Friday, July 29, 2005

Nota

Alguém acredita que eu já to enjoando de Caio Fernando Abreu?
Estou acostumada com cultura McDonalds: a gente vê, come, se entope, acha delicioso, e daqui a meia hora tá com fome de novo.

Extra! Pré-balzaca só assiste a filmes de super-heróis! (e ainda tece comentários sussurrados durante a sessão)

Achei Batman Begins chato. Quer dizer, tem coisas boas e coisas ruins, mas o que ficou na minha lembrança foi o fato de que as coisas ruins são tão bobas que poderiam ter sido facilmente evitadas, tornando o filme realmente o melhor filme do Batman de todos os tempos. Por causa disso – da facilidade com que poderiam evitar erros bobos – o meu veredicto final é radical: o filme é chato.

De chato eu falo pelo nervoso que eu tive do ator principal, porque ele tem a língua presa daquele jeito como o presidente Lula fala (nessas horas eu queria ser uma pessoa genial para conseguir escrever o som que a língua presa do Lula faz). E ele tem cara de cu. E eu não imagino o Bruce Wayne com cara de cu; foi mal.

Outro ponto que eu não gostei foi a maneira com que o Batman conseguiu todos os utensílios incríveis do batcinto. Eu sempre achei que o Batman era cabeçudo, que ele estudava pra caramba até conseguir construir, ele mesmo, os utensílios que precisava em sua busca de vingança. Mas lá no filme, tudo é dado de mão beijada por um antigo diretor nas empresas Wayne, e esse pequeno detalhe transforma Bruce Wayne em um herói que consegue combater o crime porque é milionário.

E, vem cá, gancho pro número 2 é foda, né? Pensei que eles tinham parado de fazer isso em 1985.

Ok, algumas coisas são bacanas, tipo a historinha dele vendo os pais serem assassinados e perdendo o gosto pela vida, etc etc. Mas como aprendiz de nerd viciado em quadrinhos, devo dizer que todo mundo criou muita expectativa quanto a esta versão da história do homem morcego. E olha que esse ainda é o melhor filme dos cinco já lançados. Coitado do Batman...

Ah, mas Quarteto Fantástico é óóóótimo. Adooooooro. O homem chamas é o melhor de todos, mas eu adorei o Coisa depois que ele se transformou. Aliás, eu preferia ele transformado que na aparência normal. E depois ele deixa a mulher loira-gelada pra trás e consegue uma caliente mulata ceguinha. Quem não iria fazer essa troca? Mas eu quase chorei quando a mulher dele colocou a aliança de casamento no chão, coitadinho, e me perguntei se as lágrimas do Coisa seriam de pedra. Mas ele não chorou, porque ele era machão e homens não choram, né.

Você sabe quando um filme pipoca vai ser bom quando ele agrada a ambos os sexos. Olha só: enquanto as mulheres tinham o homem chamas de peito nu a cada quadragésimo de segundo, os homens tinham a mulher invisível com decotes até o umbigo durante o filme inteiro. Assisti ao filme com o meu namorado e tenho certeza de que pensamos as mesmas coisas, embora com alvos diferentes.

O Quarteto Fantástico também deixou gancho para a parte 2. Mas este a gente releva – afinal, vamos todos poder rever músculos definidos e abdomens sarados. Diversão para toda família.

Tuesday, July 26, 2005

Subjetivismo

Funciona da seguinte maneira: observe tudo o que está a seu redor e pense sobre isso. Pense mais. Pense até descobrir que existem problemas que devem ser resolvidos, questões de vida ou morte interiores que precisam de remédio com a máxima urgência. Não dê um só minuto de paz ao seu pequeno cérebro pequeno-burguês, e também não permita quer ele se ocupe com questões sócio-econômicas do seu país.

Foi cansando de ser assim que decidi que seria rasa, que falaria apenas do estritamente palpável, como meus sonhados pares de sapato estilo anos 20 que outro dia vi vender no shopping. Mas descobri, para desespero do meu super mega king size ego, que todas as mulheres do mundo – eu quero dizer todinhas as mulheres meeesmo – têm adoração a sapatos. Tento que até escreveram um livro sobre isso.

