tag:blogger.com,1999:blog-128022002024-03-20T02:48:38.889-07:00Poça D'águaUm blog de pensamentos rasos.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.comBlogger417125tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-84636040283592958552013-01-15T14:58:00.000-08:002013-01-15T15:04:11.035-08:00Patroa em fase de experiênciaEu tenho babá. Em fase de experiência. E muitas vezes sou eu que me sinto avaliada, porque to sempre sentindo a possibilidade de ser demitida como patroa no término do mês de teste.<br />
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Ter babá muitas vezes me lembra a fábula do velho, o menino e o burro. Não importa o que você faça, vai ter sempre alguém te olhando como se você não quisesse cuidar do seu filho. Como se você preferisse passear sozinha, ir à academia ou olhar o Facebook, do que brincar com o moleque. Ter uma babá trabalhando pra você te eleva automaticamente ao status de perua. Mesmo que a sua unha não esteja feita, ou que as suas raízes brancas já estejam contemplando o mundo.</div>
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Aliás, o substantivo "babá" tem o poder de classificar qualquer atividade como altamente desnecessária. Por exemplo, na frase: "Fui pintar o cabelo enquanto meu bebê ficou com a babá", o sujeito, ou a sujeita, é oculta. Oculta porque não quer se mostrar e ser chamada de "insensível, como assim ela teve a coragem de deixar o filho em casa enquanto passava DUAS HORAS no salão?" Mesmo que suas raízes brancas já estejam socializando com as pessoas na fila do supermercado. </div>
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Toda vez que ouço comentários pejorativos sobre babá, feitos por alguém que não tem babá, me encolho um pouquinho. Não encaro nem defendo a vida de patroa, porque tantas vezes eu mesma já esculachei as mães do Fashion Mall. Aquelas que vão na frente e são seguidas pelas suas funcionárias e pelos carrinhos de bebê. Como é fácil e cômoda a posição de quem não tem babá! Tantas questões que essas pessoas não têm que lidar. Do tipo: levo a babá pro pediatra? Entro com ela no consultório? Levo a babá na casa do meu pai? Levo a babá no almoço com as amigas?</div>
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Com exceção do pediatra, a minha resposta é "não" para todas as perguntas acima. Não, porque... sei lá, quero conversar em paz com as minhas amigas e com o meu pai. Pelo menos, por enquanto. Ainda acho estranha essa situação tão íntima entre eu e a babá. Mas ela, com mais de dez anos de experiência em cuidar de crianças (e de patroas), não se sente nem um pouco incomodada com a nossa proximidade. Vai ver foi por isso que ela me perguntou na lata: "Por que a senhora resolveu casar e ter filhos?"</div>
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Respondi, meio sem jeito, que a minha vida foi levando a isso, sem um planejamento prévio. E, a partir daquele dia, ficou no ar a impressão, cada vez mais forte, de que a avaliada era eu. E que pode ser que ela me demita.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-9647864344332857232013-01-07T14:09:00.000-08:002013-01-07T14:16:29.705-08:00Espelho, espelho meu: tem certeza de que essa trintona aí sou eu?Hoje fiz uma experiência com a babá. Semana passada entrevistei a candidata, negociei salário, combinei de começar na segunda. Ela deve ter a minha idade (ou mais), e me chama de "senhora" e "Dona Bruna". E o pior é que eu deixo.<br />
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Não entendi muito bem como aconteceu essa história de ter que cuidar de uma casa. E olha que eu nem cuido muito da minha. Mas acho que a mudança foi inevitável no momento em que passei a morar com dois pré adolescentes, que insistem em achar que eu não tenho a idade deles. Só porque eu já passei dos trinta.<br />
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Quando a gente conversa sobre música, por exemplo. Outro dia estava passando na TV um show daquela bosta chamada Linkin' Park, e o meu enteado mais velho estava assistindo e dizendo que gostava. Não consegui segurar a minha língua e acabei falando que aqueles caras eram muito ruins, quase uma boy band travestida de guitarras pesadas. E aí, tive que ouvir de volta: "Você não gosta dessa banda porque as pessoas da sua idade não gostam, só os jovens."<br />
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Eu caí na pilha. E comecei uma ladainha sem sentido sobre como eu já conhecia Linkin' Park muito antes dele imaginar que a banda existia, e que ele só gostava porque não conhecia coisa boa de verdade, e yadda yadda yadda - como as pessoas fazem quando perdem a rédea da situação. Foi muito constrangedor, e eu percebi que estava fazendo um papel ridículo, mas não conseguia me safar dele.<br />
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É que o meu espelho interno, pessoal e intransferível, congelou a minha imagem aos 28 anos. O tempo pode passar o quanto for, mas eu ainda me vejo, imagino e... ok, ajo, como se ainda estivesse nos <i>twenty something. </i>Eu até admito os trinta, porque trinta é uma idade bem legal, com mais dinheiro no bolso, mais liberdade, mais segurança... Mas trinta e cinco é foda.<br />
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E isso é só o começo. Eu tenho um filho de seis meses que aos doze eu vou tentar convencer a ouvir coisa boa, de qualidade, seja Metallica, Air ou Nina Simone. E ele vai falar a mesma coisa que eu ouço hoje em dia "Tudo música de velho". Não importa se é bom, se é mais "moderno" do que várias bandas recém nascidas, ou se os caras das bandas recém nascidas tentam beber e copiar dessas fontes.<br />
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Agora senta que lá vem quarenta. Medo.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-45205295333943157362013-01-03T14:40:00.002-08:002013-01-03T14:48:49.164-08:00Eu odeio o reveillon. Mentira, eu amo. Mentira, não amo mais. To em transição de sentimentos quanto ao reveillon.Tenho uma amiga que há treze anos não comemora a passagem de ano. Já foi chamada pra festas incríveis, em lugares maravilhosos, com "gente bonita" e "DJs do momento", e mesmo assim, declinou. Eu achava que ela era doida de perder esses eventos (pros quais <b>eu</b> nunca fui convidada), mas hoje em dia eu entendo essa posição. E estou me preparando pra fazer parte do time que não está nem aí pro reveillon.<br />
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A culpa é da Copa. Do mundo. E de Copa. Cabana. E de todos os muitos turistas que fizeram desse o ano novo dos recordes. A culpa também é de São Pedro, ou seja lá quem mande nas questões do clima. Porque o calor também foi recorde, fazendo as bochechas do meu lindo bebê - de pele branca demais pros raios ultravioletas cariocas - ficarem vermelhas de calor.</div>
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No fim de semana que antecede a virada, eu não ponho o nariz pra fora de casa. É que moro no bairro mais movimentado do Brasil nesse período, e por isso a ideia de qualquer programa só vai agradar a quem gosta de programa de índio. Aliás, minha amiga que não comemora a passagem mora no mesmo bairro. Será que é por isso que ficamos em desespero?</div>
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Há dois anos passei o ano novo em Paris. Tinha uma turma comemorando, mas os franceses mesmo, os poucos franceses autênticos ao meu redor, pareciam bastante entediados. Eu e meu marido conseguimos um lugar no único café que ainda tinha mesas disponíveis no Quartier Latin. Pedimos champagne e esperamos as doze badaladas, pra só então descobrir porque aquele era o único café com vagas na noite. Ali, com certeza, era o lugar mais deprimente do mundo. Na virada do ano, ninguém se olhou. Nem se abraçou. Nem sequer apertou as mãos. Na verdade, teve gente que até bocejou. Um desapego só.</div>
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Nessa hora, deu saudade no reveillon de Copacabana. Mas é pra isso que servem os reveillons em Paris: pra gente sentir falta de Copacabana e depois dar um gole num champagne francês e fazer a saudade passar totalmente. E verdade seja dita: o caminho oposto não existe. Não tem champagne brasileiro que cure a nostalgia da Cidade da Luz.</div>
