Monday, October 30, 2006

Beijo na alma

Cheguei ao Tim Festival para assistir Daft Punk com muito medo de não ter os meus anseios atendidos. Eu estava esperando esse show há tanto tempo, e a cada nova crítica que eu lia, ou a cada novo vídeo que me mandavam, eu ficava mais fascinada pelo que vinha na frente. Mas lá, na hora H, esperando que as luzes se apagassem, eu pensava: "E se eu criei tanta expectativa que acabei estragando a minha noite por antecipação?" Não seria a primeira vez, e desconfio que também não seria a última do caso.

Mas todas as minhas ridículas dúvidas se desfizeram quando a pirâmide foi acesa. E depois, mentindo descaradamente, eu falava para os amigos que estavam em volta: "Eu sabia que ia ser assim". E sorria de felicidade - porque bons shows fazem a gente ficar genuinamente feliz. Olhava em volta e via tanta gente que, como eu, sorria para o palco, e pulava, e esgoelava as letras sem sentido e pensava: sou totalmente dependente disso.

Eu tenho um grande preconceito, um preconceito que não consigo me livrar, que é contra as pessoas que vivem sem amar músicas, livros e filmes. Não consigo entender o que faz levantar da cama alguém que só ouve, lê e assiste o que lhe é facilmente empurrado. Quer dizer, eu também adoro filmes blockbuster, com explosões e atores com bíceps deliciosos, mas isso é uma parte apenas, entende? Eu preciso de outra coisa, de satisfação interna, de beijos na alma aqui e ali, para que o dia-a-dia fique menos monótono.

E depois que eu saí do Daft Punk, tão acelerada que tinha cetreza que o taxista estava correndo enlouquecido no Aterro (coitado, ele só estava a noventa...), fiquei jurando pra mim mesma que nunca, em hipótese nenhuma, mesmo que eu seja mãe de trigêmeos, mesmo que eu vire uma esposa e mãe de família - sei lá, quando se tem quase trinta a gente pensa nisso... - eu nunca vou deixar de ter a minha alma beijada. É uma promessa de vida ou morte, e todos vocês podem cobrá-la de mim.

Friday, October 27, 2006

Ninguém ganha da Morte (pelo menos no xadrez)


Entendam por que eu incluí a Morte do Sétimo Selo na minha lista de personagens.

Tudo aconteceu um dia em que eu, entediada, saí da faculdade rumo ao Estação Botafogo. Naquele mês que eu não lembro, do ano que eu não me recordo, o grupo Estação fazia uma retrospectiva com filmes de Ingmar Bergman. Só que, naquela época esquecida, eu não fazia a mínima idéia de quem vinha a ser Ingmar Bergman. Mas como era uma estudante sem estágio e com muito tempo livre, ia com certa assiduidade ao cinema.

Neste dia específico, abri o Segundo Caderno e me deparei com a Morte. De braços abertos, em frente a um tabuleiro de xadrez. Não quis saber mais nada e fui ao cinema, com certeza absoluta de que não iria me arrepender. Não quis ler a sinopse (Aliás, se tem uma coisa que me irrita, é ler sinopse de jornal. Também não me incomodo em saber o final do filme, como a grande maioria das pessoas. Sei lá, acho que o final nem é tão importante assim.) Só queria um lugar na sessão.

Deixa eu explicar uma coisa sobre a primeira sessão de um dia de semana no Estação Botafogo. Têm tipo dez pessoas no cinema. Sete são senhoras de idade. Dois são estudantes de cinema. Um é alguém como eu, que não tem mais o que fazer. Então, obviamente, eu consegui meu ingresso com facilidade. E esperei que o filme começasse.

Saí da sala pulsando, sentindo todos os meus poros, que é o que acontece quando eu vejo alguma coisa realmente incrível. Não conseguia parar de pensar no filme, e então me tornei uma obcecada por Ingmar Bergman - se surgia o nome do homem, lá estava eu na filinha de ingresso. Mas nenhuma outra obra do diretor teve a avalanche de alma que o Sétimo Selo produziu em mim. Foi um dia memorável.

No ano passado, revi o filme. Fazia muito tempo que eu não o assistia de novo. Pra falar a verdade, fiquei morrendo de medo de achar tudo chatíssimo, arrastado, decepcionante. Mas que nada, o filme é o mesmo, e por mais que eu tenha mudado, nenhuma mudança pode transformar essa trama em bobagem. Quando revi aquelas imagens, tive certeza de que O Sétimo Selo seria eterno.

Se você gosta de cinema, ou de uma boa história, ou de pensar, assista. Faça isso por você.

Wednesday, October 25, 2006

Os bastidores de um casório

Tenho uma grande amiga que está para casar. A cerimônia vai ser no próximo sábado, e eu dedico essa semana a pé e mão, escova e pesquisas de simpatias de casório que envolvem vestidos de noiva. Faço as simpatias mais pela piada do que pela fé, uma vez que tenho total noção de que casamento não faz parte do meu futuro próximo.

