Sunday, April 24, 2011

1 tonelada

Vez ou outra eu e pego pensando em como seria a Clarice Lispector. Será que ela, que era tão densa nos textos, usava a literatura pra tirar o peso do mundo e assim caminhar mais leve? Será que a Clarice descobriu a fórmula pra tornar os dias mais vivíveis e toleráveis?

Não é que eu não goste do mundo. É que às vezes ele fica pesado demais.

É fácil ser uma pessoa alegre, mais fácil do que ser triste. Mas pra ser alguém alegre, divertido, risonho, a gente tem que ter, em primeiro lugar, a liberdade de fazer o que gosta. E eu, por mil razões que não preciso explicar, poucas vezes faço o que gosto de verdade. Tenho horários, obrigações, deveres que me impedem de seguir o primeiro impulso, o impulso do prazer.

Houve uma época em que eu tentei viver assim, seguida pelo impulso. Obviamente, não deu certo. Mas na época foi uma experiência interessante. Em primeiro lugar, totalmente influenciada pelo professor de Antropologia, parei de usar relógio. E comia quando tinha fome, dormia quando tinha sono, e ia embora quando estava chato.
Consegui manter esse ritmo por uma semana. Depois, sempre ansiosa, voltei aos meus ponteiros e à eterna sensação de esperar o próximo minuto. Sempre esperando o futuro.

Será que era pela impossibilidade de seguir o impulso do prazer que as donas de casa dos anos 60 se enchiam de tarja preta?

Às vezes também é difícil definir o que eu quero de verdade.
Por exemplo, agora. Um clássico fim de domingo deprê: chovendo na rua, eu trancada no quarto, meio que gostando da solidão mas, na verdade, angustiada. O que eu queria fazer agora? Encontrar os amigos. Ir ao cinema, talvez. Mas não é nada disso. Eu não quero absolutamente nada.
Eu só quero dormir e esperar que o desassossego passe sozinho.
Uma hora ele sempre passa.

No comments: