Tuesday, January 11, 2011

Percorrendo os cafés em Montparnasse

Na minha semana e meia parisiense, desenvolvi uma rotina cara, engordartiva e... deliciosa. Ao final de um dia de passeios turísticos e comprinhas desnecessariamente necessárias (uma forma que faz gelos nos moldes das naves do Space Invaders é imprescindível pra minha vida, digam o que quiserem), eu passava no hotel, deixava as minhas bolsas, e corria pra rua pra comer alguma coisa. Ou algumas coisas. Geralmente, eram umas 7h da noite e eu ainda não havia almoçado. Geralmente, eu estava gelada da cabeça aos pés e precisava de um bom copo de vinho francês. Eu e o namorido avaliávamos as dezenas de cafés nos arredores do nosso hotel e sentávamos naquele que mais tinha cara de... francês. E aí, começava a nossa noite.

Percorríamos pelo menos 3 cafés por noite. Procurávamos não repetir os lugares por onde tínhamos passado na noite anterior - a menos que a fome fosse insuportável demais. E a ordem dos acontecimentos era a seguinte: no primeiro café, a gente pedia um vinho e uma entrada qualquer (queijos, frios, patés). No segundo café, pedíamos mais vinhos e um jantar legal (risotos, bifes, patos). No terceiro café, tomávamos o derradeiro copo, a saideira daquele dia. Às vezes eu optava por uma taça de champagne, mas na maioria das noites ficava com o vin rouge mesmo. E quando a gente voltava pro hotel, passávamos na mercearia em frente e comprávamos mais uma garrafinha, pra beber no quarto.

Toda vez começávamos a noite prometendo não dormir tarde. E toda vez quebrávamos a promessa.

É que eu nasci pra essa vida parisiense. Esse povo gosta de sair, de comer bem, de encontrar amigos pra conversar. Não teve um dia em que não encontrássemos os cafés cheios. É muito comum também que as pessoas saiam sozinhas pra tomar um café, ou um copo de vinho, e fumar um cigarro, sem que sejam encaradas como aberrações solitárias. É normal, só isso.

A rua do hotel era cheia de creperias, que é uma das minhas paixões gastronômicas. Eu queria sempre sentar em um daqueles lugares, mas o marido desanimava, porque queria comer pratos menos conhecidos, mais diversificados. Mas havia uma creperia que tinha sempre, a partir das 17h, uma longa fila de espera. Nessa fila, só tinha francês. Então alguma coisa boa devia estar ali.

Uma noite, depois do nosso percurso de cafés, passamos pela creperia. Ela estava aberta, mas sem fila (já era meia noite), e nós resolvemos entrar. E aí, a cena era a seguinte: apenas uma mesa vaga (a que sreia a nossa), uma velhinha cozinhando, dois rapazes atendendo, e um senhor no caixa. Você abre a porta e dá de cara com uma família francesa dona de uma tradicional creperia de Montparnasse!

Pedimos o crepe e ele veio diferente de qualquer outro crepe que você já deve ter comido. Era naquele estilo de crepe do Le Blé Noir, em Copacabana. Só que muito mais barato (em Paris, se come melhor e mais barato que no Rio, acredite).
Obviamente, eu não sei o nome da creperia. Mas o nome da rua era Rue du Montparnasse.

Se você for a Paris e entrar numa de só comer no Mac Donalds porque é mais barato, por favor, nunca mais dirija a palavra à minha pessoa. Mac Donald não é tão mais barato assim, e lá você consegue comer bem por 9 ou 10 euros. E comer, peloamordedeus, faz parte da viagem. Comer scargot é tipo subir na Torre Eiffel. Você pode nunca mais tocar naquelas conchinhas, mas um dia você tem que provar o prato de lesmas.

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