Wednesday, May 20, 2009

Todo amor que houver nessa vida

Porque nunca mais vou conseguir ouvir Cazuza do mesmo jeito que ouvia antes. Porque você dizia que sua música era Todo Amor que Houver Nesta Vida, e que a minha era Blues da Piedade. E então eu perguntei se você achava que eu era uma dessas pessoas de alma pequena e você disse que não. E depois eu perguntei se você achava que eu queria sempre o que eu não tinha, e você disse que não. Aí eu perguntei por que Blues da Piedade era a minha música, e você respondeu que eu era careta e covarde. Eu achei absurdo, mas no fundo é verdade mesmo, e também é verdade que eu sou de alma pequena e nunca satisfeita com o que tem. Vamos pedir piedade.

Naquele dia a gente deitou no escuro e ficou bebendo e ouvindo Frank Sinatra aos berros, atrapalhando a vizinhança barulhenta de Copacabana. No outro dia a gente saiu caminhando pela praia, tomou um mate com guaraná e nos sentimos as pessoas mais saudáveis do mundo. E num outro dia fizemos guerra de picolé pelo apartamento enorme, e depois brigamos. E fizemos as pazes. E terminamos e voltamos tantas vezes que eu já perdi a conta, mas você não. E pensamos como seriam nossos filhos, e nos odiamos intensamente, e nos xingamos dos piores nomes só pra depois a gente chegar à conclusão de que fomos feitos um para o outro.

Nunca tentei tanto ficar com alguém. Nunca me esforcei tanto pra dar certo. Nunca conheci um amor como esse. E nunca mais vou conhecer.

Wednesday, May 13, 2009

Solidão

Tenho passado os dias em casa, sozinha. O trabalho está fraco, por enquanto, e eu me vejo deitada na minha cama, com o lap na minha frente, sem internet. Ficar sem internet, pra mim, é o pior dos castigos. Sem poder checar os emails compulsivamente de 5 em 5 minutos, sem conseguir vaixar os últimos episódios de Lost, sem falar com ninguém virtualmente. O meu computador há muito se tornou uma peça importante na minha sociabilidade: não costumo ligar pra ninguém, nem chamar pra um chope, e a minha sorte é que tenho amigos que são muito mais animados do que eu, e me ligam volta e meia me chamando pra chopinhos sem pretenção.



Essa semana eu pude arrumar o quarto, organizar as contas que estavam fora da minha pasta sanfonada overload, assistir finalmente Z, que eu comprei de bobeira nas Lojas Americanas por R$10, e todas essas coisas que a gente faz quando tem muito tempo livre. Ah, sim, li muito. Praticamente um livro em uma semana, um livro sobre vampiros adolescentes que moram em Nova York - e quem vai me recriminar? Adoro livros adolescentes sobre vampiros, e o melhor é que depois posso dar de presente pra minha irmã de 15 anos.



Mas tem uma hora que eu canso de curtir a solidão. Geralmente é no fim do dia, quando escurece. Eu fico com aquele comichão de ir pra rua e ver pessoas e carros e cachorros vira-latas, e aí tenho que inventar um chope pra poder me entreter. Lembro de um amigo que trabalha em casa que uma vez me disse que não conseguia passar um dia sem pisar no Jobi porque ele esgotava a paciência em frente ao computador. Na época, não levei fé: "Que isso, tudo o que eu queria na vida era trabalhar em casa". Mas agora que etsou presa entre quatro paredes a maior parte do dia, reconheço que jogar conversa fora com colegas de trabalho na hora do almoço é essencial. Acreditem, não aguento mais comer macarrão, que é até onde vão meus dotes culinários, assistindo a Friends na Warner.

Ainda bem que semana que vem acaba.

Thursday, May 07, 2009

Lalala Contente e Saltitante

Há um mês eu voltei a fazer análise. Meu terapeuta é um cara bonitão, moreno, de uns 1,90 de altura, que faz questão de me cumprimentar com um aperto de mão quando eu chego ao seu consultório. Eu adoro essa distância do aperto de mão: não somos amigos, não somos nem conhecidos - ele é um profissional que eu contratei com o objetivo de me tornar menos maluca. O cara que sabe tudo da minha vida e que pode me conhecer melhor do que os meus pais tem que ser, no mínimo, alguém com quem eu não mantenha proximidade.

