Monday, July 25, 2011

Um Dia






De tanto ouvir falar no livro, no filme e em tudo o mais que cercava o lançamento desse romance por terras brasileiras, eu não me contive e acabei dando o braço a torcer. Comprei o livro e li tudinho em menos de um mês, completamente apaixonada pelos personagens principais, Dexter e Emma. Quando percebi que o livro chegava ao fim, naquelas páginas ralinhas antes da contracapa, me bateu uma síndrome de abstinência dos personagens. Me apeguei aos dois. Poderia ser amiga deles: tinha chance da gente sair pra tomar uma cerveja por aí, os três, conversando sobre as banalidades da vida.



Fiquei meio maluca mesmo. Como o livro conta a história de uma amizade de vinte anos que começa em 15 de julho de 1988, eu me vi procurando nesse blog os textos que tinha postado nos 15 de julhos de 2005 em diante. Claro que não calhou de eu excrever um textinho sequer nessa data; mas aí eu me conformava com o mês. E no dia 15 de julho de 2011, perguntei no Facebook pra quem quisesse responder: Onde estão agora Dex e Em?



É uma história de desencontros. Uma amizade colorida que chega a dar nervoso de tanto "quase". Dá um medo em quem, como eu, tem um rabo preso (e quem não tem?): a gente fica se perguntando se está no caminho certo da vida, ou se distanciou demais do destino e depois vai ter que correr atrás do preju. E aí pode ser tarde demais.



Mas também é um daqueles casos que fazem a gente chorar pelo amor dos dois, pelos quase e pelos plenos encontros, porque de alguma maneira todo mundo se reconhece na história dos dois.



Fora isso, tem que o David Nicholls é realmente incrível. Nenhuma frase em um livro de 300 e tantas páginas é desperdiçada: o autor escolhe as palavras, dá o ritmo certo. É um mestre, e você logo no começo sente o saborzinho de best seller. Não aquele tipo de best seller piegas, de gente morrendo de câncer ou crianças na Alemanha nazista. O tipo que vende muito porque é bom sem ser meramente comercial. Ou, melhor falando: tem romance comercial que também fala à alma.



Agora é esperar o filme em novembro.

Friday, July 22, 2011

Home Alone

Estou acostuamada com casa cheia. Cresci com duas irmãs, meu pai e minha madrasta e, agora que já sou grandinha e tenho a minha própria família, moro com meu marido e meus dois enteados. Isso quer dizer o seguinte: nunca o apartamento está vazio. Nunca. O que deixa as minhas chegadas em casa depois do trabalho bem animadas. Sempre a luz da sala está ligada, e o meu enteado mais novo me recebe com um milhão de novidades que ele quer contar naquele momento. Enquanto eu sigo pelo corredo em direção ao quarto ele vem atrás com suas histórias; eu largo a bolsa em cima da cama e dou um beijinho no meu marido, entro no banheiro pra lavar as mãos (meu enteado fica na porta ainda contando coisas) e sigo pra cozinha pra comer alguma besteira. Durante todo o percurso, o ar se enche com as palavras do meu enteado, da televisão ligada no meu quarto e do meu marido falando ao telefone. É uma sinfonia muito familiar e muito aconchegante, que faz com que eu desligue completamente do mundo lá fora e me dedique à vida dentro de casa.

Tem vezes que eu sou recebida com uma taça de vinho e uma fatia de camembert. Ou com uma dessas bebidas Ice de vodca, que eu mando ver de barriga vazia, e em menos de uma garrafa já sinto aquela dormência deliciosa que é ficar de pileque em casa. Passei a beber muito mais depois que casei, essa é a verdade. Mas descobri que nasci pra viver a dois. Ou a três e a quatro.

Mas ontem eu cheguei em casa e a luz da sala estava apagada. O silêncio era meio opressor, e eu tratei logo de ligar a TV da sala pra fazer algum ruído. Ouvi de uma amiga no trabalho que eu deveria aproveitar enquanto estava sozinha , e foi o que fiz: praticamente terminei de ler meu livro do momento, liguei o Skype esperando ligações de longe que nunca vieram, assisti ao programa onde eu trabalho. Mas nada disso me deu uma super satisfação, e eu fui dormir entre a entediada e a saudosa de todos os meus barulhos diários. A gente só aprende o que é silêncio depois que se casa.

