto.
Resultado: recebeu uma intimação fofa pra deixar o imóvel em 15 dias.

Agora, o que me chamou a atenção em tudo isso foi: se o joao Gilberto não tem apartamento próprio no Rio de Janeiro, quando é que eu vou ter o meu?

Pra quem não entendeu ainda, é bom explicar direito: preço de imóvel no Rio é preço de Manhattan, Paris e outros lugares que a gente sempre ouviu falar que são impossíveis de se morar. E não só os preços dos apê são inacreditáveis. Os jantarzinhos, os teatros, os chopes, as roupas, e tudo o mais que faz a nossa existência pós yuppie aturável estão pela hora da morte pra quem, como eu, tem bom gosto mas não tem uma conta bancária que acompanha such a good taste.

Sim, eu to em crise. Porque com o meu salário não dá pra bancar um conjugado fedorento em Copacabana, e eu nem ganho tão mal assim. Não ganho bem, mas ganhar mal, no Brasil, significa ganhar mal-pra-caralho-a-beça. E eu já não me enquadro neste grupo.

Quando eu fui pra Paris, descobri que os franceses vivem muito melhor do que eu... pagando menos. Eles têm melhores restaurentes, melhores opções de mercado, melhores grifes, são magros e têm cabelos lindos. Tenho uma inveja negra das mulheres francesas. Dava pra elas serem menos chiques? Eu me sentia um patinho feito com várias camadas de roupa no meio daqueles sobretudos parisienses.
E, se juntasse o preço das minhas roupas ali, não ficava muito atrás dos sobretudos classudos delas.

Friday, January 14, 2011

À procura de um bom livro

Essa semana fiquei sozinha em casa, na tal solidão que eu reclamei há uns dias que não tinha mais. Pois adivinha só: ao invés de colocar uma música bem alta, ou ler enlouquecidamente, ou finalmente fazer aquela adaptação de um conto meu pra HQ, eu fiquei lamentando que estava sozinha em casa, asssitindo a todos os episódios do Seinfeld que eu conseguia, entendiada e com saudade da casa cheia.

Mas até que eu li um pouquinho. Umas cinco míseras páginas, de um capítulo que eu não consigo terminar, de um livro que não em empolgou (mas o título é ótimo: Trem Noturno para Lisboa).
Depois de me crucificar e achar que eu perdi totalmente o gosto pela leitura, cheguei à conclusão de que o problema não sou eu, é o romance que eu etsou lendo (e que continuo tentando).

Preciso de indicações para um bom livro. Ou de várias indicações. Mas tem que ser leitura soco no estômago, tem que ser pra enlouquecer, pra devorar a história. Pra dar vontade de escrever. Se tem uma coisa que e faz gastar dinheiro é livraria. Eu piro. Não consigo entrar em uma sem sair com uma sacolinha. Mas faz tempo que não acerto na compra, então etsou bem necessidade de uma voz guia, digamos assim.

A vida fica muito chata quando a gente não tem umas páginas pra ler de vez em quando. Algo que não fale de tromba d'água e contagem de corpos.

Thursday, January 13, 2011

E a vida continua

Quase 400 mortos nos alagamentos da região serrana do Rio de Janeiro e eu continuo com vontade de falar de Paris. A vida continua para aqueles que estão longe da tragédia: a gente chora quando vê a imagem da senhora que teve que largar o cachorro na enxurrada para poder se salvar, mas depois sai pra tomar um café e fumar um cigarro e beber um chope com amigos. É o pesar fast food: a gente assiste, chora, desliga a tv e volta a sorrir.

Isso me lembra muito setembro de 2001 em Nova York. Quando eu morava lá e testemunhei o ataque ao World Trade Center, e todos os meus amigos me viram na TV e telefonaram pro meu pai (que estava calmíssimo, sob a justificativa: "se ela está dando entrevistas na TV, ela tá bem". Faz sentido.) Durante uma semana não se falou em outra coisa no mundo; depois o assunto foi esfriando e ganhando menos destaque no Jornal Nacional.

