Wednesday, November 29, 2006

Muito sincera

De vez em quando me bate uma urgência em dizer umas verdades. Pra quem não sabe, eu sou do tipo que sempre tem razão e, quando não tenho, custo a admitir que estava errada. Quando eu tenho, rá, é uma festa: faço questão de segurar a minha verdade como quem segura seu cetro, rainha de todos os argumentos. Ganho qualquer discussão.

Mas tem vezes que a minha verdade é usada pra brigar. Pra jogar na cara dos outros que eles estão errado, e que deveriam se envergonhar disso. Não sei bem quando isso acontece, que conjuntura inexistente dos astros me transforma de rainha em lutador de jiu-jitsu, mas de vez em quando eu uso da sinceridade como poder.

Outro dia estava com os dedos digitadores afiados. Escrevi um email esclarecedor para um grupo de amigos, que insistiam em travar uma guerra Lula x Alckmin na lista que usamos para combinar festas e churrascos. O primeiro eu relevei, o segundo eu fingi que não vi, mas no décimo... Foram frases do tipo: "Vocês falam de políticos como quem fala de celebridades de televisão. Como quem guarda recorte de jornal do seu candidato. Acho que a questão deveria ser tratada com mais seriedade".
Como resposta, o silêncio. Recebi uns dois emails de gente que estava fora da briga, e mais nada. Mas a gladiação acabou.

Depois, no mesmo dia, fiz um texto mega sobre certas dificuldades de realizar um trabalho adequado. Mandei para dois chefes, copiado para a assistente deles. Dessa vez, o resultado foi logo visto: me chamaram pra uma conversa em que pude colocar, ponto a ponto, o que estava me incomodando.

Vai ver é por essas e outras que algumas pessoas que trabalham comigo me consideram alguém "de fibra" no que tange ao profissional. Fiquei surpresa quando elas me disseram isso, porque sempre achei que passava a imagem de bebê chorão.

De tudo isso, se conclui: as pessoas vêem o que elas querem. E a sinceridade assusta.

Tuesday, November 28, 2006

Não façam isso em casa

Eu quero que 2007 chegue logo. Eu vivo e trabalho pensando em 2007 e em como o ano atual vai ficar pra trás, um ano que eu não sei dizer se foi bom ou foi ruim. Para 2007, eu reservo todos os tipos de mudança, externas e internas - eu até já comecei a comer granola no café da manhã - eu reservo promessas pessoais de aperfeiçoamento, eu reservo mais compreensão e paciência, mais sabedoria, tanta coisa a mais... Mais dinheiro, sim, isso eu também quero, mais presentes para mim mesma e não só pros outros. Quero 2007, quero o reveillon, os amigos se abraçando e esperança renovada. Estou seca de esperança.

Não é justo desejar outro dia que não seja hoje. É errado. Eu não quero viver para 2007, mas parece que a escolha não é minha. Eu treino agora para ser melhor amanhã, entende? 2007 tem a porcaria do Pan e tudo vai ficar engarrafado, e mesmo assim 2007 será um ano melhor do que este.

Acho que já sei. Eu não gostei de 2006.

Wednesday, November 22, 2006

A história da história

Comprei um livro novo. Na verdade, foi ele que me comprou, porque se postou na minha frente assim, tão oferecido, em plena rua do Catete quase esquina com Manoel e Juaquim (quem precisa saber nome de rua quando se sabe nome de bar?), no meio de uma montoeira de livros velhos e sebentos que eu adoro. Bati os olhos por acaso e segurei no braço do Ninja, pedindo - ordenando - cinco reais. Não era empréstimo, era presente. E com a nota eu adquiri o exemplar enrugado e mofado daquela obra, talvez a mais famosa, do Herman Hesse: O Lobo da Estepe.

Não faço idéia do que se trata o livro. Mas há anos eu sei que um dia iria tê-lo nas mãos. Pra ser mais precisa, tenho essa absoluta certeza desde 1999, quando ainda era uma estudante, como já disse, interessada nas coisas que eram escritas e filmadas e cantadas por pessoas mais inteligentes que eu. Que delícia que é ser uma estudante interessada. E, enfim, como uma pessoa que tem absoluta certeza de que alguma coisa vai acontecer, nunca fiz esforço algum para obter o livro. Ele seria meu. Um dia.