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Bem fez a minha amiga, que virou o ano em casa, e no 1o. de janeiro foi passar um dia de rainha na piscina de um hotel cinco estrelas da Avenida Atlântica. Porque, como dizia o ditado: pra bom apreciador, meia piscina na cobertura da Atlântica basta. </div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-70056967232839890222012-04-24T16:14:00.000-07:002012-04-24T16:14:54.894-07:00É impossível escolher um nomeNão é fácil ser grávida. A gente entra em mil paranoias, morre de medo de embarangar de vez, ou de não ter leite, ou de não ser boa mãe... Um dos grandes medos iniciais de uma grávida é não saber escolher um bom nome pro seu filho.<br />
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A princípio, nenhum nome serve. E quanto mais a gente pensa em uma opção, mais ela vai ficando esquisita e impronunciável. Faça o teste agora mesmo: escolha o nome que você mais gosta e fique repetindo em voz alta por dois minutos. Aposto um milhão de dólares como no final do tempo você vai achar que, não sei, tem uma coisa estranha, umas sílabas aqui que não tão batendo bem, e por aí vai. Ou então, você vai se lembrar que no Jardim de Infância conhecia alguém que se chamava _______ (coloque aqui o nome da sua preferência) e que era intragável, um verdadeiro pentelho, quer quebrava todos os brinquedos e ainda grudava chiclete no cabelo das meninas.<br />
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Como todas as coisas relacionadas a um bebê que está prestes a chegar, todo mundo tem uma sugestão irrecusável pra nomear o seu filho. Claro, e as pessoas também não vão se sentir encabuladas em criticar o nome que VOCÊ tem em mente. O nome que elas têm pra sugerir é sempre muito melhor.<br />
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Já participei de rodadas de chope (em que eu estava bebendo só água, é claro) em que o nome do meu filho ficou sendo debatido durante muitos minutos. Eu lançava pro meu marido olhares onde ele podia ler: "eu não estou acreditando", enquanto ele me respondia com encaradas do tipo: "segura a onda e não entra na pilha", morrendo de medo que eu, no alto dos meus enlouquecidos hormônios de parideira, mandasse todo mundo pro diabo. Mas eu nunca mandei ninguém pra lugar nenhum, mesmo morrendo de vontade, e me limitava a responder, quando alguém criticava a minha possível escolha: "É desse nome que eu gosto". Isso, milagrosamente, encerrava a discussão.<br />
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Seria ótimo se eu realmente estivesse tão certa assim sobre o nome escolhido. Mas o fato é que, naquele momento, tudo o que eu tinha feito era puxado o meu cartão de mãe, aquele que cala a boca de qualquer um que queira se meter um pouquinho mais na discussão. Só que no fundo eu não tinha certeza nenhuma, de nome nenhum, e a opção que eu mais gostava era de um parente do meu marido. Quando manifestei meu interesse, rapidamente a galera da opinião levantou a bandeira do "repetir nome não pode". Às vezes dá uma canseira danada ser sociável.<br />
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Ainda não escolhi o nome. Mas se você tiver uma sugestão irrecusável, não se acanhe: guarde pra você. Ou vou ter que sacar, mais uma vez, a minha carteira-maternidade. Porque tem vezes que só dando carteirada mesmo.<br />
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E lá fui eu pro meu primeiro dia de aula, usando um maiô muitos números acima do meu, comprado com o objetivo de que ele comporte a barriga até o final da gravidez. No elevador, encontro a avó da minha vizinha de porta, e descubro que ela será da minha turma de hidro. Tirando umas quatro grávidas, o resto das alunas são mocinhas de idades que variam dos 70 aos 80 anos.<br />
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A água da piscina aquecida é muito quente, e dá vontade de relaxar, não de malhar. Procuro não pensar que aquela temperatura digna de canja de galinha seja o disfarce ideal para eventuais xixis das minhas companheiras de classe. Como se sabe, grávidas e velhinhas têm muita vontade de urinar. Mas pra que pensar nisso, quando você já está literalmente mergulhada até o pescoço nessa possibilidade? O melhor é ignorar e se concentrar nos exercícios.<br />
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E, pra falar a verdade, eu adorei a aula. E continuo adorando agora. Malho as pernas, malho os braços, e fico com a sensação de que a minha bunda está virando algo melhor que só uma geléia de retenção de líquido. Fico tão dedicada às séries que a professora passa que chego em casa exausta. Tomo um banho mais quente que a água da piscina, reponho os líquidos com um copão de água gelada e volto a me deitar, ainda de cabelos molhados. Tiro um cochilo sem culpa, sem remorsos, de pelo menos uma hora. Coisas que só as grávidas que trabalham em casa se permitem.<br />
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<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-16680312916363263052012-04-10T15:59:00.001-07:002012-04-10T15:59:44.432-07:00Para ser uma pessoa melhorEm resposta ao texto da <a href="http://blog.bolsademulher.com/RosanaCaiado/2012/04/02/um-pequeno-ser-humano/" target="_blank">Rosana Caiado</a> :)<br />
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Durante muito tempo eu quis ser mãe, mas sem nunca saber exatamente por quê. Parecia uma vaidade enorme, uma vontade de ter alguém que seria meu maior amor, meu companheiro, minha pequena cópia. Eu queria ter um Mini Me. Mas sabia que não era só por isso que eu queria ser mãe.<br />
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E aí o tempo passou e eu acabei indo morar com dois enteados. E quando percebi estava cuidando deles, e postando várias fotos da minha nova família no Instagram. E gastando mais do que eu podia com presentes de aniversário e de natal, e chegando em casa com uma caixa surpresa de Nhá Benta só pra ver o povo feliz com a sobremesa inesperada, exatamente como a minha mãe fazia. Mas, ao invés disso tudo aplacar a minha necessidade interna de maternidade, na verdade eu fiquei mais louca ainda pra gerar um serzinho. E foi assim, meio no escuro, numa mistura de medo e de ansiedade, que eu decidi engravidar.<br />
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Só depois que confirmei que dentro de mim tinha um baby do tamanho de uma semente de gergelim - mas que já tinha um coração bem barulhento! - que a razão da maternidade começou a se explicar. Desde então, parei de fumar, praticamente parei de beber, e passei a comer melhor. Eu não gosto de frutas, mas juro que estou comendo pelo menos uma fruta por dia. Eu tento cada vez mais dar prazer pra quem está perto de mim, tento não me estressar (tanto), tento não ser a briguenta, não ser egoísta e não ficar achando que os meus problemas são muito maiores que o dos outros. E tento muito me sentir bem. Porque aí eu sei que ele também vai estar bem.<br />
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Veja bem: eu ainda tenho muitos defeitos. Milhões. Mas agora eu estou tentando melhorar de verdade.<br />
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Uma vez, eu ouvi de um pai experiente - um paizão, daquele tipo que é meio mãe também - que o pior é ver os seus próprios defeitos repetidos nos seus filhos. E pra mim isso virou um mantra: não quero que o meu filho tenha os mesmos defeitos que eu, quero que ele arrume novos defeitos pra ele!<br />
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Não acho que todo mundo deva ter filhos, nem que essa é uma regra ditada pela natureza, pela normalidade de ser humano. Mas, pra mim, pelo menos, é a melhor maneira que descobri de ser uma pessoa melhor.<br />
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<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-49398563486016277292012-03-22T12:31:00.000-07:002012-03-22T12:31:50.355-07:00Eu quero uma casa de campoCasas de campo são tardes na piscina, discos antigos tocados aos berros, papo pro ar.<br />
Casas de campo são cachorros, crianças e várias garrafas de cerveja espalhadas. Também são noites lindamente estreladas e festivais gastronômicos que parecem não ter fim. São dias pacíficos e tardes que se arrastam, e segundas-feiras que têm gosto de saudade de sábado.<br />
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Mesmo sem beber, não recuso um copo de vinho. Porque estou entre novos amigos e me permito essa pulada de cerca existencial.<br />