Mas pra mim, o mês seguinte ainda era de muita tristeza, com as ruas tomadas de cartazes de pessoas desaparecidas, de carros abandonados cobertos pela poeira que cobriu NY na destruição das Torres Gêmeas, de flores e velas acesas nas praças em homenagem aos mortos. Nova York era um poço de tristeza, e eu vivi isso intensamente, enquanto o resto do mundo se preparava para a próxima tragédias mundial.

Mas depois que voltei ao Brasil, eu também parei de pensar no 11 de setembro. Até porque nunca consegui contar pra alguém como foi exatamente o dia do ataque.

Hoje não dá pra falar de Paris: são 400 mortos no estado. Mas amanhã, quem sabe, a gente já não amenizou a imagem da senhora que joga o cachorrinho fora?

Tuesday, January 11, 2011

Percorrendo os cafés em Montparnasse

Na minha semana e meia parisiense, desenvolvi uma rotina cara, engordartiva e... deliciosa. Ao final de um dia de passeios turísticos e comprinhas desnecessariamente necessárias (uma forma que faz gelos nos moldes das naves do Space Invaders é imprescindível pra minha vida, digam o que quiserem), eu passava no hotel, deixava as minhas bolsas, e corria pra rua pra comer alguma coisa. Ou algumas coisas. Geralmente, eram umas 7h da noite e eu ainda não havia almoçado. Geralmente, eu estava gelada da cabeça aos pés e precisava de um bom copo de vinho francês. Eu e o namorido avaliávamos as dezenas de cafés nos arredores do nosso hotel e sentávamos naquele que mais tinha cara de... francês. E aí, começava a nossa noite.

Percorríamos pelo menos 3 cafés por noite. Procurávamos não repetir os lugares por onde tínhamos passado na noite anterior - a menos que a fome fosse insuportável demais. E a ordem dos acontecimentos era a seguinte: no primeiro café, a gente pedia um vinho e uma entrada qualquer (queijos, frios, patés). No segundo café, pedíamos mais vinhos e um jantar legal (risotos, bifes, patos). No terceiro café, tomávamos o derradeiro copo, a saideira daquele dia. Às vezes eu optava por uma taça de champagne, mas na maioria das noites ficava com o vin rouge mesmo. E quando a gente voltava pro hotel, passávamos na mercearia em frente e comprávamos mais uma garrafinha, pra beber no quarto.

Toda vez começávamos a noite prometendo não dormir tarde. E toda vez quebrávamos a promessa.

É que eu nasci pra essa vida parisiense. Esse povo gosta de sair, de comer bem, de encontrar amigos pra conversar. Não teve um dia em que não encontrássemos os cafés cheios. É muito comum também que as pessoas saiam sozinhas pra tomar um café, ou um copo de vinho, e fumar um cigarro, sem que sejam encaradas como aberrações solitárias. É normal, só isso.

A rua do hotel era cheia de creperias, que é uma das minhas paixões gastronômicas. Eu queria sempre sentar em um daqueles lugares, mas o marido desanimava, porque queria comer pratos menos conhecidos, mais diversificados. Mas havia uma creperia que tinha sempre, a partir das 17h, uma longa fila de espera. Nessa fila, só tinha francês. Então alguma coisa boa devia estar ali.

Uma noite, depois do nosso percurso de cafés, passamos pela creperia. Ela estava aberta, mas sem fila (já era meia noite), e nós resolvemos entrar. E aí, a cena era a seguinte: apenas uma mesa vaga (a que sreia a nossa), uma velhinha cozinhando, dois rapazes atendendo, e um senhor no caixa. Você abre a porta e dá de cara com uma família francesa dona de uma tradicional creperia de Montparnasse!

Pedimos o crepe e ele veio diferente de qualquer outro crepe que você já deve ter comido. Era naquele estilo de crepe do Le Blé Noir, em Copacabana. Só que muito mais barato (em Paris, se come melhor e mais barato que no Rio, acredite).
Obviamente, eu não sei o nome da creperia. Mas o nome da rua era Rue du Montparnasse.