Entendam que existe uma história por trás da história. Poderia ser uma história de amor, mas não passa de duas ou três noites de conversas e aulas assassinadas nas mesas do bar em frente à faculdade - o famigerado bar do Seu Pires. Era começo de período, ou final de período, quando estamos todos com o saco tão cheios de tantos trabalhos a entregar, formatados com o cuidado que só o Word constrói, que a gente passava na sala, assinava a listinha, entregava aquele calhamaço, e depois ia pro bar. Pedia uma cerveja e depois um caldinho de feijão, que só custava um real. Eu nunca fui muito de cerveja - eu nunca consegui entender a cerveja e o chope - mas esse era um dia de libertação. E eu fui pro Seu Pires.

E lá eu conheci um menino. Que fazia a mesma faculdade que eu, períodos acima, e que eu nunca tinha visto na vida. E a gente conversou sobre muitas coisas que eu não lembro. Sei que uma hora eu falei do Paulo Leminski. Eu era uma estudante interessada que gostava muito do Paulo Leminski naquela época. E ele me falou um monte de coisas que eu também não faço mais idéia do que foram, mas sei que surtiram efeito.

No dia seguinte, ele me ligou. Já estávamos de férias, e ele ia pra cidade dele que não era o Rio de Janeiro, e portanto eu só o veria no ano seguinte, para descobrir que já não tinha mais nada a ver. Mas nesse dia ele me ligou e disse: "Eu to lendo um livro chamado O Lobo da Estepe, e bem ontem, depois da nossa conversa, o cara do livro conhece uma mulher. E eu pensei: é você!"
Daí eu guardei o nome. E a certeza de que um dia ia ler esse livro pra saber que mulher é essa.

Depois que passa o tempo que passou, esse episódio perde qualquer razão que ele pudesse possuir. Esse menino não foi um grande amor. Ele está mais para colega de faculdade, vamos ser sinceros. Mas eu comecei a ler o livro e descobri que ele é bom. Parece ser bom, pelo menos. E era pra ser meu.

Tuesday, November 21, 2006

Catatônico


A noite que valeu o ano inteiro

A diferença

Já disse e repeti que sentar na mesma cadeira durante anos e anos me incomoda. E que eu estou, inadmissivelmente, absolutamente cercada de pessoas assim, que há muito desistiram de realizar sonhos e de alcançar outros patamares de existência. Desistiram, apenas, porque se contentaram com salário e décimo terceiro e férias de trinta dias. Tão triste que me faz rezar todos os dias pra que papai do céu me livre da acomodação. Quero ser uma eterna incomodada! Uma eterna reclamona, cutucando com cara curta o vespeiro mais próximo. Eu rezo pra deus: "por favor, não deixe que eu fique como eles..." e dá quase pra ouvir a voz do deus respondendo: "Só depende de você, guria". Eu ouviria, se acreditasse nele e tivesse certeza de que ele é brasileiro e nasceu no sul. E que me chamaria de guria.

O ano chega ao fim e eu concluo que muito coisa não basta apenas existir, tem que se extrapolar, superar a si mesma. Não basta fazer o seu, tem que mostrar a que veio. Não basta amar alguém, tem que ter afinidade. Não basta, não basta... tem sempre um porém, um motivo além, que faz com que a gente continue pensando em frente. Ainda bem. Se eu acreditasse em deus, ele diria, sem tirar a boca do canudo do chimarrão: "Tolinha, isso tudo é calculado"; e então colocaria mais uma pedra na minha frente pra que eu, bravamente, contornasse e seguisse o meu caminho.

Thursday, November 09, 2006

Angelica no Cirque du Soleil

Não tenho o costume de ler revista de celebridade ou de assistir programa de fofoca na TV. Inclusive, a última vez que me dispus a prestar atenção a um desse tipo, fiquei arrepiada com os erros de português do off do repórter. Alô, editor-chefe, será que ninguém revisa esse texto não? Repórter pode até errar de vez em quando (o cara tá sempre com pressa, cansado e tal - e ainda por cima ganha mal), mas editor-chefe de verdade não deixa passar erro de concordância por nada nesse mundo. Enfim, vai ver nem tem esse cargo de chefia lá nos programas de fofoca da TV. Mas o lance é que eu não me importo muito em saber os últimos babados do mundo artístico.

