Thursday, August 30, 2007

E agora?

No fim de semana passado, terminei o livro "Extremamente..." Na verdade, não sosseguei enquanto não finalizei a história, e fiquei até altas horas da sexta à noite me deliciando com a prosa daquele cara que tem a minha idade e já escreveu dois livros geniais. Desisti de sair e encontrar amigos pra ficar cara a cara com Oskar e todos aqueles pensamentos absurdamente sensíveis e tristes. Obviamente, também fiquei sensível e triste enquanto acompanhava a vidinha do moleque novaiorquino - basta reler os últimos textos desse blog pra concluir que alguma coisa o livro conseguiu mexer aqui dentro.

Depois de ler a última frase e de acompanhar as últimas fotos, fiquei tomada daquela sensação de dever cumprido. Sabe como é, quando você conclui uma atividade a que se propôs, e fica sentindo aquele gostinho de satisfação. Mas essa sensação durou cerca de cinco minutos, e logo depois se transformou em um grande vazio. Afinal, agora eu não tinha mais com o que beijar a minha alma diariamente.

Costumo dizer para as pessoas que elogiam alguns textos desse blog que eu sou uma fraude. Porque os melhores contos e crônicas e etc saem justamente quando eu estou lendo algo muito bom. É como se a chama-piloto de repente passasse pra carga máxima, e então eu tivesse que colocar pra fora todas as coisas que costumo pensar enquanto leio um livro ou vejo um filme. Mas, uma vez terminada a leitura ou o cinema, volto ao estado inicial de chama-piloto, volto aos relatos fáceis e engraçados e curiosos do cotidiano, que eu escrevo com o pé nas costas, ouvindo música e conversando com outras pessoas. Falar sobre o cotidiano não é nem um pouco complicado pra mim; falar de sentimentos pega mais fundo, sai mais difícil e quase nunca eu gosto de resultado final. Mas também, quando gosto, leio e releio do texto me deliciando com a qualidade. Fico orgulhosa. Não é todo dia que a gente realmente gosta do que produz.

Agora me dedico ao livro do século XIX, um calhamaço de quase 700 páginas que eu estou há meses saboreando. Mas não é alguma coisa. Estou morrendo de saudades do Oskar. E também não é todo dia que sinto falta de alguém que nem existiu de verdade.

Tuesday, August 28, 2007

O milagre da multiplicação das cangas

Outro dia eu estava na praia com Gilles e outros amigos. Gilles vem a ser um francês maquiador da Chanel de Paris que calhou de aparecer na minha casa em um sábado à noite. Resultado: passou o sábado maquiando a mulherada, que ficou enlouquecida com a técnica sfumatto do rapaz. A partir desse dia, eu fiquei absolutamente fã de Gilles, de modo que nós marcamos uma praia antes que ele voltasse para sua terra.

No começo, era só eu, o francês, a Mari e uma amiga dela. Dali a pouco, apareceu o Kito com duas amigas, que estenderam a canga junto às nossas. E, um pouquinho depois, amigos das amigas do Kito também deitaram-se do nosso lado.

Gilles ficou admiradíssimo. Perguntou pra Mari, dias mais tarde, se a prática da união de cangas era muito comum nas praias cariocas. Quando soube da pergunta do francês, foi a minha vez de ficar surpresa. Afinal, não é assim no mundo inteiro? Não é por isso, inclusive, que é uma delícia ir à praia?

Houve um dia em que as cangas se multiplicaram com intensidade sem igual. Fui encontrar com a Lui e o Pepeu em frente à barraca Sandália da Humildade (escolhi ali porque simplesmente adoro esse nome) e logo apareceu um amigo do Pepeu que trouxe outro amigo, que trouxe uma canga gigante (talvez a maior que eu já vi na vida), que trouxe um monte de meninos que faziam malabares e acrobacias. Confesso que dessa vez fiquei meio incomodada, porque em poucos minutos eu não conhecia mais ninguém que estava ao meu redor, e me irrita em certo nível todas essas atividades circenses.

Mas aí, como Deus é brasileiro e, ainda por cima, carioca, logo se formou um subgrupo dentro do grupo do cangão, e todos foram felizes para sempre. E essas amizades de dias ensolarados vão se encontrar novamente no próximo fim de semana, em frente à Sandália da Humildade, ali pelo coqueirão.
Me encontra lá. E leva a sua canga.

Monday, August 27, 2007

Conexão 24h

A minha rotina tem sido mais ou menos assim: chego em casa do trabalho, ligo o computador, conecto na internet (com MSN, Skype e GTalk funcionando), preparo o meu sanduíche fromage au grill e meu copo de sucos variados e me sento em frente à tela. E ali fico por pelo menos uma hora, conversando com amigos que estão a um quarteirão da minha casa ou em outro país, assistindo a vídeos no Youtube, checando recados no Orkut, passando links e fotos para o mundo.