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Em 48 horas, aprendemos mais sobre uma pessoa. Sabemos os nomes dos filhos, vemos fotos e identificamos um lar com amor.<br />
Também quero que a minha casa tenha amor. E que o meu filho seja feliz.<br />
Que ele tenha todo o necessário para uma vida bela.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-64361904269937679412012-03-19T15:08:00.000-07:002012-03-19T15:08:20.550-07:00Grávida: uma mulher de peitoSe os meninos de Copacabana olham mais pra mim... é porque eu to grávida. Com as carnes, digamos, mais recheadas que o habitual, passei a atrair os olhares de gente que antes me achava assim muito magrinha, mal nutrida, sem gracinha, sabe. E as chances são de que o sucesso com o público masculino vá aumentando na mesma proporção em que a barriga vá crescendo e eu vá me deslocando pro norte da cidade. O povo lá de cima gosta de mulher com sustância, e não dão a mínima a essa estética ossuda e pontiaguda da Zona Sul do Rio de Janeiro. <br />
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A verdade é que os olhares dos populares são um alento pras grávidas de primeira viagem, como eu. Porque essa história de que grávida fica mais bonita, mais vistosa e mais iluminada, é papo de gente não grávida. Como diz uma amiga minha: grávida bonita, my ass. Aliás, é justamente na ass que todos os quilos extras parecem se alojar. Mesmo pra quem é desprovida de revestimento traseiro, como é o meu caso (o que já me rendeu o apelido de "sem-brunda"), parece que vai tudo parar lá atrás. Se a gente for contabilizar os quilos reais que uma mulher ganha só com bebê, placenta e outras parideirices, os extras são poucos. O lance é que a gente fica louca por comida mesmo, e libera geral onde antes segurava a onda. Eu, por exemplo, estou completamente ensandecida por doces. Coisa heavy metal, tipo brownie com sorvete, barra de chocolate, tortas e tudo o mais. Pra coisa não ficar muito fora de controle, comprei todos os sabores de gelatina à disposição no supermercado. Mas, ainda assim, quando tem uma torta na geladeira, a gente quer que a gelatina se dane. Quer dizer, <i>eu</i> sei que quero que ela se exploda - todas as mulheres não são assim?<br />
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Mas tem uma parte do corpo que realmente fica incrível na gravidez: os peitos. Enormes, redondos, macios, de um jeito que nunca foram e nunca serão novamente. Seja qual for a roupa que eu coloque, mesmo uma comportada camisa sem decotes, eles abrem espaço à procura do sol, exibidos e juntinhos, que nem bunda de bebê. É a vingança do sex appeal das parturientes: a gente fica com a bunda grande e flácida, a gente anda que nem pata e ainda carrega uma barriga monstra. Mas os peitos, baby, nem adianta tentar comprar igual: eles são originais de fábrica, e só embuchando é que se consegue um efeito semelhante.<br />
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<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-21924468691713801742012-03-06T16:07:00.001-08:002012-03-06T16:15:39.846-08:00O mundo bizarro das parideirasEu costumava olhar com certa pena algumas mulheres que diziam, orgulhosas, desconhecer totalmente tal ou tal banda que ia tocar no Circo no fim de semana, porque desde que os filhos tinham nascido, tudo o que ouviam era "A Galinha Pintadinha", ou coisa que o valha. Eu ficava com pena e me prometia nunca me tornar uma delas, mesmo desejando muito um dia ser mãe também. Afinal, eu seria uma mãe que nunca perderia contato com o mundo lá fora, uma mãe cosmopolita, prática, que poderia viajar pra qualquer lugar do mundo com o filho debaixo do braço, fosse qual fosse a sua idade, tal qual fazem os europeus. Tudo bem, eu ignorei que na Europa a gente anda um pouquinho de trem e já está em outro país, enquanto que aqui e a gente pode andar, andar e andar de carro, e só chegar em São Paulo. Mas o fato é que eu não deixaria nunca de viver a vida por causa do meu filho. O plano era trazer meu rebento pro meu universo, e não o contrário.<br />
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Mas nada como uma dose mínima de realidade pra colocar a gente no devido lugar. Mal começou a gravidez e eu descobri o bizarro universo consumista infantil. Fiquei fissurada em blogs e artigos e ítens com design destinados aos bebês, e particularmente maluca com um <a href="http://www.amazon.com/Nuvo-Ritmo-Pregnancy-Sound-System/dp/B002XFE894/ref=sr_1_2?s=baby-products&ie=UTF8&qid=1331076870&sr=1-2">fone de barriga</a> que vende na Amazon, e que permite que o meu filhinho escute, desde o ventre, todas as bandas que a mãe dele um dia vai fazer com que ele assista no Circo. E de repente eu me vi cercada de listas e listas de compras, com nomeclauras absolutamente novas (culote? conjunto pagão? fralda de ombro, pano de boca?) e objetos imprescindíveis pro bem estar do meu baby.<br />
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Mas não foi sempre assim. Um dia eu resolvi passear na feira de gestante que tem no Rio Centro, só porque estava ali pertinho, e porque uma amiga me prometeu companhia. Uma amiga corajosa, que não tem filhos, e que mesmo assim topou encarar o programa de índio. E a cena que se segue é de dar dó: duas completas perdidas no meio de todos os tipos, tamanhos e gostos do tal universo paralelo de parideiras. Eu vagava pelas ruelas da feira sem entender muito bem o que eu tinha que comprar, se era barato ou era caro, se eu devia viajar pra Miami e fazer o enxoval todo por lá ou se haveria uma boa alma que fosse capaz de me dar aulas sobre "ser mãe" (na vertente mercadológica desse vasto tema).<br />
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Aquilo foi me dando um desespero tão grande, uma noção do quão despreparada eu sou pra chegada desse serzinho, que eu voltei pra casa deprimida, pensando em me inscrever num daqueles cursos de grávida. E mesmo assim, no auge da depressão, eu tive tempo de comprar um balde e uma banheira transparentes com detalhes verdes, a coisa mais fofa do mundo.<br />
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A depressão passou e deu lugar a um monstro dersenfreadamente consumista no cartão de crédito. Ainda estou na metade da gestação, mas já maluca por objetos que eu coleciono em links salvos nos meus favoritos. Um dia, em breve, eles vão estar espalhados pela minha casa, entre panos de boca e fraldas de ombro (mas conjuntos pagão, jamais!). Enquanto isso, a "Galinha Pintadinha" vai bombar no iPig. E eu vou ser uma mãe, como tantas outras, que vai achar incrível qualquer gracinha do seu bebê, e vai mostrar, a quem quiser ver, todas as ultras, de todos os meses, como se fossem books fotográficos da America's Next Top Model. Não duvide, mulher: um dia isso vai acontecer com você também.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-14823379416162971242012-02-15T15:18:00.001-08:002012-03-06T16:15:26.881-08:00Nerds tardes<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhxYoXBAoAPGeWdc5Ph-u3ieRhM-NQcy8OX-Wf-3CdA-kRIFqt4Sy-ucEg3uj_yrbyKVgK686m_RlkdMCvnh3VD6aM4ACkkj_nkggq_o6cQH-GGXamK1lJy50iYFP9FGcQwkJp/s1600/nan+goldin.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="211" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhxYoXBAoAPGeWdc5Ph-u3ieRhM-NQcy8OX-Wf-3CdA-kRIFqt4Sy-ucEg3uj_yrbyKVgK686m_RlkdMCvnh3VD6aM4ACkkj_nkggq_o6cQH-GGXamK1lJy50iYFP9FGcQwkJp/s320/nan+goldin.jpg" width="320" /></a></div>
Meu lado nerd há tempos clamava por um dia no museu. Eu tenho essa necessidade de visitar exposições e galerias, acompanhadas de amigos tão nerds quanto eu. Não se trata de um hobby cool, ou cult. Trocar um sábado na praia por uma tarde no MAM só pode ser classificado como coisa de nerd. Ou de paulista. Mas eu sou assim, fazer o quê. De vez em quando me baixa.<br />
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Pois então, eu e três amigos fomos ver as fotos da <a href="http://www.artnet.com/artists/nan-goldin/">Nan Goldin</a>. Aquelas que foram <a href="http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/videocasts/1013531-oi-futuro-cancela-mostra-da-artista-nan-goldin-veja-imagens.shtml">censuradas</a> porque tem gente chata demais no mundo, sabe como é? Fui preparada pra ver imagens chocantes e me deparei com lindas histórias de amor. Até chorei - e uma grávida que vê uma cena de sexo e chora é algo pra se pensar, não? Ah, tudo bem, tinham uns viciados se injetando aqui e ali, mas o grosso mesmo da obra da Nan Goldin (pelo menos dessa que aportou no Rio de Janeiro) fala de amor, de relacionamento, de amizade. De uma maneira soco no estômago, ta certo. Mas no final a mensagem é: amem-se! Chega a ser uma mensagem cristã, quase.</div>