(Prova disso foi a minha surpresa ao descobrir esse ano a separação de Caetano e Paula Lavigne. Nego do trabalho berrou: "Mas eles já brigaram há uns 2 anos, e ainda foi o maior barraco na mídia!" E eu juro, juro mesmo, que não vi nada)

Mas tem dias que a gente não consegue escapar das notícias pseudo-hollywoodianas/ projaquianas. E hoje, quando cheguei no trabalho, estava todo mundo comentando da Angelica no Cirque du Soleil.

Parece que a Angelica foi toda na soci, de vestidinho e tal, pra assistir ao espetáculo que, não sabia ela, era interativo. Foi pega por um dos palhaços para participar ativamente da apresentação. Jogaram a moça pra cima e pra baixo, deixando que a apresentadora pagasse uma calcinha nacional. E aí, Angelica, mulher casada e tal, emburrou e ficou de cara fechadíssima o resto da noite.

Teve gente que defendeu a Angelica. Disseram que, realmente, pagar calcinha (quando não é o objetivo da noite, ao contrário de outras situações que aconteceram a pouco, com outras famosas) é realmente uma situação terrível. Falaram que também fechariam o tempo. Que isso não se faz.

Eu acredito que cara feia não resolve a vida de ninguém. E que, se você está no inferno, a solução é abraçar o capeta. Portanto, se fosse Angélica, eu relaxava e gozava com as brincadeiras do circo. Já foi o tempo em que calcinha de celebridade chocava alguém.

Wednesday, November 08, 2006

Inveja da nova geração

Outro dia comprei a Rolling Stone brasileira. Foi mais barata do que eu imaginava (paguei oito e cinquenta, mas esperava que fosse pelo menos uns dez reais; ponto pra eles), e deu vontade de comprar todo mês. É que desde pequena eu tenho essa mania de ler revista sobre música e, aliás, quis ser jornalista para virar repórter musical, tendência que logo passou depois que comecei a faculdade. É que, como pude comprovar, ser jornalista musical requer uma dose de nerdice que estava além das minhas medidas e, portanto, como uma boa profissional que se deixa levar pela correnteza, acabei parando na outra margem do rio: na tv, fazendo programa infantil. Coisas da vida.

Mas então, quando eu tinha uns doze, treze anos, comprava a Bizz todos os meses. Lia a revista de cabo a rabo, até as matérias sobre bandas que eu não conhecia. Muitas vezes ficava chupando dedo, porque não tinha como ouvior sons novos a não ser me aventurando a comprar discos sem saber do que se tratavam. A coisa melhorou um pouco com a chegada da MTV no Brasil, e então eu pude conhecer pelo menos o hit de algumas das bandas faladas na Bizz antes de decidir se comprava ou não o disco dos caras.

Lembro que uma vez respondi a uma pesquisa de opinião da Abril. Eu tinha doze anos e era muito aplicada quando se falava em música. Mas então, preenchi tudinho, e ainda me dei ao trabalho de colocar a pesquisa no correio, para que os caras recebessem as minhas sugestões. E uma das minhas idéias era que a revista deveria vir com uma fita cacete contendo pelo menos uma música das bandas que haviam sido pauta naquela edição.

Tadinha de mim! Minha sugestão nunca foi ouvida - e nem sei se foi lida. E eu continuei morrendo de curiosidade de saber como eram os grupos que recheavam a minha leitura.

Com a Rolling Stone Brasil foi completamente diferente. Havia várias bandas que eu nunca tinha ouvido falar. Mas agora, maravilha, eu tenho a internet! Agora eu posso ler e ouvir e ver quem são aqueles caras. É completamente diferente de ler a Bizz do começo dos anos 90.
Pra compreender uma revista musical, o melhor é engolir os artigos perto de um computador conectado. Rapidinho você passa no Google, ou no You Tube, ou em qualquer página que possa mostrar se aquela é ou não a sua onda. Se eu fosse adolescente agora, seria uma daquelas pessoas que conhecem todas as bandas, aquele tipo de nerdice musical, sabe como é? Eu seria intragável, porém feliz.