Até esse fim de semana, achei que só eu e alguns poucos estavam engajados em tamanha nerdice. Mas um papo na praia me mostrou que esse é um vício geral. A conversa surgiu depois que um dos amigos comentou que agora que tinha consertado a internet da sua casa, se sentia de volta à realidade. E confessou que a primeira coisa que faz quando chega em casa é ligar o computador, colocar um MP3 pra tocar e entrar na internet.

Nesse mesmo dia, encontrei com outro grupo de amigos e comentei sobre o papo da praia. Os meus amigos da noite disseram que eles também levavam a vida on line, e uma das meninas falou que o computador dela está 24h ligado, porque ela estava sempre baixando músicas no SoulSeek.

O curioso é que toda essa galera está, como eu, na faixa dos 30. Eu já sabia que os adolescentes gostavam de um bate-papo on line, mas não imaginava que os balzaquianos também levavam essa vida. Adolescentes já nasceram com a internet bombando, conexão banda larga e vários programas para baixar músicas e filmes. Os balzaquianos, ao contrário, viram essa história toda nascer e crescer - e, mesmo assim, se renderam às facilidades da vidinha do computador.

Eu acho tudo ótimo. Não vejo problema nenhum em não encontrar com os amigos ao vivo para ficar conversando via internet. Se não rolasse essa conexão, provavelmente eu ficaria isolada em casa, vendo TV. Mas, por outro lado, ando lendo muito menos do que gostaria, e isso tem muito a ver com o tempo que gasto em frente à telinha do meu querido laptop. Mas aí em nem coloco a culpa na internet.... A culpa é minha mesmo, compulsiva que sou em novidades comportamentais.

Friday, August 24, 2007

Se joga II

Não é possível proteger-se da tristeza sem antes proteger-se da felicidade.

Do livro Extremamente Alto, Incrivelmente Perto


Abro o livro do século XXI e, em meio a um texto sobre amor e abandono, encontro essa frase. Quando leio uma passagem que me chama a atenção, tenho essa necessidade urgente de anotar pra nunca mais esquecer. Meu primeiro impulso ao bater os olhos naquelas linhas foi copiar a frase e mandar uma mensagem para alguém que iria entender. Depois pensei que não adiantaria nada, porque só entende aquele que quer entender, e ao invés de anotar os dizeres para terceiros, anotei pra mim mesma, no caderninho que mora na minha bolsa. Para que eu pudesse usar a frase mais tarde. Ou para não enterrá-la em meio a outras frases muito menos importantes e eficientes.

Não é possível proteger-se da tristeza...

Foi meio que um soco no estômago. Estava me sentindo tão sabida, tão madura, totalmente segura dos meus sentimentos, tateando o chão antes de dar o próximo passo. E aí, não saía do lugar, ficava parada sentindo com as pontas dos dedos do pé a terra ao meu redor. Uma ilha de segurança que criei.

... sem antes proteger-se da felicidade.

E agora eu descobri que não é nada disso, e o que todas as minhas amigas falam sobre futuros e passados amantes é muito triste, porque a cada passo, a cada minuto, nos tornamos um pouquinho menos o que somos de verdade, porque escolhemos fazer o papel mais seguro, o que supostamente não nos magoa, porque acreditamos que estamos todos preparados para a vida e nada pode nos derrubar facilmente. E depois que eu descobri isso, eu fiquei com muita vergonha de toda a minha segurança, e gritei internamente: que se dane o que é certo, e passei a torcer por paixões impossíveis e avassaladoras, e passei a procurar pessoas que tivessem o mesmo sentimento que eu. Só não encontrei ninguém ainda que pense e que sinta como eu penso e sinto agora.

Mas não tem nada não. Tenho todo tempo do mundo.

Thursday, August 23, 2007

Comentário do Nic sobre "Que que eu quero mesmo?"

Ele me mandou por email, mas é tão bom que precisa ser publicado.
Eu faria tudo pra sonhar com Krishna me servindo em um restaurante.
O Nicholas é foda.

"um pouco antes de viajar pra NY, eu tive um desses sonhos-revelacao em que conversava com krishna (que atendia tables de varios customers, us, e tava pretty busy).

ele falou que sim, a realidade eh feita de nossos desejos. e temos problemas pq nossos desejos batem de frente um com outro, e fica dificil descrever o prato pro cozinheiro.

falou tb que a diferenca entre criancas e adultos, eh que pra criancas, os overlapping desires sao esquecidos, pra adultos nao. tipo, cafe-com-leite, coitados.