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Eu lembro de ver, dessa vez sozinha, uma exposição da fotógrafa, há muitos anos. Não lembro quando, nem lembro onde, só lembro do auto retrato que ela fez depois de tomar porrada do namorado. Achei corajoso demais. Hoje em dia eu sei que essa é uma foto meio lugar comum, que um monte de gente já fez. Mas naquela época, as pessoas que apanhavam se escondiam. Nan Goldin não só se mostrou, como ampliou os hematomas e correu o mundo. Toda a minha admiração a ela.</div>
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Saí do MAM com aquela sensação de alma lavada que só uma bela tarde nerd no museu proporciona. Na saída, bicões de abertura de exposição bebiam prosecco em copos de plástico. Meus amigos beberam, mas eu não. To grávida, ne. Bebi água mesmo. E mesmo de cara limpa aturei com toda paciência do mundo o começo do bloco de ex estudantes de cinema da UFF, que concentrava nos jardins. Achei até engraçado quando fiquei na dúvida se uma menina estava fantasiada, ou se se vestia a sério. Definitivamente, a análise está dando certo, e eu sou uma pessoa melhor.</div>
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Meus incansáveis amigos, sedentos por me mostrar outras formas de arte, me levaram à Praça Tiradentes. Onde antes havia uma horrorosa grade, agora a praça se abre, enorme, redonda, e servindo de base pra estátua de Dom Pedro I. Realmente, lindo demais. Fiquei orgulhosa. E dessa vez eu não estou sendo sarcástica.</div>
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Na volta, passamos pelo ponto de turismo-catástrofe da vez: o prédio que caiu na Cinelândia. Fiquei olhando praquele buraco no meio dos prédios e me lembrei do Ground Zero, e do dia em que as Torres Gêmeas foram derrubadas. Memórias de guerra.</div>
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E no final das contas, voltamos de metrô pra Copacabana. Eu me despedi deles com abraços e beijos e saudades sem fim, lamentando que cada vez menos eu tenha sábados de sol nerds em tardes de museu. Valeu cada nanossegundo.</div>
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Obviamente, esse é um sentimento tupiniquim. Sentimento de quem não está acostumada com a admiração alheia pelo seu país, de quem cresceu vendo que aqui só quem vinha visitar era a classe Z estrangeira (e mesmo assim, quase que exclusivamente interessada em turismo sexual). E o mais louco é que, ao mesmo tempo que a turistada me incomoda, eu ficava estufada de orgulho quando alguém elogiava o Brasil nos meus tempos de residente e Nova York. Adorava chegar em qualquer loja de música e ver meia dúzia de prateleiras destinadas apenas à Bossa Nova, enquanto todo o resto da música latina se espremia misturada num único setor. Ou quando alguém me olhava em reprovação quando eu dizia que era carioca e queria morar um tempo nos Estados Unidos. "Mas o Rio é lindo!", me respondiam os americanos. Mas só os claramente letrados, os universitários e pessoas de classes mais altas. Os mais pobres não conseguiam entender como eu era ao mesmo tempo tão branca e tão latina.<br />
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De qualquer forma, apesar da minha insistência em me comportar como filha de um país pobre e desacostumado com cortesias estrangeiras, a verdade é que ainda tem muito gringo vindo pra cá pra comer puta. Copacabana é o lugar do Rio onde mais é possível sentir essa tensão que une sexo e negócios: é praticamente impossível para uma mulher relativamente jovem ir sozinha a um daqueles restaurantes da Avenida Atlântica - pelo menos durante a semana. Ou seja: não sou só eu que tenho que mudar, mas eles também tem que vir pra cá com alguma coisa a mais na cabeça que satisfazer a cabeça debaixo. OK, entender que a mulherada fica pelada no carnaval mas que elas passam o resto do ano vestidas é difícil até pra mim (nunca engoli essa pseudo libertinagem que só dura uma semana; na verdade nós somos mesmo um bando de conservadores e moralistas), mas talvez seja o momento da gente parar um minuto e dar umas aulas de cultura brasileira pra esses nossos novos amiguinhos. E aí, quem sabe, a gente não aprende alguma coisa sobre o nosso país também.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-18040374119275035812012-02-07T09:37:00.000-08:002012-02-07T09:37:56.879-08:00Feliz Novembro NovoEu tenho uma virada de ano pessoal que sempre acontece um pouco antes da oficial. Lá pro meio de novembro sempre acontece alguma coisa, boa ou ruim, que marca uma ruptura com o ano que passou. Deve ser alguma questão astrológica de um mapa que eu nunca tive paciência (leia-se "dinheiro") pra fazer. Ou então é porque em novembro a gente colhe frutos que plantou o ano inteiro - ou atura uma colheita fraca - em um mês que antecede a loucura comemorativa de dezembro. Dezembro me cansa. Mas novembro é bem legal.<div>
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Foi em novembro passado que eu descobri que estava grávida. Gravidez planejada, de gente adulta, o clássico bebê-depois-da-promoção. E então: silêncio no blog. Eu não conseguia pensar em mais nada que não fosse essa pequena semente de gergerlim dentro da minha barriga, feliz e assustada demais pro que viria a seguir, com uma fome monstra e um sono absurdo, com medo de que acontecesse alguma coisa com ele, o Gergerelim, antes mesmo dele passar de embrião pra feto.</div>
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Mas nada aconteceu, e cá estou eu três quilos mais gorda, com a certeza absoluta de que depois do nascimento vou ficar cadeiruda como era a minha avó. Larguei o cigarro e a musculação, e troquei por caminhadas na praia, trilha sonora calminha e leitura de gestante. Foi num desses informativos que eu descobri que ele, o bebê, já pode me ouvir desde agora. E por isso ando muito preocupada com a formação musical dele. Outro dia, levei o bebê pro show do Chico Buarque, e foi tão lindo que eu não aguentei e cai no choro durante "O Meu Amor". E quando eu acordo no domingo mais cedo que o resto da casa, eu coloco pra tocar Belle & Sebastian, ou Air, ou Nina Simone, e o que mais tiver de veludo pra ele escutar. </div>
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Meu pequeno Gergelim de 15 centímetros, esticado e confortável na minha nova mega barriga, dá cambalhotas e estica as pernas enquanto ouve música boa. Se tudo der certo, ele vai gostar de dançar, como eu gosto. Ou vai querer jogar futebol, como o pai dele. Ou vai tentar aprender um instrumento, como os irmãos. Ou vai ser ele mesmo, Gergelim Paixão, com gostos novos que ele não puxou de ninguém, e aprendeu sabe-se lá aonde. </div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-69438333938885599842011-11-01T11:31:00.000-07:002011-11-01T11:35:06.072-07:00Salão de traumasPra mim, a vida dos cupons de desconto se revelou o portal para um universo paralelo antes ignorado: o dos salões de beleza mequetrefes. Aquele tipo que, em geral, é todo de vidro e voltado pra rua, exibindo aos passantes as pobres das clientes de cabelos desgrenhados, ou pés arregaçados, ou sobrancelhas dilaceradas. Como usuária assumida de muitas das escovas inventadas por aí (progressiva, inteligente, london, marroquina e, a última, de clorofila), fico sempre de olho grande em promoções de beleza de sites de comprar coletivas. Invariavelmente, quando chego no endereço do cupom, me deparo com um desses <i>coiffeurs</i> de clientela exposta. É como se fosse caro demais bancar uma parede fosca, ou como se a falta privacidade das moças que querem ficar mais belas fosse o preço a ser pago por elas terem se atrevido a pensar mais barato. Consumo consciente não se aplica a salão de beleza: a gente tem que pagar caro pra preservar o processo, mesmo que o resultado final seja incrível com ou sem parede de vidro.<br />
