Sunday, August 12, 2007

Necessariamente álcool

Existem duas ou três coisas que você precisa aprender sobre mim, e a primeira delas é: se eu pego o telefone, percorro a lista na agenda até chegar ao seu nome e então aperto o send e quando você atende, falo assim, bem devagar: "tá a fim de tomar um chope?" é porque eu já estou a muitos mil quilômetros de distância e to mesmo precisada de um rosto como o seu e de um papo como aqueles que já rolaram, e de histórias sobre gatos e lugares interessantes e baratos e ainda sobre pessoas que você conheceu e que são e não são legais. Se eu peguei o celular e liguei, acredite, o caso aqui está sério. E como a gente fez esse trato nunca falado claramente de que somos amigos, então eu acho que tenho todo o direito de, em casos extremos, exigir um pouco de atenção, você não acha? E não vale falar que eu exijo atenção demais, que eu sou mimada demais (você não faz idéia de como já ouvi isso!), não vale nada disso porque toda vez que você precisa de chopes milagrosos, eu to lá. A postos. Batendo continência. Mas isso nem é uma coisa que eu faço com dificuldade, porque na verdade adoro ouvir todas as suas histórias sobre todas as coisas que você gosta de contar e, aliás, descobri que gosto de ouvir as histórias da grande maioria das pessoas. Até aquelas que são meio malas eu gosto de ouvir também, e depois eu fico comparando com as minhas histórias e pensando: será que também pode acontecer comigo? No final, o que rola mesmo é que eu fico tentando aprender com o que aconteceu com os outros, mas isso é outra coisa, deixa pra outra vez.

É que tem vezes que eu fico assim meio em desespero, e o meu livro do século dezenove e o outro do século vinte e um já não conseguem mais resolver meus problemas, e aí eu procuro as pessoas. Só que bem na hora que eu procuro as pessoas, todas elas desaparecem e eu fico a ver navios, tendo que resolver tudo, eu comigo mesma, sem uma só história pra ouvir e tomar como aprendizado. Foi assim com você - não preciso nem dizer que você foi a minha primeira opção, porque você é uma das poucas pessoas bonitas que eu conheço que são ainda mais lindas por dentro, e eu acho a sua alma deslumbrante, e falo pra todo mundo isso. Sem citar nomes, é claro. Então no dia eu queria um chope exclusivo com você, porque eu andava no meio de um monte de idéias malucas e precisava clarear a minha cabeça. Mas aí... como todos os outros seres humanos, você não estava lá, não podia, não queria, pouco me importa, e eu tive que deitar no sofá e ligar a TV e ficar morrendo de tédio de todos os humorísticos enlatados que existem atualmente.

Enfim, eu precisava falar isso porque tem vezes que eu pareço uma coisa e na verdade sou outra, e o que eu queria mesmo era escrever uma carta pra te contar tudo isso, mas como sou covarde, a carta vai aqui mesmo. Você que nunca me lê. E, quando lê, pede pra mudar a construção das frases e trocar os adjetivos. E, já que você não vai ler mesmo, isso aqui virou um lugar seguro pra dizer todas essas coisas. E fique sabendo que todo mundo vai saber, menos você, o que é realmente lamentável da minha parte.

E tem outra coisa: depois me fala onde você comprou aquele poncho peruano que eu vi na sua casa. É que tem alguém que quis saber.

Enfim.

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