Tuesday, April 15, 2008

Síndrome do jogador de RPG

Quando eu era mais nova, jogava RPG. Faz parte da minha formação geek virar noites regadas a Coca-Cola e pizza, imaginando estar em um território de ambientação medieval, se metendo em encrencas a torto e a direito. (Aliás, "a torto e a direito" é uma expressão legal de se usar, hein? Nunca tinah usado antes...). Foi através do RPG que eu aprendi que, para ter história, é preciso meter o nariz onde não somos chamados. Se o mestre do jogo narra que ali naquela caverna tem um barulho estranho, é logico que o meu jogador vai ver o que é. É preciso criar enredo. E, principlamente, é preciso criar jogo.

Lembrei das noitadas de RPG quando assisti "Beijo Roubado" no último fim de semana. Trata-se de um road movie mulherzinha, bem fofinho e com final suspirante, mas continua sendo o Wong Kar Wai, de alguma maneira. Enfim, a Norah Jones, protagonista, sai pelos Estados Unidos, vivendo um pouquinho em cada cidade. Totalmente On The Road de esmalte. E durante o filme ela vai se metendo nas encrencas, metendo o bedelho na vida dos outros e, assim, vai criando seus acontecimentos.

Saí do cinema pensando que também tô precisando dar uma de jogador de RPG. De meter o nariz nas possibilidades que me aparecem pela frente, pra depois decidir se é isso ou não é. Ando decidindo as coisas antes de vivê-las, olha que merda. Como se eu já tivesse 75 anos e sofresse de dores de artrite. Só que eu tenho 30 e acabei de parar de fumar. Ou seja: lavou, tá novo.

Tem gente que passa a vida evitando entrar nas cavernas com barulhos estranhos. Sei lá, de repente eu vou ser assim também. Não me nego esse direito, de passar ao largo dos acontecimentos. Mas é melhor deixar isso pra quando eu tiver artrite, né? Ou pro momento em que barulhos em cavernas não pareçam tão perigosamente tentadores.

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