Tuesday, April 24, 2012

É impossível escolher um nome

Não é fácil ser grávida. A gente entra em mil paranoias, morre de medo de embarangar de vez, ou de não ter leite, ou de não ser boa mãe... Um dos grandes medos iniciais de uma grávida é não saber escolher um bom nome pro seu filho.

A princípio, nenhum nome serve. E quanto mais a gente pensa em uma opção, mais ela vai ficando esquisita e impronunciável. Faça o teste agora mesmo: escolha o nome que você mais gosta e fique repetindo em voz alta por dois minutos. Aposto um milhão de dólares como no final do tempo você vai achar que, não sei, tem uma coisa estranha, umas sílabas aqui que não tão batendo bem, e por aí vai. Ou então, você vai se lembrar que no Jardim de Infância conhecia alguém que se chamava _______ (coloque aqui o nome da sua preferência) e que era intragável, um verdadeiro pentelho, quer quebrava todos os brinquedos e ainda grudava chiclete no cabelo das meninas.

Como todas as coisas relacionadas a um bebê que está prestes a chegar, todo mundo tem uma sugestão irrecusável pra nomear o seu filho. Claro, e as pessoas também não vão se sentir encabuladas em criticar o nome que VOCÊ tem em mente. O nome que elas têm pra sugerir é sempre muito melhor.

Já participei de rodadas de chope (em que eu estava bebendo só água, é claro) em que o nome do meu filho ficou sendo debatido durante muitos minutos. Eu lançava pro meu marido olhares onde ele podia ler: "eu não estou acreditando", enquanto ele me respondia com encaradas do tipo: "segura a onda e não entra na pilha", morrendo de medo que eu, no alto dos meus enlouquecidos hormônios de parideira, mandasse todo mundo pro diabo. Mas eu nunca mandei ninguém pra lugar nenhum, mesmo morrendo de vontade, e me limitava a responder, quando alguém criticava a minha possível escolha: "É desse nome que eu gosto". Isso, milagrosamente, encerrava a discussão.

Seria ótimo se eu realmente estivesse tão certa assim sobre o nome escolhido. Mas o fato é que, naquele momento, tudo o que eu tinha feito era puxado o meu cartão de mãe, aquele que cala a boca de qualquer um que queira se meter um pouquinho mais na discussão. Só que no fundo eu não tinha certeza nenhuma, de nome nenhum, e a opção que eu mais gostava era de um parente do meu marido. Quando manifestei meu interesse, rapidamente a galera da opinião levantou a bandeira do "repetir nome não pode". Às vezes dá uma canseira danada ser sociável.

Ainda não escolhi o nome. Mas se você tiver uma sugestão irrecusável, não se acanhe: guarde pra você.  Ou vou ter que sacar, mais uma vez, a minha carteira-maternidade. Porque tem vezes que só dando carteirada mesmo.


Thursday, April 19, 2012

Hidroginástica e grávidas, feitas uma para a outra

Enquanto grávida e moradora de Copacabana, eu não poderia escolher outro tipo de exercício durante a gestação que não fosse a hidroginástica. Explico melhor: no bairro da Zona Sul com a maior densidade de velhinhos por metro quadrado, as academias que oferecem hidro se multiplicam a cada esquina. E, como se sabe, só há outro tipo de gente que se matricula numa aula de hidroginástica, além das alunas de terceira idade: as grávidas.

E lá fui eu pro meu primeiro dia de aula, usando um maiô muitos números acima do meu, comprado com o objetivo de que ele comporte a barriga até o final da gravidez. No elevador, encontro a avó da minha vizinha de porta, e descubro que ela será da minha turma de hidro. Tirando umas quatro grávidas, o resto das alunas são mocinhas de idades que variam dos 70 aos 80 anos.

A água da piscina aquecida é muito quente, e dá vontade de relaxar, não de malhar. Procuro não pensar que aquela temperatura digna de canja de galinha seja o disfarce ideal para eventuais xixis das minhas companheiras de classe. Como se sabe, grávidas e velhinhas têm muita vontade de urinar. Mas pra que pensar nisso, quando você já está literalmente mergulhada até o pescoço nessa possibilidade? O melhor é ignorar e se concentrar nos exercícios.

E, pra falar a verdade, eu adorei a aula. E continuo adorando agora. Malho as pernas, malho os braços, e fico com a sensação de que a minha bunda está virando algo melhor que só uma geléia de retenção de líquido. Fico tão dedicada às séries que a professora passa que chego em casa exausta. Tomo um banho mais quente que a água da piscina, reponho os líquidos com um copão de água gelada e volto a me deitar, ainda de cabelos molhados. Tiro um cochilo sem culpa, sem remorsos, de pelo menos uma hora. Coisas que só as grávidas que trabalham em casa se permitem.


