Thursday, June 29, 2006

Menos um bom show no país

Podem chorar os amantes da cultura pop: Madonna não vem mais. Desmarcou, na cara e na coragem, e deixou a gente orfão de mais um bom show. Desde o Tim festival do ano passado (beleza, não faz tanto tempo asim, mas faz quase um ano!), não vejo um bom show. Aliás, não vi mais nenhum show, bom ou ruim, a não ser os de duas bandas bizarras que tocaram no cantinho da Fosfobox, aquela boate que é tão underground, mas tão underground, que tem cheiro de banheiro entupido.

A vida é muito cruel comigo. Houve um tempo em que eu tinha todas as melhores bandas do mundo a meus pés, nos melhores teatros, com balcão e frisa e cortina vermelha. Era o tempo em que eu morava em NY. Em seis meses passaram pela cidade PJ Harvey, Tori Amos, Radiohead, Bjork, John Spencer & the Blues Explosion, e tantos, tantos outros. Destes, eu só consegui assistir ao histórico show da PJ, realizado em um teatro mega luxuoso de Manhattan. O resto eu não consegui/ não tinha dinheiro para o ingresso, pobre de mim.

Ainda fico incomodada em observar como filmes e discos e peças e shows demoram a chegar ao Brasil. Ou não chegam nunca. Pessoas minimamente ligadas ao que acontece no mundo ficam chupando dedo na hora de ver um nome artístico diferente por aqui. O que resta é nos contentar com os campeões de bilheteria - estes sim, trazidos a peso de ouro para entreter as massas latinas. A gente tem que levantar as mãos pro céu, é bem por aí.

Só que depois da experiência do show dos Rollings Stones, decidi que estou fora do esquema Arena Rock. To velha, sei lá. Ando preferindo shows de bandas bizarras da minha própria cidade. Mesmo que sejam em boates que não têm lá um grande perfume no ar.

Wednesday, June 28, 2006

Lygia, a melhor



Foto: "Você sabe o que é clitóris? A resposta está muitas vezes na ponta da língua!"
Frase romântica encontrada em uma casa de Paty, RJ, levando em conta que sexo é amor.

Há um tempo venho amargando a sindrome de abstinência de um livro bom. Tenho uma lista lá em casa que ainda não peguei para ler, mas acontece que em vários livros parei na página 20. Não dava para continuar, eu achava que era perda de tempo e tal... acabava por não ler nada.

Até que outro dia fui tomar um café na Argumento e pensei: dane-se todo o meu esquema de guardar dinheiro. Vou comprar um livro.

Eu tenho esse problema com livrarias. Basta pisar em uma que me dá a maior vontade de sair de lá com uma sacolinha. É tipo vício mesmo. E quando compro um livro novo fico que nem criança quando ganha um brinquedo: não consigo nem me concentrar direito no atual romance, morrendo de vontade de passar para a próxima trama.

E foi assim que eu comprei um livrinho de bolso com contos da Lygia Fagundes Telles. Para mim, ela é a melhor escritora brasileira viva, com uma maneira muito única de enxergar o mundo. Uma vez fui vê-la debater sobre seus clássicos preferidos na Feira Literária Internacional de Paraty, e saí ainda mais apaixonada por ela. A senhorinha é uma loucura, acreditem.

Todo mundo deveria ler "Pomba Enamorada". É uma das coisas mais lindas que alguém já pôde ter escrito. O que ela conta faz total sentido e é triste sem ser piegas. Mas, na minha cabeça, tem um final feliz.

Já acabei de ler os contos da Lygia, e passei pra um livro do Henry MIller sobre uma viagem de um ano que ele fez pela Grécia. Ao mesmo tempo, etsou vendo as agruras femininas da chinezinha chamada Mian Mian, que deve ter sido de onde eles tiraram o nome daquele restaurante no Rio. E depois, não tenho mais nada pra ler.
Por isso, aceito sugestões.

Monday, June 26, 2006

Anarriê

Época de festas juninas é a melhor de todas. As comidas são ótimas.
Sou o tipo de pessoa que analisa uma festa pelos comes e bebes que são servidos:

- Cerveja e salgadinho: a festa estava animada.
- Vinhos e queijos: os convidados eram intelctualmente interessantes.
- Whisky e azeitonas recheadas: a trilha sonora era a melhor de todos os tempos.
- Champagne e caviar: o casamento foi tão lindo...

Previously on LOST

Provavelmente fui a última pessoa do planeta a aderir à série-drogas pesadas que é Lost. Em compensação, agora ando tirando o atraso e me tranco na pseudo-minha casa durante o fim de semana, assitindo à segunda temporada baixada na internet. Sem legendas, que é para pelo menos eu tirar algum proveito de todas essas horas dedicadas às vidas de Jack e etc. Pelo menos eu treino meu inglês.