Mas, voltando à noiva, outro dia fizemos um chá de panela pra ela. Eu, três amigas, e todas as mulheres da família da menina. Acabou que quem comandou todas as brincadeiras (e bebedeiras) do dia fomos nós, as amigas, sob os olhares preocupados da avó da homenageada, que temia que a neta torcesse o pé e tivesse que entrar na igreja manquinha, tadinha. Se bem que foi tanta cerveja que a noiva bebeu que ela bem que poderia não só torcer o pé como cair no chão e bater com a cabeça e coisas sinistras do tipo. Eu que fiquei preocuopada, admito.

Pra quem não sabe, o chá de panela funciona da seguinte maneira: a noiva tem que adivinhar quem deu o presente; e se nao adivinhar bebe uma dose (de qualquer coisa), depois tem que adivinhar o que é o presente; e se não adivinhar, bebe outra dose. E depois de um monte de líquido goela abaixo, a noiva, tadinha de novo, já não sabia distinguir pirex de esponja de louça. Pra se ter uma idéia, terminei a tarde de domingo lavando o banheiro da casa da mãe da minha amiga.

E depois, na outra semana, a gente fez uma despedida de solteira. Não dessas de Clube das Mulheres e strippers que a gente nunca pegaria. Ao invés disso, seguimos, nós quatro, para a Inferninho do momento. Era para ser uma girls night out, e virou um evento, digamos assim, mais abrangente. Regado a Red Bull e destilados, como fazíamos nos nossos vinte e poucos anos. Cantando alto, a plenos pulmões, as músicas que todo mundo gosta.
Adoro casamentos. Ainda mais quando eu estou coladinha nos acontecimentos.

Pra alguém pode servir
Simpatia infálivel aproveitado a vez em que uma grande amiga casar

Para fazer esta, você deverá contar com a ajuda de uma boa amiga, no dia do casamento dela. Para você quer arrumar logo um casamento, quando a amiga for se casar e desde que essa sua amiga seja virgem, faça a seguinte simpatia: escreva seu nome, com uma caneta vermelha, na barra do vestido de casamento de sua amiga ou na sola do pé esquerdo do sapato dela.
Quando ela entrar na igreja, deverá repetir baixinho por três vezes a seguinte intenção:
Hoje nesta igreja entro eu,
amanhã será a vez de... (ela dirá o seu nome).

Nota: ainda bem que eu nunca pensei a recorrer a este tipo de magia. Se não, ia penar pra encontrar uma amiga nas condições adequadas..

Wednesday, October 18, 2006

As pessoas que não existem mais influentes da minha vida

Tinha que ser coisa de americano. Dois dessa espécie lançaram um livro listando os 101 personagens que mais influenciaram a sociedade norte-americana e, por tabela, a nossa também. Não sei do que o livro trata - será uma grande lista de personagens famosos? - mas desconfio que só vale pela piada. Ou alguém acredita que tenha surgido daí um trabalho antropológico e sobre a sociedade de consumo de massa?

A lista deles é encabeçada pelo cowboy do Marlboro, seguida do Grande Irmão, Rei Arthur, Papai Noel e Hamlet. O meu top 5 obviamente nunca apresentaria o homem de Marlboro como o número um dos influentes, muito menos sob a apresentação de "assassino mais famoso dos últimos 200 anos", como é dito no livro, segundo a matéria do GloboOnline. Eu começaria com Lestat, que durante a minha adolescência foi o responsável por me fazer usar preto e desejar ardentemente virar uma vampira. Ou talvez John Constantine - não o péla do filme, mas o dos quadrinhos, sempre meio deprimido e usando uma capa de chuva, charmosíssimo, andando por ruas escuras, ai, ai.

Sou péssima de listinhas e sempre me falta o último ítem. Mas se fosse fazer uma lista dos meus personagens mais influentes, seriam:

1- Constantine
2 - Sabina
3 - Morte
4 - Morte
5 - Enid

Aviso logo que essa lista não está justa. Que eu acabei escolhendo personagens que eu gosto, e não que me influenciaram. E esses nem são os cinco que eu mais gosto! São apenas uns legais que eu lembrei agora. É assim mesmo; como disse, sou péssima de listas.

Saturday, October 14, 2006

What have happened with Babe Jane?

Sábado à noite. Há seis meses eu estaria recebendo ligações de dez em dez, reunindo informações sobre os acontecimentos relevantes da cidade e repassando este conhecimento para frente. Eu era, sempre fui, alguém com informações. Alguém que recebia telefonemas de amigos que não me chamavam para sair, e sim para informar qual era a boa da data. Kinda sad, eu admito, mas não me importo muito. Eu sempre tinha o que fazer.

