Wednesday, October 22, 2008

Nem todo Mercadão é em Madureira

Sábado foi dia de conhecer o Mercado Municipal de São Paulo, um passeio que eu queria fazer há muito tempo mas estava sempre com preguiça. É que tudo em SP demanda tempo e paciência, porque ao colocarmos o nariz pra fora de casa já sabemos que vamos gastar dinheiro, pegar trânsito, ter que procurar uma vaga e encarar uma chuvinha, daquele tipo que nunca cai de verdade mesmo, mas é suficiente pra deixar alguns fios incovinientemente arrepiados. Mas o jeito é abrir o peito e encarar a fera, porque depois de domada, São Paulo é diversão total.

Quem visita o Mercado Municipal pela primeira vez tem obrigação de comer um pastel ou um sanduíche de mortadela. Você tem que escolher entre um e outro, porque encarar as das opções no mesmo dia é uma tarefa heróica. O sanduba de mortadela chega a ser pornográfico de tão grande, e eu desafio aquele que conseguir comer um inteiro, sem dividir com ninguém. Vários paulistas da Mooca (maneira de dizer, porque eu não conheço ninguém da Mooca) me confidenciaram que nunca encararam o pão com mortadela sozinhos. Vai ver é por isso que aquele Mercadão é tão lotado no fim de semana: você tem que ir em dupla pra dar conta da comidaria.

Mas a verdade é que eu nem cheguei na parte da mortadela. Parei nos pastéis de camarão e tomate seco. Eu pedi dois. Foi um  grande erro, porque o segundo pastel desceu com dificuldade, e depois disso eu fiquei bem umas oito horas sem comer mais nada.
Se quer encarar o pastel ao invés do sanduíche de mortadela, escolha o de bacalhau, que é o mais tradicional do mercadão. E esteja preparado pra enfrentar uma fila longa e uma disputa acirrada por um lugar ao balcão. Mas se você é turista, com certeza vai achar tudo peculiar e bem paulistano - portanto, vai se divertir.

Acabado o evento do pastel, que tomou quase a metade do nosso dia, eu e Japanimation fomos passear pelo resto da feira. Resistimos bravamente à tentação de comprar temperos cheirosos que jamais iríamos usar, uma vez que nenhum dos dois é um grande ás da cozinha. Mesmo assim, me rendi a uma massa caseira de spagetti que cozinhei no dia seguinte e que me lembrou muito o macarrão da Geralda, cozinheira da minha avó. Gostinho de infância.

Como o dia estava popularesco demais e eu sou, assumidamente, besta, terminamos a tarde de sábado bebendo vinho no café da Pinacoteca - um dos meus lugares favoritos em Sampa. Depois um bêbado desenhou uma caricatura absolutamente nada a ver com o Japanimation, e ele foi presenteado com mais 5 reais só pra gastar numa branquinha, sorrindo meio de satisfação e meio de bebice.
Fazer alegria de bêbado também é fazer o bem pra humanidade.

Tuesday, October 14, 2008

Eu estou boiando no Neuromancer

Neuromancer faz 25 anos em 2008. Um romance que criou um novo estilo de ficção científica, que influenciou Blade Runner e Matrix e que foi amplamente copiado e chupado por gente menos criativa que Willian Gibson, o autor. Nos meus tradicionais passeios a livrarias, em que, invariavelmente, nunca saio de mãos abanando, acabei me rendendo à curiosidade de ler Neuromancer. Meus amigos nerds gritaram uhu, e eu entrei, definitivamente, para aquele grupo de pessoas muito informadas sobre Heroes, Lost, o Video Games Live e outras atividades de gente que usa óculos. 

O que eu não contava é que eu não ia entender nada. Nadinha. E que, o pouco que consigo acompanhar da história é graças aos filmes que assisti, e que me dão uma boa noção daquela ambientação.

No começo eu me senti muito burra, mas aí um dia encontrei uma amiga no ônibus, e comentei que estava lendo Neuromancer, quando ela mandou na lata que não tinha entendido nada também. Além de ser absurdamente confuso, o livro tem um vocabulário todo próprio, que só quem se formou em Ciências da Computação deve entender.

