Saturday, December 29, 2007

Três mulheres e um banheiro

Dividir o apartamento com duas amigas é como viver em uma colônia de férias. A pia da cozinha nunca está limpa. O banheiro tem uma infinidade de calcinhas de cores e tamanhos diferentes secando. A maior coleção de shampoos e condicionadores já encontrada fora das farmácias. Todos os tipos de bebida. Sala sempre com amigas das amigas. Confissões trocadas enquanto assistimos Seinfeld. Compras em conjunto. Telefone que nunca para de tocar. Banhos interrompidos para alguém fazer xixi. Fila pra se arrumar para o trabalho. Risadas, muitas risadas. Coincidências inexplicáveis.

Quando eu fico cansada de tanto agito, fecho a porta do quarto e ligo o som. Me dedico aos meus cinco livros não lidos, ansiosa por terminar o que estou lendo pra já começar a ler o outro. Uma vida de ansiedades, essa de leitora de livros.

Vem 2008, to esperando...

Sunday, December 16, 2007

Teto das Paineiras

Outro poema que eu levo comigo

Alguém me mandou de natal, há muitos anos, um poema da Cecília Meireles. Eu gostei e copiei em um pedaço de papel com um recado anotado no verso, com a letra do meu pai. Desde então, o poema anda na minha carteira. De vez em quando eu leio, só para me sentir bem.
Não gosto de poemas em sua maioria, mas quando gosto, eles me fazem feliz.

Não fazes de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz,
sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
sem te falarem.
Sem lhes falares.

Brincadeira dos copos

A brincadeira é assim: entre em um bar com amigos que estão tão ou mais de ressaca que você. Comece bebendo iced tea de limão para depois descobrir que uma Devassa Ruiva cai muito melhor com a sua ressaca. No terceiro chope, parta para os drinks destilados. A cada rodada, uma pessoa da mesa pede o drink que todos os outros deverão beber. Atenção: não vale repetir a bebida de antes. Passeie pela vodca, pelo rum e pela tequila. Encerre com um chope garotinho, se quiser. Roube o copo do Devassa e leve pra casa, pra entulhar o armário da sua cozinha. Depois, decida que está com fome e vá comer uma pizza extremamente oleosa no botequim mais próximo. Utilize o papel que cobre a mesa do boteco para fazer um barquinho de papel tamanho gigante. Tenha a brilhante idéia de colocar o barquinho pra flutuar no chafariz da sua rua. Resolva dar uma volta de carro pelo Aterro do Flamengo só porque a noite está agradável. Volte pra casa bem tarde, querendo acordar cedo pra ir à praia.
Ganha a brincadeira aquele que não se arrepender de nada da noite anterior.

Scrap para a Mayra depois de um sábado destruidor

nunca mais beber, nunca mais sair à noite, nunca mais conversar com desconhecidos, nunca mais ver o dinheiro ir embora magicamente, nunca mais perder o domingo, nunca mais descumprir promessas feitas antes da meia-noite, nunca mais ligar ou passar mensagens por celular de pilequinho, nunca mais fazer um barco de papel gigante e colocar ele pra passear no chafariz da praça, nunca mais roubar copo de bar só pra ficar rindo depois, nunca mais, nunca mais, nunca mais.
E nem adianta insistir.

LCD Soundsystem sabe das verdades da vida

"And it keeps coming till the day it stops"
- Someone Great

Monday, December 10, 2007

Férias Coccoon

Estou de férias, ou o que poderia ser chamado disso. Não são férias de verdade porque eu não recebi adiantamento de salário nem a garantia de que tenho trabalho no ano que vem, mas mesmo assim gastei o que tinha e o que não tinha redecorando a casa. Ou decorando, apenas, porque o meu apartamento, até mês passado, era conhecido pela ausência total de decoração. Uma coisa assim minimalista, entende.

E agora eu tenho dias livres e consciência pesada para sair e me divertir gastando dinheiro. Então inaugurei um novo estilo de férias: as férias Coccoon. Aquela em que eu passo o dia inteiro dentro de casa apenas navegando na internet, conversando no msn e baixando séries. Baixei Heroes todinho e assisti em dois dias. Agora me dedico a Lost.

Baixo, gravo, assisto, deleto. Da hora que eu acordo à hora que vou dormir. Pode parecer chato - às vezes é... - mas eu tenho me divertido com o meu momento casulo. Dando um tempo do resto da humanidade em um momento que não tenho paciência para a maioria dos humanos.
Às vezes faz bem ficar em casa.

Saturday, December 08, 2007

Passeio de helicóptero pelo Rio

A arte de amar - Manuel Bandeira

Durante muitos anos, esse foi o meu poema preferido.
Eu copiei em uma folha de papel e preguei na parede do meu quarto adolescente, em meio aos posters de hard rock dos anos 90.
Não satisfeita, pintei o primeiro verso atrás da porta, em letras tortas de quem não tem nenhum jeito para atividades manuais.
É esse aqui:

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Fazendo

Bebendo vodca sozinha. Preparando a maquiagem. Fumando muitos cigarros, nunca tantos. Esperando a campainha tocar. Admirando minhas novas cortinas. Pensando em mandar tomar no cu. Imaginando que a maioria é ignorante e não entende ironia. Segurando para não mandar neguinho tomar no cu. Repetindo "que se foda" como se fosse um mantra. Falando muitos palavrões. Sentindo saudade. Imaginando como seria se fosse. Sentindo saudade. Imaginando como será quando. Sentindo saudade. Testando o mau humor contra a humanidade. Buscando conversas quaisquer, em qualquer lugar. Ouvindo histórias. Sentindo saudade. Sentindo saudade. Sentindo saudade.