Tuesday, April 10, 2012

Para ser uma pessoa melhor

Em resposta ao texto da Rosana Caiado :)

Durante muito tempo eu quis ser mãe, mas sem nunca saber exatamente por quê. Parecia uma vaidade enorme, uma vontade de ter alguém que seria meu maior amor, meu companheiro, minha pequena cópia. Eu queria ter um Mini Me. Mas sabia que não era só por isso que eu queria ser mãe.

E aí o tempo passou e eu acabei indo morar com dois enteados. E quando percebi estava cuidando deles, e postando várias fotos da minha nova família no Instagram. E gastando mais do que eu podia com presentes de aniversário e de natal, e chegando em casa com uma caixa surpresa de Nhá Benta só pra ver o povo feliz com a sobremesa inesperada, exatamente como a minha mãe fazia. Mas, ao invés disso tudo aplacar a minha necessidade interna de maternidade, na verdade eu fiquei mais louca ainda pra gerar um serzinho. E foi assim, meio no escuro, numa mistura de medo e de ansiedade, que eu decidi engravidar.

Só depois que confirmei que dentro de mim tinha um baby do tamanho de uma semente de gergelim - mas que já tinha um coração bem barulhento! - que a razão da maternidade começou a se explicar. Desde então, parei de fumar, praticamente parei de beber, e passei a comer melhor. Eu não gosto de frutas, mas juro que estou comendo pelo menos uma fruta por dia. Eu tento cada vez mais dar prazer pra quem está perto de mim, tento não me estressar (tanto), tento não ser a briguenta, não ser egoísta e não ficar achando que os meus problemas são muito maiores que o dos outros. E tento muito me sentir bem. Porque aí eu sei que ele também vai estar bem.

Veja bem: eu ainda tenho muitos defeitos. Milhões. Mas agora eu estou tentando melhorar de verdade.

Uma vez, eu ouvi de um pai experiente - um paizão, daquele tipo que é meio mãe também - que o pior é ver os seus próprios defeitos repetidos nos seus filhos. E pra mim isso virou um mantra: não quero que o meu filho tenha os mesmos defeitos que eu, quero que ele arrume novos defeitos pra ele!

Não acho que todo mundo deva ter filhos, nem que essa é uma regra ditada pela natureza, pela normalidade de ser humano. Mas, pra mim, pelo menos, é a melhor maneira que descobri de ser uma pessoa melhor.


Thursday, March 22, 2012

Eu quero uma casa de campo

Casas de campo são tardes na piscina, discos antigos tocados aos berros, papo pro ar.
Casas de campo são cachorros, crianças e várias garrafas de cerveja espalhadas. Também são noites lindamente estreladas e festivais gastronômicos que parecem não ter fim. São dias pacíficos e tardes que se arrastam, e segundas-feiras que têm gosto de saudade de sábado.

Mesmo sem beber, não recuso um copo de vinho. Porque estou entre novos amigos e me permito essa pulada de cerca existencial.

Em 48 horas, aprendemos mais sobre uma pessoa. Sabemos os nomes dos filhos, vemos fotos e identificamos um lar com amor.
Também quero que a minha casa tenha amor. E que o meu filho seja feliz.
Que ele tenha todo o necessário para uma vida bela.

Monday, March 19, 2012

Grávida: uma mulher de peito

Se os meninos de Copacabana olham mais pra mim... é porque eu to grávida. Com as carnes, digamos, mais recheadas que o habitual, passei a atrair os olhares de gente que antes me achava assim muito magrinha, mal nutrida, sem gracinha, sabe. E as chances são de que o sucesso com o público masculino vá aumentando na mesma proporção em que a barriga vá crescendo e eu vá me deslocando pro norte da cidade. O povo lá de cima gosta de mulher com sustância, e não dão a mínima a essa estética ossuda e pontiaguda da Zona Sul do Rio de Janeiro.