Thursday, July 21, 2011

O quanto dura uma realização

As minhas duram uns cinco minutos. Quando eu ouço a notícia e sinto aquele bem estar de missão cumprida e aprovada, aquele leve formigamento interno gerado pelo orgulho de si mesmo, por ser essa pessoa especial e única, que veio ao mundo para encher a Terra de soluções geniais. Eu tenho exatos cinco minutos de paraíso, e depois a conquista perde a graça e eu já passo pro próximo objetivo. Eu sou que nem esfomeado em churrascaria: não nego nehnuma carne e em pouco tempo estou empanturrado, sem conseguir comer mais nada, pensando no sushi do próximo sábado.

Por quanto tempo a gente pode viver uma glória? Concordo que os meus cinco meteóricos minutos de satisfação são muito pouco pra quem ralou por anos pra conseguir atingir sua meta. E eu não me dou descanso, não me dou um relax de pernas pro ar, eu quero mais e mais e mais, eternamente. Infernal, não é mesmo?
Mas também acho que viver pra sempre festejando as conquistas do passado é coisa de quem não entendeu que a fila anda e a caravana passa.

Só sei de uma coisa: enquanto eu faço tudo, enquanto eu dirijo e levanto peso na academia, e estou em reuniões supostamente prestando a maior atenção, ou vendo Seinfeld e fingindo pra mim mesma que eu estou ligada na estrutura da narrativa, enquanto eu faço tudo isso eu penso: tenho que escrever, tenho que escrever, tenho que escrever. Como uma obsessão. Mas não sento e escrevo porcaria nenhuma, eu só me cobro, de olho no próximo estágio da minha lenta e complicada jornada.

Hoje à noite eu vou chegar em casa e vou encontrar o apartamento incomumente vazio. Sem marido, sem enteados, sem empregada. Todinho pra mim. Desconfio que vou ficar entre o deprê e o conforto que só a solidão proporciona. Mas a ordem que martela há dias na minha cabeça estará lá, e eu não sei se vou dar ouvidos a ela.

Tem vezes que dá vontade de virar hippe e jogar pro alto essa obrigação de "dar certo".
Mas logo depois eu volto ao normal, deitada na minha cama queen size de lençóis lavadinhos.

Thursday, July 14, 2011

Maçãzinha

No meu trabalho, todo mundo tem Iphone. TODO MUNDO. As reuniões podem ser descritas como pessoas ao redor de seus Iphones, todos pseudo displicentemente colocados em cima da mesa, todos pretos, mas com uma coleção de capas de padronagens diferentes. Na época em que comecei a perceber tudo isso, eu carregava na bolsa um daqueles modelos de celular que as pessoas ganham no supermercado, que não tirava fotos, não entrava na internet e não tinha absolutamente glamour algum. E nas reuniões de trabalho, meu aparelho ficava bem escondido no bolso da minha calça, eu sem ter a coragem de colocar o pobrezinho lado a lado com aqueles monumentos de design da Apple. Era uma época tensa.

Passados alguns meses e muitos emails lidos horas depois do que todo mundo já tinha lido, eu me dobrei aos Iphones. Não que fosse preciso uma grande lista de razões para me convencer, mas o fato é que eu achava sempre que não tinha dinheiro pra nada, e que não poderia fazer parte do seleto e moderno grupo do I alguma coisa. Chutando um certo balde das minhas finanças, me dirigi à loja da minha operadora e pedi pro vendedor fazer todos os cálculos do que seriam, pelo menos, umas dez prestações.

Comprei um 3 GS de 16 giga, branquinho, a coisa mais fofa. Em dez vezes. Mas foda-se: agora, nas reuniões, o meu celular também estava em cima da mesa. Com personalidade, porque era o único branco e sem capa, e ninguém poderia ver que ele só tinha 16 giga, enquanto todos ali sustentavam os 32 gb. Rapidamente, eu me tornei uma usuária ainda pior de Facebook, Twitter, Gmail e o que mais fosse inventado. Baixava os aplicativos mais bombados e mandava emails assinados com "Enviado pelo meu Iphone" (depois eu apaguei essa assinatura porque fiquei com uma vergoinha).

Mas, meses depois, veio o Iphone 4. E agora, todos os celulares na mesa de reunião são quadrados nas bordas, enquanto o meu ainda é flat. Tenho certeza de que isso foi uma maneira da Apple me colocar no meu devido lugar. Pra me lembrar que que, não importa em quantas prestações eu pague, sempre vou estar um modelo atrás do último lançamento.