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De uma maneira geral, salões de beleza são ambientes irritantes. Com tantas conquistas tecnológicas, a que eu mais desejo ainda não foi inventada. Saca aquela máquina dos Jetsons em que as mulheres entram horrorosas e saem princesas? Queria uma dessas em casa. Por que ninguém inventou ainda? Desconfio que seja um complô da indústria de cosméticos. Porque não dá pra contabilizar a quantidade de vezes que eu saí de casa com uma roupa completamente maluca porque estava com muito sono pra pensar em ter estilo. E, obviamente, ao passar por uma mulher com roupas melhores que as minhas, sentia um impulso quase incontrolável de entrar no primeiro salão de beleza que passasse na frente. Tudo pensado pela Wella, pela Redken e pela Loreal Profissionel. Uma teoria da conspiração da beleza.<br />
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E também tem as nossas semelhantes. Mulheres têm um scanner no olhar quando se encontram com outra que elas consideram competição. Pode ser casada, pode ter mil anos, pode ter só 15: se uma mulher encontra outra que considera rival, ela dá aquela filmada dos pés à cabeça. É mais forte que nós. Mesmo que não seja pela competição propriamente dita, que seja pela admiração. E pela inveja. Mulheres são invejosas com outras mulheres. Principalmente as mais magras e mais bem vestidas que elas.<br />
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O que torna o salão de beleza um ambiente tenso. Em que clientes se posicionam uma em frente das outras, com papel laminado na cabeça e algodão entre os dedos. O único ambiente de beleza em que o constrangimento supera o scanner do mal feminino é o instituto de depilação. Porque ninguém ali deseja que outra pessoa saiba quais são os lugares cabeludos que vai ter que resolver naquele momento.<br />
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Uma vez, num desses centros de depilação express, vi um homem. Era o técnico do bebedouro, fazendo seu serviço completamente constrangido. Mesmo totalmente sem graça, ele não conseguiu deixar de olhar pra cada cliente que entrava e fazia o seu pedido na recepção. Ele estava associando o corte à dona, estava claro. E mesmo sofrendo de uma vergonha sem limites por estar na hora errada, no lugar errado, ele não conseguia deixar de lado a curiosidade de checar quem estava pedindo o quê.<br />
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Mais um motivo para que seja inventada a máquina dos Jetsons. Quantos técnicos de bebedouros, eletricistas e carpinteiros não vão se beneficiar com esse projeto? É a salvação da humanidade. E o fim das insuportáveis revistas de celebridades.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-88439281777149790412011-10-26T18:35:00.000-07:002011-10-26T18:35:04.492-07:00A benfeitora de CopacabanaSou fascinada pelas janelas de Copacabana. Sendo criada na chamada "zona rural do Rio" (a tal da zona oeste), tudo o que via da janela do meu quarto eram tediosas árvores, um pedacinho do mar da Barra, alguns mico estrelas enxeridos (alguém aí sabia que eles foram trazidos do nordeste pra cá, e são uma das razões da extinção do mico-leão dourado?), vários pássaros, de vários tamanhos e cores, algumas joaninhas - que depois sumiram de vez faz uns dez anos - e muitos camaleões. Eu tinha uma vida bucólica, mas tudo o que queria era atravessar a rua e comprar pão, desejo impossível na minha antiga casa, distante de qualquer comércio. Mas as janelas de Copacabana, essas são cheias de vida, cheias de gente passando por detrás delas, cheias de móveis e decorações que eu quero tanto bisbilhotar, cheias de redes de segurança e gatos que se encostam a elas buscando sol, cheias de toalhas e roupas manchadas quarando na luz. São janelas de gente que eu não conheço e que vive há menos de dez metros de mim. <div>
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Se eu pudesse, se fosse invisível ou pelo mais cara de pau, eu me apoiava nos parapeitos como aquelas velhinhas da avenida Nossa Senhora, e ficava vendo o mundo se mover na rua e nos apartamentos da frente. Nas centenas de casas espremidas, com famílias de dois, três, quatro ou mais pessoas. Eu ficava assistindo anônima ao teatro anônimo desse bairro cheio de tanta gente sozinha. E acho que devo mesmo ter cara de quem que quer participar, porque as velhinhas de Copa, esse sindicato não organizado, elas sempre me param para pedir informação ou ajudar a atravessar a rua. E sendo eu eternamente carente de boas ações, ajudo cheia de vontade e prontidão as senhorinhas, inclusive estendendo meu braço amigo não até a outra calçada, mas até a entrada do edifício buscado. Eu sou a benfeitora de Copacabana.</div>
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Deve ser porque tenho medo de que São Jorge venha me cobrar a juros a promessa que fiz a ele e não paguei. Prometi que ia dar uma certa quantia todos os meses a alguma instituição de caridade se por acaso conseguisse alcançar a tão sonhada promoção. A promoção foi alcaçada, embora o aumento não tenha sido tanto assim, a ponto da minha contribuição voluntários ser dada sem esforço. Ou seja: to sempre devendo na praça; como é que eu vou dar aos pobres, então? Se bem que, pensando a respeito, dá pra concluir que se promessa fosse fácil, não seria nunca dívida. Faz parte da premissa da promessa (incrível essas duas palavras juntas) que ela seja suada. Se não, que graça tem pro Santo? Como é que eles vão se divertir vendo a gente prometendo coisas tão fáceis? Isso ser mais tedioso que casal feliz em novela. A gente vê a novela pra ver os outros sofrendo e só conquistando a felicidade no final, certo? Pois é, desconfio que é o mesmo com o santos. Nós, terráqueos e terrenos, somos a novela dos deuses.</div>
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Talvez da próxima vez que uma velhinha em Copacabana me pedir ajuda pra atravessar a rua, eu deva pedir em troca um pequeno auxílio em espécie, pra poder cumprir a minha meta e não desagradar São Jorge. talvez as mais carolas se apeguem à minha causa e contribuam com a promessa nunca paga.</div>
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Ou talvez seja o fim da Benfeitora de Copa. Morta a bengaladas na esquina da Bolívar com Barata Ribeiro. </div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-27024798296229438172011-10-24T19:15:00.000-07:002011-10-24T19:15:26.812-07:00Claque MentalUma das coisas que demorei a aprender, mas finalmente entendi: toda comédia é uma tragédia, a diferença está na claque. Aquele risinho eletrônico que marca as piadas de sitcoms e esquetes de humor, sabe qual? Tire as claques de um episódio de Seinfeld e você só vai ver constrangimento, desgraça, deslealdade e alguns dos sete pecados capitais. Mas, graças à claque, no final é só diversão.<div>
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É por isso que ando tentando desenvolver a claque mental. Eu, que já usei o mantra mental, a música-tema mental, agora estou partindo pra esse novo modo cognitivo comportamental de ver o mundo. Uma risadinha muda tudo, mesmo que seja na forma de humor negro.</div>
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A claque mental é a salva de palmas pra quem está se sentindo um palhaço. Se a vida te dá uma piada ruim, faça uma pirueta, coloque a dentes postiços e assuma a sua posição de diversão alheia. Alguém deve estar rindo, em algum lugar do universo. Projete a sua performance pra esse espectador misterioso - Deus, seu anjo da guarda, Chico Xavier - e tente ouvir a claque. Ela está lá, é só procurar.</div>
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Claro que sempre existe a possibilidade de se levar a sério. Confesso que já tentei isso também, mas foi tão ridículo que desisti rápido. Pelo menos a claque mental dá mais dignidade. </div>