A verdade é que os olhares dos populares são um alento pras grávidas de primeira viagem, como eu. Porque essa história de que grávida fica mais bonita, mais vistosa e mais iluminada, é papo de gente não grávida. Como diz uma amiga minha: grávida bonita, my ass. Aliás, é justamente na ass que todos os quilos extras parecem se alojar. Mesmo pra quem é desprovida de revestimento traseiro, como é o meu caso (o que já me rendeu o apelido de "sem-brunda"), parece que vai tudo parar lá atrás. Se a gente for contabilizar os quilos reais que uma mulher ganha só com bebê, placenta e outras parideirices, os extras são poucos. O lance é que a gente fica louca por comida mesmo, e libera geral onde antes segurava a onda. Eu, por exemplo, estou completamente ensandecida por doces. Coisa heavy metal, tipo brownie com sorvete, barra de chocolate, tortas e tudo o mais. Pra coisa não ficar muito fora de controle, comprei todos os sabores de gelatina à disposição no supermercado. Mas, ainda assim, quando tem uma torta na geladeira, a gente quer que a gelatina se dane. Quer dizer, eu sei que quero que ela se exploda - todas as mulheres não são assim?

Mas tem uma parte do corpo que realmente fica incrível na gravidez: os peitos. Enormes, redondos, macios, de um jeito que nunca foram e nunca serão novamente. Seja qual for a roupa que eu coloque, mesmo uma comportada camisa sem decotes, eles abrem espaço à procura do sol, exibidos e juntinhos, que nem bunda de bebê. É a vingança do sex appeal das parturientes: a gente fica com a bunda grande e flácida, a gente anda que nem pata e ainda carrega uma barriga monstra. Mas os peitos, baby, nem adianta tentar comprar igual: eles são originais de fábrica, e só embuchando é que se consegue um efeito semelhante.



Tuesday, March 06, 2012

O mundo bizarro das parideiras

Eu costumava olhar com certa pena algumas mulheres que diziam, orgulhosas, desconhecer totalmente tal ou tal banda que ia tocar no Circo no fim de semana, porque desde que os filhos tinham nascido, tudo o que ouviam era "A Galinha Pintadinha", ou coisa que o valha. Eu ficava com pena e me prometia nunca me tornar uma delas, mesmo desejando muito um dia ser mãe também. Afinal, eu seria uma mãe que nunca perderia contato com o mundo lá fora, uma mãe cosmopolita, prática, que poderia viajar pra qualquer lugar do mundo com o filho debaixo do braço, fosse qual fosse a sua idade, tal qual fazem os europeus. Tudo bem, eu ignorei que na Europa a gente anda um pouquinho de trem e já está em outro país, enquanto que aqui e a gente pode andar, andar e andar de carro, e só chegar em São Paulo. Mas o fato é que eu não deixaria nunca de viver a vida por causa do meu filho. O plano era trazer meu rebento pro meu universo, e não o contrário.

Mas nada como uma dose mínima de realidade pra colocar a gente no devido lugar. Mal começou a gravidez e eu descobri o bizarro universo consumista infantil. Fiquei fissurada em blogs e artigos e ítens com design destinados aos bebês, e particularmente maluca com um fone de barriga que vende na Amazon, e que permite que o meu filhinho escute, desde o ventre, todas as bandas que a mãe dele um dia vai fazer com que ele assista no Circo. E de repente eu me vi cercada de listas e listas de compras, com nomeclauras absolutamente novas (culote? conjunto pagão? fralda de ombro, pano de boca?) e objetos imprescindíveis pro bem estar do meu baby.

Mas não foi sempre assim. Um dia eu resolvi passear na feira de gestante que tem no Rio Centro, só porque estava ali pertinho, e porque uma amiga me prometeu companhia. Uma amiga corajosa, que não tem filhos, e que mesmo assim topou encarar o programa de índio. E a cena que se segue é de dar dó: duas completas perdidas no meio de todos os tipos, tamanhos e gostos do tal universo paralelo de parideiras. Eu vagava pelas ruelas da feira sem entender muito bem o que eu tinha que comprar, se era barato ou era caro, se eu devia viajar pra Miami e fazer o enxoval todo por lá ou se haveria uma boa alma que fosse capaz de me dar aulas sobre "ser mãe" (na vertente mercadológica desse vasto tema).

Aquilo foi me dando um desespero tão grande, uma noção do quão despreparada eu sou pra chegada desse serzinho, que eu voltei pra casa deprimida, pensando em me inscrever num daqueles cursos de grávida. E mesmo assim, no auge da depressão, eu tive tempo de comprar um balde e uma banheira transparentes com detalhes verdes, a coisa mais fofa do mundo.