BTW, i wanna be invisible an do outrageous things. i wanna be an international freedom fighter.(so far)"

Se joga

Faz o seguinte: finge que você não viveu aquilo tudo e se joga. Fecha os olhos e se aproxima do parapeito, depois dá o passo em direção ao infinito e pronto, sente o vento empurrando as bochechas pra trás, sente o ar faltando aos pulmões. Alguém me contou uma vez que aqueles que se jogaram do topo do World Trade Center morreram antes de atingir o chão. Tinha alguma coisa a ver com isso, com ar e pulmões, mas eu não lembro bem o que era. O lance é que aquelas pessoas olhavam pra trás e viam fumaça e fogo, olhavam pra frente e viam o skyline de Nova York. Se eu estivesse lá, também me jogaria. Mas que coisa ruim de pensar, bem hoje que estou me referindo a outro tipo de salto. Me refiro ao salto que livra daquele medo que não serve pra nada a não ser estagnar a nossa vida. Aquele medo que nos faz pensar assim: "Isso aqui eu conheço, porque vou me meter onde nunca me meti antes?"

Houve uma época em que eu fazia tudo na base do instinto. Tava bom, eu ficava; não tava, pegava as coisas e ia embora. Geralmente, sem dar tchau. Comia quando tinha fome, dormia quando tinha sono. Essa fase durou umas duas semanas, mas depois tive que voltar ao normal porque a vida não segue assim, não é? E eu inventei de viver desse jeito porque tive um professor de Antropologia que não usava relógio. Eu achei isso o máximo. Eu sou uma escrava do relógio, do celular, do email, do msn, do carro, dos livros, dos amigos, dos bares de quinta, dos bares de primeira, de boa comida boa música bons lugares. Eu sou tiranizada pelas coisas boas da vida, dá pra imaginar? E eu não consigo me livrar das coisas boas, e me programo em função delas. E, por isso, não posso viver como um animal.

Mas agora que voltei ao modo ser humano racional, eu tenho saudades do tempo em que chutava o balde dos bons costumes. Não lembro se eu era mais feliz nessa época, mas é simplesmente insuportável pra mim ficar regulando intensidade. Acho que quanto mais velho a gente fica, mais medo a gente tem. Faz sentido, não faz? E é meio triste... E eu não quero isso pra mim. De repente é melhor se jogar e morrer intoxicada de ar do que ficar e morrer intoxicada com fumaça.
Olha eu falando de morte de novo. Fuck.

Wednesday, August 22, 2007

O vinho nosso de cada dia

Quando eu era pequena, lembro do meu pai chegando do trabalho e se servindo de uma dose de whisky. Ele se sentava no sofá da sala e ficava rodando as pedras de gelo. Eu achava aquilo o máximo, pedia pra rodar as pedras de gelo também, e depois chupava o dedo sujo de bebida. Vai ver vem daí o meu gosto por destilados.

Anos depois, ouvia dos meus amigos maconheiros a grande justificativa do beck diário: "não tem gente que gosta de tomar um whiskynho em casa pra desestressar? Pois então, eu gosto de fumar um". Eu achava que aquilo fazia todo sentido do mundo, apesar do meu gosto estar muito distante do baseado pós-escola/trabalho.

Na verdade, quando eu quero desestressar, ligo pra cerca de 30 amigos e marco um chope no bar mais próximo (no qual uns dois comparecem). Mas ontem eu estava com uma garrafa de vinho aberta na geladeira, e pensei: "se eu não beber esse vinho logo, ele vai estragar". Saquei a taça do armário e me servi do primeiro copo.

O primeiro copo é ótimo. Realmente caiu bem junto com o meu jantar, um sanduíche feito no gril com queijo minas curado. Sentei no computador e fiquei papeando no MSN, falando abobrinhas pra passar a vida, a tempo de me servir do segundo copo.

Daí comecei a ficar de pilequinho. Bem de leve. Falando um monte de besteiras no messenger, fumando cigarros e cigarros e me achando muito, mas muito adulta. Tem coisa mais madura que beber um vinhozinho de noite, depois do trabalho? Aliás, tem coisa mais balzaquiana?

Quando deitei, dormi como um bebê. E hoje, penso no resto de vinho que ficou na geladeira. Provavelmente, duas taças vão me fazer a alegria novamente.
Cuidado se você me conhece e eu estiver no msn. Posso falar muita besteira com apenas duas taças de vinho tinto seco.

Tuesday, August 21, 2007

Que que eu quero mesmo?