O pior é que a edição brasileira traz um glossário na parte final do livro que não serve pra absolutamente nada. Quer dizer, descobri o que era ICE pelo glossário, mas por que eles explicaram ali o que era Ganja? Quer dizer, todo mundo sabe o que é Ganja, não sabe? E é muito frustrante procurar palavras absurdas da história no glossário do final e descobrir que não existe uma explicação, e que a gente mesmo tem que ir sacando por aproximação o que o autor quis dizer. É meio como ler um livro em uma língua que você não domina muito bem.

Bom, vá lá, to insistindo. Que pra mim, desistir de um livro no meio é tipo a pior das tragédias. Eu abandono salas de cinema sem o menor pudor, mas parar de ler um romance sem chegar ao final é algo que não sei fazer. Então vai rolando assim, entendendo aqui e sem sacar nada ali, até que um dia a onda acaba. 
O duro é aguentar o Mario Vargas Llosa novinho me olhando em cima da mesa. Tentador.

Perdas e ganhos

Tenho tido vontade de fumar. Depois de pensar sobre isso, descobri que a saudade da nicotina está diretamente ligada ao aumento considerável de chopes consumidos durante a semana, companhias de seriedade duvidosa e ausência de visitas à academia. Parece que tudo o que eu conquistei nos últimos meses está se perdendo - menos os meus quilos, é claro. Esses eu só continuo ganhando.



Wednesday, October 08, 2008

SkolBeats aos 31

Sem sombra de dúvida, o SKolBeats é um evento adolescente: suas tendas espalhadas não me deixam mentir, porque só um jovem pra agüentar andar de um lado pro outro, das 18h às 8h do dia seguinte.
Também podemos considerar o SkolBeats um mega show bem paulistão, meu - tanto que, ao invés de summer hits (o que seria de se esperar de um evento desse tipo se ele tivesse sido locado no Rio), o que se ouvia era música eletrônica sob um frio de uns 13 graus.
Dito isso, o que estaria fazendo por lá uma carioca de 31 anos, que resolve conhecer o festival de música eletrônica já na fase balzaquiana?
Pesquisando comportamentos urbamos, é claro.

Pra começo de conversa, a diversidade de público é, no mínimo, curiosa. Os cybermanos teens e seus cabelos espetados vibravam ao drum n bass do Marky, enquanto que as meninas de psyboots pra fora da calça (aquelas botas com plataformas que todas as ouvintes de trance resolveram descobrir ao mesmo tempo) preferiam encarar enormes filas pro banheiro feminino quando bem ao lado cabines limpinhas e cheirosinhas e cheias de papel higiênico (luxo total!) estavam às moscas.
Mas não pra carioca balzaquiana aqui, que nunca mais pegou fila no Sambódramo depois que descobriu a malandragem do banheiro oculto.

Aliás, mais bizarro que carnaval de paulista é sambódramo de paulista: uma imitação da Apoteose, só que sem o arco final, parecendo que o Niemayer estava sem saco e plagiou ele mesmo ao projetar aquela avenida de samba. Aquilo ali tem clima de pseudo, de segundo lugar do carnaval brasileiro - e olha que eu nem gosto de carnaval, apesar de ser bairrista como quase todo carioca.
Convenhamos: sambódromo em São Paulo é bom pra fazer festa de música eletrônica.

Entre uma observação e outra da fauna urbana, consegui ver os shows do Justice e do Digitalism, que foram bem divertidos e valeram meu ingresso.
Fiquei com a impressão cruel de que cheguei à festa certa dez anos depois, mas realmente a sensação não foi suficiente pra acabar com a minha diversão. E até quando o Japanimation e eu quase fomos parados numa blitz - o que seria trágico, diga-se - eu estava totalmente satisfeita por ter, finalmente, participado do evento que povoou o meu sonho clubber no início da década.
Antes tarde do que nunca!