Se você for a Paris e entrar numa de só comer no Mac Donalds porque é mais barato, por favor, nunca mais dirija a palavra à minha pessoa. Mac Donald não é tão mais barato assim, e lá você consegue comer bem por 9 ou 10 euros. E comer, peloamordedeus, faz parte da viagem. Comer scargot é tipo subir na Torre Eiffel. Você pode nunca mais tocar naquelas conchinhas, mas um dia você tem que provar o prato de lesmas.

Monday, January 10, 2011

Show da Amy Winehouse x 3

Amy Winehouse toca hoje e amanhã no Rio, no HSBC Arena, bem ao lado do meu trabalho. E eu não vou. Acabo de chegar de uma viagem mega cara, to individada até a alma, e optei por não me complicar ainda mais. Mas doi um pouquinho no coração, até porque eu não sei até quando ela vai estar viva pra voltar aqui em outra época. Mas, tudo bem, eu sobrevivo ao trauma. O lance é que todo mundo, em um raio de 50 quilômetros, só fala sobre isso. E aí eu percebi que só eu deixo de ir a um show porque to dura. Tem uma grande parte da galera que dá um jeitinho.

Por exemplo: tenho um casal de amigos de uns 40 anos que vão ao show. Ela é doutoranda, mas ele já fez doutorado. Ela tem carteirinha de estudante, e fez uma hackeada pra ele. Quando comentei que não ia ao show por causa de grana, eles me ofereceram fazer uma carteirinha de estudante. Eu fiquei super sem graça e não topei. Faz tempo que não uso carteirinha falsa, anos mesmo, e sou totalmente contra essa festa da meia entrada. Acho, inclusive, que carteirinha tinha que ser só pra estudante de graduação. Mas obviamente não ia polemizar sobre isso com os meus amigos, porque essa decisão de não pagar meia é muito minha, e nada tem a ver com o resto do mundo.

Daí no mesmo dia, mais tarde, eu li no twitter do Tom Leão que ele só não paga o ingresso de um show quando vai cobrir ou quando é convidado. E que ele não ia cobrir o show da Amy, então ele teria que comprar, ou não iria, não lembro bem o desfecho. O lance é que aquilo me surpreendeu, porque se tem um cara que eu achava que não pagava pra nada, era ele. Primeiro porque ele escreve sobre música no Globo há anos, e aqui no Rio ele é um dos jornalistas musicais mais importantes. Segundo porque já é hábito dos jornalistas ligar pedindo um convitinho. Juro, todo mundo faz isso. Menos, é claro, eu. Não que eu seja melhor que ninguém. É porque fico com vergonha mesmo. Mas não se engane, porque se outra pessoa pede um convite e me oferece, eu aceito de bom grado. Ou seja: eu não faço o serviço sujo, mas mando fazer.

Essa história do Tom Leão me lembrou uma situação que presenciei no trabalho outro dia. Um repórter bem jovem do programa onde estou trabalhando temporariamente ligou pra assessora do HSBC pra pedir um ingresso. Isso me chamou atenção porque ele fez isso com tanta naturalidade, que eu fiquei me achando uma idiota por não fazer o mesmo. Será que é mesmo mal pedir pra entrar de graça? As assessorias já têm uma cota pros jornalistas - aliás, é assim que elas trocam favores com repórteres, produtores de reportagem, etc. Eles fazem um favorzinho de lá e a gente faz um favorzinho aqui. Mas é tudo muito... esquisito, não? Ou eu estou sendo puritana demais?

Não sei, mas o fato é que eu não vou ao show, e isso está ficando recorrente demais, essa coisa de perder eventos. Deve fazer parte da vida de casada. Mas, também, é tudo uma questão de prioridade. Troquei meu ingresso da Amy Winehouse por algumas taças de vinho em Paris. Por enquanto eu acho que estou ganhando na troca. Quando eu achar que to perdendo, eu mudo o jogo - mas pagando inteira.

Friday, January 07, 2011

O primeiro dia do ano

Onde você estava no dia 1/1/11? Nunca tinha escrito essa data, e agora que escrevi e visualizei todos esses números 1 reunidos parecem uma coisa, assim, da Cabala. Mas então, no dia 1o. eu estava no segundo andar da Torre Eiffel. E a primeira paisagem que vi no ano foi Paris de cima.