Não sei bem quando se deu a virada. Não vale ninguém falar que é porque eu estou namorando que a história de cair na gandaia desandou, porque o meu namorado é tão ou mais notívago que eu. Ou costumava ser, quando eu o conheci. E, por sinal, esse encontro se deu em uma boate GLS depois de eu ter bebido duas doses de cachaça em um festival de curtas, seguido de uns três copos de vinho numa festinha de despedida, até cair na inacreditável pilha das três da manhã: "vamos para o Dama!" E eu fui, porque essa era uma época em que eu fazia esse tipo de coisa. Nego chamava, eu já tava lá. Não precisava insistir. Quando cheguei na boate, pedi uma gim-tônica (para completar o cardápio alcóolico) e bati os olhos no Ninja. E então, é o que acontece até hoje.

Mantive a fama de menina noturna por bastante tempo, mesmo acompanhada. Mas agora parece que a preguiça venceu. Ontem estava tudo certo para sair e encontrar amigos de longa data, até que um cochilo estendido acabou com a noite. Hoje, estou esperando que alguém dê sinal de vida. Quase sucunbindo à segunda temporada de Twin Peaks, com ar condicionado e sem cheiro de cigarro dos outros no meu cabelo. Só o meu próprio.

Tuesday, October 10, 2006

Intensamente Bored

Hoje já estalei meu pescoço cinco vezes. Já corrigi a postura e rodei o ombro esquerdo que está doendo dez vezes. Já falei no chat do Gmail com umas três pessoas. Já escrevi uma pauta e dei um telefonema de trabalho. Almocei uma marmita mal recheada e ainda tenho fome. Ainda são 17h. Tem mais lá na frente. Li uma matéria sobre drogas e políticos italianos, fiz simulação para saber se posso comprar um quarto e sala no ano que vem (e descobri que não), encontrei amigas e bati papo, fumei uns cinco cigarros e agora o meu maço acabou. E eu não quero comprar outro.

Quando me vejo assim, esperando os ponteiros andarem, lembro da Lebre Maluca conversando com a Alice. Dizendo que não sei quem e o Tempo estavam brigados, depois que o não sei quem andou matando tempo. O Tempo briga comigo quando eu mato tempo. Não se deve matar o Tempo, é uma lição que a gente aprende mas não aplica, como aquelas de não furar sinal vermelho, não gastar dinheiro desnecessariamente e, é claro, não fumar.

Por outro lado, fico pensando que é melhor aproveitar a calmaria. Que daqui a pouco as coisas não serão tão fáceis assim e que vai ter muito trabalho sobre esses ombros que já doem só de sentar na posição errada em frente ao computador. Mas o porblema é que eu gosto dessa história de trabalhar muito. Eu gosto de acordar cedo e ir pra academia e depois chegar no trabalho e almoçar em meia hora e chegar em casa à noite e assitir novela sem prestar atenção em quem é quem. Mas isso, só ano que vem. Até lá, ombros doendo.

Thursday, October 05, 2006

30 minutos de esteira existencialista

Descobri a resposta para o meu mau humor latente: esteira. Foi uma libertação me ver assim tão fácil de se resolver, e agora eu gasto meu dinehirinho de academia feliz por ter me tornado uma pessoa mais tragável. Quando você está de mau humor e vai para a academia, é questão de minutos a melhora do clima interno: parece que tudo se esvai em suor e batimentos cardíacos acelerados. Me sinto como naquele comercial da Nike em que a mulher cospe o chefe, o trabalho e a cobrança da mãe por um casamento enquanto corre pelo parque. Esse, meus amigos, tem sido meu remédio.

Descobri a cura durante, óbvio, uma TPM. Acordei amarguíssima, chatíssima, latindo para a minha própria sombra. E fui, cheia de preguiça, rumo à academia. Daqui a pouco lá estava eu sorridente, puxando conversa com senhoras de meia idade enquanto esperava o meu aparelho de musculação da vez ser liberado, jogando endorfina nesse cérebro cheio de porcarias que eu tenho. Meu cérebro também sua: dá pra sentir quando ele expele todas as toxinas. Depois eu fico leve, descabelada e me sentindo mais magra - mesmo que não esteja de verdade.

Toda essa questão me faz chegar à seguinte conclusão: o que meninas como eu precisam de verdade é de um tanque de roupa suja pra lavar. Já posso antever comentários irados depois da frase anterior, todo mundo me chamando de machista, etc, etc. Já aconteceu outras vezes. Mas é que, se eu fico tão bem levantando pesos que eu não preciso levantar, não seria de se esperar que eu fosse feliz esfregando roupa? A infelicidade feminina de classe média veio com o advento da máquina de lavar, microondas e diarista de quinze em quinze dias. A gente deveria viver como nossas avós.