Thursday, January 13, 2011

E a vida continua

Quase 400 mortos nos alagamentos da região serrana do Rio de Janeiro e eu continuo com vontade de falar de Paris. A vida continua para aqueles que estão longe da tragédia: a gente chora quando vê a imagem da senhora que teve que largar o cachorro na enxurrada para poder se salvar, mas depois sai pra tomar um café e fumar um cigarro e beber um chope com amigos. É o pesar fast food: a gente assiste, chora, desliga a tv e volta a sorrir.

Isso me lembra muito setembro de 2001 em Nova York. Quando eu morava lá e testemunhei o ataque ao World Trade Center, e todos os meus amigos me viram na TV e telefonaram pro meu pai (que estava calmíssimo, sob a justificativa: "se ela está dando entrevistas na TV, ela tá bem". Faz sentido.) Durante uma semana não se falou em outra coisa no mundo; depois o assunto foi esfriando e ganhando menos destaque no Jornal Nacional.

Mas pra mim, o mês seguinte ainda era de muita tristeza, com as ruas tomadas de cartazes de pessoas desaparecidas, de carros abandonados cobertos pela poeira que cobriu NY na destruição das Torres Gêmeas, de flores e velas acesas nas praças em homenagem aos mortos. Nova York era um poço de tristeza, e eu vivi isso intensamente, enquanto o resto do mundo se preparava para a próxima tragédias mundial.

Mas depois que voltei ao Brasil, eu também parei de pensar no 11 de setembro. Até porque nunca consegui contar pra alguém como foi exatamente o dia do ataque.

Hoje não dá pra falar de Paris: são 400 mortos no estado. Mas amanhã, quem sabe, a gente já não amenizou a imagem da senhora que joga o cachorrinho fora?

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