Desde que aprendi sobre as Leis de Atração, muito antes de O Segredo se tornar filmografia básica para os que buscam o aperfeiçoamento através da auto-ajuda, venho tentando fazer com que o universo me dê de presente o que eu quero. E quanto mais eu leio sobre o assunto, mais eu tenho certeza absoluta de que vou alcançar os meu objetivos.

Só tem um probleminha: meus desejos mudam de cinco em cinco minutos.

Me dei conta disso outro dia, quando conversava com um amigo sobre possíveis caminhos que a minha vida seguiria no segundo semestre do ano. Ele disse: "Peraí, você já falou de tanta coisa que pode rolar, mas o que exatamente você quer?" Ah, pois é. O que eu quero. Sabe que eu não tinha parado pra pensar nisso até agora?

Daí lembrei de uma passagem de O Estrangeiro, quando o protagonista está no corredor da morte e o padre pergunta pra ele do que ele gosta. E ele responde: "Não sei do que gosto, mas tenho certeza do que não gosto". Comigo é mais ou menos assim também: tenho total segurança do que não quero pra mim. Eu acho.

Com tantas mudanças de planos em um tempo tão curto, fica difícil exigir do universo alguma coisa. Me dá até uma certa vergonha apontar a proa do barco pra outra direção pela enésima vez. Morro de inveja daquelas pessoas que têm seu objetivo traçado desde muito cedo porque, teoricamente, essas pessoas vão atingir algum objetivo muito mais rápido do que eu.

Como a cada microacontecimento do cotidiano eu cancelo a ordem anterior, acho que o universo já deve estar meio de saco cheio de mim. Talvez eu deva ordenar que quero saber exatamente o que quero. Mas será que eu quero isso?

Monday, August 20, 2007

Terê

No sábado eu tinha uma festa pra ir. Uma festa de aniversário, o que eu considero um evento sagrado, que deve ser cumprido. Mas ao invés de ir na festa que ficava a apenas alguns quilômetros da minha casa, resolvi dar uma passadinha em Teresópolis, onde uns amigos faziam (mais) festinhas e bebedeiras e tudo o que se pode fazer em uma casa na montanha. Então, às 5h da tarde, completei o tanque e caí na estrada, mesmo sem ter a mínima noção de qual era o endereço do meu destino.

Quando consegui chegar, já era noite. O grupo era dividido em duas partes: as pessoas que eu não conhecia e as que eu conhecia. E eu realmente adoro viajar pra um lugar onde não conheço todo mundo, porque, dessa forma, novas amizades são criadas no espaço de 48 horas.

Os que me conheciam me mimaram com um drink na hora da minha chegada. Fui recebida com vodca e coca-cola, iPods bombando e peixinho saindo da brasa. "Não podia ter feito uma escolha mais feliz", foi o que pensei naquele momento. E me preparei pra o que seria uma noite divertida e nada relax.

Digo que não foi relax porque não deu tempo. Levei o livro do século XXI pra ler e nem toquei no coitado, atazanada que estava por conhecer todas as histórias de todas as pessoas que estavam ali. Havia estudantes de cinema, advogados, microempresários e nerds de todas as categorias. E eu queria saber como é que as pessoas tinham ido parar ali, pra onde iam depois da festa, aonde gostavam de sair, qual era a banda preferida, qual foi o show mais maravilhoso que já viram, etc etc etc. Eu queria histórias.
Se tem uma coisa que eu gosto é chutar o balde e cair na estrada. Sem justificativa e sem amarras.

Friday, August 17, 2007

Coisas pra lembrar depois

1 - De vez em quando ser dois, mas nunca deixar de ser uma.
2 - Construir paciência pra poder usufruir da alheia.
3 - Deixar ir sabendo que vai voltar.
4 - Aprender que o egoísmo é o avesso do amor.

Histórias Incompletas

Um dia os dois se encontraram e ele ficou obcecado por aquela ruga no canto esquerdo da boca dela. Não existia a tal ruga na última vez que eles haviam se encontrado. Tudo bem que já fazia alguns anos, e ele mesmo havia desenvolvido involuntariamente uma barriguinha indesejável. Mesmo assim, a ruga no canto esquerdo da boca não encaixava com todas as imagens que ele guardava em algum canto escuro do cérebro. "Deve ser porque ela ri muito", concluiu. E se despediram sem marcar novos encontros.

Naquela mesma noite, ele sonhou com ela. Os dois se encontravam e se beijavam como se aquela fosse a situação mais natural do mundo. Ou melhor: como se aquilo nunca houvesse deixado de acontecer. Quando acordou, ele sentiu a frustração de deixar pra trás um sonho bom, do tipo que gostaria que fosse realidade. Foi assim que percebeu que ainda a amava.