Friday, June 23, 2006

Otimização do texto

Não sou mais a Carie Bradshawn. Não vejo mais o meu futuro de trinta e muitos anos com roupas de grife bebendo coquetéis caros ao lado de amigas igualmente trintonas. Tampouco me imagino trocando fraldas de bebê, com a blusa suja de golfadas antigas e o cabelo despenteado. Eu bem que quero ter filhos, mas não sei como fazer isso de uma maneira higiênica.
Eu queria ser mãe tipo a Madonna: com cinco babás e corpinho de adolescente. E ficar com a prole nas horas em que não existe cocô mole.

O estranho é que quanto mais o penso no que quero, mais eu fico confusa. Quando se coloca o peso de 'para o resto da vida', minhas filosofias vão ficando molengas até virarem água, como se tivessem passado do tempo de preparo. Nunca fiz tatuagem por um medo louco de enjoar do desenho em três tempos. Então acho que essas decisões importantes a gente vai deixando acontecer, vai esperando o desenrolar e esperando que de repente tudo fique cor de rosa.

Uma vez um tarólogo (na época em que eu ainda gastava dinheiro com isso) me disse que meu destino era morar no exterior, casar por lá, ter filhos com outra cidadania. Oba, eu pensei. É isso mesmo o que eu quero. Mas daí entra ano e sai ano e nada de morar fora, nenhuma oportunidade imperdível, nenhuma chance memorável. Começo a desconfiar de que o cara errou comigo.

Mas se tem uma coisa que eu aprendi com o tarô foi a maneira de fazer uma pergunta. Quando você encara as cartinhas mágicas, não pode nunca levantar a questão de maneira negativa. Por exemplo: não dá pra falar 'vou continuar desempregada?' Tem que perguntar assim: 'vou arrumar um emprego?'. A resposta deve estar na pergunta, entende?
Adotei a técnica na vidinha e até que dá certo, sabia. Engraçado como mudar ligeiramente o foco traz outro resultado. Deve ser por isso que meus amigos que consideram otimista.

Tuesday, June 20, 2006

Desejos e Pedidos

De vez em quando dá isso mesmo, uma sensação de que eu sou a Mulher Maravilha e tenho e terei tudo o que desejar nas minhas mãos. É bom quando vem esse sentimento, mesmo que nao passe de uma puta de uma ilusão. É claro que é ilusão. Mas eu gosto de fingir um monte de coisas, então por que não fingir que tenho total e irrestrito controle do que acontece com a minha vida? Se é pra mentir, vamos mentir direito.

No começo do ano a minha fitinha do Senhor do Bonfim arrebentou. Ou melhor, ela se desvencilhou do meu pulso, desfez os nós sozinha e pulou do meu braço. Como eu não sou (muito) boba nem nada, interpretei que aquilo queria dizer que os meus desejos seriam atendidos. E, desde então, ajo como quem tem absoluta certeza de que vai conseguir o que quer.

Já fazem uns cinco meses que a pulseirinha arrebentou. E eu estou esperando. É errado dizer que nenhum pedido se concretizou, mas a história também não rolou exatamente como o planejado, sabe? Está meio realizada. É possível isso? Uma realização parcial dos seus pedidos?

Se eu não fosse neutralizar completamente os poderes mágicos da pulseirinha, eu exemplificaria o que está acontecendo com os meus pedidos, para eles estarem, assim, parcialmente realizados. Mas não posso contar, se não o pedido se desfaz! Não pode, não pode. Se é pra ser supersticiosa, que eu seja direito. Afinal de contas, não dá pra ficar aturando nada pela metade.

Monday, June 19, 2006

De costas para a Copa

No primeiro jogo da seleção, TVs e jornais do país resolveram mostrar imagens de alguns dos locais normalmente mega movimentados nas grandes capitais exatamente no momento da partida. Tudo vazio, é claro. Avenida Paulista, Praia de Ipanema, Centro do Rio e de São Paulo. Nada, nada, a não ser por um ou outro passante desavisado. Não pude deixar de reparar nos "uns e outros" que se atreveram a dar uma volta de bicicleta quando o Quadrado Mágico mostrava seus supostos encantos. Fiquei com uma inveja danada. Achei tudo tão.... desprendido. Queria ser assim, desligada da Copa, e ficar com a praia de Ipanema só pra mim. Delícia.

Mas, ao invés disso, estava eu lá bem em frente da telinha, vendo aquela partida chata de fazer dormir, ouvindo meus amigos da corrente pra trás torcendo pela Croácia. Eles fazem a corrente ao contrário pela piada e também pelo saco que é uma Copa do Mundo no Brasil: o banco fecha, o trabalho empaca, as cornetas reinam e você é praticamente obrigado a ter uma blusa de camelô nas cores verde e amarelo. Mas, apesar da torcida contra, nenhum deles conseguiu se livrar da obrigação social de assistir aos jogos canarinhos.