É o que eu sempre digo: tem gente que tem alma de Iphone 4, e conta de Iphone 3.

Meia noite em Paris

Sou do tipo fã boboca do Woody Allen: tudo que ele faz, eu nem i e já acho genial, e na verdade não chego a me decepcionar nem com os filmes que todo mundo decepciona. Eu sou fã, e fã é sempre um bobo. Só que esse último filme fez WA virar unanimidade de novo.

Todo mundo viu antes de mim, é claro, e todo mundo disse que é incrível. Eu estava louca pra assistir porque passei o fim do ano em Paris e percebi a mágica da cidade (era a minha segunda visita, mas talvez eu tenha sentido os efeitos parisienses mais fortes dessa vez), até que alguém me avisou: a Paris do filme é uma cidade diferente de todas as outras.

Pra quem não viu o filme fica difícil de falar sem estragar a surpresa, mas eu fiquei muito tempo pensando sobre a nossa inserção nos dias atuais: o que achamos da época que vivemos, como nos relacionamos com o presente e com o passado.

Quando eu tinha 15 anos, tudo o que mais queria na vida era ter nascido em 1969. Eu me vestia, ouvia as músicas, devorava os livros daquela época. Chegava ao meu colégio mega burguês de subúrbio vestindo longas saias indianas, como uma hippie. Mas me sentia muito sozinha ao encontrar meninas que se vestiam igual ao mim, porque reparava que elas (aparentemente) só tinham em comum comigo as saias indianas. Elas ouviam Geraldo Azevedo (ui!) e liam Sem Tesão Não há Solução, ou She e He, o que me dava um certo medo.

Só que um ano depois tudo isso já tinha mudado: eu estava totalmente inserida no final dos anos 90.

Essa historinha só serve pra ilustrar um pouco do que o filme fala, de que nunca estamos satisfeitos com a época que vivemos, e estamos sempre achando que décadas passadas foram as melhores épocas da História. A gente sempre vai achar isso, porque todo mundo tende a romantizar o que passou; o passado é realmente perfeito, e até o que foi dor a gente vê como aprendizado, já reparou?

Mas, sinceramente, depois que passei da fase 1969, eu parei com essa mania de querer viver em outra época. Na verdade, eu tenho uma super admiração pela geração mais nova que eu: o pessoal que tem vinte e poucos, e que tem um acesso irrestrito a todo tipo de informação e aprendizagem. E esse povo sabe usar direitinho essas ferramentas! Eu acho a geração que tem dez anos a menos que eu muito mais interessante do que a que tem dez anos a mais.
Uma pena que ninguém nunca tenha me ensinado o caminho à Terra do Nunca...

Tuesday, July 12, 2011

Autoimagem

Hoje comentei com uma amiga que acabou de completar os 29 anos que ando preocupada com a chegada dos meus 35: agora tenho 33, faço 34 em dois meses, e isso me coloca a apenas um ano de distância daquele idade tão terrível para as mulheres. A idade em que se deve optar pela pílula ou pelo cigarro, em que as mamografias passam a ser exames obrigatórios e anuais, em que deixamos pra trás definitivamente os 30 e poucos para entrar na contagem regressiva dos 40. Tenho medo dos 35, assim como já tive medo dos 25 e dos 30 (e depois descobri que são duas idades ótimas, cada uma por um motivo).

Mas o pior de se ter à frente um ano e dois meses prestes a completar 35 primaveras é não ter a noção de que já cheguei a essa idade. Não posso ver um pessoal de 20 e poucos que logo quero me enturmar, como uma tia Sukita precoce (e a galera dessa idade nem conhece a referência dos tios Sukita!). O fato é: converso mais com a filha da minha vizinha do que com a minha vizinha. Isso é muito triste, ou só um pouco triste?

É que assim como as pessoas que fizeram operação de redução de estômago e ainda se vêem gordas, eu ainda me vejo com vinte e poucos. E olha que eu já melhorei bastante, mas ainda insisto no vício de redes sociais da última semana (já faço parte do Google +, você faz?) e nas bandas de rock que acabaram de tocar no Coachela. Uma trintona Sukita.