Se o mundo fosse um episódio de enlatado americano, ele teria ligado pra ela e os dois teriam se encontrado e todos seriam felizes para sempre. Mas como o mundo é muito mais caótico e incompleto e irônico que a vida de fácil resolução dos seriados de TV, ele não a procurou, não buscou seu endereço ou seu telefone, não fez serenata em frente à sua janela, não jogou pedrinhas na sua varanda, não impediu o padre na hora que ela disse sim pra outro, não se jogou da ponte quando ela ficou grávida, não jurou amor eterno mesmo que ela estivesse nos braços de outro, não rolou na rua brigando com seu rival. Ao invés disso, seguiu a vida e também conheceu alguém pra casar e ter filhos e fazer todas aquelas atividades de fim de semana com a família.

Só que ele guarda um segredo - e, na verdade, ela também. É que debaixo de camadas e camadas de cotidiano, ela ainda existe dentro dele: um pedaço minúsculo do passado que insiste em se fazer ouvir de vez em quando.

Tuesday, August 14, 2007

Fotografias

Ando com a mania de fotografar o céu. Aponto a câmera pra cima de qualquer maneira e bato a foto, pra depois tentar descobrir formatos nas nuvens das minhas fotografias. Hoje mesmo bati mais uma, indo para o trabalho, naquele previsível engarrafamento a que já estou tão habituada. Quanto menos indefinidas estão as nuvens, mais eu gosto do resultado da fotografia. Acho que o que me atrai mesmo é a indefinição.

Essas imagens estão guardadas no meu celular. Nunca tive vontade de ter um celular com câmera e com vídeo, mas confesso que, agora que tenho um desses, tudo é motivo para gravar ou fotografar.

Percorro as imagens do meu celular e vejo o seguinte: duas fotos de céu azul com nuvens, o bar de uma gafieira, eu e duas amigas na mesma gafieira, a praia de Ipanema lotada, uma instalação de arte feita com fitas coloridas penduradas no teto e que iam até o chão (e que a gente podia andar por dentro), três fotos consecutivas da mesma pessoa (mas em lugares diferentes), um auto-retrato (logo eu, que sou tão avessa a auto-retratos...), um camelo babando em cima de uma câmera de TV, vasos de cerâmica de tamanhos variados, a minha boca (outro auto-retrato?) e muitas fotos de amigos.

Os vídeos: eu andando dentro da instalação de fitas, eu contando uma história e caindo na gargalhada (alguém gravou e eu só descobri agora, pra falar a verdade), pessoas no trabalho (sem a mínima vontade de trabalhar) cantando e conversando alto, eu fazendo a Marmota Dramática.

Alguém me explica o que tudo isso quer dizer. E por que, afinal, eu inventei essa história de fotografar o céu. Isso quer dizer alguma coisa?
A resposta é: eu sou uma pessoa que prefere nuvens indefinidas àquelas que formam animaizinhos imaginários. E só. Tá de bom tamanho já, né?

Monday, August 13, 2007

Assombração

Outro dia tive que ouvir a pergunta que não tem resposta: como é que se faz pra matar a saudade de uma pessoa que não existe mais? Eu olhei pra ela e fiquei calada, porque eu não sei matar saudades nem de quem está nesse mundo, quanto mais no outro. E lamentei pela minha amiga, a que tinha feito a pergunta sem resposta, enquanto ela vasculhava fotos antigas e chorava silenciosamente em frente ao computador.

Desde então a saudade tem pegado no meu pé, me perseguido sem trégua, traiçoeira. Quando o momento está divertido, ela aparece sorrateiramente, e me faz pensar em gente que não existe mais, nesse mundo ou no outro. E não importa aonde eu esteja, ou quem esteja ao meu lado, eu tenho vontade de ir embora e me trancar no quarto e abrir os meus meninos do século XIX e do século XXI nas páginas marcadas, pra ver se consigo me livrar dessa tormenta.

Mas só o que eu lembro são daqueles versos do Chico Buarque que, de tão verdadeiros, eu decorei:

A saudade é o pior tormento
É pior que o esquecimento
É pior que se entregar.
A saudade é o pior castigo
Eu é que não vou levar comigo
a mortalha do amor; adeus.

E os versos se sentam no meu ombro direito e ficam sussurando insistentemente no meu ouvido, enquanto eu rio e conto piadas e mostro pra todo mundo que eles não são tão fortes assim. Só eu sei que é uma luta constante, uma queda de braço interna, e que se eu der mole, eu perco. E tenho que pagar mais uma rodada de tequila pra todo o bar.

Como esses sentimentos são cíclicos, e como a vida realmente dá voltas, espero na santa paciência para que a saudade se canse de mim e vá embora. Que vá assombrar outra pessoa, alguém que goste de fantasmas.

