Monday, April 11, 2011

A arte de ouvir pessoas

Eu, que sempre carrego o livro na bolsa, descobri que um livro deve ficar em casa, em cima da mesinha de cabeceira, esperando pela sua vez de ser lido. Ou então deve, no máximo, seguir viagem para a sala de espera mais próxima, e assim me livrar das leituras das caras-quem-contigos da vida. Mas que eu, por ironias de profissão, acabei tendo que dar uma olhada vez ou outra. Fora essas situações, um livro deve ficar aguardando que seja lido em local claro, fresco, quieto e recluso. E todos os outros lugares do mundo são feitos para que a gente ouça as pessoas.

Não sou boa em ouvir conversas alheias. Na verdade, há muitos anos atrás prestei total atenção ao bate papo de um grupo sentado ao meu lado em uma festa. E levei um fora de fazer gosto. Desde então, acostumei a me esconder atrás das páginas mais próximas, minding my own business. Um grande erro pra quem gosta de escrever.

Pessoas na rua têm vida, têm histórias e têm um livro preferido. Na minha arrogância sem medidas, acho logo que o livro preferido das pessoas nas ruas é do Paulo Coelho. Na maioria das vezes, realmente é. Mas outras vezes, não. Sempre tem unzinho pra ser do contra. E eu gosto exatamente desse.

Outro dia peguei uma fila no caixa de uma loja. Estava sem livro na bolsa, mas automaticamente peguei meu telefone para olhar emails, Facebook, Twitter e todo o resto. Foi quando me lembrei de uma dica do escritor que estou adorando no momento (Grant McCreacken, em Chief Culture Officer, que outro dia eu conto sobre o que é). Esse cara sugere que todo mundo tem que sentar em um café com um bloquinho e uma caneta, para ouvir - discretamente - as conversas dos outros. E fazer anotações. E saber do que elas gostam, do que procuram, do que reclamam... Ele diz que a gente tem que fazer isso pelo menos uma vez por semana. Estamos na segunda-feira, e eu ainda não fiz a minha investigação em cafés. Mas vou fazer, e postar um pouquinho da conversa alheia aqui.

Eu gosto de cultura. Não só da cultura erudita, mas também da cultura diária, daquela acessível a todos. Dos hits de funk, dos pagodes. Odeio muito sertanejo universitário, mas confesso que gostaria de ir um dia a uma dessas micaretas de cowboys, onde os sertanejos jovens estão se apresentando. Quem é essa galera que sai de chapéu de boiadeiro na cabeça? Pra mim, é gente de outro mundo. E eu adoro conhecer uns marcianos.

O engraçado é que durante anos frequentei boates em que todo mundo tinha tatuagens e piercings e cabelos roxos, e por isso não acho nem um pouco estranha a galera emo. Mas mostre uma foto de um emo e outra de um cantor sertanejo teen ao primeiro que passar na rua, e vamos ver quem é chamado de marciano.

As pessoas têm julgamentos, e eu quero saber sobre o que são.
De hoje a sexta eu prometo postar um diálogo de desconhecidos. Pra ver se querem dizer alguma coisa. Ou se significam apenas uma conversa, e mais nada.

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