A depressão passou e deu lugar a um monstro dersenfreadamente consumista no cartão de crédito. Ainda estou na metade da gestação, mas já maluca por objetos que eu coleciono em links salvos nos meus favoritos. Um dia, em breve, eles vão estar espalhados pela minha casa, entre panos de boca e fraldas de ombro (mas conjuntos pagão, jamais!). Enquanto isso, a "Galinha Pintadinha" vai bombar no iPig. E eu vou ser uma mãe, como tantas outras, que vai achar incrível qualquer gracinha do seu bebê, e vai mostrar, a quem quiser ver, todas as ultras, de todos os meses, como se fossem books fotográficos da America's Next Top Model. Não duvide, mulher: um dia isso vai acontecer com você também.

Wednesday, February 15, 2012

Nerds tardes

Meu lado nerd há tempos clamava por um dia no museu. Eu tenho essa necessidade de visitar exposições e galerias, acompanhadas de amigos tão nerds quanto eu. Não se trata de um hobby cool, ou cult. Trocar um sábado na praia por uma tarde no MAM só pode ser classificado como coisa de nerd. Ou de paulista. Mas eu sou assim, fazer o quê. De vez em quando me baixa.

Pois então, eu e três amigos fomos ver as fotos da Nan Goldin. Aquelas que foram censuradas porque tem gente chata demais no mundo, sabe como é? Fui preparada pra ver imagens chocantes e me deparei com lindas histórias de amor. Até chorei - e uma grávida que vê uma cena de sexo e chora é algo pra se pensar, não? Ah, tudo bem, tinham uns viciados se injetando aqui e ali, mas o grosso mesmo da obra da Nan Goldin (pelo menos dessa que aportou no Rio de Janeiro) fala de amor, de relacionamento, de amizade. De uma maneira soco no estômago, ta certo. Mas no final a mensagem é: amem-se! Chega a ser uma mensagem cristã, quase.

Eu lembro de ver, dessa vez sozinha, uma exposição da fotógrafa, há muitos anos. Não lembro quando, nem lembro onde, só lembro do auto retrato que ela fez depois de tomar porrada do namorado. Achei corajoso demais. Hoje em dia eu sei que essa é uma foto meio lugar comum, que um monte de gente já fez. Mas naquela época, as pessoas que apanhavam se escondiam. Nan Goldin não só se mostrou, como ampliou os hematomas e correu o mundo. Toda a minha admiração a ela.
Saí do MAM com aquela sensação de alma lavada que só uma bela tarde nerd no museu proporciona. Na saída, bicões de abertura de exposição bebiam prosecco em copos de plástico. Meus amigos beberam, mas eu não. To grávida, ne. Bebi água mesmo. E mesmo de cara limpa aturei com toda paciência do mundo o começo do bloco de ex estudantes de cinema da UFF, que concentrava nos jardins. Achei até engraçado quando fiquei na dúvida se uma menina estava fantasiada, ou se se vestia a sério. Definitivamente, a análise está dando certo, e eu sou uma pessoa melhor.

Meus incansáveis amigos, sedentos por me mostrar outras formas de arte, me levaram à Praça Tiradentes. Onde antes havia uma horrorosa grade, agora a praça se abre, enorme, redonda, e servindo de base pra estátua de Dom Pedro I. Realmente, lindo demais. Fiquei orgulhosa. E dessa vez eu não estou sendo sarcástica.

Na volta, passamos pelo ponto de turismo-catástrofe da vez: o prédio que caiu na Cinelândia. Fiquei olhando praquele buraco no meio dos prédios e me lembrei do Ground Zero, e do dia em que as Torres Gêmeas foram derrubadas. Memórias de guerra.

E no final das contas, voltamos de metrô pra Copacabana. Eu me despedi deles com abraços e beijos e saudades sem fim, lamentando que cada vez menos eu tenha sábados de sol nerds em tardes de museu. Valeu cada nanossegundo.


Wednesday, February 08, 2012

River of January

A gente sabe que o Rio está passando por uma fase ótima, com o turismo bombando, aluguéis e preços de imóvel na casa-do-caralho, Copa, Olimpíadas e Juventude Cristã, mas eu confesso: sou rasa e tenho sentimentos de posse em relação à minha cidade. Não gosto de ver tanta gente aqui escolhendo, na minha opinião, as piores músicas, os piores bares, os piores pontos da praia. Me irritam todos aqueles gringos que olhando pra todas as mulheres da praia - inclusive esta grávida barriguda que aqui vos escreve - como se todas elas fossem profissionais do sexo, ou pelo menos sempre prontas pra um rápido amasso com esses visitantes louros de olhos azuis. Me irritam, simplesmente isso, e eu fico imaginando como é que os parisienses fazem pra ignorar a presença de todos aqueles milhares de turistas que sujam a cidade ao longo do ano.