Sunday, August 12, 2007

Necessariamente álcool

Existem duas ou três coisas que você precisa aprender sobre mim, e a primeira delas é: se eu pego o telefone, percorro a lista na agenda até chegar ao seu nome e então aperto o send e quando você atende, falo assim, bem devagar: "tá a fim de tomar um chope?" é porque eu já estou a muitos mil quilômetros de distância e to mesmo precisada de um rosto como o seu e de um papo como aqueles que já rolaram, e de histórias sobre gatos e lugares interessantes e baratos e ainda sobre pessoas que você conheceu e que são e não são legais. Se eu peguei o celular e liguei, acredite, o caso aqui está sério. E como a gente fez esse trato nunca falado claramente de que somos amigos, então eu acho que tenho todo o direito de, em casos extremos, exigir um pouco de atenção, você não acha? E não vale falar que eu exijo atenção demais, que eu sou mimada demais (você não faz idéia de como já ouvi isso!), não vale nada disso porque toda vez que você precisa de chopes milagrosos, eu to lá. A postos. Batendo continência. Mas isso nem é uma coisa que eu faço com dificuldade, porque na verdade adoro ouvir todas as suas histórias sobre todas as coisas que você gosta de contar e, aliás, descobri que gosto de ouvir as histórias da grande maioria das pessoas. Até aquelas que são meio malas eu gosto de ouvir também, e depois eu fico comparando com as minhas histórias e pensando: será que também pode acontecer comigo? No final, o que rola mesmo é que eu fico tentando aprender com o que aconteceu com os outros, mas isso é outra coisa, deixa pra outra vez.

É que tem vezes que eu fico assim meio em desespero, e o meu livro do século dezenove e o outro do século vinte e um já não conseguem mais resolver meus problemas, e aí eu procuro as pessoas. Só que bem na hora que eu procuro as pessoas, todas elas desaparecem e eu fico a ver navios, tendo que resolver tudo, eu comigo mesma, sem uma só história pra ouvir e tomar como aprendizado. Foi assim com você - não preciso nem dizer que você foi a minha primeira opção, porque você é uma das poucas pessoas bonitas que eu conheço que são ainda mais lindas por dentro, e eu acho a sua alma deslumbrante, e falo pra todo mundo isso. Sem citar nomes, é claro. Então no dia eu queria um chope exclusivo com você, porque eu andava no meio de um monte de idéias malucas e precisava clarear a minha cabeça. Mas aí... como todos os outros seres humanos, você não estava lá, não podia, não queria, pouco me importa, e eu tive que deitar no sofá e ligar a TV e ficar morrendo de tédio de todos os humorísticos enlatados que existem atualmente.

Enfim, eu precisava falar isso porque tem vezes que eu pareço uma coisa e na verdade sou outra, e o que eu queria mesmo era escrever uma carta pra te contar tudo isso, mas como sou covarde, a carta vai aqui mesmo. Você que nunca me lê. E, quando lê, pede pra mudar a construção das frases e trocar os adjetivos. E, já que você não vai ler mesmo, isso aqui virou um lugar seguro pra dizer todas essas coisas. E fique sabendo que todo mundo vai saber, menos você, o que é realmente lamentável da minha parte.

E tem outra coisa: depois me fala onde você comprou aquele poncho peruano que eu vi na sua casa. É que tem alguém que quis saber.

Enfim.

Thursday, August 09, 2007

Extremamente, incrivelmente

Sento à mesa da Argumento a apenas 21 dias do meu aniversário de 30 anos. Uma certa melancolia me acompanhou o dia inteiro - até quando eu comia, ou quando eu bebia café morno do escritório, ou quando eu fumava cigarros que não deveria estar fumando, porque tenho a garganta ruim e uma tosse seca constante. E, geralmente, quando certas melancolias me assolam sem razão, eu busco uma explicação. Deve haver uma explicação.

Descubro vários motivos, mas nenhum deles é o verdadeiro. Se eu acreditasse em infernos astrais, diria que esse pode ser um dos sintomas de hoje. Ou, olhando no calendário, poderia prever uma explosão de detestáveis hormônios femininos. Mas eu não acredito em nenhum tipo de inferno, muito menos os astrais, apesar de ler horóscopos no começo do mês e ficar levemente surpresa quando as previsões batem com alguns aspectos da minha vida. Se é pra acreditar, eu acredito na TPM, e acredito que ela não se manifesta apenas em determinado período do ciclo feminino, mas é mutável, de acordo com as circunstâncias e o grau de cansaço e de trabalho e de gente chata à minha volta.

Mas hoje, nenhuma dessas observações faz sentido.