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A gente é palhaço, mas é limpinho.</div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-24638559803659494212011-10-21T12:24:00.000-07:002011-10-21T12:36:12.361-07:00Rivotrilling the dayCada vez mais conheço gente normal que toma tarja preta. E, na mesma proporção, conheço gente histérica que não toma nada controlado. O que me fez pensar que os remédios proibidos são muito menos aterrorizantes do que eu imaginava tempos atrás.<div><br /></div><div>É claro que se o bicho é controlado, ele deve fazer um efeito forte. Não to falando pra todo mundo sair por aí se enchendo de rivotril e prozac! To dizendo que de repente é bom a gente abrir um pouco a mente pra esse tipo de medicamento. Quem sabe se todo mundo tomasse rivotril direitinho, como manda a prescrição, mais gente ia dar abraços grátis no centro do Rio? Ou ajudar a salvar as baleias? Ou simplesmente não ia ficar atazanando a vida alheia só porque acordou mais uma vez cheio de azedume no coração?</div><div><br /></div><div>Hoje, aqui em Copa, faz um dia lindo. Daqueles de céu azul com poucas nuvens, e ainda um friozinho desse resquício de inverno (inverno? não é primavera? pois é, mas faz frio no Rio). Pensei em fazer um cartaz de Free Hughs e circular pela Nossa Senhora de Copacabana. Mas é que eu não gosto muito de contato humano com gente que não conheço.</div><div><br /></div><div>(Parênteses inúteis: quando estava em Madri, tinha uma galera do Free Hughs na Plaza del Sol. Fiquei louca de vontade de ir lá e dar um abraço naqueles caras, mas a vergonha me segurou. Me arrependo mortalmente de não ter ido. Afinal, viagem serve pra isso, né? Pra fazer coisas que você nunca toparia na sua terra natal. Maria Arrependida mode on).</div><div><br /></div><div>O dia em Copa está na categoria Rivotril. Pra mim, parece que todo mundo topou o remedinho. Ta todo mundo feliz. Ta todo mundo dando passagem pras velhinhas de bengala. Uma coisa bonita de se ver.</div><div><br /></div><div>Então, se você é neurótico, histérico, azedo, se você é daqueles (daquelas, né? São sempre mulheres...) que entram nesse blog só pra deixar um comentário amargo, vai por mim: toma um rivotril. Prometo que você vai terminar esse dia dando um abraço no seu porteiro.</div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-25453955659205167432011-10-20T07:58:00.001-07:002011-10-20T08:19:43.050-07:00Maria ArrependidaCansei de gente que não se arrepende. Já viu aquele povo que responde em entrevistas que não faria nada de diferente se pudesse voltar ao passado? Ou que diz que só se arrepende do que não fez? Pois é, não confio nessas pessoas. Eu sou do tipo que mudaria uns dez itens desde a hora que acorda até o almoço. Se não pelo erro, pelo menos que fosse pela possibilidade de experimentar diferente. Sou do tipo que sai de uma discussão pensando: "naquela hora deveria ter dito isso ou aquilo". As frases mais espirituosas vêm mais tarde, com delay. Eu sou um andróide com movimentos retardados.<div><br /></div><div>Só que se arrepender dá um trabalho danado. Porque quando a gente percebe o arrependimento, tem que fazer alguma coisa em relação a isso. Tem que corrigir, de alguma maneira. E aí que começa a parte cansativa.</div><div><br /></div><div>Hoje eu já fumei dois cigarros. Arrependimento. Prometo não fumar mais nenhum até o final do dia (essa é uma mentira, mas vamos lá: autoengano, às vezes, dá resultado). Não fui à academia de manhã, mas ainda posso ir à tarde. Não comecei a escrever o meu livro genial, que está prometido a mim mesma há uns dez anos. Bebi demais outro dia e falei o que não devia. A lista é longa, se a gente correr de hoje até o minuto em que comecei a ter consciência de que posso me arrepender. Faz o quê, uns trinta anos? Talvez mais.</div><div><br /></div><div>Tem também o pseudo arrependimento. Aquele que parece um arrependimento, mas que depois revela que tentar mudar vai fazer a emenda sair pior que o soneto. No pseudo arrependimento, a gente tá ferrado de vez, porque virando à esquerda ou à direita, vem merda pela frente.</div><div><br /></div><div>E tem também o arrependimento de micro segundos. Aquele que nasce logo após a gente dizer ou fazer algo que se revela instantaneamente errado - quase tão rápido quanto o cara que buzina quando o sinal abre. Nesse tipo, meus amigos, eu sou medalhista de ouro. </div><div><br /></div><div>Mas voltando a gente que não se arrepende: tenha medo desses. Esses se consideram perfeitos. Esses não se dão as chibatadas existenciais necessárias pra qualquer crescimento pessoal. E lidar com gente que não se chicoteia dá um arrependimento enorme de não ser surdo.</div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-46487311754809936412011-10-18T14:47:00.000-07:002011-10-18T16:36:27.107-07:00A Louca das CaloriasParar de fumar depois dos trinta significa parar também (por um tempo, vá lá) com quase todos os outros prazeres da vida: chocolates, álcool, massas, etc etc etc. Quem para de fumar depois dos trinta tem que começar a fazer dieta e a correr imediatamente depois de largar o cigarro. É claro que eu não fiz isso, engordei uns 3 quilos, e aí a sirene da vaidade começou a gritar.<div><br /></div><div>Foi quando eu decidi baixar um contador de calorias no meu iPhone, pra poder monitorar de perto tudo que estava entrando nesse corpinho que a terra há de comer (e que seja bem comível antes disso). Sendo uma virginiana de primeiro decanado que, traduzindo os jargões astrológicos, quer dizer que nasci neuroticamente metódica, a ideia de anotar tudo o que como me pareceu viável. Anotaria também os gastos calóricos com exercícios e outras atividades menos úteis, tipo ficar sentada vendo televisão. </div><div><br /></div><div>Em pouco tempo eu me tornei a Louca das Calorias. Conferia cada embalagem de comida que me passava nas mãos, e fazia perguntas pro meu marido do tipo: "Quantos gramas de bolo de carne você acha que eu comi no jantar?". Eu fui me tornando, pouco a pouco, uma pessoas mais magra e mais maluca.</div><div><br /></div><div>Confesso que ainda hoje vivo dias de obsessão. É que meu plano de perder peso deu certo (perdi um quilo em duas semanas, e ele nunca mais voltou!), e mesmo que de vez em quando eu vire uma psicopata das quantias energéticas, eu guardo a maluquice pra mim e não fico atazanando os outros com isso.</div><div><br /></div><div>No fim das contas, tudo é culpa da TV de LCD. Porque ela achata a silhueta dos atores que não estão em canais com transmissão HD, o que faz com que os pobrezinhos, que já não são bons de cabeça - afinal, são atores - fiquem esqueléticos, o que gera a busca de um ideal de beleza de anoréxicos. Todo um padrão estético baseado em um erro tecnológico.</div><div>O mundo tá mesmo uma zona. </div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-30272959279980224202011-10-17T14:09:00.000-07:002011-10-17T14:29:50.026-07:00Promessas não cumpridasDepois de dois meses e um dia sem escrever, resolvi que está na hora de dar as caras pelo meu quase esquecido blog. Mas esquecido só pra mim: durante a minha ausência, mais de dez pessoas passaram a seguir o Poça D'água, o que caracteriza um fenômeno que eu nunca entendi muito bem. De todos os seguidores, apenas um é meu amigo. Os outros me acharam na internet por acaso, talvez através da pesquisa sobre Rivotril. O fato é que chegaram e ficaram e, pra esses e pra todos, obrigada.<div><br /></div><div>Tem também os que passam aqui pra me xingar, e isso eu acho bem engraçado. Coisa de gente que quer pesquisar a minha vida - e esse povo eu conheço muito bem. É o lado ruim de ter um blog: você conta um pouco ao mundo sobre como enxerga o cotidiano, e automaticamente torna-se alvo de um milhão de julgamentos, pro bem e pro mal. Faz parte.</div><div><br /></div><div>Bem, em dois meses dá tempo de fazer muitas promessas e descumprir quase todas. Dá tempo de ler uns três ou quatro livros e sonhar com uma nova carreira, e perceber que depois dos trinta, se a gente quer uma carreira nova, tem que sair correndo atrás do preju. Me sinto como se tivesse 24 e não 34, mas nem isso muda a minha data de nascimento.</div><div><br /></div><div>E agora eu tenho tempo suficiente pra escrever mais, e pra ler mais e pra ver mais filmes. Aliás, agora tudo isso faz parte da minha profissão, olha que maravilha. Mas não tenho tento tempo pra escrever no blog, o que é realmente uma pena, mas é algo real.</div><div><br /></div><div>Mas como eu sou a campeã de fazer promessas que eu nunca vou cumprir, prometo aqui voltar a escrever. Pelo menos uma notinha todos os dias - que que custa, né</div><div>Vamos ver se pelo menos essa eu cumpro...</div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-90764595835126976012011-08-16T13:56:00.000-07:002011-08-16T14:29:00.926-07:00Nem todos os amores são horríveisNem todos os homens são traidores em potencial, nem todas as paixões são destinadas às lágrimas, nem todos as luas cheias deixam as mulheres loucas, nem todas as crianças são fofas e gentis (mas todos os pais têm culpa), nem todos os salários são essa bosta, nem todo emprego é trabalho, nenhuma família é de comercial de margarina, nem todo parente é de confiança, mas toda melhor amiga é melhor que parente ruim, nem todo mundo briga por dinheiro, nem todo céu é paraíso pra todo mundo.