Na sala do meu terapeuta tem um divã e um sofá. Já me contaram que pra conquistar o divã você precisa marcar muitos pontos freudianos, e como eu sou uma novata nessa coisa de psicanálise, o sofá me cai muito bem, por enquanto. Principalmente porque quando chego estou sempre meio sem graça, não sei por onde começar a sessão e tenho a impressão de que os meus problemas são medíocres para um cara que está acostumado a tratar dependentes químicos, sua especialidade.

A terapia me fez um pouquinho mais pobre, mas muito menos histérica que o habitual. Saio de lá sempre de bom humor, achando que a vida é bela e que tem jeito pra tudo. Aliás, saio sempre com um dever de casa existencialista para colocar em prática durante a semana. E eu estou tão aplicada no intuito de manter a mente sã que faço as minhas tarefas direitinho, e de vez em quando ganho estrelinhas douradas no meu caderno de exercícios.

E foi então que eu aprendi que quando você trata os outros bem, eles também tratarão você direito. E como isso melhora sensivelmente o cotidiano, hoje acordei saltitante e cantante, fascinada na facilidade e na rapidez de resposta das pessoas quando percebem, mesmo que incoscientemente, que você quer o bem delas. Já disse uma vez que eu estou aqui na Terra pra fazer bem a outras pessoas (e levei uma bronca: "você está na Terra pra ser feliz!", me alertaram). Se o que me faz feliz é fazer os outros felizes, tá tudo certo, não tá?

Lá lá lá.

Tuesday, May 05, 2009

Mulher Total Flex

Passei pelo final dos anos 90 assistindo de camarote a todas aquelas meninas que experimentavam o lesbianismo de sábado à noite. Era moda, naquele tempo, beijar outras meninas nas festas de música eletrônica, se você fazia parte da ridícula (no sentido de mínima) cultura clubber que engatinhava no Rio de Janeiro. Bem, eu era uma ridícula (no sentido de patética) clubber carioca, se é que cabe rotular aqui, e posso dizer que, de todas aquelas experimentações de sábado, eu fui a única que beijou uma menina só uma vez - e achei ruim, diga-se de passagem. Sabe como é, faltou a barbinha por fazer e aquele jeito mais agressivo masculino. Enfim, faltou a virilidade. E, mesmo depois da experiência, eu passei por algum tipo de preconceito às avessas: as pessoas me olhavam torto porque eu era uma das poucas que não "fazia" garotas. Fui imediata e irrevogavelmente tachada de careta.

Os anos passam e a caravana continua, e essa história de lésbica de vez em quando ficou pra trás. Até que eu encontrei uma amiga de uns 30 e poucos que, às vésperas de fazer aniversário, disse que o importante na festa dela é que aparecessem pessoas solteiras. Porque na nossa idade todo mundo está casado ou recém-divorciado, pronto pra cair na gandaia da reconquistada vida de solteiro. No meu círculo social são poucos os amigos que deixaram a vida de adolescente pra trás e resolveram se casar. Separados, então, esses nem existem. Mas aí eu fiquei quieta, porque essa história de pós adolescente anda me envergonhando. E a minha amiga continuou a falar sobre os solteiros que deveriam aparecer na festa dela:

- Homens hétero de 30 a 50 anos
- Preferência por homens na faixa dos 38 sem filhos
- Gays que de vez em quando fiquem com garotas aqui e ali
- Mulheres dispostas a experimentações

E aí, quando ela disse isso, todo mundo riu. E alguém falou: "Mulher tem essa vantagem, pode ir e voltar. Já com o homem, se escolhido esse caminho, não volta mais". E todo mundo riu de novo, e eu fiquei tempos depois pensando que mulheres de 30 e poucos experimentam outras mulheres e podem até namorar e são muito bem resolvidas com isso. Achei curioso, porque namorar uma menina nunca foi uma opção pra mim. Meu namorado mesmo diz que eu sou a mulher mais hétero que ele conhece - e isso porque ele compartilha a opinião lamentável de que toda mulher tem um quê de lésbica. Mas quem sabe, vai ver é verdade mesmo. Nossa, seria a redenção das fantasias masculinas. E é interessante saber que as pessoas têm mais essa possibilidade. É tão... libertador.
Pena que não é da minha praia. Ainda. Vai saber, né.