Corrente pra trás de verdade é passear na Avenida Copacabana durante os 90 minutos de Brasil. Bem no meio da rua, nem aí para os carros. Ignorando as televisões 12 polegadas dos botecos. Mantendo o livro aberto no momento em que se ouvir por todos os cantos o grito de gol. Não saber o nome dos jogadores que vestem as nossas camisas - nem os atacantes famosos. E não comemorar uma possível e longínqua vitória sobre a Alemanha na final.

Eu queria ser assim, sem amarras, mas eu gosto da social que é a Copa. Acho um saco ter todos os compromissos profissionais e pessoais amarrados por este evento, mas gosto da algazarra e de falar palavrão bem alto. Eu xingo horrores durante o jogo. Deve ser por isso que não consigo deixar a Copa pra trás. Como é que vou gritar "Puta que o pariu" a plenos pulmões sem ser chamada de louca?
Futebol serve pra essas coisas.

Thursday, June 08, 2006

Homem que chora

Hoje eu fui fazer a minha vistoria anual e, de repente, um dos atendentes do Detran saiu chorando de sua cabine. Digo chorando mesmo, copiosamente, ao mesmo tempo em que era abraçado e consolado pelos colegas de container. Ver uma pessoa chorando já me deixa morta de curiosidade de saber o que acontece. Mas ver um homem aos prantos multiplica a minha xeretice, e portanto eu olhava quase que descaradamente.
Depois, em um dos meus ataques bipolares, pensei: saco, esse cara podia parar de chorar e me dar logo meu documento.
Estou sempre assim, oscilando entre ser uma boa pessoa ou adotar o estilo bitch. Acaba que a boazinha sempre ganha, e é realmente um saco, porque esse lado do cérebro e da alma dá um trabalho danado. De cuidar do mundo e se preocupar em fazer o bem.

O episódio do choro me lembrou a única vez em que vi o meu pai chorar. Foi um dia em que a gente tinha brigado horrores, eu no auge da aborrecência, 15 aninhos, a rebeldia saindo pelos poros. Eu fui uma teenager da pior espécie. Mas, enfim, brigamos e nos odiamos bastante a caminho de um veterinário, onde meu cãozinho receberia uma dose de vacina.
Sentados na sala de espera, meu pai resolve bater papo com a recepcionista. Pergunta de um amigo das antigas que era dono da clínica veterinária, quer saber se ele ainda continua por aquela área.
A recepcionista: "O senhor não soube? O dr. Pedro está com um tumor no cérebro. Ele operou, mas a cirurgia não deu certo. Os médicos já desenganaram."
Foi assim. Tudo na lata.
Meu pai não disse nada. Colocou a mão na testa e começou a soluçar.

Eu olhava para o horror daquilo tudo e não sabia o que fazer. Meu pai chorando - eu não tinha visto isso nem na morte da minha mãe. E eu fiquei ali, sem chegar perto dele, dar um abraço, sei lá. Fiquei imóvel e perplexa, esperando que os soluços terminassem.

Esse blog está foda. Leitura tarja preta.

Thursday, June 01, 2006

O Funeral de Victória

Depois de 93 primaveras e meia, Victória de Angelis resolveu deixar este mundo. Morreu bem cedinho, às seis e meia da madrugada, logo ela que nunca foi muito de acordar cedo. Fomos todos de carros e caronas até o Caju, dedicar um último olhar e a primeira de uma série de lágrimas àquela velhinha deitada que não se parecia em nada com a minha avó, e que mesmo assim axibia o seu nome junto ao caixão.

Acontece que a morte de alguém de quase 94 anos não é exatamente uma surpresa, e por isso minutos anteriores à cerimônia foram dedicadas a dois expressos com dois cigarros e notícias de quem nasceu, quem está sem emprego, quem casou, quem separou e quem foi preso por porte de drogas. E então, deitada em berço de flores, Victória foi servida.

Não gosto de enterros. Não curto essa de passar a mão na cabeça do morto, beijar suas faces frias e deixar que as minhas lágrimas manchem a roupa engomada. Portanto, quando entra o caixão, saio eu. Fiquei lá da porta tentando me lembrar de Victória organizando jantares para a família com exagerada comilança - sua marca registrada. Repassei mentalmente a história de como a nossa homenageada e seu marido, também já passado desta para melhor, se conheceram na praia de Copacabana em remotos anos 1940. E não consigui rezar.

Alguém me explicou que, naquela altura, Victória estaria no hospital das almas, sendo tratada das dores do espírito, recebida pelo irmão, o mencionado marido e as amigas mais chegadas. Talvez até a minha mãe esteja por lá. Ouvi tudo com extrema atenção e penso:"Deve ser muito bom acreditar nisso tudo".

Depois levaram Victória embora. E até agora eu não entendi direito o que aconteceu; tanto que não consigo terminar este texto de maneira apropriada. Talvez porque a própria Victória não tenha terminado totalmente, entende? Ontem mesmo fui mexer em seu armário e descobri desenhos que fiz para ela quando era criança. E decidi que, quando me tornar avó, serei igual à minha querida vovó Nena: aquela que guarda até a morte os desenhos infantis dos netos.