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<br />Hoje me deu uma vontade de escrever que nem tudo é o que a gente acha que sempre foi. Passei anos e anos acreditando que amar era sofrer, até que um dia um <a href="http://www.visorama.blogspot.com/">amigo </a>leu a minha mão (será que ele lembra disso?) e disse que a minha vida amorosa seria de tristeza. Eu me recusei a acreditar nisso, mas acreditei. Na verdade, eu já acreditava. Eu já desconfiava de todo mundo, já deixava meu lado de ascendente em escorpião ficar de guarda, à espera de um possível bote que eu no final não deixaria chegar. Mas sabe o que acontece: o bote sempre chega, a gente sempre leva a ferroada, mesmo estando de guarda. E aí eu aprendi que o melhor é relaxar e esquecer que existe a possibilidade de ser sacaneado.
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<br />Segundo o meu amigo, a minha linha do amor é cheia de falhas, que seriam interpretadas numa leitura de mão como os percalsos de uma vida amorosa. Agora mesmo eu parei e tentei achar a linha do amor; mas na palma da mão eu só conheço a linha da vida, e essa parece bem longa e desenhada, obrigada. E, afinal, eu nem sei se a mão a ser lida deve ser a esquerda ou a direita, porque parece que uma tem as linhas mais certinhas que a outra - ou será que é porque a minha palma direita está suja?
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<br />E aquela história de fechar a mão e ver quantos filhos você vai ter? Eu fazia isso quando era criança, via as dobras na lateral dos dedos e dizia pras minhas amigas: você vai ter tantos filhos. Na minha mão parece que eu vou ter quatro, mas será que eu já conto nesses os meus enteados, a situação mais próxima de maternidade que eu conheço? O que me lembra o sonho que eu tive e levei ao consultório do terapeuta: sonhei que tive quatrigêmeos, e que como já tínhamos duas crianças do primeiro casamento do meu marido, não teríamos como ficar com seis bebês em casa. Então eu tive que dar dois dos meus filhos. Imagina o horror. Eu acordei bem triste de ter tomado essa decisão, de ter que dar dois dos bebês que eu não tive.
<br />
<br />Mas nem todos os sonhos são realidade - ainda bem - e no final as crianças que sobraram na minha casa são as mesmas, que não são meus filhos mas eu considero como se fossem, embora obviamente eles não em consideram como mãe. E eu entendo. Mas lamento. E fico levemente enciumada.
<br />Porque nem todas as madrastas são más.
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-74572430276417417962011-08-11T17:08:00.000-07:002011-08-11T17:17:07.262-07:00Drama Queen. Cortem-lhe a cabeça!Uma vez vi passeando pelo calçadão de Copacabana uma menininha gringa de uns 10 anos, que usava uma camisa onde se lia "Drama Queen". Achei que eu poderia perfeitamente estar usando aquela blusa do alto dos meus 33-quase-34 anos; eu e uma menina de dez, unidas pelo gosto ao drama.<div>
<br /></div><div>E eu sempre fui assim. Lembro de ter uns 8 anos e me sentir, assim, meio melancólica. Eu brincava com crianças na piscina de casa e de repente me cansava de tudo aquilo. Saía da água, me secava e sentava na sala com um livro ou uma revista em quadrinhos, deixando do lado de fora os gritinhos e o sol quente do verão.</div><div>
<br /></div><div>Nunca descobri porque nasci com a tendência ao drama, mas hoje em dia, quando estou no auge do meu show dramático - na TPM, vocês podem imaginar o que isso significa - eu penso que eu sou uma farsa, e que todas aquelas lágrimas são de crocodilo. Melhor dizendo: lá dentro eu sei que estou manipulando a minha ida através das minhas lágrimas. Uma drama queen bem espertinha.</div><div>
<br /></div><div>Mas dá trabalho viver do lado dramático da lua. Tem que haver uma esforço descomunal pra achar sempre o lado melancólico da vida. E que as pessoas ao redor tenham muita paciência! Porque, como se sabe, a Drama Queen gosta de arrancar umas cabeças por aí. Quando não é a dela própria.</div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-24308472602279372662011-08-10T12:25:00.000-07:002011-08-10T13:02:27.724-07:00127 horasDemorei tanto pra ver esse filme que nem sei se vale a pena falar sobre ele. Na verdade, dei uma certa amarelada quando li que pessoas em cinemas do mundo inteiro saíam das salas de exibição na cena em que o alpinista corta o braço. Por causa da minha covardia cinematográfica, já deixei de ver alguns grandes filmes, como Irreversível (pela cena do estupro). Eu tenho problemas com salas escuras de cinema: elas ampliam as minhas sensações de uma maneira que até quando assisti ao último Batman eu fiquei com um certo medinho.
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<br />Mas um dia aluguei 127 horas. Em blue-ray. Pra ver na minha casa, de noite, com tudo apagado. Pra fingir que estava vendo no cinema. E eu que sou bem fã do Danny Boyle: desde o primeiro filme que assisti (acho que foi Transpotting), percebi que estava diante de um cara que merecia toda a minha atenção por, no mínimo, duas horas. Passei a procurar outros exemplos da filmnografia dele, e assim cheguei a Cova Rasa, A Praia e... amarelei de novo no Extermínio. É um saco ser covarde.
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<br />Voltando a 127 horas, é óbvio que o mais comovente nesse filme é saber que se trata de uma história verídica. O Aron Ralston é o verdadeiro super herói americano - só que, no caso, ele não usa os seus poderes pra salvar a humanidade, e sim ele mesmo. Se eu estivesse em um canyon do meio de Utah, eu não durava nem 24 horas, pode ter certeza. Se bem que eu sempre me pergunto qual seria a minha atitude numa situação como essa, em que a gente lembra que é bicho, e que o instinto de sobrevivência se sobrepõe à qualquer outra sensação.
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<br />Isso me faz lembrar de um outro filme, O Pianista. Lembro de uma das cenas mais lindas que eu já vi, de quando finalmente o pianista judeu é descoberto pelos aliados, quando a guerra termina. O fugitivo está usando um casaco do exército alemão, e por isso quase leva um tiro dos aliados. Quando ele se identifica como judeu, o soldado americano pergunta: por que você está usando esse casado? E o pianista responde: porque tenho frio.
<br />Foda-se que é um casaco nazista. Ele tinha frio.
<br />
<br />Mas o cara do 127 horas, esse é um homem que merece admiração. Durante o período que ficou preso no canyon, ele gravou com sua câmera alguns depoimentos. Pedidos de desculpas, frases de adeus de quem acha que daquela enroscada não vai conseguir passar. Mas o tom não é de desespero, é de calma, o que é mais que surpreendente, considerando que o cara já estava há alguns dias sem comer quando começou as gravações. Muitos desses depoimentos estão no Youtube e são fáceis de encontrar.