Um belo começo. Vou pular os detalhes mundanos de que subir na Torre Eiffel é um puta de um programa de índio, que você pega uma fila enorme e demorada, e que passa um frio tremendo (caso você, como eu, resolva visitar Paris no inverno mais frio da última década). Vou pular tudo isso e manter o glamour, porque a verdade é que se você nunca foi a Paris e pretende ir um dia, nesse dia você vai se sentir na obrigação de subir na Torre Eiffel. Faz parte da rotina de turista essa vida de corno.

Pra você que ainda não foi, uma dica: compre o passe no site da torre um dia antes e pegue uma fila muuuito menor. Eu não fiz isso, é claro. Mas acho esperto qualquer um que seja mais organizado do que eu.

Se você nunca foi à Paris, vá à Torre Eiffel, fiquei maravilhado com a vista e prometa a si mesmo nunca mais passar esse perrengue de novo.

Eu já tinha ido a Paris. Mas essa é uma cidade que a gente nunca cansa de voltar. Eu ainda carrego aquele clima de viagem pra Europa (e olha que eu passei dos 2 graus para os 30 graus em 10 horas de vôo). Dessa vez, a minha viagem foi totalmente gastronômica e boêmia: passei os dias (as noites) indo a cafés, bebendo vinhos incríveis e baratíssimos, comendo queijos e entradas e, óbvio, engordando. Liguei o foda-se e me joguei na comida francesa, comi mariscos, ostras, bifes, risotos, bombas de chocolate, pan au chocolat, chocolate quente, e tudo o mais que passava na minha frente e que paercida gostoso. E, acredite, em Paris, o que parece gostoso, é gostoso de verdade.

No primeiro dia do ano, depois da visita à torre e do frio, e de mais um chocolate quente, e de mais uma porção de castanhas na brasa (além de ser uma delícia dá uma quenturinha por dentro), andei por todo o meu bairro - Montparnasse - fotografando os cafés que mais frequentei nos últimos 9 dias, fotografando a avenida, a estação do metrô e me despedindo (temporariamente) daquela vida.

O primeiro dia do ano foi o meu último dia de viagem. Mas de alguma maneira foi um outro começo também.

Thursday, January 06, 2011

Feliz ano totalmente e absolutamente novo

Andei bastante tempo sumida desse blog, até que no mês passado aconteceu uma coisa engraçada: comecei a receber comentários elogiando o blog e pedindo que ele voltasse à ativa. Alguns desses comentários foram de amigos, outros foram de estranhos. E eu adoro quando estranhos comentam e elogiam o blog. Eu sou vaidosa, egotripeira e, enfim, agradeço os elogios sem constrangimentos algum!

(Parênteses filosófico: isso de aceitar elogios com naturalidade só acontece na web. Na vida real, fico totalmente sem graça com qualquer palavra benéfica vinda de outrem. Menos no trabalho, porque aí eu acho que o elogio é merecido, porque eu ralo pra caramba mesmo).

Mas sumi porque casei´. É a mais pura verdade. Quando a gente é solteira, chega em casa e fica sozinha. Eu costumava tomar um copo de vinho comendo meu luxuoso jantar de queijo quente, e me sentava ao computador. No segundo copo, já me sentia mais levinha, e no terceiro os textos saíam sensacionais. Produção em massa. Mas quando você vai morar com alguém, você conversa, dá atenção, quer contar o que rolou, quer saber o que rolou com ele. Tem um milhão de coisas pra falar naquele espaço de tempo entre a chegada do trabalho e a hora de dormir.

E aí... não leio como antes, não escrevo como antes. Essas são atividades que necessitam de solidão. E quando eu me vejo sozinha eu nao aproveito, porque fico perdida com o excesso de tempo só meu. Muito louco isso?

Mas o importante é que o ano chegou, e eu to botando muita fé em 2011. Com vontade de fazer acontecer mil coisas. Fico louca quando não etsou fazendo nada, quero sempre aproveitar cada minutinho, pensar sobre o que escrever e o que fazer, pensar em projetos, me tornar uma pessoa audiovisual (daquelas que eu tanto falava mal na faculdade).