Por outro lado, morro de medo de virar uma daquelas mães que só conhecem musiquinhas de creches, ou casas de festas, e que se esquecem de consumir qualquer outro tipo de leitura que não seja informação materna. Não, deus me livre guarde de virar uma dessas mulheres que se fecham no mundo as suas casas e esquecem o resto lá fora. Será que existe maneira de não pensar só em fraldas e gracinhas do seu filho e, mesmo assim, ser uma boa mãe? Será que há possibilidade de cuidar e brincar com seu rebento e continuar consumindo música boa e romances legais?

Tenho algumas referências de mães que não viraram amamentadoras profissionais, mas essas são uma pequena ilha diante de um oceano de casos opostos. Acho que só quem viver, verá - e, enquanto isso, eu bato papo com a minha vizinha pós adolescente sobre bandas e redes sociais do momento.

Monday, July 11, 2011

Silêncio de ouro

Andei pensando sobre o que falar e o que manter calado, e cheguei à conclusão de que, na maioria dos casos, a gente deve ficar quieto e deixar que os outros se enforquem nas próprias palavras. Esperto é aquele que fica tranquilinho no seu canto, só observando e fazendo cara de paisagem.

Pena que eu nunca consegui ser assim. Tanto que criei um blog pra contar melhor e worldwide as minhas peripécias de garota ligada na tomada. Gosto de ler os textos antigos pra ver o quanto eu já aprontei nessa vida: 33 anos bem vividos e agora dedicados à realização de planos. Então, na fase atual, eu vou tentar levar em frente a máxima de que o silêncio vale ouro.

Mas deixa eu só contar que eu ando feliz da vida, com um carrinho novo que comprei à prestação, e a possibilidade de finalmente conseguir uma promoção. Eu sei que não se deve contar uma coisa boa que está pra acontecer antes dela realmente acontecer - mas, what the hell, se fosse por isso só tinha mudo milionário no mundo.

E deixa eu falar também que todos os dias eu sonho em escrever contos geniais e colocar pra competir em concursos literários, mas nunca faço isso de verdade, porque sempre perco o prazo da inscrição.

E deixa eu falar que eu to morrendo de medo do fim do ano, quando vou chutar o meu trabalho atual pra tentar coisas novas e arriscadas, mas que por isso mesmo são as coisas que me parecem mais legais nos últimos cinco anos.

E só mais uma coisinha: estou pensando seriamente em entrar pro time de mães de família no próximo ano.

Ok, agora a gente pode ficar em silêncio. Antes que eu diga que to sentindo um mega frio na barriga de tudo que me deixa tão feliz.

Friday, July 08, 2011

Caderninho

Queria tanto ter um moleskini com desenhos incríveis. Só que não sei desenhar, e não tenho um moleskini, mas carrego na bolsa o caderno que ganhei da Paulinha quando a gente fez aquele trabalho prum escritório de design. Eu escrevendo e ela desenhando, é claro. O trabalho acabou - rendeu bons frutos, inclusive - mas o caderno resistiu e hoje mora na minha bolsa, todo sujinho e cheio de orelhas causadas pelo dia-a-dia de turbulência do meu saco de coisas. São anotações de trabalho, de lazer e de pura viagem mental: eu sento por muitos minutos e fico vendo a vida passar, e escrevo pra ver se consigo entender alguma coisa do mundo.

Durante um tempo eu achei que as respostas pras grandes questões da vida eu conseguiria em livros e filmes. Depois eu vi que não é bem assim, não é a resposta da pergunta que está ali nos filmes e nos livros, é a pergunta que mora naquelas páginas. Por isso agora quando eu não sei o que perguntar, eu compro um livro novo: eu queria fazer uma pergunta sobre amor, mas não sabia qual, e aí comprei o "Um Dia". Pra sonhar com um casal como aquele, e pra depois voltar a escrever sobre tudo isso no meu caderninho que não tem nada de moleskini.

Minha loucura com os cadernos é tão arraigada que não consigo fazer uma viagem sem comprar um caderno pra mim. Depois fico com pena de usar, e os blocos vão se acumulando na minha parte do armário. Outro dia finalmente abri o bloco que comprei no Museu do Prado (uma capa linda, com detalhes do quadro Jardim das Delícias). Fiquei um tempão sem coragem de macular a primeira página, achando que nada do que eu escreveria seria digno daquele exemplar lindo de caderno.