Obviamente, esse é um sentimento tupiniquim. Sentimento de quem não está acostumada com a admiração alheia pelo seu país, de quem cresceu vendo que aqui só quem vinha visitar era a classe Z estrangeira (e mesmo assim, quase que exclusivamente interessada em turismo sexual). E o mais louco é que, ao mesmo tempo que a turistada me incomoda, eu ficava estufada de orgulho quando alguém elogiava o Brasil nos meus tempos de residente e Nova York. Adorava chegar em qualquer loja de música e ver meia dúzia de prateleiras destinadas apenas à Bossa Nova, enquanto todo o resto da música latina se espremia misturada num único setor. Ou quando alguém me olhava em reprovação quando eu dizia que era carioca e queria morar um tempo nos Estados Unidos. "Mas o Rio é lindo!", me respondiam os americanos. Mas só os claramente letrados, os universitários e pessoas de classes mais altas. Os mais pobres não conseguiam entender como eu era ao mesmo tempo tão branca e tão latina.

De qualquer forma, apesar da minha insistência em me comportar como filha de um país pobre e desacostumado com cortesias estrangeiras, a verdade é que ainda tem muito gringo vindo pra cá pra comer puta. Copacabana é o lugar do Rio onde mais é possível sentir essa tensão que une sexo e negócios: é praticamente impossível para uma mulher relativamente jovem ir sozinha a um daqueles restaurantes da Avenida Atlântica - pelo menos durante a semana. Ou seja: não sou só eu que tenho que mudar, mas eles também tem que vir pra cá com alguma coisa a mais na cabeça que satisfazer a cabeça debaixo. OK, entender que a mulherada fica pelada no carnaval mas que elas passam o resto do ano vestidas é difícil até pra mim (nunca engoli essa pseudo libertinagem que só dura uma semana; na verdade nós somos mesmo um bando de conservadores e moralistas), mas talvez seja o momento da gente parar um minuto e dar umas aulas de cultura brasileira pra esses nossos novos amiguinhos. E aí, quem sabe, a gente não aprende alguma coisa sobre o nosso país também.

Tuesday, February 07, 2012

Feliz Novembro Novo

Eu tenho uma virada de ano pessoal que sempre acontece um pouco antes da oficial. Lá pro meio de novembro sempre acontece alguma coisa, boa ou ruim, que marca uma ruptura com o ano que passou. Deve ser alguma questão astrológica de um mapa que eu nunca tive paciência (leia-se "dinheiro") pra fazer. Ou então é porque em novembro a gente colhe frutos que plantou o ano inteiro - ou atura uma colheita fraca - em um mês que antecede a loucura comemorativa de dezembro. Dezembro me cansa. Mas novembro é bem legal.

Foi em novembro passado que eu descobri que estava grávida. Gravidez planejada, de gente adulta, o clássico bebê-depois-da-promoção. E então: silêncio no blog. Eu não conseguia pensar em mais nada que não fosse essa pequena semente de gergerlim dentro da minha barriga, feliz e assustada demais pro que viria a seguir, com uma fome monstra e um sono absurdo, com medo de que acontecesse alguma coisa com ele, o Gergerelim, antes mesmo dele passar de embrião pra feto.

Mas nada aconteceu, e cá estou eu três quilos mais gorda, com a certeza absoluta de que depois do nascimento vou ficar cadeiruda como era a minha avó. Larguei o cigarro e a musculação, e troquei por caminhadas na praia, trilha sonora calminha e leitura de gestante. Foi num desses informativos que eu descobri que ele, o bebê, já pode me ouvir desde agora. E por isso ando muito preocupada com a formação musical dele. Outro dia, levei o bebê pro show do Chico Buarque, e foi tão lindo que eu não aguentei e cai no choro durante "O Meu Amor". E quando eu acordo no domingo mais cedo que o resto da casa, eu coloco pra tocar Belle & Sebastian, ou Air, ou Nina Simone, e o que mais tiver de veludo pra ele escutar. 

Meu pequeno Gergelim de 15 centímetros, esticado e confortável na minha nova mega barriga, dá cambalhotas e estica as pernas enquanto ouve música boa. Se tudo der certo, ele vai gostar de dançar, como eu gosto. Ou vai querer jogar futebol, como o pai dele. Ou vai tentar aprender um instrumento, como os irmãos. Ou vai ser ele mesmo, Gergelim Paixão, com gostos novos que ele não puxou de ninguém, e aprendeu sabe-se lá aonde.