É verdade, eu tenho inveja da nova geração. E não só dos adolescentes, que têm muito mais acesso a filmes e bandas e camisetas cool e tintas de cabelo estranhas do que eu tinha aos quinze, dezessseis anos. Eu também morro de inveja das crianças, as de cinco aninhos mesmo, que saem na rua vestidinhas de princesa. Já viu isso? A menina vai no parquinho com a roupa da Cinderela. Eu daria tudo por um vestido da Cinderela, até mesmo hoje em dia!

Quando eu era pequena, tinha uma fantasia mega tosca da Mulher Maravilha. Eu não tirava essa fantasia por nada no mundo, ia pra escola com ela e tudo, e brincava de Super Amigos no recreio. Imagina se eu tivesse um desses vestidos com anáguas e muitas camadas de saias, e tule, e estrelinhas?

Tenho medo de como serão os meus filhos...

Monday, November 06, 2006

Leis de atração

Outro dia encontrei um amigo que tinha acabado de voltar de uma mega viagem de 45 dias pela Europa, e que estava engajado na onda de que a nossa mente nos proporciona tudo o que desejamos. Falou sobre um tal de Abraham Hicks, e de como a viagem dele pelo continente velho tinha sido uma viagem mágica graças à técnica do tio Abraham. Deu exemplos de situações em que o pensamento positivo determinou o final de feliz, como a vez em que ele foi ver um show totalmente soldout da Madonna (em alguma cidade que já não me lembro qual). Ele mentalizou e imaginou ele mesmo chegando na porta do teatro e encontrando alguém vendendo um ingresso de última hora. Pois bem, depois disso, meu amigo em carne e osso e espírito se encaminhou para a porta do mega evento até que, tcha-nan, esbarrou em um carinha que precisava vender a entrada do date que não viria mais. Meu amigo, na hora e lugar certos, fechou o negócio. "Foi a força do pensamento", ele me garantiu.

Tanto o menino falou que fui conhecer o trabalho de Abraham. Até aqui pude perceber que é uma técnica de mentalização que mistura meditação, alimentação regular e uma certa dose de religião. Mas pra quem quer desesperadamente encontrar alguma coisa para depositar a sua crença, Abraham Hicks pode servir. Como eu sou uma pessoa assim, desesperada por uma causa, assinei o boletim eletrônico de uma das páginas que visitei e respirei fundo. Vamos lá, vai que dá certo? Na pior das hipóteses, eu volto a ser o que era antes.

A primeira lição de Hicks para o mundo é: você atrai o que você pensa. Se você mira o pensamento em situações desagradáveis, você, inadvertidamente, irá trazê-las. Isso geralmente acontece quando você não sabe o que quer, e acaba se confundindo nos seus desejos. Mas ora, ensina o mestre, para saber seus verdadeiros desejos, basta que você se permita guiar pelos seus sentimentos. Sentimentos ruins significam que você lá no fundo não quer uma coisa, sentimentos bons significam que você está no caminho certo, atraindo boas vibes para si.

Parece simples, né? Pra mim, não é. Eu nunca sei direito o que eu quero. Eu sei muito bem o que eu não quero, e mesmo assim essa lista muda toda hora. E, às vezes, eu sinto algo ruim por alguma coisa que eu queria muito que fosse boa, entende? Como é que se faz desse jeito? Ignoramos e tentamos transformas as sensações?

Não desisti do Hicks. Apenas comecei. Duvido muito que ele vá me convencer a parar de comer carne vermelha bem sangrenta, ou a largar o cigarro, etc. Mas, de qualquer maneira, quero aprender a respirar antes de agir. A ter aquele segundo precioso que muitas vezes faz a gente segurar a onda. Ando partindo pro ataque com muita freqüencia e, apesar de sempre ter considerado este um ponto positivo, agora estou a fim de pegar mais leve. De ficar de bem com todo mundo. De ficar na paz.