Mas, então, eis a questão: como deixar de ser subjetiva quando a única coisa que me diferencia do resto são os meus profundos ou profanos pensamentos? Grande questão.
Eu pensei sobre isso, pensei em como é importante não abandonar este blog (mesmo sabendo que eu já criei nomes muito mais interessantes do que este) e decidi, por pura preguiça mental, a me manter por aqui e ignorar o verdadeiro motivo da criação destes textos: a observação (e, em conseqüência, a crítica) dos comportamentos repetitivos na noite eletrônica carioca.

Traduzindo: dá licença, mas eu não quero mais falar sobre noite. Não me dá o mínimo tesão falar sobre noite. E, como já foi dito antes, leitura tem obrigação de despertar a libido – ou então não vale de nada.

Tuesday, July 19, 2005

Caio Fernando? Adooooro!

O povo da noite adora esticar os “Os” da palavra “adoro”. E sempre estica os da segunda sílaba, como que para dar ênfase de que gosta mesmo daquilo. Quando leio a palavra “adoro” escrita dessa forma, imagino logo uma pessoa jogando a cabeça pra trás, com um copo de ProSecco na mão, vestindo calças Diesel. Eu sei, é uma imagem lugar-comum e ridícula, mas eu não tenho culpa que o mundo seja um esteriótipo só.

Mas, na boa, eu me recuso a escrever um texto sobre “Adoooooro”. Eu prefiro escrever sobre Caio Fernando Abreu. É que outro dia me ligaram da Argumento para avisar que a minha encomenda de Morangos Mofados, feita há quase um ano, finalmente havia chegado. Saí correndo para a livraria mais cara do Rio e comprei meu livrinho. Fininho. Pronto pra ser devorado. Mas que eu leio com cuidado, aos poucos, golinho por golinho.

Nos poucos contos que já li, descobri que a noite eletrônica carioca deveria conhecer Caio Fernando Abreu. Deveria ser obrigação, tipo assim: quando você chegasse na Fosfobox, ganhava um dos contos de Morangos Mofados xerocado. E aí sentava naquele sofá perto do bar e tentava decifrar as letras mal impressas no escuro, e só depois de ler tudo, até o final, você tinha o direito de jacar da maneira que desejasse.

Ai, que delícia o Caio Fernando deveria ser, uma biba atormentada, subjetiva ao extremo, do tipo que não fica um segundo sequer sem pensar sobre vida, cocaína, ser humano, sexo, homossexualidade, Baixo Leblon e tudo mais o que poderia ser dito em 82. Ai, que delícia que ele deveria ser, eu fico lendo e pensando nisso, e também penso em por quê não conheço ninguém assim. Das duas, uma: ou eu simplesmente não consigo fazer surgir o lado interessante das pessoas – o que me torna, logicamente, uma pessoa desinteressante também -, ou eu ando freqüentando os bares errados. Ou, ainda, ambas opções estão corretas.

E, imagina só, se todo mundo ganhasse um conto de Morangos Mofados na porta da Fosfobox, e toda aquela modernidade dos tempos da minha avó descobrisse que a boa literatura dá, literalmente, tesão, talvez as festas eletrônicas não fossem tão zero a zero quanto são. Ou todo mundo ia ficar com um cigarro na mão, o copo de ProSecco e a xerox na outra, jogando a cabeça pra trás em suas calças Diesel e gritando: “Caio Fernando Abreu? Adoooooro!”

Monday, July 18, 2005

Últimos anos dos vinte e poucos

Uma das piores verdades que me bateram nestes últimos tempos de vinte e poucos anos é de que eu não sei mais escrever. Foi algo que desaprendi. Será que isso é muito comum, você ter uma coisa que realmente gosta de fazer, e que faz bem, mas que deliberadamente joga pela janela? Pois foi isso o que eu fiz: joguei meus textos fora.

Outro dia sentei em frente ao computador, angustiada por uma idiotice qualquer, e tentei vomitar palavras na tela, como costumava fazer antes. Não saiu nada. Fiz e refiz inúmeras vezes as três primeiras linhas; relia, achava uma merda e apagava tudo. Esse processo de escreve – apaga – recomeça eu conheço muito bem, não é de forma alguma uma novidade. O que é novo é que, depois de algumas tentativas, eu cansei e fui ver televisão, com o orgulho intelectual (se é que eu tenho algum) ligeiramente ferido. Eu nunca na vida havia optado pela TV antes.

