Tuesday, October 30, 2007

Vida sonora

Durante toda a minha vida eu fui viciada em música. Lembro de pegar uns disquinhos da Rita Lee que eram da minha mãe e colocar pra tocar naquelas vitrolas infantis que já vêm com caixa de som, e quando você dobra elas viram uma maleta. E depois, um pouco mais velha, comecei a fuçar a coleção de vinis de jazz do meu pai, e assim descobri Janis Joplin, Ella Fitzgerald e Chet Baker. E ainda teve as fases college rock e guitar band, uma curta passagem pelo heavy metal e pelo punk rock, até chegar ao injustificável e polêmico bate-estaca. Hoje em dia eu misturo tudo isso e ainda acrescento samba e MPB. Imagino que o povo do SoulSeek que vasculha a minha pasta de mp3 deve me achar uma louca, considerando que bem ao lado do Daft Punk existe uma lista extensa de Chico Buarques de todos os tempos.

Durante todos esses anos, o walkman (com todas as suas variações) virou o meu melhor amigo. Outro dia roubaram o rádio do meu carro e eu entrei em desespero, porque sabia que não aguentaria uma horinha de engarrafamento sem ter com que distrair meus ouvidos e a minha cabeça, sempre pronta a pensar um monte de besteiras. Mas aí, a solução foi dirigir de fone, burlando qualquer tipo de lei de trânsito que me prive de ter prazer. Saquei o iPod que mora na minha bolsa e me mandei para os meus 35km diários a caminho do trabalho.

O problema é que, desde então, não consigo mais tirar os fones do ouvido. Sabe como é, a vida fica muito mais interessante. Hoje mesmo, depois do trabalho, tive que passar no insuportável supermercado estreito e mega cheio que existe na minha rua. Não tive a menor dúvida: aumentei o volume do LCDSoundSystem que reinava no mp3 player a ponto de cobrir aqueles ordinários sons externos da vida cotidiana, sabe como é? E fui procurar margarina, requeijão, leite, etc, morrendo de vontade de dançar pelos corredores estreitos do Zona Sul, transformando todos os movimentos da menina do caixa em coreografia de videoclipe, fechando os olhos de vez em quando para me transportar pra fora daquela fila de no máximo 15 ítens (mas que todo mundo engana) e pensando que, não tem jeito, a minha sina é pagar duzentos reais no ingresso do show dos caras no Circo.
Essa necessidade de ter a alma beijada nunca vai me permitir virar milionária.

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