Monday, November 07, 2005

Êxtase natural é melhor do que em pílulas

Se tem uma coisa que me deixa em êxtase, é arte. Pode parecer pedante, mas é verdade: às vezes estou lendo um livro e passo por algum trecho que me dá vontade de ligar pra amigos e conversar sobre o que li por horas e horas, até esgotar o assunto. Ou então quando vejo um quadro e tenho vontade de abraçar alguém ao meu lado, ou puxar um estranho pelo braço e falar:"você viu isso? como é que isso é possível?", e ficar rindo que nem boba, meio saltitante, entende? Não se trata de um carão cultural, mas é que existem situações em que eu sou tocada muito fundo na alma.

Hoje foi um desses dias em que eu me senti como criança em parque de diversões. Fui visitar o museu do Francisco Brennand em Recife, que é um dos lugares mais maravilhosos que eu já vi na vida.

Brennand é um senhor de família rica, que herdou do pai (dentre outras coisas, é claro) uma fábrica de cerâmicas abandonada. Ele reconstruiu a fábrica, transformou em museu e exposição de peças, abriu uma oficina de cerâmica e recebe, diariamente, dezenas de pessoas do mundo inteiro que vêm admirar suas obras. Ele é um velho safado, já nos seus 78 anos, que enche os jardins e o interior da antiga fábrica de seu pai com esculturas fálicas, peitos, cabeças e desenhos completamente insanos. Ele é tão controverso que uma parte da população de Recife ficou revoltada com a escultura que ele colocou próxima ao Marco Zero - encomendado pelo governador - e que se trata de um obelisco de muitos metros de altura que lembra bastante um pênis.
É um velho safado, mas eu adoro.

Enquanto estava lá, extasiada, passeando pela releitura do Taj Mahal que Brennand contruiu, me deparo com o próprio artista conversando com um grupo de visitantes. Ele trabalha no museu, de segunda a sexta, e recebe pessoalmente os turistas que vão prestigiá-lo. Fiquei com uma vontade louca de ir até ele e apertar sua mão, e falar alguma coisa do tipo: "isso aqui é sensacional"; mas aí deu vergonha. Vergonha! Logo eu, tão cara de pau pra algumas coisas, fiquei toda travada e acabei desistindo da idéia de conversar com o homem. Quem sabe outro dia...

Mas outro dia talvez não exista, como ele mesmo já sacou. Aos 78 anos, a gente começa a pensar que daqui a pouco a morte chega. Brennand sacou a proximidade da morte, mas não se deixou intimidar: está construindo um grande mausoléu em uma parte do jardim onde se lê "Casa dos Sacrfifícios"(ou algo parecido, não lembro muito bem...). Fúnebre? Nem um pouco. A construção está pintada de vermelho, cheia de esculturas - fálicas ou não - e envolta naquele clima mágico que ele conseguiu criar em todo o espaço.
Aquilo lá parece o País das Maravilhas. E eu confesso que me senti meio Alice.

1 comment:

Anonymous said...

Nossa, que pedante... =D