Wednesday, January 18, 2006

Joana a contragosto

Foi com um ceticismo característico que eu peguei o livro de Marcelo Mirisola emprestado. Uma amiga chegou dizendo que era tudo de bom, que eu tinha que ler, que adorava o Mirisola e que ele era sujo e ogro e, por isso mesmo, imperdível. Fiquei cética porque ando meio de saco cheia dessa literatura maldita que tanto está em voga, essa coisa de gente que lê Bukowiski e genéricos e depois escreve como se fosse mega underground, mas que na verdade não suja a camisa que veste com nenhuma gota de vômito pós-bebedeira. E, nas primeiras vinte páginas, aquelas que são imprescindíveis pra que o livro seja aceito ou não pelo leitor, eu achava que o tal do MM estava fazendo tipo de deprimido pelas ruas de São Paulo. Mas aí o livro era bem escrito e tal, e eu acabei indo em frente, e hoje - logo hoje - eu vou terminar a obra.

O lance é que ele se apaixonou por uma menina - a tal da Joana - que não queria mais nada com ele, o que fez com que o cara descesse ladeira abaixo na dor de cotovelo. Achei engraçado a grande diferença da dor de cotovelo feminina para a masculina: a primeira é cheia de lágrimas e deprezinhas infantis por a vítima não ter achada o príncipe encantado ainda, enquanto que a segunda lamenta a perda da esposa, mas também do sexo bem tratado. O livro me ensinou que homem chora por amor e também por sexo da mesma forma e na mesma intensidade, e que os dois andam muito mais juntos do que a gente imagina.

E fiquei com inveja de não poder escrever desse jeito. Essa é a razão do texto anterior sobre a inveja que eu sinto dos homens: por mais que eu já tenha sentido, tantas vezes, algo parecido com o que Mirisola sentiu, nunca poderei usar as mesmas palavras que ele usou para descrever o sentimento. Não posso porque não consigo, porque amigos e namorado lêem o blog, porque já, uma vez, escrevi um texto com a palavra 'boceta' e publiquei, para logo depois apagar por não ter agüentado segurar a reação que essa palavra tem nas pessoas.

Sim, eu sou uma patricinha. No fundo, no fundo.

E aí Mirisola me deu vontade de escrever um livro e de sair do fácil contexto que é ter um blog. Me deu vontade de me trancar no quarto e deixar correr sangue na ponta dos dedos - e eu nunca, nunca mesmo, suei a camisa para escrever nada. Meio que sai sem eu ter que pensar.

Tem gente que acha que Mirisola é um babaca, e ele deve mesmo ser. Mas o que realmente me importa é que ele fez com que eu pensasse de novo. Eu que andava tão adormecida. Eu que andava carregada pela correnteza. Logo eu, às portas dos 30, sentindo muito forte o peso de se ter 30 anos.

Isso faz com que eu me lembre que tenho que parar de fumar em breve. Mulheres de 30 que fumam e usam anticoncepcional podem ter doenças coronárias. Agora a minha saúde passou a ser preocupação.

1 comment:

maybe said...

Que bom que Mirisola te despertou hein? Também morro de inveja do jeito que ele escreve, sem noção mesmo, sem vergonha, super exposição. Bom, sobre o amor... acabei de ler Memórias de Minhas Putas Tristes do Gabriel Garcia Marquez e caiu como uma luva depois de toda aquela acidez do Mirisola. Também é sobre o amor, só que sem sexo e aos 90 anos. O amigo fofo? O Eduardo... o único homem que me amou de verdade. Beijos!