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<br />A parte mais linda pra mim é a cena final. Tentei achar no Youtube, mas nao consegui, talvez porque o final seja um ponto importante do filme, certo? (TOM IRÔNICO). Eu até chorei vendo o cara se safar, vendo que ele perdeu um braço, mas não perdeu totalmente pra natureza.
<br />Na seleção natural, esse cara é o primeiro da fila.
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<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-14285733297245709512011-07-25T13:32:00.001-07:002011-07-25T14:22:54.830-07:00Um Dia<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjShVrBrqcAfWOs4u0ZOpLtICT17oTO59G3-w-srm_vzwHCloWTLz7pae0yT4HscfenKZXW-jx997M80pirkpRd5UOzOtsrtsvlI-xeg2sRZ0510w10J4QIJX6r4qiZwgFq97F7/s1600/um+dia.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 140px; FLOAT: left; HEIGHT: 200px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5633403436472132850" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjShVrBrqcAfWOs4u0ZOpLtICT17oTO59G3-w-srm_vzwHCloWTLz7pae0yT4HscfenKZXW-jx997M80pirkpRd5UOzOtsrtsvlI-xeg2sRZ0510w10J4QIJX6r4qiZwgFq97F7/s200/um+dia.jpg" /></a><br /><br /><div></div><br /><br /><br /><div>De tanto ouvir falar no livro, no filme e em tudo o mais que cercava o lançamento desse romance por terras brasileiras, eu não me contive e acabei dando o braço a torcer. Comprei o livro e li tudinho em menos de um mês, completamente apaixonada pelos personagens principais, Dexter e Emma. Quando percebi que o livro chegava ao fim, naquelas páginas ralinhas antes da contracapa, me bateu uma síndrome de abstinência dos personagens. Me apeguei aos dois. Poderia ser amiga deles: tinha chance da gente sair pra tomar uma cerveja por aí, os três, conversando sobre as banalidades da vida.</div><br /><br /><div></div><br /><div>Fiquei meio maluca mesmo. Como o livro conta a história de uma amizade de vinte anos que começa em 15 de julho de 1988, eu me vi procurando nesse blog os textos que tinha postado nos 15 de julhos de 2005 em diante. Claro que não calhou de eu excrever um textinho sequer nessa data; mas aí eu me conformava com o mês. E no dia 15 de julho de 2011, perguntei no Facebook pra quem quisesse responder: Onde estão agora Dex e Em?</div><br /><br /><div></div><br /><div>É uma história de desencontros. Uma amizade colorida que chega a dar nervoso de tanto "quase". Dá um medo em quem, como eu, tem um rabo preso (e quem não tem?): a gente fica se perguntando se está no caminho certo da vida, ou se distanciou demais do destino e depois vai ter que correr atrás do preju. E aí pode ser tarde demais.</div><br /><br /><div></div><br /><div>Mas também é um daqueles casos que fazem a gente chorar pelo amor dos dois, pelos quase e pelos plenos encontros, porque de alguma maneira todo mundo se reconhece na história dos dois.</div><br /><br /><div></div><br /><div>Fora isso, tem que o David Nicholls é realmente incrível. Nenhuma frase em um livro de 300 e tantas páginas é desperdiçada: o autor escolhe as palavras, dá o ritmo certo. É um mestre, e você logo no começo sente o saborzinho de best seller. Não aquele tipo de best seller piegas, de gente morrendo de câncer ou crianças na Alemanha nazista. O tipo que vende muito porque é bom sem ser meramente comercial. Ou, melhor falando: tem romance comercial que também fala à alma.</div><br /><br /><div></div><br /><div>Agora é esperar o filme em novembro.</div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-52803369107106918052011-07-22T12:01:00.000-07:002011-07-22T12:39:39.029-07:00Home AloneEstou acostuamada com casa cheia. Cresci com duas irmãs, meu pai e minha madrasta e, agora que já sou grandinha e tenho a minha própria família, moro com meu marido e meus dois enteados. Isso quer dizer o seguinte: nunca o apartamento está vazio. Nunca. O que deixa as minhas chegadas em casa depois do trabalho bem animadas. Sempre a luz da sala está ligada, e o meu enteado mais novo me recebe com um milhão de novidades que ele quer contar naquele momento. Enquanto eu sigo pelo corredo em direção ao quarto ele vem atrás com suas histórias; eu largo a bolsa em cima da cama e dou um beijinho no meu marido, entro no banheiro pra lavar as mãos (meu enteado fica na porta ainda contando coisas) e sigo pra cozinha pra comer alguma besteira. Durante todo o percurso, o ar se enche com as palavras do meu enteado, da televisão ligada no meu quarto e do meu marido falando ao telefone. É uma sinfonia muito familiar e muito aconchegante, que faz com que eu desligue completamente do mundo lá fora e me dedique à vida dentro de casa.<br /><br />Tem vezes que eu sou recebida com uma taça de vinho e uma fatia de camembert. Ou com uma dessas bebidas Ice de vodca, que eu mando ver de barriga vazia, e em menos de uma garrafa já sinto aquela dormência deliciosa que é ficar de pileque em casa. Passei a beber muito mais depois que casei, essa é a verdade. Mas descobri que nasci pra viver a dois. Ou a três e a quatro.<br /><br />Mas ontem eu cheguei em casa e a luz da sala estava apagada. O silêncio era meio opressor, e eu tratei logo de ligar a TV da sala pra fazer algum ruído. Ouvi de uma amiga no trabalho que eu deveria aproveitar enquanto estava sozinha , e foi o que fiz: praticamente terminei de ler meu livro do momento, liguei o Skype esperando ligações de longe que nunca vieram, assisti ao programa onde eu trabalho. Mas nada disso me deu uma super satisfação, e eu fui dormir entre a entediada e a saudosa de todos os meus barulhos diários. A gente só aprende o que é silêncio depois que se casa.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12802200.post-25621506860140001872011-07-21T14:41:00.000-07:002011-07-21T15:13:35.100-07:00O quanto dura uma realizaçãoAs minhas duram uns cinco minutos. Quando eu ouço a notícia e sinto aquele bem estar de missão cumprida e aprovada, aquele leve formigamento interno gerado pelo orgulho de si mesmo, por ser essa pessoa especial e única, que veio ao mundo para encher a Terra de soluções geniais. Eu tenho exatos cinco minutos de paraíso, e depois a conquista perde a graça e eu já passo pro próximo objetivo. Eu sou que nem esfomeado em churrascaria: não nego nehnuma carne e em pouco tempo estou empanturrado, sem conseguir comer mais nada, pensando no sushi do próximo sábado.<br /><br />Por quanto tempo a gente pode viver uma glória? Concordo que os meus cinco meteóricos minutos de satisfação são muito pouco pra quem ralou por anos pra conseguir atingir sua meta. E eu não me dou descanso, não me dou um relax de pernas pro ar, eu quero mais e mais e mais, eternamente. Infernal, não é mesmo?<br />Mas também acho que viver pra sempre festejando as conquistas do passado é coisa de quem não entendeu que a fila anda e a caravana passa.<br /><br />Só sei de uma coisa: enquanto eu faço tudo, enquanto eu dirijo e levanto peso na academia, e estou em reuniões supostamente prestando a maior atenção, ou vendo Seinfeld e fingindo pra mim mesma que eu estou ligada na estrutura da narrativa, enquanto eu faço tudo isso eu penso: tenho que escrever, tenho que escrever, tenho que escrever. Como uma obsessão. Mas não sento e escrevo porcaria nenhuma, eu só me cobro, de olho no próximo estágio da minha lenta e complicada jornada.<br /><br />Hoje à noite eu vou chegar em casa e vou encontrar o apartamento incomumente vazio. Sem marido, sem enteados, sem empregada. Todinho pra mim. Desconfio que vou ficar entre o deprê e o conforto que só a solidão proporciona. Mas a ordem que martela há dias na minha cabeça estará lá, e eu não sei se vou dar ouvidos a ela.<br /><br />Tem vezes que dá vontade de virar hippe e jogar pro alto essa obrigação de "dar certo".<br />Mas logo depois eu volto ao normal, deitada na minha cama queen size de lençóis lavadinhos.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/12819109475636502137noreply@blogger.com2