E logo ontem eu comecei a ler Extremamente Alto, Incrivelmente Perto. Lia um pouquinho e parava para chorar um monte, soluçando que nem criança, gemendo um pouquinho alto demais para o meu gosto. Mais uma vez, fiquei me perguntando: por que esse choro? Dá pra explicar por quê?
Mas a razão não saiu. E hoje eu passei o dia inteiro pensando no livro.

Cheguei à conclusão de que eu gosto do personagem principal. Só pode ser isso. Oskar é um menino de uns dez que é sensível e inteligente e não passa um único segundo sem inventar algum objeto revolucionário e absolutamente sem utilidade. E não dá pra falar mais, porque esse é o tipo de livro que as pessoas devem comprar no escuro e se trancar no quarto para chorar e soluçar um pouquinho mais alto que os padrões aceitáveis. Dica de uma manteiga derretida.

Wednesday, August 08, 2007

Bares parasitas

É um fenômeno do Rio de Janeiro. Perto de onde há um bom bar, há um bar ruim que absorve o público de quem não sonseguiu sentar no bar bom. Dá pra entender? São aqueles lugares fadados à segunda opção, aqueles que estão sempre mega vazios enquanto que o vizinho está bombando.

Posso dar uma lista de bares que se relacionam dessa maneira: Plebeu e "aquele bar da frente", Pizzaria Guanabara e Diagonal, Braseiro e Hipódromo e, mais recentemente, Drinkeria Maldita e o boteco do outro lado da rua.

Tenho amigos que se recusam a sentar no bar da segunda opção. Consideram muito deprê passar pro lado vazio, com garçons com cara de sono e mesas insossas. Preferem incomparavelmente os atendentes atolados e às vezes rudes dos bares da moda, mesmo que o chope demore um pouquinho mais a chegar.
Aliás, nos bares da moda, o chope não demora nunca a chegar, pro incrível que pareça. Deve ser por isso que esses lugares estão sempre cheios.

Confesso que de tanto sair pra beber com gente que não se conforma com a segunda opção, acabei me tornando um deles. Fico terrivelmente decepcionada quando aterriso no Braseiro e dou de cara com as calçadas tomadas de mesas, sem cadeiras sobrando, sem espaço físico para mais uma galera. Fico me amaldiçoando internamente por não ter chegado mais cedo e, assim, garantido o meu lugar sentada. A noite, então, vira uma desgraça.

Nunca fui do tipo que conhece o garçon pelo nome. Deve ser porque no terceiro hope já etsou morrendo de sono e com vontade de ir pra casa, enquanto meus companheiros de mesa estão apenas começando. Na maioria das vezes é assim, pelo menos.
Mas, em alguns momentos, eu realmente gostaria de ser amiga do garçon. por exemplo, quando chego no Jobi. Esse é o bar que mais me deixa frustrada, e eu só conseguia um lugar ao sol quando namorava um habitué do local.

Acabou o namoro e, pro conseqüência, acabou o bar pra mim também.

Mas acho que ser dono de bares de segunda opção deve ser um bom negócio. Porque nenhum desses estabelecimentos fechou. Entra ano, sai ano, lá estão as mesas vagas, os garçons com cara de sono e o ambiente insosso.
No Rio de Janeiro, até bar de segunda categoria dá certo.

Tuesday, August 07, 2007

Passamos dos 10 mil acessos

Yupi.

To tão doente que não consigo nem celebrar muito.
Ok, nem tão doente assim. Mas o suficiente para me deixar de mau humor e torcer para que essa porcaria passe logo...
Eu sou do tipo que acredita que a dor vai embora sozinha. Que não toma remédio, que não sabe marca de nada, nem a diferença entre neosaldina e dipirona. Que nunca, mas nunca MESMO, fica doente.
Mas agora eu to doente. Fuck.
E comendo como uma louca. Porque meteram na minha cabeça que eu to doente porque eu não como.
Eu ando comendo como se isso fosse me deixar curada. Mas só tá me deixando gorda.

Ai, muito mau humor mesmo; sorry.

Friday, August 03, 2007

Penetra de Vernissage

Tenho um amigo que trabalha no MAM e volta e meia me convida para vernissages regadérrimas: comidinhas, bebidinhas e gente que teoricamente gosta de arte. Digo teoricamente porque, como eu, uma grande parcela do público que freqüenta aberturas de exposição está lá mais para os gelados do que para as obras. É freqüente me perguntarem de quem é a vernissage a que estou sendo convidada e eu não fazer a mínima idéia do que responder. Rola uma certa vergonha...