Não sei bem o que isso significa, essa constrangedora troca de telas, mas desconfio de que seja irreversível. Dizem que as coisas mudam quando se chega aos trinta. Será que mudam também quando se está apenas aproximando deles?

Friday, July 15, 2005

Botas ao lado da cama

Foi de um amigo a melhor descrição que eu já ouvi sobre a vida a dois: “existem botas ao lado da minha cama”. A sentença saiu no meio de um falatório caótico sobre o seu dia-a-dia, mas eu catei a afirmação e guardei na bolsa, porque eu gosto de sentenças assim, inventadas com uma simplicidade genial, e anotei mentalmente o que eu poderia plagiar depois. É que eu sou a rainha do plágio.
E agora, sentada na cama, observo meus próprios sapatos de salto, jogados cada um para um lado no chão de sinteco. Não é a minha casa, mas é quase como se fosse, porque abro a geladeira a hora que eu quero, acabo com o nescau, a manteiga e o leite e tudo fica por isso mesmo – e olha que eu nem saio pra comprar mais. Outro dia cheguei aqui com uma pista de corrida e dois carrinhos, e a gente passou sábado e domingo apostando garrafas de vinho pra ver quem ganhava, e mesmo sabendo que o carrinho vermelho era mais rápido, deixaram que eu ficasse com ele. Assim é o amor: você aceita que lhe prejudiquem e tudo bem.
E está tudo bem mesmo. Quer dizer: eu não vou mais à praia nem ao Baixo Gávea, nunca mais ouvi meu CD do Chico Buarque, compro autoramas falsificados, falam mal de mim às pampas, virei inimiga de gente que eu nem conheço e no final - adivinha – tudo bem?
Tudo ótimo.

Thursday, July 07, 2005

Gente bonita

Sábado fui numa festa de gente bonita, com direito a atriz global e modelos que desfilaram no Fashion Rio. Quer dizer, essa parte das modelos eu não tenho tanta certeza, mas tinham tantas meninas magérrimas lá que elas só poderiam ser modelos, certo? E, se elas são modelos, elas desfilam no Fashion Rio, certo? Pois então, era uma festa cheia de pessoas mais bonitas e mais bem vestidas que eu e os meus amigos, em uma puta casa em um bairro nobre do Rio, ao som de DJs bem cotados na noite carioca. Teoricamente, um evento inesquecível.

Se bem que...nem foi. Acho que era porque as pessoas ficavam encolhendo a barriga enquanto estavam na pista de dança. Quer dizer, eu tentei encolher a barriga enquanto dançava e não consegui – me senti meio que um Robocop dançando, toda durinha, pra lá e pra cá. Daí então relaxei: acho que todo mundo ali já tinha percebido que eu não era modelo nem atriz global, então eu não tinha claramente que manter uma pose.

Decidi que a noite valeria, pelo menos, minhas doses de Red Label original, cada uma a R$7, e enveredei pelo caminho do embelezador artificial. Não que eu precisasse notar, mas acabei notando: a noite estava totalmente zero a zero, como costumam ser as festas de gente bonita e magra.

Tá muito recalcado aqui? Até que está mesmo... Mas é que antes eu dizia que jornalista é um bando de gente assexuada, porque esse povo trabalha muito e ganha mal, até que comecei a freqüentar festas de gente bonita. Eu estava errada: sexualidade não tem nada a ver com dinheiro e beleza, e eu até tive uma certa saudade das minhas festas de faculdade em que todo mundo pegava todo mundo, ninguém era de ninguém, e pra isso só era necessário que comprassem uma caixa de cerveja e colocassem um CD no som. Ai, ai.

Mas enquanto freqüentadora noturna já comprometida, posso dizer o seguinte: para quem estava acompanhado, a noite foi maravilhosa. O céu estava estreladíssimo, não fazia calor nem frio e a varanda era o lugar mais animado da festa – talvez porque estivesse escuro e todo mundo pudesse deixar que as gorduras da cintura ficassem em paz.