Ontem foi mais um dia de festinhas no MAM. Mas dessa vez eu tentei ver a exposição, uma instalação da Bia Lessa inspirada em "Grande Sertão: Veredas", que ficou quase um ano no Museu da Língua Portuguesa. Digo que tentei porque era muita gente pra pouco espaço, o que confirma a minha teoria de que abertura de exposição só serve mesmo pra beber umas e outras.

O problema dessas aberturas muito concorridas é que é difícil conseguir atenção dos garçons. Gente fina praticamente se estapeava por uma caipirinha, e muitas vezes o pobre do moço da bandeja não conseguia dar um passo sequer em seu caminho pelo salão. Por isso é sempre mais recomendado observar aquelas vernissages em que o cara nem é tão bãm bãm bãm, mas que tem um bom patrocinador. Me mostra uma festa bancada pela Petrobrás e eu te direi que já estou lá.

Meu amigo acabou se tornando um profissional na arte de convidar penetras para esses eventos artísticos. Tanto que ontem a grande maioria do público presente era composta por nossos amigos nada entendedores do assunto em questão. Pelo menos uma vez por mês saímos direto do trabalho em direção ao MAM, e repetimos a senha secreta na portaria. Uma senha que abre as portas de festas memoráveis e obras nem tão incríveis. Mas sempre, com certeza, diversão garantida.

Wednesday, August 01, 2007

Friozinho em Búzios

Se você é uma pessoa normal, você não leva em consideração um convite para um balneário em plena frente fria. Principalmente se esse convite surge na madrugada de quinta para sexta. E, mais principalmente ainda se você está sem carro no fim de semana.

Só que eu não sou normal.

Chutei o balde do trabalho às 3h da tarde e, armada de uma mochilinha de quinta categoria, rumei para aquele local aprazível do Rio de Janeiro chamado Rodoviária Novo Rio. Foram três horas de viagem de ônibus do meu trabalho até a rodô, mais um tempão na fila da passagem, até que, finalmente, tive o bilhetinho nas mãos: RJ - Cabo Frio às 19h.

Quase perco o ônibus de bobeira, porque fiquei dando pinta na deliciosa rodoviária: fumando um cigarrinho, comendo um chocolatezinho, apagando as mensagens do meu celular... Quando me dei conta, lá vai o MEU ônibus manobrando pela plataforma. Desesperei. Depois de tanto esforço, só me faltava perder o buzão! Pedi encarecidamente e aos berros que um funcionário me ajudasse. Não só ele se recusou como ficou rindo da minha cara. Não me dei por vencida e saí correndo no meio da plataforma, a mochila de quinta sacolejando nas costas, os cabelos completamente despenteados. Mas cheguei a tempo. O motorista - muuito mais simpático que o outro cara - abriu imediatamente a porta pra mim. Entrei no ônibus e lá estava a minha poltrona, único lugar vazio no meio de tantas cabecinhas e olhares curiosos em cima de mim.
E então começou a viagem.

Búzios é Búzios mesmo com chuva, não é mesmo, minha gente? Mas o que se faz na Armação em dia de tempestade é... beber.
Sábado fomos para a Rua das Pedras e compramos fogos em uma barraquinha de feira e duas garrafas de saquê. Depois de terminado o saquê, eles passaram para o chope e eu para a vodca + coca-cola. E, então, decidimos que era hora de soltar os fogos.

Resumidamente, não foi uma boa idéia. Secretamente eu pensava no meu pai, e em como ele sempre me censurou nas festas juninas, liberando que eu brincasse com fogos se fossem aquelas estrelinhas de bolo de aniversário - e olhe lá. Bombinha ele já pirava. Imagina então se ele descobrisse que, na era balzaquiana, eu me metia no meio de rojões e derivados.

Não posso negar, no entanto, de que foi engraçado.

Em menos de meia hora já conhecíamos todos os garçons do bar (inclusive, porque quase colocamos fogo no Conversa Fiada graças ao show pirotécnico), e nem percebemos que o ambiente foi enchendo, enchendo, até que a nossa mesa era, com toda certeza, a mais
barulhenta. Alguém falou em ir embora e nós fomos, sem perceber que a chuva tinha apertado.

Nem deu trabalho, a chuva. Eu e a Lina, há muito tempo libertas dos grilhões sociais, dançamos na rua para espantar os maus espíritos. (Na verdade a gente tentou entrar em um show de blues, mas fomos barrados. Daí gritamos: não precisamos disso! E fomos pagar um puta mico no meio da Rua das Pedras). E ainda ligamos para amigos que estavam no Rio, e pegamos endereços de emails para onde nunca enviaremos mensagens, e voltamos de carro pra casa tirando fotos malucas.

Depois disso tudo, me responde você: vale ou não a pena passar um friozinho em Búzios?
Eu e Brigite adoramos.